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Etnográfica - Os futebolistas invisíveis: os portugueses em França e o futebol

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Etnográfica

versão impressa ISSN 0873-6561

Etnográfica vol.16 no.1 Lisboa fev. 2012

 

Os futebolistas invisíveis: os portugueses em França e o futebol

 

Victor Pereira

Université de Pau et des Pays de l’Adour, França, victor.pereira@univ-pau.fr

 

RESUMO

Em 2009, existiam pelo menos 205 clubes de futebol portugueses em França. Este número demonstra que o futebol tem um “sentido profundo” para os portugueses emigrados em França. O futebol ajudou os migrantes a adaptarem-se a um ambiente urbano e à sociedade moderna francesa. Também constitui um “bem cultural”. Os portugueses inventaram um savoir-faire que lhes permitiu atingir um certo reconhecimento social. O futebol também é muito importante na relação entre pais e filhos, uma relação muito particular no contexto da migração. Muitos pais portugueses transmitiram aos filhos a sua paixão pelo futebol e o seu interesse pelos clubes portugueses. Muitas vezes, esta paixão foi sinónimo da transmissão de uma identidade portuguesa.

PALAVRAS-CHAVE: futebol, emigração portuguesa, França, associativismo migrante, transmissão intergeracional, identidade

 

The invisible soccer player: Portuguese in France and soccer

ABSTRACT

In 2009, at least 205 “Portuguese soccer teams” existed in France. This number demonstrates that soccer has been a “deep play” among Portuguese in France. Soccer helped the migrants to adapt themselves to an urban environment and to French modern society. It is also a valued “cultural good”. Portuguese migrants invented a savoir-faire that permitted them to reach a certain social recognition. Furthermore, soccer has been very important regarding the relationship between fathers and sons, which must be seen as a particular link in the migration context. Portuguese fathers transmitted their passion for soccer and their fervent interest for Portuguese soccer teams to their sons. Many times this passion was synonymous with the transmission of a Portuguese identity.

KEYWORDS: soccer, Portuguese emigration, France, migrants associations, generational transmission, identity

 

Dezoito de novembro de 2009, 22h20, Boulevard Rochechouart, PARIS. Adeptos da seleção argelina festejam exuberantemente a qualificação da equipa para o Campeonato do Mundo que terá lugar na África do Sul em 2010. Os automobilistas buzinam freneticamente. Os passageiros gritam One, two, three, viva l’Algérie!, saúdam alegremente os peões e agitam a bandeira argelina. A poucos metros, na esquina da Rue de Dunkerque e da Rue de ­Rochechouart, no “café português” Chez Lino, três dezenas de clientes assistem aos últimos minutos do jogo entre a Bósnia-Herzegovina e Portugal. Depois do apito final, apenas um jovem de cerca de 25 anos, provavelmente luso-descendente e acompanhado de raparigas da mesma idade, se propõe ir buscar o seu carro e festejar, como os adeptos da Argélia, a qualificação portuguesa para o ­Campeonato do Mundo. Enquanto vai buscar o carro, em frente ao café, as raparigas acenam uma bandeira portuguesa, numa espécie de diálogo com os adeptos argelinos que não param de comemorar. No entanto, a maioria dos clientes do café não se junta aos festejos. O facto de o jogo ter sido pouco emocionante e Portugal ter participado nos dois últimos campeonatos mundiais parecem tirar entusiasmo ao momento. Em certo sentido, esta atitude blasée realça o facto de Portugal ser uma “grande nação de futebol”. Não é necessário festejar como fazem os adeptos da Argélia, que não se qualificava para um Campeonato do Mundo desde 1986.

Os festejos dos adeptos da seleção argelina, noite adentro, multiplicam-se nas principais cidades francesas. Os Champs-Elysées, onde se comemoram os grandes sucessos desportivos em Paris, como foi o caso da vitória francesa no Campeonato do Mundo de 1998, estão cheios. Esta celebração foi interpretada por uma parte da elite política francesa de direita e de extrema-direita (mas também por alguns políticos do Partido Socialista) como um sinal de não integração dos argelinos e dos seus descendentes em França, como uma ilustração do comunitarismo que estaria a gangrenar a sociedade francesa e a destruir o pacto republicano.[1] Estas afirmações contrastam com a inexistência, no espaço público, de declarações deste tipo sobre os portugueses e os seus descendentes em França. Se os adeptos da seleção portuguesa não festejaram no dia 18 de novembro de 2009, fizeram-no efusivamente na noite de 30 de junho de 2004, depois da vitória lusa sobre a Holanda nas meias-finais do Campeonato da Europa realizado em Portugal. Milhares de pessoas, com bandeiras de Portugal, vestindo camisolas da seleção e gritando “Portugal, Portugal” comemoraram nos Champs-Elysées a primeira final portuguesa numa competição deste nível. O cineasta Jean-Philippe Neiva inicia a sua “viagem iniciática de demanda ­identitária” (Mendes 2009: 246) com imagens destes festejos. Este ­luso-­descendente espanta-se com tal manifestação de alegria: “pela primeira vez, vi esta comunidade habitualmente tão discreta, quase transparente, afirmar-se aos olhos da França, o seu país de adoção” (Neiva 2005). Não encontrei na imprensa francesa um relato depreciativo desta comemoração. Nada que insinuasse que esta alegria manifestada no espaço público fosse prova ostentatória de um recuo comunitarista. Mesmo quando são visíveis nas ruas, os portugueses em França são invisíveis no espaço público. Tão invisíveis que, em 2006, o enviado especial do France 2, canal da televisão pública, os fez desaparecer milagrosamente. Comentando a concentração de pessoas que iam assistir à projeção da meia-final da Campeonato do Mundo de 2006, entre França e Portugal, o jornalista relata que há muitos adeptos da seleção francesa, franceses black-blanc-beur e que também se contam numerosos adeptos da seleção lusa munidos de bandeiras de Portugal e camisolas da seleção das quinas. Porém, conclui “todos pensam que a França vai ganhar”,[2] tornando assim os adeptos portugueses, que deviam certamente achar o contrário, invisíveis. Este lapso mostra como a invisibilidade não resulta das práticas discretas dos migrantes portugueses, que se esconderiam ao olhar da sociedade francesa, que fariam tudo para “não dar nas vistas”; esta invisibilidade resulta de uma miopia de grande parte das elites mediáticas e políticas francesas, que não veem algumas práticas de portugueses e de luso-descendentes da mesma forma que as mesmas práticas de outros migrantes. Está enraizada no espírito de muitos jornalistas e homens políticos franceses a ideia de que os portugueses em França não podem ser desleais ou “inimigos” da França. Um luso-descendente ter orgulho em Portugal não é visto como antitético com a pertença francesa, enquanto este mesmo sentimento é visto como antifrancês no caso de filhos e netos de migrantes argelinos ou de migrantes extraeuropeus, que são, por vezes, considerados como “inimigos interiores” (Deltombe e Rigouste 2005). Estas maneiras distintas de pensar decorrem, entre outros motivos, da “herança colonial” francesa: os argelinos e os seus descendentes continuam a ser vistos sob o prisma do colonialismo, da guerra da Argélia que se saldou pela independência argelina e pelos sentimentos antimuçulmanos. Portugal e a França nunca tiveram graves contenciosos desde as guerras napoleónicas e as relações entre os dois países no período contemporâneo mantiveram-se pacíficas.

