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Revista Estudos Feministas - Challenges of a feminist cultural project: the LetrasLivres publishing company

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Revista Estudos Feministas

Print version ISSN 0104-026X

Rev. Estud. Fem. vol.11 no.1 Florianópolis Jan./June 2003

http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2003000100016 

DOSSIÊ

 

Desafios de um projeto cultural feminista: a editora LetrasLivres

 

Challenges of a feminist cultural project: the LetrasLivres publishing company

 

 

Fabiana Paranhos

Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero

 

 


RESUMO

A união entre o terceiro setor e a pesquisa acadêmica foi o ponto de partida para o estabelecimento da LetrasLivres, editora criada pela organização não-governamental ANIS: Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero para servir de mecanismo de divulgação das pesquisas em ética e bioética feminista da instituição. O artigo relata a fase de criação da editora, o processo editorial de suas publicações, assim como as dificuldades enfrentadas na divulgação e comercialização dentro do mercado editorial brasileiro. Os aspectos positivos como o pioneirismo e a ousadia do projeto cultural LetrasLivres também são abordados. Mecanismos alternativos eficazes de divulgação e distribuição são detalhados com o objetivo de levar o leitor a conhecer todas as características da editora, principalmente seu diferencial em ser a única editora especializada em bioética e bioética feminista da América Latina.

Palavras-chave: editora feminista, produção editorial, bioética.


ABSTRACT

The match between the third sector and the academic research was the starting point for the settlement of LetrasLivres Publishing House, created by ANIS: Institute of Bioethics, Human Rights and Gender to serve as a publishing mechanism of the institution's research on ethics and feminist bioethics. The article describes the Publishing's first steps, the editorial process of its publications, as well as the difficulties faced regarding the spreading and commercialization in the Brazilian editorial market. Positive aspects like LetrasLivres' cultural project pioneering and boldness are detailed with the objective of driving the reader to acknowledge all Publishing's characteristics, mainly its differential on being the only publishing house specialized in bioethics and feminist bioethics in Latin America.

Key words: feminist publishing, editorial production, bioethics.


 

 

O projeto LetrasLivres nasceu em 2001, em resposta à demanda por publicações em bioética e bioética feminista em Língua Portuguesa.1 A LetrasLivres é um projeto cultural da ANIS: Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero, organização não-governamental, sem fins lucrativos, voltada para a pesquisa e democratização do conhecimento em bioética no Brasil. A LetrasLivres é o resultado de um casamento bem-sucedido entre a pesquisa universitária e o terceiro setor. A ANIS é a única ONG que atua nesse segmento, unindo o terceiro setor e o conhecimento acadêmico em ações que vão desde o advocacy até as oficinas de capacitação em bioética.2 Nesse contexto, a LetrasLivres funciona como um fórum aberto para discussão, cabendo-lhe incentivar o debate em ética e bioética feminista, sob a perspectiva dos estudos de gênero, dos direitos humanos, da justiça e do desenvolvimento social.

O objetivo deste artigo é descrever a trajetória da primeira editora especializada em bioética feminista na América Latina, a Editora LetrasLivres. Aspectos como o processo de edição e distribuição, o trabalho do Conselho Editorial e a orientação da ciência da informação serão alguns dos temas aqui abordados. A bioética aborda temas de interesse de diversas áreas do conhecimento. No caso da LetrasLivres, que possui uma inspiração feminista no trato dos temas da bioética, o mercado editorial recebe as publicações com bastante interesse. Isso acontece porque o mercado editorial da bioética extrapola a questão feminista. Os temas, que vão desde clonagem, genética e tecnologias reprodutivas até a eutanásia, são do interesse de acadêmicos, estudiosos e curiosos de todas as áreas. Por essa razão, não só as interessadas no feminismo lêem os livros da LetrasLivres.

