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Revista Brasileira de Zootecnia - Decomposition dynamics and nitrogen mineralization in function of forage grasses and legumes quality residues

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vol.31 issue3Evaluation of animal performance and of the pasture in a mixture of oat (Avena strigosa Schreb Cv. IAPAR 61) and field pea (Pisum arvense L.) managed in different sward heightsShooting emergence dynamics in alfalfa as a function of different phosphorus sources, use of gypsum and liming time author indexsubject indexarticles search
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Revista Brasileira de Zootecnia

On-line version ISSN 1806-9290

R. Bras. Zootec. vol.31 no.3 Viçosa June 2002

http://dx.doi.org/10.1590/S1516-35982002000500005 

Dinâmica de Decomposição e Mineralização de Nitrogênio em Função da Qualidade de Resíduos de Gramíneas e Leguminosas Forrageiras1

 

Hélida Christine de Freitas Monteiro2, Reinaldo Bertola Cantarutti3, Domicio do Nascimento Junior4, Adair José Regazzi5, Dilermando Miranda da Fonseca4

 

 


RESUMO - O experimento foi conduzido com o objetivo de avaliar a dinâmica de decomposição e mineralização de nitrogênio de resíduos de algumas gramíneas e leguminosas forrageiras. Utilizaram-se quatorze resíduos, que variaram quanto à procedência e ao local de coleta, e a seleção foi realizada baseando-se nas características qualitativas desses resíduos e utilizando a distância euclidiana média, como medida de dissimilaridade. Desse modo, foram selecionados os resíduos de B. humidicola, B. brizantha, A. pintoi, D. ovalifolium, L. leucocephala, S. guianensis e C. pubescens. A decomposição dos resíduos selecionados foi medida por meio da liberação de C-CO2. Para a análise dos dados de decomposição, adotou-se o esquema de parcelas subdivididas, em que os resíduos constituíram as parcelas e as avaliações no tempo, as subparcelas. Às quantidades de CO2 evoluídas em função do tempo (horas) ajustou-se uma função logística. Para o ensaio de mineralização, foram realizadas amostragens semanais de nitrogênio amoniacal e nítrico, por um período de sete semanas. Observou-se que o teor de polifenóis e a capacidade destes em complexarem proteínas foram os atributos qualitativos que mais afetaram os processos de decomposição e mineralização líquida de nitrogênio. Os resíduos vegetais que apresentaram carbono orgânico mais facilmente degradável apresentaram maior taxa de decomposição (evolução do CO2) e mineralização líquida de N. Os resíduos de C. pubescens e A. pintoi apresentaram as maiores taxas de decomposição e mineralização líquida de N. O resíduo de B. brizantha também apresentou alta taxa de decomposição. A nitrificação no solo foi mais intensa sob as condições de mineralização do resíduo de A. pintoi.

Palavras-chave: mineralização, resíduos, decomposição, CO2, matéria orgânica

Decomposition Dynamics and Nitrogen Mineralization in Function of Forage Grasses and Legumes Quality Residues

ABSTRACT - The decomposition dynamics and mineralization of nitrogen of fourteen residues of grasses and legumes forages varying in origin and collecting places were evaluated. Seven species were selected (B. humidicola, B. brizantha, A.pintoi, D.ovalifolium, L.leucocephala, S. guianensis and C. pubescens), based on qualitative characteristics and using the distance medium Euclidian as dissimilarities measure and then placed in erlenmeyers vases in the laboratory in an entirely randomized fashion. Decomposition data were analyzed using a split-splot design with residues in the main plot and the evaluation on time as the subplot. The decomposition of the selected residues was measured by means of the liberation of C-CO2, evaluated as a function of time (hours) and adjusted in a logistic function. Weekly sampling of ammonium and nitric nitrogen was realized for a period of seven weeks. If was observed that the amount of polyphenols and their protein complexing ability were the qualitative attribute that affect most the net decomposition and mineralization of N. The residues of C. pubescens and A. pintoi had the highest rates of decomposition and net N mineralization along with the residue of B. brizantha. Nitrification in the soil was more intense under the mineralization conditions of the A. pintoi.

Key Words: mineralization, residue, decomposition


 

 

Introdução

Atualmente, estima-se que cerca de 30 milhões de hectares das pastagens estabelecidas no Cerrado estão em algum estádio de degradação, em que a capacidade de suporte não ultrapassa 0,8 UA/ha e a produção animal não alcança 40 kg/ha ano de peso vivo (Barcellos, 1996).

