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Revista Eletrônica de Enfermagem
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Artigo de Atualização

 

Miranda FAN, Furegato ARF, Simpson CA, Azevedo DM. Figuras e significados: recursos gráficos na pesquisa de representações sociais. Rev. Eletr. Enf. [Internet]. 2007;9(2):526-36. Available from: http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n2/v9n2a19.htm

 

Figuras e significados: recursos gráficos na pesquisa de representações sociais

 

Illustrations and meanings: graphic resources in the research of social representations

 

Ilustraciones y significados: los recursos gráficos en la investigación de representaciones sociales

 

 

Francisco Arnoldo Nunes de MirandaI, Antonia Regina Ferreira FuregatoII, Clélia Albino SimpsonIII, Dulcian Medeiros de AzevedoIV

I Prof. Dr. do Departamento de Enfermagem e Programa de Pós-Graduação em Enfermagem (PGENF), Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). E-mail: farnoldo@gmail.com 

II Profª. Drª. Titular do Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas – Escola Enfermagem Ribeirão Preto/USP. E-mail: furegato@eerp.usp.br

III Profª. Drª. do Departamento de Enfermagem (UFRN). E-mail: cleliasimpson@pop.com.br

IV Professor Substituto do Departamento de Enfermagem (UFRN). Mestrando do PGENF-UFRN. E-mail: dulcianenf@hotmail.com

 

 


RESUMO

O presente artigo trata da construção, utilização e reflexão sobre o uso dos recursos gráficos na apreensão das representações sociais, os quais foram elaborados com base no Teste de Apercepção Temática e no Desenho-estória com Tema para estudar o envelhecimento humano a partir de dois pontos de vista. Um sobre o idoso portador de Diabetes mellitus em seu domicilio, e o outro, sobre as manifestações da sexualidade no contexto do asilo. Concordamos que o recurso gráfico, figura ou desenho, adquire importante significado na apreensão das representações sociais, pois é um meio de expressão e comunicação na área intermediária entre realidade interna e externa, e ainda, possibilita o relacionar-se com a vivência do mesmo e o drama que nele se desenvolve. Possibilita uma nova interação com as figuras, alternando as mensagens, os diálogos e os personagens expressos, revelando, ao mesmo tempo, a capacidade criativa do pesquisado e a plasticidade do instrumento.

Palavras chave: Teste de Apercepção Temática; Envelhecimento; Sexualidade; Pesquisa Metodológica em Enfermagem; Enfermagem.


ABSTRACT

The present article treats of the construction, use and reflection on the use of the graphic resources in the apprehension of the social representations, which were elaborated with base in the Test of Thematic Apperception and in the Drawing-story with Theme to study the human aging starting from two points of view. One about the senior bearer of Diabetes Mellitus at home, and the other, about the manifestations of the sexuality in the context of the asylum. We harmonized that the graphic resource, represents or drawing, acquires important meaning in the apprehension of the social representations, because it is a middle of expression and communication in the intermediate area between reality it interns and it expresses, and still, it makes possible linking with the existence of the same and the drama that grows in it. It makes possible a new interaction with the illustrations, alternating the messages, the dialogues and the characters expressed, revealing, at the same time, the creative capacity of the researched and the plasticity of the instrument.

Key words: Thematic Apperception Test; Aging; Sexuality; Nursing Methodology Research; Nursing.


RESUMEN

Este artículo presenta la construcción, uso y reflexión en el uso de los recursos gráficos en la aprehensión de las representaciones sociales que se elaboraron con la base en la Prueba de Apercepción Temático y en el Dibujo-historia con el Tema para estudiar el arranque de envejecimiento humano de dos puntos de vista. Uno sobre el mayor portador de Diabetes Mellitus en casa, y el otro, sobre las manifestaciones de la sexualidad en el contexto del asilo. Nosotros armonizamos que el recurso gráfico, representa o dibujando, adquiere el significado importante en la aprehensión de las representaciones sociales, porque es un medio de expresión y comunicación en el área del intermedio entre la realidad que interna y expresa, y todavía, hace la posible vinculación con la existencia del mismo y el drama que crece en él. Hace posible una nueva interacción con las ilustraciones, alternando los mensajes, los diálogos y los caracteres expresados, mientras revelando, al mismo tiempo, la capacidad creativa de los investigamos y la plasticidad del instrumento.

Palabras clave: Prueba de Percepción Temática; Envejecimiento; Sexualidad; Investigación Metodológica en Enfermería; Enfermería.


 

 

INTRODUÇÃO

O presente artigo trata da construção e utilização de recursos gráficos elaborados com base no Teste de Apercepção Temática – TAT (1), Desenho-estória com Tema (2) para estudar as representações sociais, tendo como objeto o envelhecimento humano a partir de dois pontos de vista. Um diz respeito ao idoso portador de Diabetes Mellitus em seu domicilio, e o outro, sobre as manifestações da sexualidade no contexto do asilo (3-5), todos realizados no norte paranaense, originados das práticas curriculares e de projetos de extensão e pesquisa.