Mesmo com o apelo dos temas polêmicos da bioética, as grandes editoras ainda não se organizaram para receber e tratar obras relacionadas a esse novo campo disciplinar. O mais interessante é que a bioética está deixando de ser nova e, aos poucos, está se firmando dentro das universidades e centros de pesquisa.3 Cada vez mais existe uma demanda por publicações em Língua Portuguesa, pois já existe uma produção intelectual de qualidade nos temas da bioética no Brasil. Essa necessidade de provocar a discussão bioética e forçar a publicação em Língua Portuguesa tem um papel importante na pesquisa brasileira, uma vez que a maior parte da bibliografia em bioética se apresenta em língua estrangeira. Essa barreira do idioma, além de limitar o acesso aos grandes autores internacionais, dificulta a entrada de jovens pesquisadores na bioética.4 A mídia também dá o destaque necessário para a promoção do debate. Da ovelha Dolly ao anúncio de clones humanos ou de usos da terapia genética, cada vez mais a bioética seduz a opinião pública, e a demanda por informação cresce a cada dia.

Ainda assim, os primeiros passos da editora não foram fáceis. Na passagem da idéia para ações concretas, a LetrasLivres utilizou a credibilidade da ANIS para impulsionar seu projeto de divulgação e informação em bioética. Da composição do Conselho Editorial ao mecanismo de divulgação, a LetrasLivres tem na ANIS a sua maior parceira. É o Conselho Editorial, por exemplo, quem avalia as publicações e define a política editorial da LetrasLivres.

Antes de iniciar uma discussão sobre o processo de produção editorial da LetrasLivres, é interessante apontar a importância das publicações feministas, tanto em universidades e centros de pesquisa como no terceiro setor. O papel que a Revista Estudos Feministas tem no conjunto das publicações feministas no Brasil, por exemplo, é fundamental para o reconhecimento dessa produção intelectual. O mesmo acontece com as publicações sediadas em ONGs. A equipe editorial da LetrasLivres reconhece, nessas publicações, um público cativo e um mercado editorial já consolidado e de prestígio.

Apesar de estar sediada em uma ONG, a LetrasLivres não pretende tomar o lugar das publicações que já possuem reconhecimento editorial definido no terceiro setor. O objetivo é inaugurar um nicho de mercado ainda inexplorado. Para tanto, a LetrasLivres conta com uma equipe multidisciplinar de consultores, além de uma equipe editorial especializada. As responsáveis são uma especialista em bioética, uma cientista da informação e uma jornalista, o que dá o apoio editorial e científico necessário para se obter um produto de qualidade. A constituição tripartite garante um entrosamento profissional importante, o que permite críticas, elogios e alterações em todas as esferas da produção editorial. Mesmo com papéis bem definidos no processo de produção, a equipe editorial da LetrasLivres possui liberdade para transitar por todas as etapas da produção. É comum a interferência da cientista da informação na arte-final ou a especialista em bioética sugerir a pesquisa de mais uma palavra-chave para a ficha catalográfica, por exemplo. Essa equipe requer um constante processo de profissionalização, tanto da LetrasLivres como da própria ANIS. Todos os profissionais envolvidos no processo de produção das publicações da editora se submetem a cursos de capacitação, têm acesso à bibliografia sobre produção editorial e se atualizam constantemente em feiras e encontros editoriais.

Em dois anos de existência, a LetrasLivres já publicou quatro livros, sendo que um deles, Quem pode ter acesso às tecnologias reprodutivas?: diferentes perspectivas do direito brasileiro, encontra-se esgotado.5 Há, pelo menos, duas maneiras de explicar esse fato. Primeiro porque esse foi um livro organizado a partir de um evento realizado em parceria entre a ANIS e a THEMIS - Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero, com uma coletânea de artigos de autores já conhecidos do cenário jurídico e bioético nacional. Por outro lado, a temática, além de atual, é original no país, o que aumenta ainda mais sua procura, especialmente entre campos afins da bioética, como é o caso do Direito. Análises particulares desses fenômenos podem sugerir que algumas coleções da LetrasLivres tenham tiragens diferenciadas do padrão, que hoje é de mil exemplares.

