It is the cache of ${baseHref}. It is a snapshot of the page. The current page could have changed in the meantime.
Tip: To quickly find your search term on this page, press Ctrl+F or ⌘-F (Mac) and use the find bar.

Química Nova - Chemical constituents of Arrabidaea samydoides (Bignoniaceae)

SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.26 issue5Determination of high molecular mass compounds from Amazonian plant's leavesElectroanalytical study of the paraquat herbicide in aqueous solution by square wave voltammetry using ultramicroelectrodes author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Article

Indicators

Related links

Share


Química Nova

Print version ISSN 0100-4042

Quím. Nova vol.26 no.5 São Paulo Sept./Oct. 2003

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-40422003000500003 

ARTIGO

 

Constituintes químicos de Arrabidaea samydoides (Bignoniaceae)

 

Chemical constituents of Arrabidaea samydoides (Bignoniaceae)

 

 

Patrícia Mendonça PaulettiI; Vanderlan da Silva BolzaniI, *; Maria Claudia Marx YoungII

IInstituto de Química, Universidade Estadual Paulista, CP 355, 14801-970 Araraquara - SP
IISecção de Fisiologia e Bioquímica de Plantas, Instituto de Botânica, CP 4005, 01061-970 São Paulo - SP

 

 


ABSTRACT

Chemical investigation of Arrabidaea samydoides resulted in the isolation of the flavone chrysin; five triterpenes: lupeol, ursolic acid, 3b,16a-dihydroxy-urs-12-ene, uvaol, and erythrodiol; and two sterols: sitosterol and stigmasterol. The structures of these compounds were established by spectroscopic analysis. This paper deal with the first phytochemical study of Arrabidaea samydoides.

Keywords: Arrabidaea samydoides; Bignoniaceae; triterpenes.


 

 

INTRODUÇÃO

Como parte da nossa busca por substâncias com atividades antitumoral, antifúngica e antioxidante em plantas do Cerrado e da Mata Atlântica do Estado de São Paulo, Arrabidaea samydoides (Bignoniaceae) foi escolhida para estudo fitoquímico detalhado, devido à atividade no reparo do DNA apresentada pelo extrato EtOH dos caules, que mostrou inibição seletiva numa das linhagens mutantes de Saccharomyces cerevisiae (RS 321, IC12= 1500). O resultado da atividade no reparo do DNA detectada no extrato de A. samydoides é um indício da presença de metabólitos especiais bioativos.

A família Bignoniaceae está constituída por 113 gêneros e 800 espécies de plantas arbustivas, arbóreas e trepadeiras1. As espécies deste táxon encontram-se distribuídas nas regiões tropicais de todo o mundo, sendo de ocorrência freqüente no continente americano, cujos jacarandás (Jacaranda brasiliana) e ipês amarelo e roxo (Tabebuia alba e T. avellanedae) são os exemplos mais representativos da família. Plantas destas espécies são muito utilizadas na construção civil, carpintaria e construção de instrumentos musicais devido à natureza rígida da madeira; em planejamento urbano é também usada como planta ornamental, devido à beleza de suas florações2, que têm no ipê o exemplo mais conhecido no paisagismo urbano. No Brasil, plantas desta família ocorrem desde a Amazônia até o Rio Grande do Sul, não possuindo um habitat único, podem ser encontradas nos Cerrados, Mata Atlântica e região Amazônica2. Existem poucos relatos de estudos químicos do gênero Arrabidaea, sendo A. chica a principal espécie estudada, da qual foram isolados fitosteróis, flavonóides e pigmentos utilizados em cosméticos: carajurona, carajurina e 3-deoxiantocianidinas3-7.

A ausência de estudos químicos sobre a espécie em questão, aliada ao fato da importância do registro químico de espécies endêmicas dos biomas brasileiros, motivaram o presente trabalho que descreve o estudo fitoquímico de Arrabidaea samydoides. Foram isoladas da fração AcOEt 6 xantonas com atividade antioxidante8, das quais 3 são inéditas; da fração CHCl3 e da fração hexânica, 1 flavona, 5 triterpenos pentacíclicos e 2 esteróides. A ocorrência de xantonas e triterpenos na espécie é relevante para a quimiotaxonomia de Bignoniaceae, já que esta é a terceira espécie do gênero a ser estudada.

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A investigação fitoquímica de Arrabidaea samydoides resultou no isolamento do lupeol (1)9, sitosterol (2)10, estigmasterol (3)10, crisina (4)11, 3b,16a-diidroxi-olean-12-eno (5)9, eritrodiol (6)9,12, uvaol (7)9,13 e ácido ursólico (8)9. Os triterpenos 6-7 foram identificados neste estudo como uma mistura na proporção de 2:1, respectivamente.

A identificação de todas as substâncias acima mencionadas foi baseada na comparação de seus dados espectroscópicos (RMN 1H e 13C, experimentos DEPT 135o, COSY, HMQC, HMBC, IV e EM) com valores disponíveis na literatura.