Virtudes da invisibilidade

Não se pode compreender os portugueses em França, e especificamente as suas relações com o futebol, sem os relacionar com os outros imigrantes em França, e sobretudo com os argelinos. A invisibilidade dos portugueses só se concebe pela sobrevisibilidade dos argelinos e dos seus descendentes. Os segundos ­serviram de para-raios aos primeiros (Cordeiro 1989-1990). Esta ligação está, em parte, na origem da imigração maciça de portugueses para França desde o final dos anos 1950 e, sobretudo, a partir de 1962, ano da independência da Argélia e ano em que o número de emigrantes portugueses para França ultrapassa pela primeira vez o volume daqueles que se dirigem para o Brasil (Baganha 1994: 975). Com efeito, para as frações dominantes da elite política e administrativa no poder em França, seria de facilitar ao máximo a migração maciça de portugueses para França. Além de responder às necessidades de mão de obra barata e pouco qualificada num período de expansão económica, a imigração portuguesa era usada para impedir uma imigração numerosa de argelinos. Esta estratégia foi claramente reivindicada posteriormente pelo antigo responsável pela Direção das Populações e das Migrações, que se vangloriava de ter “introduzido voluntariamente 700.000 portugueses para impedir a imigração argelina” (Massenet 1994: 210). As comparações entre portugueses e argelinos, sempre a favor dos primeiros, existem desde os anos 1960, a pseudoassimilabilidade dos primeiros contrapondo-se à não assimilabilidade dos segundos. Assim, já em 1967 Michel Massenet defendia junto do embaixador de Portugal em França que, “enquanto os trabalhadores portugueses se adaptam e se integram na sociedade francesa, os argelinos são sempre inassimiláveis”.[3] Georges ­Pompidou, primeiro-ministro francês de 1962 até 1968 e presidente da República de 1969 a 1974, partilhava a ideia da “assimilabilidade” dos portugueses. Para ele e para os seus mais próximos conselheiros, depois da Bélgica, da Polónia, de Itália e da Espanha, Portugal era o último país que podia fornecer à França malthusiana uma população europeia, branca e católica que se integraria perfeitamente na sociedade francesa. Por isto, a partir de 1964, ordens foram dadas para que as autoridades na fronteira deixassem passar os portugueses clandestinos que seriam, com facilidade, regularizados posteriormente (Pereira 2007). Esta medida alimenta decisivamente a emigração portuguesa irregular para França, que atingiu proporções inusuais (mais de 100 mil emigrantes por ano entre 1969 e 1971). Os candidatos à emigração sabiam, pelas cartas que recebiam dos seus familiares e pelos relatos dos emigrantes que regressavam ao país em períodos de férias, que poderiam entrar sem passaporte em França, regularizar a sua situação, encontrar trabalho, ganhar dinheiro, enviar remessas para a família. O dinheiro dado às redes de passadores era um investimento seguro.