O pioneirismo no emprego de pinturas e gravuras surgiu na Europa pré-industrial, para mostrar como concepções de crianças e da infância diferiam marcadamente daqueles das épocas mais recentes, o que mostra o emprego dos mais imaginativos e influentes da evidência visual na pesquisa (6). Nesse sentido, entendemos que o artefato visual pode estar sujeito à manipulação deliberada ou não, por meios computacionais ou não, e, ainda daquilo que o pesquisador acredita a partir do seu referencial sócio-histórico como sujeito, objeto inserido num dado contexto.

A apreensão da mensagem do recurso visual gráfico de imagens paradas, tipo fotografias, não se revela apenas no que é básico, mas nos detalhes da figura, como as utilizadas nos estudos sobre o envelhecimento, explicitadas mais adiante, mas nos contornos que significativamente remetem a experiências vividas, imaginadas e/ou relatadas na sua trajetória de vida, que se manifesta na possibilidade e na capacidade de fazer o sujeito da pesquisa falar sobre acontecimentos, fatos, histórias, atualizadas na presença da cena expressa na figura (6). Nesse momento de apreensão, o sujeito se percebe como sujeito da ação, não daquela apresentada, mas de sua própria história. Assim dois conceitos tornam-se indispensáveis.

O conceito de apercepção se relaciona a uma interpretação significativa que um organismo faz de uma percepção que a seu turno é capaz de fazer a integração de uma percepção passada com o estado psicológico atual do sujeito (7). Assim, entendemos a funcionalidade dos recursos gráficos na pesquisa como instrumento de coleta de dados, porque as manifestações discursivas não conceituais são contadas, com freqüência, no linguajar do dia-a-dia.

Construir um instrumento com características capazes de tornar o objeto de apreensão livre das respostas padronizadas exige decisões técnicas. Seria necessário construir um instrumento capaz de criar um campo transicional onde o sujeito, o objeto e o contexto estivessem interligados de uma forma subliminar. Portanto, as estratégias de apreensão das Representações Sociais (RS) deveriam ser descontextualizadas, no sentido de que ao ser respondido pelos sujeitos o conteúdo de qualquer um dos objetos em estudo deveria emergir na sua forma mais verdadeira (8).

A apreensão de uma Representação Social (RS) se relaciona com a capacidade que os sujeitos têm de “brincar” com significados e imagens, dentre outros aspectos motivacionais (8-9). Nesta visão, as regras são desconhecidas para os sujeitos, embora os instrumentos utilizados revelem conteúdos das atividades propostas, remetendo-os às dimensões mais descontraídas para dar respostas ao que lhe é perguntando pela associação de imagens e significados. Estes, entendidos como discursivos e não conceituais que refletem a capacidade lúdica, onírica, psíquica e inconsciente do sujeito.

Neste sentido, os recursos gráficos apresentam uma proposta de abordagem em situação de pesquisa, através de figuras e gravação das falas sobre as cenas apresentadas como forma de facilitar as manifestações mentais e discursivas a partir da associação entre a figura e os significados frente a sua própria história de vida.

Podem ser utilizados nas mais variadas situações, não apenas na prática em saúde mental, sendo empregados também na passagem de plantão realizada pela equipe de enfermagem em UTI, com a finalidade de sintetizar informações, destacando-se seus valores como suporte complementar no processo comunicativo(10).

Por isso mesmo, os recursos gráficos permitem uma ação interativa entre o sujeito e as figuras quando confrontados, sendo possível apreender como ele se sente e vive. Ao situar-se nesse campo transicional ele participa ativamente do processo, emitindo conteúdos discursivos e/ou não verbais sobre o que identifica na figura. Dessa forma, concordamos que o recurso gráfico, figura ou desenho, adquire importante significado na apreensão das representações sociais, pois é um meio de expressão e comunicação na área intermediária entre realidade interna e externa, e ainda, possibilita o relacionar-se com a vivência do mesmo e o drama que nele se desenvolve (11).

Em termos de campo representacional, o uso do termo figura parece mais adequado, pois esta exprime melhor do que a palavra imagem, por não se tratar somente de um reflexo, de uma reprodução, mas também de uma expressão e de uma produção do sujeito (12). Assim, as representações sociais comportam uma figura / imagem (aspecto icônico) e um significado (aspecto heurístico-sentido). Dito de outra forma, toda figura comporta um sentido e todo sentido pode ser representado por uma figura, emergindo a construção conceitual e a figurativa.