Em ensaios preliminares, visando a detecção de atividade antitumoral, o extrato bruto dos caules de A. samydoides apresentou atividade inibidora do crescimento de linhagens mutantes de Saccharomyces cerevisiae rad + (12,0 mm) e rad 52 Y (13,0 mm), exceto na linhagem RS 321. A inibição do crescimento destas leveduras é um teste preliminar seletivo para verificar a ação de uma determinada amostra no reparo do DNA14, o que pode ser interpretado como uma atividade citotóxica. Atualmente muitas doenças podem estar relacionadas com alterações no DNA, entre elas, o câncer14. Assim, dado o interesse por produtos naturais com ação no DNA, priorizou-se o fracionamento da fração CHCl3 bioativa [rad + (11,0 mm), RS 321 (inativa) e rad 52 Y (12,0 mm)]. O fracionamento e purificações subseqüentes das frações bioativas indicaram uma diminuição gradativa da bioatividade das subfrações, quando comparadas com os valores de inibição determinados para o extrato bruto. Estes resultados são bastante freqüentes quando se faz estudo químico bioguiado e pode estar relacionado a vários fatores. Os mais comuns devem-se à perda de atividade durante a separação cromatográfica e ao sinergismo15.

 

PARTE EXPERIMENTAL

Instrumentação e material cromatográfico

Os espectros de RMN foram registrados em CDCl3 e DMSO-d6 no espectrômetro Bruker AC-200 F e Varian Inova 300 e 500, usando TMS como padrão de referência. Os experimentos COSY, HMBC e HMQC foram realizados em espectrômetro Variam Inova 500 e DEPT 135o em espectrômetro Bruker AC-200 F. O espectro de absorção no IV foi obtido no espectrômetro PERKIN ELMER- FT-IR, utilizando-se pastilhas de KBr. Os espectros de massas foram registrados em espectrômetro de massas de baixa resolução FISONS-Modelo VG Platfform II, no modo Electrospray. Nas análises por CCDC e CCDP foram utilizadas placas de sílica gel 60 G F254 . As placas foram observadas sob luz UV 254 - 366 nm (Chromatovus) e reveladas com vapores de iodo ressublimado e solução de anisaldeído, seguida de aquecimento. Nas cromatografias em coluna foram utilizadas como fase estacionária sílica gel (230 - 400 mesh), sílica quimicamente modificada com grupos octadecila (ODS)16 e PVPP (polivinilpirrolidona).

 

 

Material vegetal

A espécie vegetal Arrabidaea samydoides Sandw. foi coletada na Estação Ecológica e Experimental de Mogi-Guaçú (SP) em abril de 2000. A exsicata (Moraes 43) encontra-se depositada no Herbário do Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente de São Paulo (SP).

Bioensaio

Para a detecção de atividade antitumoral em extratos e substâncias puras, foram utilizadas três linhagens mutantes de Saccharomyces cerevisiae (rad+, 52Y e RS321) segundo a metodologia descrita na literatura14.

Os padrões utilizados foram: Camptotecina: rad+ 200 µg/mL (16, 0 mm) e 52Y 5 µg/mL (21,0 mm) e estreptonigrina: RS-321 4 µg/mL (20,0 mm).

Extração

As folhas de A. samydoides (845,45 g) e os caules (837,80 g) foram secos, pulverizados e extraídos com etanol. Os extratos brutos das folhas (72,67 g) e do caule (22,86 g) foram suspensos em CH3OH: H2O (8:2) e submetidos a partição com hexano, CHCl3 e AcOEt. Após a concentração dos solventes, foram obtidas das folhas as frações: hexânica (1,65 g), CHCl3 (11,79 g), AcOEt (36,19 g ), aquosa (9,45 g) e emulsão (10,8 g) e dos caules, as frações hexânica (0,46 g), CHCl3 (2,5 g), AcOEt (4,77 g), aquosa (6,46 g) e emulsão (3,77 g).

A fração CHCl3 dos caules (1,0 g) foi fracionada em uma coluna de sílica gel empregando gradiente de CH2Cl2:CH3OH. A subfração 16-28 forneceu a substância 1 (34,3 mg). Da subfração 29-39 (51,7 mg) foi obtida a mistura de 2 e 3 (9,1 mg) após CCDP usando como eluente CH2Cl2. A subfração 44-51 (154,6 mg) apresentou atividade inibidora do crescimento de linhagens mutantes de Saccharomyces cerevisiae [rad + (14,0 mm), RS 321 (13,0 mm) e rad 52 Y (12,0 mm)] e foi submetida à coluna cromatográfica de PVPP usando como eluente CHCl3, sendo a substância 4 (10,5 mg) isolada desta.

A fração hexânica dos caules (0,46 g) foi submetida à coluna de sílica gel utilizando gradiente de Hexano:AcOEt. A subfração 69-78 (48,7 mg) foi submetida a CCDP usando como eluente Hexano: AcOEt (7:3). Deste procedimento foi isolada a substância 5 (9,8 mg).