Até hoje, a comparação entre portugueses e argelinos está implícita em muitos discursos. Quando se diz que os portugueses e os seus filhos são os imigrantes melhor integrados em França, implicitamente esta hierarquização implica que há alguns que estão menos integrados. No entanto, não queremos afirmar que os portugueses estão ou não integrados. Alguns trabalhos académicos, recorrendo a vários instrumentos, mostraram que a representação idílica produzida por muitos políticos franceses sobre a imigração portuguesa não se comprova na realidade (Charbit, Hily e Poinard 1997; Safi 2006; Jelen 2007). Porém, temos de ter presente que o conceito de integração tal como ele é usado no discurso político e mediático é um conceito criticável do ponto de vista das ciências sociais (ver, por exemplo, Schnapper 2006). O uso do conceito de integração é muitas vezes, como o demonstrou Abdelmalek Sayad, uma arma para deslegitimar os imigrantes, sobretudo os argelinos e os seus descendentes, as populações mais dominadas na sociedade francesa (Sayad 1999: 316). Integrado é muitas vezes sinónimo de invisível ou de igual. Ora, como vemos no caso dos portugueses, há fenómenos que o olhar político ou mediático não vê ou não quer ver. E uma igualdade de formas de ser, de pensar, de agir, de representar a nação – uma suposta identidade nacional (Noiriel 2007a) – não existe. Existe, sim, uma pluralidade de práticas sociais e de representações variáveis segundo critérios sociais, regionais ou religiosos. Assim, o discurso sobre a integração omite que os imigrantes não podem integrar-se num “ideal” que não existe mas que, de facto, se integram em vários subsistemas: mercado de trabalho, movimentos sociais, territórios. O que queremos mostrar é que a invisibilidade dos portugueses em França não corresponde tanto às suas práticas mas à miopia dos media e da classe política francesa. Este defeito de visão permitiu aos portugueses e aos seus descendentes viver intensamente o futebol, tanto pela sua prática quanto pelo espetáculo que ele constitui, sem que isto causasse retaliações ou estigmatizações, como é o caso para outras populações imigrantes e as suas descendências. Porém, é de notar também que esta invisibilidade é dolorosamente ressentida por alguns luso-descendentes, que prefeririam não pertencer a uma minoria invisível, mas antes a uma minoria visível. Por isto, alguns luso-descendentes, como escreveu Jean-Baptiste Pingault, que estudou a principal associação de luso-descendentes em França, “lamentam-se desde há vinte anos de serem invisíveis. Todavia, não é por não terem tentado. Procuraram constantemente afirmar-se na esfera política, francesa como portuguesa” (Pingault 2004: 71).[4] Ser visível permitiria a alguns luso-descendentes, nutrindo ambições políticas, beneficiar das medidas supostamente antidiscriminatórias que alguns partidos políticos desenvolveram, escolhendo indivíduos oriundos destas minorias visíveis para a constituição das listas eleitorais ou, recentemente, para ministérios ou secretarias de Estado. Porém, estas escolhas têm como efeito perverso manter estas minorias na alteridade, mantêm-nas visíveis, afinal (Geisser e Soum 2008).

Que nomes para os clubes portugueses?

Em 2009, segundo o anuário da Federação Francesa de Futebol, 205 clubes de futebol em França demonstravam, no seu nome, ter uma ligação com Portugal. Com efeito, desde meados dos anos 1960 os portugueses em França criaram clubes de futebol (Pereira 2003). Porém, nem todos os praticantes de futebol portugueses e luso-descendentes em França jogaram em clubes portugueses e estes clubes também receberam jogadores franceses ou estrangeiros. Nenhum dos principais jogadores profissionais de origem portuguesa (Robert Pirès, Frédéric da Rocha, Corentin Martins, Kevin Gameiro) jogou num desses clubes. Mas foi no Club Sportif et Culturel des Portugais de Fontainebleau, criado em 1971, que o jogador com mais internacionalizações na equipa francesa, Lilian Thuram, iniciou a sua carreira quando tinha nove anos. O clube guarda religiosamente uma das camisolas do jogador na equipa de França. Além disso, praticantes portugueses ou luso-descendentes podem jogar fora de qualquer estrutura ou em equipas do campeonato corporativo, ligadas às empresas.

Os nomes dados aos clubes portugueses permitem-nos compreender a autoperceção dos dirigentes associativos que estiveram no início destes clubes, quando eles foram criados e legalizados depois de vários trâmites burocráticos. Pode facilmente imaginar-se que os nomes foram negociados e discutidos entre os principais associados, que a designação “representava” o conjunto dos associados. A principal ocorrência nestes nomes é a referência ao país de origem dos dirigentes e da maioria, inicial, dos associados: “Portugueses” (161) e “Portugal” (11). Esta quantidade contrasta com a quase inexistência de clube com referência à Argélia (6) apesar de, desde 1975, o volume das duas populações ser muito próximo – pelo menos o das populações que só têm a nacionalidade estrangeira, uma vez que os censos consideram franceses os binacionais. O número de clubes com um nome referente a Portugal é superior a todos os outros clubes relativos a outros países de estrangeiros em França (114). A seguir a Portugal aparece a Turquia, com “apenas” 57 clubes. Depois, há 17 clubes que apresentam o termo “lusitano” ou um seu derivado. O mais conhecido clube português em França chama-se Union Sportive des Lusitanos de Saint-Maur. Criado oficiosamente em 1966 e legalizado em 1971, este clube atingiu o topo do futebol amador em 2001 (terceira divisão). Porém, em 2002 cindiu-se em dois. A equipa principal reuniu-se com a equipa de Créteil. O antigo presidente dos Lusitanos, o homem de negócios Armando Lopes, tornou-se presidente do Créteil-Lusitanos, que, até 2009, jogou na segunda divisão. Os Lusitanos de Saint-Maur, com uma nova presidência, recomeçaram no início dos escalões amadores. Em 2008, reuniam 400 associados. Alguns nomes de clubes resultam de tributos a clubes portugueses. Há nove Benficas, três FC Porto e apenas um Sporting. Cinco clubes fazem referência a uma região ou a uma localidade portuguesa (três ao Minho, um a Bragança e um a Aljustrel). Por fim, existem apenas quatro clubes que fazem referência à condição de trabalhadores dos associados.