O declínio na produtividade das pastagens de braquiária após 4 a 10 anos de pastejo, especialmente em solos arenosos, deve-se, principalmente, à baixa fertilidade natural dos solos, caracterizada pela baixa disponibilidade de fósforo e nitrogênio (Oliveira et al., 1996; Macedo, 1995). A fertilização fosfatada é fundamental para o estabelecimento das pastagens nos solos tropicais, enquanto a adubação nitrogenada é indispensável para a manutenção da produção da forrageira. Por ser um nutriente bem conservado no sistema solo-planta a deficiência generalizada de fósforo pode ser corrigida, de forma economicamente viável, com a fertilização fosfatada. A deficiência de nitrogênio acentua-se com o declínio nos teores de matéria orgânica, com a grande quantidade de N retido nos resíduos vegetais (liteira) de elevada relação C:N depositados e a imobilização pelos microrganismos durante a decomposição destes resíduos. Assim, a taxa com que a liteira é reciclada afeta a produtividade das pastagens (Robbins et al., 1989), sendo que o declínio na taxa de crescimento e na qualidade da forrageira relaciona-se com a diminuição na disponibilidade do nitrogênio no solo.

O manejo do pastejo pode contribuir para acentuar a deficiência de N, uma vez que pastagens com excesso de resíduos orgânicos aumentam a quantidade de N imobilizado em forma não-disponível (Cantarutti & Boddey, 1997; Robbins et al., 1989). Por outro lado, a desfolha intensiva aumenta as exportações do nitrogênio e as perdas devidas à maior exposição do solo.

A fertilização nitrogenada em pastagens tropicais constitui-se em uma prática pouco freqüente, devido, principalmente, aos altos custos do fertilizante e ao caráter extensivo da atividade pecuária. Isto compromete a sustentabilidade da produção das gramí-neas forrageiras e, conseqüentemente, a produtividade animal (Robbins et al., 1987; Corsi & Martha Jr., 1997).

Nos países de clima tropical, onde predominam tecnologias de baixo insumo, as pesquisas têm sido conduzidas visando manter os ecossistemas sustentáveis do ponto de vista ambiental e econômico (Toledo & Formoso, 1993). Nessas condições, a conservação, a reutilização e, principalmente, a fixação biológica do nitrogênio são fundamentais para obtenção de maior produtividade (Döbereiner, 1997; Giller et al., 1994; Toledo, 1985).

As leguminosas forrageiras, quando fixam N2 por meio da simbiose com bactérias dos gêneros Rhizobium e Bradyrhizobium, constituem-se em alternativa para suprir nitrogênio às pastagens manejadas extensivamente (Toledo, 1985; Cadisch et al., 1993; Thomas, 1992). A transferência do nitrogênio fixado pelas leguminosas para a gramínea associada ocorre principalmente por meio da reciclagem da liteira (Whitney & Kanehiro, 1967; Thomas, 1992). A fixação de N2 por bactérias associadas às raízes de gramíneas também constitui-se em uma fonte de nitrogênio em pastagens de gramíneas puras (Carvalho, 1986).

Desse modo, é importante conhecer a relação entre qualidade dos resíduos vegetais e a taxa de decomposição e liberação de nutrientes. A relação C:N tem sido utilizada como índice geral da qualidade dos resíduos vegetais, que se relaciona com a sua decomposição. Entretanto, para o entendimento dos mecanismos que regulam os processos de decomposição, são relevantes os teores de nutrientes e de componentes secundários das plantas (Palm & Sanchez, 1991; Silvaplan et al., 1985).

O objetivo deste estudo foi avaliar a dinâmica de decomposição e mineralização de nitrogênio do material vegetal de gramíneas e leguminosas forrageiras.

 

Material e Métodos

Caracterização e seleção dos resíduos vegetais

Os resíduos vegetais utilizados foram coletados em Viçosa e Coronel Pacheco, em Minas Gerais, e Itabela, na Bahia, sendo provenientes da parte aérea de gramíneas e leguminosas cultivadas em canteiros ou de material morto coletado em solos de pasta-gens, como mostra a Tabela 1.