Essa avaliação deve considerar a situação atual do mercado editorial. Na tentativa de participar de maneira competitiva, a LetrasLivres teve dificuldades para se posicionar entre as editoras de peso. É nítida a destinação dos esforços das editoras. As maiores enfocam suas atividades dentro de uma lógica mercadológica, deixando em segundo plano o projeto cultural. Já as que possuem um compromisso com a cultura não conseguem o espaço necessário para emplacarem suas obras. Isso se deve à demanda criada pelas grandes editoras, que têm em seus leitores um público inclinado a novidades, mas que se deixa levar pelo chamado 'produto comercial'.6

A LetrasLivres, como outras editoras menores, adotou uma estratégia simples, mas eficaz. Como editora especializada, o público leitor é cativo e interessado nos lançamentos, e isso é percebido pelo número de visitas à pagina da LetrasLivres na Internet, bem como pelas vendas feitas por meio do site (www.anis.org.br). Um passo importante foi a entrada das publicações da LetrasLivres na Livraria Cultura na Internet (www.livcultura.com.br), a mais importante livraria no meio acadêmico e cultural para o público especializado. Hoje, os livros da LetrasLivres estão no topo das vendas do site nos temas específicos em que trabalha.

A evolução do layout e de edição das publicações da LetrasLivres é nítida quando se comparam os quatro livros lançados até agora. O processo de produção foi se sofisticando de tal maneira que erros na diagramação na escolha da fonte ou mesmo da cor da capa são hoje quase inexistentes. Revisão, diagramação, composição gráfica, capa, secretaria gráfica, fotolito e impressão são acompanhados de perto pela equipe editorial, que dedica boa parte de seu tempo na revisão e na checagem de todos os itens. A ficha catalográfica é feita pela cientista da informação, que faz uma pesquisa minuciosa para que a catalogação na fonte seja a mais clara possível, o que permite que os profissionais que não possuam conhecimento técnico e teórico sobre os temas da bioética e da bioética feminista possam classificar a informação dentro de um assunto.

Para se ter uma idéia da importância do trabalho de registro da informação das publicações, utilizam-se mecanismos de indexação que permitem o resgate da obra tanto pela descrição física quanto pela descrição do conteúdo. Dois mecanismos bastante utilizados são a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU). Nas publicações da LetrasLivres, adotam-se a CDD e a CDU, pois ambas são utilizadas nas bibliotecas e nos centros de documentação brasileiros. A CDD também é bastante utilizada em países de Língua Inglesa. A partir de uma parceria com o Centro de Documentação do Programa Regional de Bioética da Organização Pan-Americana de Saúde, no Chile, as publicações da LetrasLivres também são indexadas na base de dados da Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), que registra a literatura técnico-científica em saúde produzida por autores latino-americanos e caribenhos, publicada a partir de 1982. Os principais objetivos da LILACS são o controle bibliográfico e a disseminação dessa literatura, ausente das bases de dados internacionais. A indexação das obras da LetrasLivres na LILACS é de extrema importância, pois aumenta visibilidade em outros países, permitindo disseminar a informação para um número maior de pessoas, o que traduz o caráter educativo da editora.7

A característica multidisciplinar da bioética dificulta sua indexação.8 Partindo dessa característica inerente ao campo disciplinar, a LetrasLivres iniciou uma discussão epistemológica da classificação da bioética. Com base nos estudos e pesquisas feitos pela ANIS, assim como nas consultas realizadas no Centro Nacional de Referência em Bioética do Instituto Kennedy, principal centro de pesquisa internacional, a LetrasLivres adotou a classificação da bioética em ética social, uma área dentro das ciências sociais e da filosofia moral aplicadas à saúde.9

Esses cuidados com as publicações são respeitados desde o início, para que qualquer usuário, em qualquer parte do mundo, possa resgatar a informação de maneira precisa. Outro dado importante é o respeito à Lei do Depósito Legal, que determina que cada autor ou editor doe dois exemplares de cada obra à Biblioteca Nacional. Nem todos o fazem, porque não existe punição. O que muitos não percebem é que obedecer a essa lei traz um enorme benefício para usuários e leitores, pois garante a gerações futuras que toda a memória bibliográfica de um povo esteja depositada em local seguro do ponto de vista físico e técnico, beneficiando pesquisadores nacionais e internacionais.