Que conclusões tirar deste recenseamento? Em primeiro lugar, ele reforça a ideia da invisibilidade dos portugueses em França e da liberdade de que eles usufruem. Esta quantidade sem igual de clubes com referências a Portugal nunca é referida (ou pelo menos nunca o vi) como um sinal de má integração ou de falta de lealdade dos portugueses e luso-descendentes para com o país de acolhimento. Quando o ministro dos Desportos, Jean-François Lamour, da Union pour un Mouvement Populaire, o principal partido de direita, convidou, em 2004, a “ficar vigilante perante as práticas que prejudiquem o pacto republicano, como o desenvolvimento dos clubes comunitários” (Gasparini e Weiss 2007: 79), não visava estes “clubes portugueses”. Tão-pouco os destinatários deste discurso entendiam que os visados fossem os mais de 200 clubes portugueses. Aliás, é interessante notar que poucos clubes portugueses gravaram no nome do clube uma dupla pertença. Só 11% dos clubes são luso-franceses enquanto, no caso dos turcos, possivelmente porque temem acusações de comunitarismo, esta proporção sobe até os 28%. O segundo ponto interessante deste recenseamento é a primazia do termo “português”, que não se pode encarar como natural por diferentes motivos. Desde logo, esta predominância não existe em todo o associativismo português e particularmente nos ranchos folclóricos, que também são numerosos em França (Cordeiro e Hily 2000; Chevalier 2003; Calogirou 2003). Estes ranchos têm muitas vezes nomes com referências a uma região ou a uma localidade. Esta diferença explica-se pelo facto de o folclore ter sido objeto de codificação, patrimonialização e regionalização durante o Estado Novo (Melo 2001). Cada região e cada cidade têm as suas particularidades e tradições que os emigrantes em França tentam reproduzir no desejo de uma busca de “autenticidade” valorizada nas sociedades urbanas atuais. Como a emigração portuguesa em França se fez principalmente de modo irregular, através de cadeias migratórias, encontra-se muitas vezes nas cidades francesas um predomínio de portugueses provenientes da mesma aldeia (ver a cadeia emigratória estudada por Rocha-Trindade 1973, ou por Portela e Nobre 2001). O conceito de comunidade, pouco heurístico, esconde que as sociabilidades dos portugueses em França assentam muitas vezes sobre a reconstituição de sociabilidades anteriores, baseadas em redes de parentesco e de amizade. Há, por vezes, várias comunidades na mesma localidade. Assim, portugueses ou luso-descendentes oriundos da mesma região reconstituem em França tradições folclóricas da sociedade local de origem, num diálogo constante com os ranchos existentes em Portugal. Este facto ilustra que o título de “português” para o futebol não é nada natural. Se ele foi escolhido pelos dirigentes é, em parte, porque não há no futebol, contrariamente ao folclore, uma diferenciação regional codificada. Pode haver diferenças de estilos de jogo entre clubes, mas as regras são comuns. Apesar das rivalidades futebolísticas, que prolongam as rivalidades entre o “Norte” e o “Sul” (Sobral 2004; Domingos e Kumar 2006; Seabra 2011), a região portuense e a capital, há apenas um “futebol português”, conceito aliás problemático (Domingos 2004). A escolha do termo “português” é pois, em grande parte, resultado do fenómeno migratório. Como vimos, há distinções sociais e / ou regionais entre portugueses e luso-descendentes em França. Aconteceu-me muitas vezes que um português em França me perguntasse de onde sou. Ele não se refere (e eu não o entendo assim) ao sítio onde vivo em França, mas àquele de onde os meus pais são originários.[5] Muitos emigrantes que provinham das regiões rurais do interior português, que não conheciam Portugal na íntegra, que por vezes conheceram Paris antes de Lisboa (Barreto 1997: 20), identificaram-se como portugueses em França. Até na emigração, eles sentiam-se sobretudo originários de Castro Laboreiro, do Penedono ou de Quadrazais. Em França, foram confrontados com uma sociedade estrangeira, na qual se impôs desde o século XIX a “tirania do nacional” (Noiriel 1991), que assenta na identificação com um Estado-­-Nação, identificação que é materializada em documentos administrativos (como os bilhetes de identidade, que muitos portugueses não tinham antes de emigrar) (Torpey 2003; Noiriel 2007b). Para o dizer como Eugen Weber, os camponeses das Beiras ou do Minho tornaram-se portugueses emigrando (Weber 1976). É perante a alteridade que a identidade (nacional ou outra) se constrói. Assim, um natural de Bragança em Paris apresenta-se como português em Paris (salvo se está perante outro português) e transmontano (ou até bragantino) em ­Lisboa. De resto, se há inúmeras casas regionais ou municipais em Lisboa (Melo 2006), elas são raras em França. Assim, no contexto migratório, é a pertença nacional que sobressai.

Outro resultado do contexto migratório é a subalternização das identidades clubistas, pelo menos no que é relativo aos nomes dos clubes. Para a maioria dos indivíduos do sexo masculino em Portugal e para parte dos de sexo feminino, a pertença clubista, principalmente a um dos três grandes clubes, é incontornável (Salesse 2008). Os jovens, sobretudo das classes populares, são socialmente constrangidos a escolherem um clube. No entanto, os associados dos clubes “portugueses” em França preferem subalternizar o que pode ser uma fonte de dissensão entre os associados que, mesmo que venham da mesma aldeia ou região, têm clubes diferentes. É frequente ouvir, aquando de um desentendimento mais grave entre adeptos dos três grandes clubes na retransmissão do jogo num café, a frase “mas afinal somos todos portugueses” – que deve acabar com os conflitos suscitados pelas algazarras clubistas.