Os resíduos foram secos em estufa com circulação forçada de ar a 70oC, durante 72 horas, moídos e passados por peneira de 2 mm. Todos os resíduos foram analisados para determinação dos teores de carbono, utilizando-se um analisador elementar LECO modelo CHN 900. Os teores de nitrogênio total, lignina e fibra em detergente ácido (FDA) e a digestibilidade in vitro da matéria seca foram determinados segundo Silva (1990). Dosaram-se também os teores de polifenóis totais solúveis em solução alcoólica, pela reação de Follin-Denis (Anderson & Ingram, 1989), e a capacidade dos polifenóis em complexar proteína, estimada por meio do método de aglutinação da albumina do soro bovino (BSA) (Waterman & Mole, 1994). Estabeleceram-se as relações C:N, lignina:N, lignina:polifenóis, (lignina+polifenóis):N e polifenóis:N.

Considerando-se as características dos resíduos vegetais (Tabela 1), estes foram agrupados por meio de análise multivariada, com base na matriz de correlação, empregando-se o método de componentes principais e utilizando-se a distância euclidiana média como medida de dissimilaridade. Dessa maneira, foram selecionados os resíduos vegetais de Brachiaria humidicola, B. brizantha cv. comum, Arachis pintoi, Centrosema pubescens, Stilosanthes guianensis, Leucaena leucocephala e Desmodium ovalifolium para serem utilizados nos ensaios que seguem.

Mineralização dos resíduos vegetais

A mineralização dos resíduos foi avaliada por meio da evolução de C-CO2, utilizando-se o respirômetro de Stotzky descrito por Curl & Rodriguez-Kabana (1972). Os resíduos vegetais selecionados, com granulometria menor que 2 mm, foram incubados com terra fina seca ao ar de um Latossolo Vermelho-Escuro distrófico com pH em H2O de 5,8; P e K de 9,4 e 7 mg/dm3; H+Al, soma de bases (SB) e CTC (T) de 11,2; 3,68 e 14,88 cmolc/dm3; e 4,92 dag/kg de matéria orgânica Não foi realizada correção da acidez nem a adubação do solo.

A massa de cada resíduo vegetal equivalente a 2 g de carbono, foi misturada a 100 cm3 do solo e acondicionada nas câmaras de incubação do respirômetro (erlenmeyers de 250 mL). Também foram montadas unidades contendo o solo sem adição de resíduo vegetal. A umidade do solo foi elevada a 80% de sua capacidade de campo aplicando-se água destilada que manteve-se próxima à esta condição durante todo o ensaio, considerando que o sistema era fechado. Cada unidade experimental possuía quatro repetições e foram acopladas aleatoriamente ao respirômetro, de modo que o delineamento foi inteiramente casualizado.

As câmaras de incubação foram conectadas ao sistema e submetidas a um fluxo contínuo de ar livre de CO2. O CO2 resultante da atividade microbiana era arrastado por um fluxo de ar e capturado em um erlenmeyer contendo 100 mL de NaOH 0,25 moL/L. Erlenmeyrs adicionais contendo 100 mL de NaOH 0,25 moL/L foram conectados no início e no final do sistema para funcionar como controles.

Dosou-se o C-CO2 evoluído transferindo-se uma alíquota de 10 mL da solução de NaOH 0,25 moL/L para outro erlenmeyer, ao qual se adicionaram 10 mL de BaCl2 0,025 mol/L e 2-3 gotas de uma solução alcoólica de fenolftaleína 1% como indicador. Titulou-se com HCl 0,1 moL/L até a solução virar de violeta para incolor.

A massa de C-CO2 evoluído foi obtida pela fórmula:

em que: Vb e Va são os volumes (mL) de HCl gastos para titular as amostra dos tratamentos e dos controles; f, o fator de correção da concentração de HCl; e 12, o produto entre a concentração do HCl (0,1 mol/L), o fator de diluição (10) e a massa molar de carbono (12).

Durante sete semanas, foram realizadas vinte e seis medições do C-CO2 evoluído, sendo as treze primeiras a cada 24 horas; três a cada 48 horas; e as dez subseqüentes a cada 72 horas. O C-CO2 evoluído acumulado foi expresso em termos absolutos (mg C-CO2) e em relação à quantidade de carbono adicionado (mg/g C-CO2).