A construção conceitual é a capacidade que o sujeito tem de transformar algo desconhecido em conhecido, atribuindo-lhe um sentido, simbolizando-o. Já a construção figurativa é o movimento que permite transformar algo abstrato, procurando recuperar seu sentido quase físico no espaço da concretude, figurando-o (12).

Considerando a importância de nos apropriarmos desses recursos para o desenvolvimento mais adequado de pesquisas que os utilizam, no presente artigo, temos como objetivo refletir sobre a utilização dos recursos gráficos na apreensão das RS partindo do referencial teórico delimitado e da experiência dos autores.

 

OS ESTUDOS SOBRE REPRESENTAÇÕES SOCIAIS UTILIZANDO RECURSOS GRÁFICOS

Para investigarmos, na perspectiva de idosos, o envelhecimento humano, a doença e a sexualidade, utilizamos como recursos técnico-metodológicos os métodos projetivos. Estes de uso clínico na psicologia possibilitam questionamentos ao nível da ação, da decisão e da reação próximo às regras do brincar. Dessa forma, favorecem uma investigação ao nível inconsciente, devido à diminuição das atitudes defensivas, evitando respostas racionais e socialmente corretas (8).

As técnicas projetivas são flexíveis e virtualmente qualquer estímulo pode ser usado para produzir respostas projetivas, sendo que os dados resultantes podem ser analisados quantitativamente ou qualitativamente (13). Prosseguindo, afirmam que dão liberdade à imaginação aos participantes, fornecendo-lhes estímulos ambíguos que convidam à interpretação pessoal. Nesse sentido, a maneira pela qual a pessoa reage aos estímulos é um reflexo das suas necessidades, motivos, atitudes ou traços pessoais.

Entendemos, ainda que a leitura de uma figura como o mais antigo registro da história humana, assim como a de um livro, proporciona uma “infinidade inesgotável de interpretações”. O espectador, “ao contemplar a figura, o faz de acordo com sua própria ótica ou referências pessoais, culturais e emocionais. E, quando interpreta passa a dar novo sentido ao que vê” (14).

Primeiro estudo: Representações sociais do envelhecimento e do diabetes para um grupo de idosos atendidos no domicilio.

O primeiro estudo, alvo dessa reflexão, foi elaborado partindo de resultados do Projeto de Extensão e Pesquisa denominado: Orientações e Cuidados de Enfermagem aos Portadores de Diabetes Mellitus, tipo II no Domicilio. O Diabetes Mellitus tipo II representa uma epidemia silenciosa, decorrente do processo de envelhecimento humano, associada a maus hábitos alimentares, obesidade, sedentarismo e estilo de vida incompatível à saúde.

O objetivo do estudo foi apreender as Representações Sociais do Envelhecimento e do Diabetes para o grupo de sujeitos atendidos pelo projeto. Utilizamos como recurso técnico-metodológico a Teoria das Representações Sociais. Os dados foram coletados em 26 domicílios atendidos pela equipe. A entrevista foi gravada em fita cassete com roteiro e apresentação das figuras que representavam as quatro estações climáticas do ano.

O uso desse recurso revelou que para estes sujeitos ser diabético significa possuir alterações nos padrões e hábitos alimentares, entendendo-a como uma doença incurável. O ser velho foi resignificado como coisificação do ser velho e diabético como fim ou morte, o viver indeciso através da sublimação e fé e, ainda na restrição alimentar como necessidade humana básica. As representações sociais para estes sujeitos psicossociais são consideradas polêmicas cujo núcleo central é entendido como o VERÃO, onde atribuímos os significados de SAÚDE e ALEGRIA, conforme a Figura 1.

figura1

Segundo Estudo: Representação social da sexualidade entre idosos institucionalizados

O segundo estudo que tomamos como base para a reflexão sobre o uso de imagens para realizar estudos de Representação Social foi uma investigação de abordagem qualitativa e representacional, que teve por objetivo identificar as Representações Sociais da sexualidade entre idosos, numa instituição de longa permanência para abrigar pessoas idosas em um município do interior do Paraná. A temática em investigação encontrava-se revestida de valoração socialmente negativa. Esta compreensão encerra duas dimensões imbricadas e distintivamente não aceitas, ou seja, as manifestações de sexualidade e o próprio envelhecimento humano.

Optamos por utilizar um procedimento projetivo para a coleta os dados. O instrumento utilizado foi inspirado e modificado do TAT (1) composta de 05 figuras cujas cenas retratam personagens, em geral idosas, em possíveis situações de manifestações discursivas, exemplificada na Figura 2.

figura2

Os resultados apontaram para três aspectos relacionais, entendidos como categorias, sobre a compreensão deste grupo, enfatizando o próprio contexto asilar, o processo de envelhecimento e a sua sexualidade.