Por fim, os imigrantes portugueses vieram para trabalhar em França, e, como demonstrou Sayad, é o trabalho que legitima a sua presença neste país (Sayad 2006), mas apenas quatro clubes fazem referência ao estatuto de trabalhador. Há pelo menos três explicações para este fenómeno. Em primeiro lugar, grande parte dos emigrantes dos anos 60-70 vinham de um meio rural e, mesmo quando trabalhavam na construção civil, nas obras públicas ou nas fábricas, a maioria não adquiriu uma “consciência de classe” proletária. Este facto foi reforçado pela desindustrialização e enfraquecimento da identidade operária a partir do fim dos anos 1980 (Noiriel 1986). Em segundo lugar, muito poucos clubes inscritos na Federação Francesa de Futebol estiveram ou estão hoje ligados a grupos de esquerda, extrema-esquerda ou a sindicatos. Os que, eventualmente, teriam esta ligação encontram-se nos campeonatos da Federação Sportive et Gymnique du Travail. Os portugueses não criaram estes clubes, ou as associações que lhes estavam muitas vezes subjacentes, para defender os seus direitos de trabalhadores, mas sim para organizar os seus lazeres, criar espaços de sociabilidade próprios, transmitir a “cultura portuguesa” aos filhos. Por fim, a identidade operária é vista como menos prestigiosa que uma dita identidade portuguesa. Muitos portugueses em França orgulham-se da identidade e da cultura portuguesa tal como eles as concebem, buscando principalmente no passado das grandes descobertas motivos de orgulho patriótico (Oriol 1985). Como ilustração desta utilização de uma certa leitura do passado, refira-se a principal associação de luso-descendentes em França, chamada “Cap Magellan”, remetendo explicitamente para a epopeia portuguesa. Os governos portugueses reforçaram estas representações usando objetos como caravelas ou personagens como Luís de Camões nas diferentes liturgias e comemorações simbólicas. O facto de o 10 de Junho se chamar Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas mostra esta ligação entre Descobrimentos e emigração. Aqui há mais uma diferença em relação aos imigrantes argelinos. Como mostraram autores como Frantz Fanon, os colonizadores esforçaram-se por rasurar a história dos povos conquistados e difundir nestas populações um sentimento de inferioridade que legitimava a dominação colonial. Assim, os imigrantes argelinos e os seus descendentes têm mais dificuldades em usar a história como recurso e como meio de se afirmarem na sociedade francesa.

Dos vários usos dos clubes portugueses

A quantidade considerável de clubes portugueses e os nomes que lhes foram dados indicam uma vontade inicial dos associados de criar espaços de sociabilidade à parte do resto da sociedade francesa. Porém, a constituição de um espaço autónomo não resulta apenas da vontade dos portugueses. É também o fruto da legislação vigente nos anos 1960-1970. Com efeito, os clubes não podiam contratar mais de dois jogadores estrangeiros (cinco nas regiões onde havia uma forte imigração). Em sentido contrário, os clubes estrangeiros só podiam contratar dois jogadores franceses. Aos portugueses que queriam jogar futebol numa estrutura organizada e não podiam jogar em clubes franceses, apenas restava a possibilidade de criar um clube. Os primeiros clubes foram fundados em 1965 e resultavam da iniciativa de empresas onde trabalhavam muitos portugueses (a empresa Michelin, cuja principal fábrica estava sediada em Clermont-Ferrand criou a Amical Ibérique para os seus empregados espanhóis e portugueses) ou de indivíduos e entidades próximos das estruturas consulares portuguesas (o clube português de Toulouse foi fundado pelo Padre Ardérius e a Associação Nacional dos Portugueses em França criou vários clubes em Paris e arredores). No início, os clubes são pouco autónomos do patronato e dos indivíduos que se mobilizam para impedir a politização dos emigrantes em França (Pereira 2011). Mas, depressa, os clubes de futebol vão surgir da iniciativa de imigrantes com nenhuma ou pouca ligação com empresas ou consulados.

Antes do 25 de Abril de 1974, foram fundadas 114 associações com, pelo menos, uma equipa de futebol. Este número é impressionante porque, neste período, os portugueses, cuja maioria tinha emigrado irregularmente, eram pouco propensos a submeter-se ao poder da administração e a preencher formulários, sobretudo em francês. As interações que eles tinham tido em ­Portugal com a administração alimentara neles uma sólida desconfiança do Estado (Cabral 2006) e, em França, nestes primeiros anos de emigração, o Estado aparecia também como um organismo inquisidor, potencialmente ameaçador. No entanto, os benefícios ultrapassavam os incómodos. Legalizar um clube – muitas equipas existiam informalmente, em terrenos por vezes pouco praticáveis – permitia participar em campeonatos, ter acesso a campos de futebol, obter subsídios.

Assim, nos anos 1960-1970, os clubes portugueses funcionaram como um espaço de sociabilidade, de autonomia e de proteção. Porém, não se pode concluir que os portugueses se queriam fechar, ficando arredados do resto da sociedade francesa. Se fosse esse realmente o caso, não teriam partici­pado em competições que incluíam principalmente clubes franceses e teriam jogado entre si, num círculo fechado. A prática do futebol funcionou também como uma mercadoria cultural que permitiu transações na sociedade francesa. Os portugueses criaram então uma competência, um savoir-faire neste domínio, porque poucos eram os que, em Portugal, tinham jogado futebol num clube.[6] A prática era sobretudo informal. As crianças e os adolescentes jogavam na escola, nas praças, na rua – tendo por vezes de fugir à polícia que impedia os jogos nestes espaços (Murteira 2008) – mas muito raramente em clubes, em campos com relva, com árbitros que tentavam faziam cumprir regras não negociáveis. A prática em clubes permitiu aos portugueses adquirir um ­reconhecimento nas cidades onde viviam. Eles usufruíam do prestígio que tinha na altura o futebol português (bons resultados nas competições europeias do Sport Lisboa e Benfica, do Sporting Clube de Portugal, do Vitória de Setúbal e da seleção nacional no Campeonato do Mundo de 1966), prestígio que contrastava com um período medíocre do futebol francês entre a última final europeia do Stade de Reims em 1959 e a primeira do Saint-Etienne em 1976. Para os portugueses, que provinham de um país considerado em França como pobre, atrasado, vivendo sob uma ditadura obscurantista e conduzindo guerras coloniais em África, o futebol era a única coisa da qual eles podiam orgulhar-se e em que apresentavam uma certa superioridade[7] e autoridade. Por exemplo, o jornal Correio Português, publicado pela Associação Nacional dos Portugueses em França, impulsionada pelo Consulado-Geral de Portugal em Paris, realçava frequentemente esta superioridade portuguesa que contrastava com o “insípido” futebol praticado em França (Correio Português 1967).