À evolução acumulada relativa de C-CO2, expressa em função do tempo (horas), ajustou-se a função logística:

O parâmetro a caracteriza a saturação na evolução de C-CO2, que está diretamente relacionado à quantidade de carbono mais facilmente mineralizável. O parâmetro g caracteriza a constante de evolução de C-CO2. O parâmetro b reflete o tempo necessário para atingir a saturação na evolução de C-CO2. A magnitude dos parâmetros g e b relaciona-se com os aspectos qualitativos dos resíduos e a atividade microbiana. Por sua vez, t é o tempo e e, o erro aleatório.

No ponto de inflexão da curva, que ocorre no tempo -b/g, atinge-se a metade da saturação na evolução de C-CO2 (a/2) e a taxa de evolução de C-CO2 é máxima (ag/4). Este valor foi obtido por meio da primeira derivada da função, enquanto o tempo para atingi-la foi obtido com a segunda derivada da função.

Para as análises estatísticas, adotou-se o esquema de parcelas subdivididas, no qual os resíduos vegetais corresponderam às parcelas e as avaliações sucessivas, às subparcelas. As análises estatísticas foram processadas utilizando-se o programa SAS (SAS, 1990).

Mineralização líquida de nitrogênio

A massa de cada resíduo vegetal, equivalente a 2 g de carbono, foi misturada a 100 cm3 de solo e acondicionada em potes plásticos de 250 mL. Também foram incluídos potes contendo solo sem a adição de resíduo. A umidade do solo foi inicialmente elevada e mantida durante o ensaio a 80% de sua capacidade de campo adicionando-se água destilada. Durante o ensaio, a umidade do solo foi monitorada por meio da variação no peso das unidades experimentais. Estas foram incubadas em laboratório por oito semanas, dispostas segundo um delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições.

Durante sete semanas, determinaram-se em amostras coletadas semanalmente os teores de N-NH4+ e N-NO3- extraídos em solução de KCl 1 mol/L, empregando-se a relação de 1:10 entre o solo e o extrator. O N-NH4+ e o N-NO3- foram dosados por métodos colorimétricos descritos por Kempers & Zweers (1986) e Yang et al. (1998), respectivamente. Amostras de solo sem incubação também foram analisadas.

A mineralização líquida semanal de nitrogênio foi calculada pela variação nos teores de nitrogênio inorgânico (N-NH4+ + N-NO3-) entre amostras sucessivas.

Os teores iniciais, assim como os teores acumulados de N-NO3 e de nitrogênio inorgânico, foram submetidos à análise de variância, adotando-se o teste de Tukey, considerando-se a significância a 5% de probabilidade.

 

Resultados e Discussão

Caracterização e seleção dos resíduos vegetais

Os coeficientes de variação (Tabela 1) evidenciam que os resíduos apresentaram maior variabilidade quanto aos teores de N de polifenóis e a digestibilidade in vitro da matéria seca. Verificou-se também grande variabilidade para as relações C:N, lignina:N, polifenóis:N e (lignina+polifenóis):N.

Considerando-se simultaneamente as características analisadas por meio da análise de componentes principais, identificaram-se os resíduos mais dissimilares (Figura 1). Na primeira tentativa de agrupamento, na qual os componentes principais um e dois explicaram 71% da variação total, os resíduos de Brachiaria humidicola e Desmodium ovalifolium destacaram-se como discrepantes entre si e dos demais materiais (Figura 1A). Excluindo-se estes dois resíduos, na segunda tentativa de agrupamento, na qual os componentes principais um e dois explicaram 68% da variação total, discriminaram-se os resíduos de Brachiaria brizantha cv. Comum, Arachis pintoi, Leucaena leucocephala e Centrosema pubescens e um grupo incluindo oito dos materiais (Figura 1B). Dentro desse grupo selecionou-se o resíduo de Stylosanthes guianensis, que, de acordo com a distância euclidiana média, foi o mais discrepante dos outros quatro materiais selecionados.

 

 

Os teores de N dos resíduos selecionados variaram entre 0,40 (B. humidicola) e 2,61% (L. leucocephala), sendo que estes apresentaram as relações C:N extremas de 108 a 18, respectivamente (Tabela 1). Devido ao baixo teor de N, os resíduos das gramíneas B. humidicola e B. brizantha apresentaram altas relações C:N.

Os resíduos das leguminosas selecionadas apresentaram relações C:N próximas, com exceção do resíduo de D. ovalifolium, cuja relação foi a mais elevada. Entre as leguminosas, o D. ovalifolium também apresentou os maiores teores de FDA e de lignina, o que contribuiu para as elevadas relações lignina:N, lignina:polifenóis e (lignina+polifenóis):N. O alto teor de FDA, que indica maior proporção dos componentes fibrosos mais resistentes à digestão, tais como as pentosanas resistentes, celulose, lignina e cutina, é um dos fatores responsáveis pela baixa digestibilidade da forragem (Van Soest, 1994).