Dentro do compromisso social da LetrasLivres, vale ressaltar a política de doações adotada pela editora. Sempre que requisitada, a LetrasLivres doa suas publicações para bibliotecas e centros de referência. Vale lembrar, no entanto, que as doações não atendem a todas as demandas. Os pedidos são analisados pela equipe editorial e dependem da disponibilidade da publicação em estoque ou de outros fatores, como o pagamento da taxa de envio pela entidade solicitante ou o caráter filantrópico da entidade, como universidades ou bibliotecas públicas, que possuem prioridade nas doações.

Outro fator importante dentro da política editorial da LetrasLivres foi a criação de coleções. Temos a "Coleção Bioética" e a "Coleção Ética, Gênero e Justiça", e já se estuda a criação de outras coleções. Elas dão credibilidade e confiança às publicações, além de serem um mecanismo que confere identidade aos livros. As coleções possuem uma diagramação diferenciada, e cada volume tem uma cor. Além disso, as coleções exigem do editor um comprometimento com a periodicidade que, muitas vezes, dentro de editoras de pequeno porte, é difícil de ser mantida quando não há financiamento regular. A LetrasLivres vem conseguindo manter essa periodicidade, mas a tarefa é árdua.10

A LetrasLivres recebe para publicação material de diversos autores brasileiros sobre os diversos temas da bioética. Depois de avaliados pelo Conselho Editorial, os trabalhos são encaminhados para publicação, revisão ou podem ser devolvidos ao autor quando não estão inseridos na linha editorial da LetrasLivres. Respeitando uma definição estratégica, os autores cativos da LetrasLivres também publicam em outras editoras, por sugestão e acordos com a própria LetrasLivres. A equipe editorial aposta nessa manobra pela projeção que uma grande editora pode dar aos livros da LetrasLivres. Quando um autor publica em outra editora e passa a ser mais conhecido entre os leitores, cria-se uma demanda pela bibliografia daquele autor em outras editoras. Esse é o caso do título O que é bioética, que nos foi submetido para apreciação, mas publicado pela Editora Brasiliense, o que impulsionou as vendas das publicações da LetrasLivres, além de disseminar os temas que são o carro-chefe da editora.11

Ainda sobre o processo de profissionalização, a questão da distribuição é tratada com delicadeza pela equipe editorial. A alternativa de fazer parcerias com editoras universitárias foi, nestes dois anos, uma tentativa frustrada, uma vez que os objetivos das editoras eram os mesmos. A lógica mercadológica das editoras universitárias e da LetrasLivres é a de ser um projeto editorial e cultural ao mesmo tempo, ou seja, mesmo publicando obras que podem competir no mercado editorial, têm garantido, também, a publicação de obras sobre novos temas ainda não cobertos pelas editoras tradicionais. O caráter inovador, peculiar aos temas da bioética, pode ser uma barreira ou um atrativo dentro do mercado editorial tradicional. A publicação pode tratar de temas do Direito ou da Medicina, campos já definidos dentro do mercado editorial, ou pode tratar de temas que atraem a todos os interessados em bioética, mas o sucesso no pequeno nicho de leitores cativos da editora está garantido. Ainda assim, a distribuição é o calcanhar-de-aquiles de pequenas editoras e de publicações sediadas em ONGs. Por essa razão, a LetrasLivres busca, hoje, um parceiro com uma proposta mercadológica sólida e agressiva, que domine o mercado editorial e suas exigências financeiras e de distribuição.