Nos campos de futebol, nas competições amadoras, os portugueses, reunidos numa mesma equipa, podiam confrontar-se coletivamente com equipas francesas ou de outros grupos imigrantes. Nos noventa minutos do jogo, as hierarquias sociais e / ou étnicas desapareciam. Indivíduos estigmatizados, dominados na vida quotidiana, no trabalho, podiam jogar de igual para igual e por vezes reverter o estigma. Um dos principais dirigentes associativos portugueses em França, Manuel Dias, escrevia, em 1990, que “o futebol é um dos únicos domínios no qual os portugueses enfrentam os franceses com uma raiva de vencer descomplexada” (Dias 1990: 211). O uso de termos com conotações guerreiras indica que, apesar dos discursos de parte das elites sobre a suposta assimilabilidade dos portugueses, havia tensões entre portugueses e franceses, tensões que se manifestavam também nos jogos de futebol. Nos relatórios da polícia ou dos prefeitos, existem muitos relatos de confrontos físicos envolvendo jogadores e espetadores portugueses (ver Pereira 2003).

Esta violência não se explica cabalmente usando a teoria crítica do desporto, desenvolvida principalmente por Jean-Marie Brohm, que defende que o futebol é por essência um fenómeno guerreiro, uma “peste emocional” (Brohm e Perelman 2006), um amplificador de um chauvinismo xenófobo. O processo de civilização descrito por Norbert Elias e o processo de integração descrito pela escola de sociologia de Chicago são muito mais úteis para enquadrar estes atos vistos como violentos. Por um lado, os emigrantes portugueses provinham de regiões rurais onde o controlo das emoções e das pulsões violentas era menos comum que nas regiões urbanas francesas. A ideia de que a violência é ilegítima e de que o Estado tem o monopólio da violência legítima não era interiorizada por grande parte da população camponesa, que considerava poder usar da violência para se vingar e limpar a honra (Fatela 1989). Ora, estes usos do corpo e da violência física são vistos como totalmente ilegítimos pelas autoridades francesas. O facto de a maioria da população que vive em França ter interiorizado a proibição de recorrer à violência torna ainda mais insuportáveis as suas ocorrências. Alguns portugueses em França usaram com facilidade a violência para se imporem perante indivíduos que não estavam de todo acostumados a isto. Por outro lado, o conflito não deve ser visto como oposto ao processo de integração, mas, pelo contrário, como parte dele. A escola de Chicago demonstrou que a competição e o conflito fazem parte do processo de integração dos imigrantes (Rea e Tripier 2003). Sem conflito poderá dizer-se que não existe integração. Por fim, a violência entre pessoas de grupos étnicos diferentes é por vezes explicada por uma distância cultural e religiosa demasiado importante. Porém, a violência exerce-se muitas vezes em grupos pouco distintos cultural e religiosamente. É “o narcisismo das pequenas diferenças” apontado por Freud (ver Blok 2004). Paradoxalmente, se os jogos entre clubes portugueses e franceses se transformavam em batalhas campais é porque as similitudes eram mais importantes que as diferenças e porque os portugueses que participavam nestas competições se integravam paulatinamente na sociedade francesa.

A violência era muitas vezes uma resposta de populações dominadas, que sofriam discriminações e estigmatizações e eram vítimas de insultos racistas. Em 1971, o prefeito de um departamento do Sudoeste francês observava que “todos os incidentes são uma oportunidade para cada um fazer observações que, no caso particular das equipas estrangeiras, são relativas à nacionalidade dos interessados acrescidas de qualificativos pejorativos”.[8] Na mesma ordem de ideias, Luis Fernandez, internacional francês de origem espanhola, ­legitimou os atos violentos que os filhos de migrantes, como ele, podiam exercer: “ouvir chamar-nos todo o dia, como nos jogos, melon[9], espingouin[10], tos[11], acaba por ser revoltante” (Noiriel e Beaud 1990: 91). A violência era assim uma resposta à estigmatização que, apesar da invisibilidade mediática, acontecia nas interações quotidianas.

A inserção dos clubes portugueses em competições da Federação Francesa de Futebol indica uma vontade de se integrarem num sistema concorrencial. Ao longo dos anos, porém, as distinções entre clubes portugueses e outros reduziram-se. Os clubes portugueses abriram-se a não portugueses e os clubes franceses abriram-se aos portugueses e luso-descendentes (ver, por exemplo, Solacroup e Sabatier 2011). Atualmente, alguns clubes portugueses só têm de português o nome. Clubes portugueses integraram-se profundamente em certas localidades, tornando-se o principal clube local (Aprile, Billion e Bertheleu 2008: 99). O exemplo da passagem de Lilian Thuram por um clube português ilustra este processo. Num livro de memórias, o ex-jogador, entre outros, da Juventus de Turim e do Barcelona conta que o clube português de Fontainebleau era o preferido dos jovens do bairro social onde vivia na altura com a mãe e os quatro irmãos. A maioria dos filhos de imigrantes que jogavam futebol escolhiam o clube português: “nenhum deles queria jogar nos outros dois clubes da povoação. Uma cumplicidade ligava-os aos portugueses de ­Fontainebleau. Uma cumplicidade que todos partilhávamos porque a comunidade portuguesa trazia um extraordinário tom festivo aos jogos. O cheiro das sardinhas assadas, das salsichas preenchia o ar; as bandeiras com as cores portuguesas ondulavam; os cantos eram repetidos até a exaustão. Nós estávamos em ­Portugal e eu próprio era português durante algumas horas” (Thuram 2004: 43). Os clubes portugueses não são assim clubes de uma comunidade, mas de um dado território e das classes populares. Assim, Thuram recorda que

“tinha decidido, depois de duas temporadas nos portugueses de ­Fontainebleau, ingressar no clube de Fontainebleau, de um nível desportivo mais elevado. A minha atitude chocou porque esta equipa era tabu, ela tinha herdado o qualificativo de ‘burguesa’. Os responsáveis tentaram convencer-me a ficar. Eles jogavam na corda sensível do isolamento, dizendo-me que não era o meu mundo e sobretudo que talvez nunca participaria nos jogos” (Thuram 2004: 43).