Os polifenóis contidos nos resíduos de L. leucocephala e D. ovalifolium apresentaram maior capacidade de complexar proteína, conforme indicam as quantidades precipitadas de soro bovino (Tabela 1). Considerando que o teor de polifenóis totais nos resíduos de D. ovalifolium era muito menor, isto indica que estes são mais reativos.

Cinética de decomposição dos resíduos vegetais

As quantidades acumuladas de C-CO2 evoluídas durante o período de incubação são apresentadas na Figura 2. Observa-se que houve grande variação na quantidade acumulada de C-CO2 evoluído, sendo que os resíduos de A. pintoi, B. brizantha e C. pubescens proporcionaram os maiores valores, não diferindo entre si (P>0,05) (Tabela 2).

 

 

 

Assumindo-se uma eficiência de assimilação de C pelos microrganismos de 60%, estimou-se que entre 17 e 128% do C adicionado por meio dos diferentes resíduos foi oxidado durante o processo de decomposição (Tabela 2). As estimativas sugerem que as massas dos resíduos de B. brizantha, A. pintoi e C. pubescens foram totalmente oxidadas e ainda favoreceram oxidação adicional do carbono da matéria orgânica do solo (efeito priming).

O resíduo de D. ovalifolium apresentou a menor proporção de carbono oxidado (18%) em relação a quantidade adicionada, o que se justifica pelo baixo teor de N, pela alta relação C:N e elevada capacidade de complexação dos polifenóis (Tabela 2). Observa-se, no entanto, que, apesar de apresentar teores e reatividade dos polifenóis semelhantes, 83% do C do resíduo de L. leucocephala foi oxidado. Isso evidencia o papel de outras características dos resíduos, como os teores de N e de lignina a relação C:N, como mostra a menor relação (Lig+Pol):N para tornar o N biologicamente disponível para atender a demanda de mineralização.

A produção relativa acumulada de C-CO2 evoluído ajustou-se adequadamente à função logística de crescimento, exceto para o solo sem a adição dos resíduos (Tabela 3), cujos parâmetros caracterizam a cinética de mineralização.

Os maiores valores para saturação na evolução de C-CO2 (parâmetro a) foram observados para os resíduos de C. pubescens, A. pintoi e B. brizantha, indicando que esses materiais possuíam maior proporção de C facilmente oxidável e características qualitativas que favoreceram a sua decomposição.

Embora as estimativas do parâmetro a não tenham correlacionado (P>0,05) com os indicadores de qualidade dos resíduos, observou-se tendência do teor de polifenóis e a capacidade destes complexarem proteína influenciarem o processo de mineralização, uma vez que os resíduos que apresentaram maior evolução de C-CO2 também apresentaram menores valores para essas características. Esse fato é evidenciado pela estimativa do parâmetro a para os resíduos de L. leucocephala. Apesar deste resíduo apresentar altos teores de N, baixa relação C:N e baixo teor de FDA observou-se menor valor para a saturação na evolução de C-CO2, o que se justifica pelo alto teor de polifenóis solúvel e sua elevada capacidade destes complexarem proteína. Estes resultados concordam com as afirmações de que a decomposição dos resíduos de leguminosas pode ser dificultada pelo alto teor de polifenóis (Vallis & Jones, 1973) ou pelas elevadas relações polifenol:N (Palm & Sanchez, 1991) e (lignina+polifenol):N (Fox et al., 1990).

Apesar da alta relação C:N, teor de polifenóis elevado e com elevada capacidade de complexar proteína, o resíduo de B. brizantha comportou-se como material de fácil decomposição, tais como C. pubescens e A. pintoi. Para esse resíduo em particular, os baixos teores de FDA e de lignina, que condicionam alta digestibilidade foram, seguramente, características que favoreceram o processo de decomposição.