Essa busca por um parceiro de negócios ideal ainda se dá de maneira informal e tímida.12 Constantemente firmam-se acordos com livrarias, editoras universitárias e livreiros, além da participação em encontros, feiras e exposições. Um bom exemplo de divulgação da LetrasLivres foi a Bienal de São Paulo em 2002, onde os livros ficaram expostos dentro do maior estande da feira, o da Imprensa Oficial. Após o evento, os telefonemas e acessos à nossa página na Internet aumentaram substancialmente. Outra experiência de sucesso foi a montagem do estande durante a IV Conferência da International Network on Feminist Approaches to Bioethics (FAB) e o VI International Association of Bioethics Congress (IAB), que aconteceram em Brasília, em outubro e novembro de 2002. A circulação de pessoas foi muito grande, e as publicações da LetrasLivres praticamente esgotaram-se.

Oportunidades como esses encontros ainda são raras no calendário de eventos de bioética no Brasil. Apesar de os dois eventos serem importantes para a divulgação da editora, não registramos nenhum lucro financeiro; apenas o retorno do que foi investido.13 Muito embora exista tal incerteza do retorno dos investimentos aplicados nesses eventos, a LetrasLivres aposta nesse mecanismo de divulgação das publicações da própria editora, uma vez que a propaganda impressa tem uma taxa de retorno de 8% a 10%. Uma experiência que obteve um resultado positivo foi a XVII Bienal do Livro de São Paulo, onde se recuperou 100% dos recursos financeiros injetados. Nessa ocasião, a LetrasLivres investiu em pagamento de estande, em diárias para representantes da editora e passagens aéreas.

A LetrasLivres busca fazer lançamentos dos livros em locais estratégicos, como em congressos e feiras. Muitas vezes se lança o mesmo livro simultaneamente ou mais de uma vez, em localidades diferentes, em eventos sobre temas da bioética e da bioética feminista. As pesquisadoras da ANIS também possuem um papel importante na distribuição das publicações da LetrasLivres. Em todos os eventos, congressos, encontros, cursos ou feiras, os livros ocupam um bom espaço na bagagem e são vendidos de maneira informal, mas bastante pontual.

Esses mecanismos de divulgação das publicações da LetrasLivres possuem aliados importantes: os jovens pesquisadores. A ANIS estimula a formação de novos pesquisadores em bioética, dentro do Programa Pesquisa. Em conjunto com a ANIS, a LetrasLivres propõe a redação de resenhas sobre as publicações da editora, resenhas essas publicadas em periódicos nacionais de peso, além de estarem disponíveis no website da ANIS. A LetrasLivres e a ANIS entendem que as resenhas, além de terem um papel social importante na pesquisa científica, são um mecanismo eficaz de divulgação de novas idéias.

A questão da distribuição parece ser enfrentada pela maioria das publicações feministas, sediadas em ONGs ou em universidades, mas essa barreira da disseminação do conhecimento feminista pode ser transposta. No I Encontro Brasileiro de Publicações Feministas, que aconteceu em agosto de 2002 e foi promovido pela Revista Estudos Feministas, a discussão mais calorosa girou em torno da distribuição. A proposta é a de formar um pool de distribuição, o que a equipe editorial da LetrasLivres considera uma possibilidade viável e extremamente bem-vinda.

Dentro da política de participar dos eventos editoriais, as vendas na Bienal deram o retorno necessário para cobrir as despesas. Ainda assim, as pequenas editoras e as publicações sediadas em ONGs não enxergam nessa movimentação um mecanismo eficaz de divulgação de suas obras. A LetrasLivres acredita que um pool de editoras e ONGs possa ser o caminho para uma inserção mais representativa das publicações feministas no mercado editorial brasileiro. Enquanto isso não acontece, ainda acreditamos que a política do boca-a-boca e da disposição de integrantes dos movimentos sociais feministas organizados em carregar consigo os exemplares para venda em congressos e encontros, além dos acordos com livreiros e pequenas livrarias, é um mecanismo eficaz de distribuição, na medida em que a procura por essas publicações não é pulverizada. As editoras feministas precisam contar com esses nichos de visibilidade. As universidades, centros de pesquisa e as organizações não-governamentais ainda são nossos maiores leitores.