No mercado do futebol amador, alguns clubes portugueses estão constan­temente à procura dos melhores jogadores, qualquer que seja a sua nacionalidade. O pai do jogador francês Claude Makélélé que, apesar de ter sido internacional do Congo Belga, emigrou para a Europa, trabalhando em fábricas, jogou alguns meses no Lusitanos de Saint-Maur que, querendo conservá-lo, lhe ofereceu “um emprego com menos horas de trabalho e mais dinheiro” (­Makélélé 2009: 31).

Os clubes portugueses tornaram-se, como as associações em França no fim do século XIX estudadas por Pierre Rosanvallon, “espaços protetores e lugares de aprendizagem de uma nova apreensão do coletivo na sociedade dos indivíduos” (Rosanvallon 2004: 310). Esta inserção coletiva pela via dos clubes de futebol não está imune, por vezes, a instrumentalizações políticas. Com efeito, alguns presidentes destes clubes portugueses, que frequentemente também são os presidentes das associações locais, são escolhidos por homens políticos de certas localidades para integrarem as suas listas eleitorais. Atrás destas escolhas, esconde-se por vezes a vontade de “ganhar” o voto dos portugueses que já podem votar nas eleições municipais e serem eleitos. Esta estratégia clientelista, que postula que os indivíduos votam em função da nacionalidade dos candidatos e tende a fortalecer as diferenças étnicas, é claramente explicada num livro retratando alguns dos portugueses e luso-descendentes eleitos para os concelhos municipais nas eleições autárquicas de 2001. A entrada de ­Bernardo Martins no concelho municipal de Cluny é assim resumida:

“a política sempre interessou Bernardo mas ele nunca pensou fazer política. Foi preciso o presidente da Câmara insistir para que ele aceitasse apresentar-se na lista dele nas eleições municipais de 2001 [...]. Porque Bernardo compreendeu bem que os portugueses representam 10% da população de Cluny, a presença dele na lista UMP atrairia o voto deles e asseguraria um segundo mandato ao presidente da Câmara. Devido ao seu estatuto de presidente da associação portuguesa, cujo clube de futebol e rancho folclórico ele dirige, Bernardo tinha uma certa notoriedade junto da comunidade dele” (Dreyfus 2004: 65).

Futebol e transmissão

Depois de ter tido um papel relevante na inserção dos emigrantes por­tu­gue­ses em França, a prática do futebol teve, com o enraizamento de parte desta ­população em França, um papel preponderante na transmissão cultural intergeracional. Este desejo de transmissão cultural intergeracional – o termo cultura engloba aqui muitas práticas – tornou-se um elemento essencial do associativismo português. As associações, as suas atividades (futebol, folclore, organização de festas) e os seus espaços (as sedes das associações), “escondidos do olhar exterior” (Jelen 2007: 70), permitem também um controlo dos mais jovens. Os lazeres dos adolescentes desenvolvem-se assim num espaço socialmente restrito. De resto, muitas associações reproduzem uma repartição desigual dos papéis em função do género. A maioria dos dirigentes associativos é composta por homens, ainda que se não possa pensar que o futebol é só um problema de homens. Há, com efeito, uma correlação entre a chegada das mulheres dos imigrantes vindos como pioneiros e a multiplicação dos clubes de futebol. O reagrupamento familiar, sinal de inserção mais profunda na sociedade ­francesa, permitiu aos homens libertarem-se das tarefas domésticas que, vivendo sós, tinham que exercer. E as mulheres, numa repartição das tarefas domésticas desigual, trataram de lavar as camisolas dos jogadores.

Com os anos, o futebol, tanto a sua prática como o seu consumo enquanto espetáculo, tornou-se um elemento fundamental da relação entre os pais portugueses e seus filhos, muitos deles nascidos em França e tornando-se ­franceses aos 18 anos, em função das evoluções do direito da nacionalidade (Weil 2002). O futebol atenua algumas das roturas que a emigração provoca no seio das famílias. Este papel do futebol na relação entre pais e filhos não é particular ao contexto da emigração portuguesa em França. Ele encontra-se também em outros contextos migratórios ou não migratórios. Entre cada geração, há roturas, diferenças, conflitos. Mas nos casos que envolvem a migração estes processos são muitas vezes exacerbados (Sayad 2006; Attias-Donfut e Wolff 2009): pais e filhos não falam sempre, com a mesma fluência, uma língua comum; os primeiros foram socializados em sociedades rurais, enquanto os segundos vivem desde pequenos numa sociedade urbanizada; os filhos conhecem por vezes uma certa ascensão social (mas bastante limitada por vezes no caso português) e podem recusar os empregos mais difíceis e menos prestigiantes que os pais tiveram de exercer. Gérard Noiriel e Stéphane Beaud (1990) descreveram estes processos no contexto da imigração em França, focando sobretudo o caso dos imigrantes vivendo no Norte e Leste de França, regiões mineiras e industriais que atraíram muitos imigrantes entre os anos 1950 e 1970. Eles demonstraram que na classe operária, constituída por muitos imigrantes polacos e italianos, os pais imigrantes partilham e transmitem aos filhos a paixão pelo futebol. O futebol é muitas vezes um dos principais temas de conversa entre pais e filhos, adultos e jovens. Muitos jogadores franceses de origem estrangeira eram filhos de jogadores de futebol que tinham adquirido uma certa fama local e que tinham iniciado os filhos na prática do desporto. Foi o caso, por exemplo, de Michel Platini. E foi na mesma região, num processo bastante similar, que Robert Pirès, o jogador luso-descendente mais conceituado (tendo ganho um Campeonato do Mundo e um Campeonato da Europa), iniciou a sua carreira. O seu pai, originário do Alto Minho, trabalhava numa fábrica perto de Reims (Leste de França) e tinha um certo prestígio num clube da empresa onde trabalhava. O pai transmitiu esta paixão do futebol e algum savoir-faire ao filho, que nas suas memórias o descreve como o seu ídolo e modelo. A transmissão fez-se pelo mimetismo: “desde pequeno, ia com ele [o pai], pedia-lhe que me trouxesse ao campo de futebol” (Pirès 2002: 48).