Houve pequena variação entre as estimativas da constante de evolução de C-CO2 (parâmetro g) sugerindo que esta foi pouco sensível às variações qualitativas entre os resíduos (Tabela 4). Assim, a cinética de evolução de C-CO2 apresentou, aparentemente, o mesmo padrão de crescimento. A taxa de evolução de C-CO2 máxima foi, no entanto, mais efetiva para caracteriza-los, visto que os maiores valores ocorreram com os resíduos de C. pubescens, A pintoi e B. brizantha. Isto mais uma vez evidencia a im-portância da relação C:N, dos teores e características de atividades dos polifenóis e dos teores de FDA para decomposição dos resíduos vegetais. Apesar disso demandou-se mais de 250 horas de incubação para que estas taxas fossem atingidas, sendo comparável ao tempo demandado pelos resíduos de B. humidicola e D. ovalifolium, que apresentaram os menores valores para a máxima taxa de evolução de C-CO2. Além do tempo demandado para a recomposição da biomassa do solo, a disponibilidade C prontamente oxidável e de N são fatores contribuíram para determinar este tempo.

Mineralização líquida de nitrogênio

Entre os resíduos verificaram-se diferenças significativas (P<0,05) quanto a mineralização líquida de N considerando tanto a primeira semana de incubação como a quantidade acumulada no período (Tabela 4).

Na primeira semana de incubação, o resíduo de A. pintoi apresentou a maior taxa de mineralização líquida de N (283,4 mg/kg). Os resíduos de B. humidicola e D. ovalifolium também apresentaram mineralização líquida de N não diferindo (P>0,05) daquela observada para o resíduo de C. pubescens, sugerindo que N foi suficiente para atender a baixa taxa de mineralização inicial. Os demais resíduos, incluindo a L. leucocephala com baixa relação C:N, apresentaram imobilização líquida de N, não diferindo (P>0,05) daquela observada no solo sem a adição de resíduo.

Considerando o balanço no período de sete semanas todos os resíduos condicionaram mineralização líquidas (Tabela 4). Concordando com o padrão de decomposição demonstrado pela evolução de C-CO2 o resíduo de A. pintoi condicionou a maior quantidade acumulada de N mineralizado. Apesar de apresentar características semelhantes, quanto à relação C:N, teor lignina e digestibilidade o resíduo de L. leucocephala condicionou mineralização líquida tão baixa quanto aquela verificada com os resíduos de B. humidicola e B. brizantha, o que se deve, possivelmente, pelo ao alto teor e da elevada capacidade de complexar proteínas dos polifenóis nesta leguminosa. Silvalapan et al. (1985) observaram que, independentemente do elevado teor, a biodisponibilidade do N em resíduos vegetais foi limitada pelo alto teor de polifenóis. Assim, Palm & Sanchez (1991) também concluíram que a quantidade de N em L. leucocephala não foi suficiente para atender a demanda de mineralização devido aos altos teores de polifenóis e a capacidade destes complexarem proteínas.

A evolução na mineralização do N durante o período de incubação diferiu entre os resíduos, conforme ilustra a Figura 3. A evidente alternância de ciclos de mineralização e imobilização líquidas para o resíduo de A. pintoi, pode estar relacionada a varia-ções cíclicas na biomassa do solo decorrente da intensa mineralização do resíduo.

 

 

Em decorrência da intensa mineralização o resíduos de A. pintoi condicionou maior (P<0,05) nitrificação líquida na primeira semana de incubação e maior quantidade nitrato produzido no período (Tabela 5). Os demais resíduos condicionaram nitrificação líquida acumulada significativamente menor (P<0,05) do que aquela verificada no solo sem a adição de resíduos. A estreita relação entre as variações nos teores de NH4+ e NO3- durante o período de incubação (Figura 4) evidenciam que resíduos vegetais que proporcionam intensa mineralização favorecem a nitrificação, o que potencializa as perdas de nitrogênio.

 

Conclusões

A mineralização dos resíduos foi afetada pelos teores e pela capacidade de complexação dos polifenois, sendo que os resíduos de e A. pintoi apresentaram as maiores taxas de decomposição e mineralização líquida de N, assim como de nitrificação. O resíduo da gramíneas B. brizantha também apresentou alta taxa de decomposição.

 

Literatura Citada

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Recebido em: 12/07/01
Aceito em: 27/02/02

 

 

1 Parte da tese apresentada à UFV para obtenção do título Magister Scientiae.

2 Zootecnista, Msc.

3 Professor do Departamento de Solos - UFV. E.mail: domicion@mail.ufv.br

4 Professor do Departamento de Zootecnia - UFV.

5 Professor do Departamento de Informática - UFV.