Uma parte da fração CHCl3 (5,0 g) das folhas foi fracionada em coluna de sílica gel usando gradiente de Hexano:AcOEt. A mistura formada pelas substâncias 6 e 7 (9,1 mg) foi obtida da subfração 15 (44,2 mg), após cromatografia em coluna em sílica ODS utilizando como eluente gradiente de CH3OH:CHCl3. A substância 8 (73,0 mg) foi isolada da subfração 28-30 (678,0 mg) após coluna cromatográfica de sílica C-18 empregando como eluente gradiente de CH3OH:CHCl3.

 

CONCLUSÃO

Arrabidaea samydoides está incluída nas poucas espécies com atividade antitumoral, antifúngica e/ou antioxidante selecionada entre cerca de 1500 espécies coletadas na Mata Atlântica e Cerrados paulistas dentro do programa de bioprospecção do Biota-FAPESP. O presente estudo demonstrou que a atividade no reparo do DNA apresentada pelo extrato bruto manteve-se até frações semi purificadas. No entanto, as substâncias isoladas mostraram-se inativas.

O isolamento de uma flavona, triterpenos e esteróides de A. samydoides é bastante relevante tendo em vista ser o primeiro estudo químico e biológico dessa espécie da família Bignoniaceae, conhecida como um grupo de plantas de ocorrência marcante nos Cerrados brasileiros, hoje considerado um ecossistema seriamente ameaçado de extinção (área definida como "hots spots"17).

 

AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem ao programa Biota-FAPESP e CNPq pelos auxílios e bolsas concedidos.

 

REFERÊNCIAS

1. http://www.inform.umd.edu/PBIO, acessada em Setembro 2002.

2. Lorenzi, H.; Árvores Brasileiras I, Instituto Plantarum de Estudos da Flora LTDA: Nova Odessa, 1988.        [ Links ]

3. Takemura, O. S.; Iinuma, M.; Tosa, H.; Miguel, O. G.; Moreira, E. A; Nozawa, Y.; Phytochemistry 1995, 38, 1299.        [ Links ]

4. Harborne, J. B.; Phytochemistry 1967, 6, 1643.        [ Links ]

5. Zorn, B.; Garcíana-Piñeres, A. J.; Castro, V.; Murillo, R.; Mora, G.; Merfort, I.; Phytochemistry 2001, 56, 831.        [ Links ]

6. Devia, B.; Labres, G.; Wouters, J.; Escribano-Bailon, M. T.; de Pascual-Teresa, S.; Angenot, L.; Titis, M.; Phytochem. Anal. 2002, 13, 114.        [ Links ]

7. Alcerito, T.; Barbo, F. E.; Negri, G.; Santos, D. Y. A. C.; Meda, C. I.; Young, M. C. M.; Chavez, D.; Blatt, C. T. T.; Biochem. Syst. Ecol. 2002, 30, 677.        [ Links ]

8. Pauletti, P. M.; Castro-Gamboa, I.; Silva, D. H. S.; Young, M. C. M.; Tomazela, D. M; Eberlin, M. N.; Bolzani, V. da S.; J. Nat. Prod., no prelo.        [ Links ]

9. Mahato, S. B.; Kundu, A. P.; Phytochemistry 1994, 37, 1517.        [ Links ]

10. Goulart, M. O. F.; Sant'Ana, A. E. G.; Lima, R. A.; Cavalcante, S. H.; Carvalho, M. G.; Filho, R. B.; Quim. Nova 1993, 16, 95.        [ Links ]

11. Agrawal, P. K.; Thakur, R. S.; Bansal, M. C. Em Carbon-13 NMR of Flavonoids; Agrawal, P. K., ed.; Elsevier: Amsterdam, 1989, cap. 3.        [ Links ]

12. Siddiqui, S.; Hafeez, F.; Begun, S.; Siddiqui, B. S.; J. Nat. Prod. 1986, 49, 1086.        [ Links ]

13. Pant, P.; Rastogi, R. P.; Phytochemistry 1977, 16, 1787.        [ Links ]

14. Gunatilaka, A. A. L.; Kingston, D. G. I.; Johnson, R. K.; Pure Appl. Chem. 1994, 66, 2219.        [ Links ]

15. Hostettmann, K.; Marston, A.; Hostettmann, M.; Preparative Chromatography Techniques: Aplication in Natural Product Isolation, Springer: Berlin, 1998.        [ Links ]

16. Snyder, L. R.; Glajch, J. L.; Kirkland, J. J.; Practical HPLC Method Development, John Wiley & Sons: Nova Iorque, 1988.        [ Links ]

17. Myers, N.; Mittermeier, R. A.; Mittermeier, C. G.; Da Fonseca, G. A. B.; Kent, J.; Nature 2000, 403, 853.        [ Links ]

 

 

Recebido em 15/5/02
Aceito em 15/5/03

 

 

* E-mail: bolzaniv@iq.unesp.br