O futebol desempenha um papel tão importante na transmissão intergeracional porque, além de superar as roturas, além de ser o desporto-rei das classes populares, tanto em França como em Portugal, permite aos luso-descendentes conciliar, muitas vezes sem conflitos, a lealdade aos pais e a lealdade ao país onde vivem. Como vimos, a partilha da paixão por um clube português e / ou pela seleção portuguesa por parte dos luso-descendentes não é vista, no espaço público francês, como um sinal de não integração, de recusa dos valores republicanos. Por outro lado, para milhares de luso-descendentes e portugueses, apoiar uma equipa portuguesa e, sobretudo, a seleção portuguesa é um recurso para a vida quotidiana. Na escola, no trabalho, eles podem tirar partido dos sucessos da seleção portuguesa, dos clubes portugueses ou dos jogadores portugueses (Cristiano Ronaldo, Pedro Miguel Pauleta). O futebol é um dos sustentáculos das sociabilidades masculinas adolescentes e um grande tema de conversa, e isto permite aos jovens luso-descendentes ter orgulho no “futebol português”. No trabalho, por exemplo nas obras de construção civil, onde são feitas inúmeras piadas sobre as origens étnicas de cada um (Jounin 2008), os portugueses, contrariamente a outros migrantes, podem vangloriar-se dos bons resultados lusos. Aliás, é frequente, no contexto dos confrontos entre as seleções portuguesas e francesas, os adeptos da seleção das quinas preocuparem-se com as reações dos “franceses” nos dias seguintes, tanto em caso de vitória como em caso de derrota. Já em 1973, antes de um jogo amigável entre França e Portugal, o jornalista de A Bola exagerava as consequências de uma eventual vitória lusa: “Se desgraçadamente, Eusébio e companheiros derem uma grande ‘baraque’, nem eu sei bem o que pode acontecer, entre o ‘bistro’ e o comissariado de polícia, passando pelo hospital (arnica, mercurocromo, pontos naturais)” (Santos 1973).

O futebol é o veículo de transmissão de uma identidade portuguesa – mas não de “uma” suposta identidade nacional – e uma mercadoria cultural que os portugueses podem usar nos mercados simbólicos em França. A importância que o futebol tem junto dos emigrantes portugueses e dos seus filhos resulta, no contexto francês, do papel dado a este desporto na sociedade francesa e da invisibilidade das práticas destes migrantes. É importante realçar os contextos nos quais se inserem os migrantes porque a paixão pelo futebol não pode ser considerada apenas como uma importação. Os migrantes não trouxeram ­apenas o futebol nas malas deles. Em França, este desporto permitiu-lhes ultrapassar as estigmatizações. A paixão pelo futebol também não é o sinal de uma eventual “portugalidade”. Este conceito, que reifica uma suposta identidade portuguesa, oculta as diferenças sociais, culturais, de género que dividem os portugueses e omite que os portugueses que vivem no estrangeiro devem negociar e adaptar a identidade deles na sociedade em que vivem. Assim, a ­portugalidade não é igual em todos os países de imigração. Em certos países, em função dos mercados simbólicos, tal prática ou tal costume será valorizado. A portugalidade não é uma essência: é uma construção e depende dos contextos locais e dos mercados simbólicos nos quais os portugueses se inserem.

 

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NOTAS

[1]       Ver as declarações de Eric Besson, ministro da Imigração, da Integração, da Identidade Nacional e do Desenvolvimento Solidário (Schuck e Vernet 2009). Ver também as declarações de Claude Dilain, do Partido Socialista, presidente da Câmara de uma cidade nos arredores de Paris (Bronner 2009).

[2]       Telejornal das 20 horas, France 2, 5 de julho de 2006.

[3]       Nota para o embaixador de Portugal em França, 23 de novembro de 1967, Arquivo Histórico Diplomático, EEA 53.

[4]       A mesma associação foi também estudada por Barre (1997).

[5]       Se o mesmo encontro com a mesma pessoa tivesse lugar em Portugal, eu teria respondido indicando a cidade onde vivo em França.

[6]       Ver as estatísticas do número de praticantes em Feio (1985).

[7]       Miguel Moniz demonstra também que o futebol é um dos raros fenómenos pelos quais os portugueses nos Estados Unidos podem assumir uma certa superioridade na sociedade americana (Moniz 2006: 382-383).

[8]       Ofício do prefeito de Corrèze dirigido ao ministro do Interior, 22 de outubro de 1971, CAC, n.° 19840083, art.º 72.

[9]       Expressão pejorativa designando os magrebinos.

[10]     Expressão pejorativa designando os espanhóis.

[11]     Expressão pejorativa designando os portugueses.