 

Referências bibliográficas

DINIZ, Debora; BRAGA, Kátia Soares. "Introdução". In: BRAGA, Kátia Soares. Bibliografia bioética brasileira: 1990-2002. Brasília: LetrasLivres, 2002.        [ Links ]

DINIZ, Debora; GUILHEM, Dirce. O que é bioética. São Paulo: Brasiliense, 2002.        [ Links ]

GUINSBURG, Jacó. "Uma proposta editorial". In: MARTINS FILHO, Plínio. Livros, editoras e projetos. São Paulo: EDUSP, 1997.        [ Links ]

SOUZA, Cecília de Mello. "Dos estudos populacionais à saúde reprodutiva". In: BROOKE, Nigel; WITEOSHYNSKY, Mary. Os 40 anos da Fundação Ford no Brasil: uma parceria para a mudança social. São Paulo: Ford Foundation/EDUSP, 2002.        [ Links ]

WALTERS, LeRoy, and KAHN, Tamar Joy (eds.). Bibliography of Bioethics. Washington: Georgetown University Press, 1997. v. 23.        [ Links ]

 

 

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1 Agradeço a Debora Diniz, Kátia Braga e Cristiano Guedes, pelas sugestões e revisão dos originais.
2 Sobre essa identidade da ANIS, vide, por exemplo, Cecília de Mello Souza, 2002, p. 160.
3 Somente para se ter uma idéia geral do crescimento da bioética no país, a plataforma Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico, registra 63 grupos de pesquisa cadastrados e 150 linhas de pesquisa sobre o tema (http://www.cnpq.br/plataformalattes, em 14 de março de 2003).
4 Por uma questão de estilo, optei por utilizar o masculino como padrão.
5 O livro, resultado de simpósio homônimo promovido no Senado Federal, foi publicado em parceria com a organização não-governamental feminista THEMIS - Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero.
6 Para se ter uma idéia das dificuldades de conquistar um lugar no mercado editorial, a LetrasLivres enfrenta o problema das grandes comissões cobradas pelas distribuidoras e livrarias. Muitas vezes, o desconto para colocar um livro nas prateleiras chega a 60%. No caso da LetrasLivres, o cenário se torna ainda pior, uma vez que a editora cobra preços muito baixos, por não ter fins lucrativos. Um bom exemplo é o livro Quem pode ter acesso... , que foi vendido a dez reais.
7 Mesmo com a importância da LILACS, poucas editoras brasileiras se preocupam em indexar suas obras nessa base de dados, o que limita o resgate de grandes obras em Língua Portuguesa pela comunidade latina e caribenha.
8 Os equívocos e dificuldades na indexação da bioética por parte dos cientistas da informação foram relatados por Debora Diniz e Kátia Soares Braga, 2002, p. 11-12.
9 LeRoy WALTERS e Tamar Joy KAHN, 1997.
10 Sobre o processo de produção editorial e suas dificuldades, Jacó Guinsburg relata sua experiência com a Editora Perspectiva ( Guinsburg, 1997, p. 27-44).
11 O lançamento do livro O que é bioética, de Debora Diniz e Dirce Guilhem, aconteceu durante o VI International Association of Bioethics Congress, em outubro de 2002, em Brasília. Estima-se que foram vendidos cerca de 400 exemplares em apenas 45 dias (Diniz e Guilhem, 2002).
12 Mas essa informalidade não se aplica à pessoa jurídica da LetrasLivres, que é a ANIS. Optou-se por cumprir todo o protocolo fiscal e contábil para uma editora, como por exemplo o uso de nota fiscal, uma vez que essa era uma condição para uma entrada mais ampla no mercado editorial do país.
13 A LetrasLivres tem como objetivo alcançar a independência financeira, a fim de viabilizar novas publicações. A venda dos livros garante novas publicações.