 

PERSPECTIVA METODOLÓGICA: A ELABORAÇÃO TEÓRICA E GRÁFICA DE UM INSTRUMENTO DE COLETA DE DADOS

A fonte básica de inspiração para a construção dos recursos gráficos adotados nos dois estudos sobre o envelhecimento, foram inspirados e modificados a partir do TAT (1) e do Desenho-estória com Tema (2).

No primeiro, utilizamos quatro figuras cromáticas que representavam ou remetiam à percepção das quatro estações climáticas, todas recolhidas na world wild web. No segundo, as cenas e os personagens foram desenhados através de cinco figuras acromáticas do próprio punho por um dos autores, com o pseudônimo Ayres. Do ponto de vista do TAT, as imagens dos dois estudos intentam representar “situações humanas clássicas” (1). Em ambos os recursos gráficos e visuais, a cor pode ser conhecida mediante uma vasta categoria de significados simbólicos, transmitindo idéias ou conceitos, a qual pode assumir funções diferenciadas que variam conforme o tempo e o espaço em que é utilizada. Exemplificando, em nossa cultura, o branco pode significar paz e, o preto luto (14).

Definido o modo de coletar os dados no espaço do asilo e do domicílio para os idosos, as perguntas para ambos os estudos deveriam ser elaboradas e efetuadas sob certo disfarce para que o foco da investigação possibilitasse respostas em termos de representação social (15). Também, catalogamos os dois recursos gráficos utilizados como técnicas de auto-relato.

Os métodos de auto-relato não-estruturados, utilizados nas ciências humanas, consistem de uma série de técnicas que variam quanto ao grau de estrutura imposta, são métodos poucos estruturados que não envolvem um conjunto formal de questões escritas (13). Em outras palavras, são as respostas dos participantes, as perguntas colocadas pelo pesquisador como em uma entrevista onde se inscrevem as técnicas projetivas. Assim, o respondente conta sua história de modo natural e narrativo como se fosse uma conversação.

O processo de elaboração simbólica a partir dos recursos gráficos e visuais se transforma, ininterruptamente, através dos códigos e signos que caracterizam os processos comunicativos intermediados pela linguagem em argumentos imagéticos e discursivos. Concordamos com Honório (14) quando afirma que a linguagem e a arte são marcas da passagem e da diferenciação do homem e dos animais a partir do desenvolvimento da inteligência.

As representações sociais transformam a figura em significado e vice-versa (12). Dessa articulação, as representações sociais são constantemente (re)criações que dão sentido e orientação aos sujeitos psicossociais uma vez que estas se inserem como sentido prático frente ao conjunto de saberes verticalizados que uma determinada sociedade produz através dos valores construídos pelas normatizações e exigências morais, legais e bioéticas.

Partindo do pressuposto de que “todo fenômeno empírico exige uma construção” (16), o pesquisador terá que ousar no sentido de atender às exigências conceituais, filosóficas e epistemológicas, sob certa medida, sem, contudo perder de vista o rigor, a validade e a fidedignidade desta construção, a qual deverá ser claramente elaborada e explicitada. Terá também, que estar consciente das críticas e das dificuldades às quais deverá sua posição, tendo em vista a hegemonia do modelo científico e da academia sobre a congruência ou a incongruência com estes referenciais.

Construir significa criar algo. O campo da pesquisa empírica, por ser uma arte, exige do pesquisador talento intelectual e artístico para fazer emergir de si mesmo, através de sucessivas aproximações, quebrando determinadas amarras para conformar a sua produção, quer no sentido conceitual, pois implica sempre em uma nova maneira de compreender o objeto, quer no sentido do recurso técnico-metodológico para atender às exigências explícitas e implícitas do mesmo. Mediante tudo isto, precisará manter-se motivado e flexível ao processo pós-produção, uma vez que, provavelmente, diferentes formas de pensar irão questionar e modificar a sua prática.

A relação dialética estabelecida nessa estratégia deriva de dois princípios básicos. Primeiro, refere-se à qualidade de sociedade pensante, favorecendo uma interação privilegiada e que assume sempre a dimensão da funcionalidade no dia-a-dia dos sujeitos psicossociais, conferindo-lhe um sentido prático. Segundo, não há representações sociais sem comunicação, nem comunicação sem representações sociais compartilhadas (16).

Representar um objeto social e construir formas de pensar e explicar esse sujeito é construir uma representação social desse objeto de forma compartilhada com os modelos de pensamento e das explicações existentes na sociedade, as quais são reconstruídas pelos sujeitos ao longo do seu processo de socialização (17).

Por recursos gráficos, entendemos ser uma técnica projetiva, um método de auto-relato e uma técnica encoberta de investigação que se articula desenho-atividade-linguagem. Nesta perspectiva, o desenho e/ou uma figura por si mesmo constitui uma manifestação discursiva, assumindo uma forma de comunicação ao mesmo tempo em que se inscreve como um recurso com tendência projetiva.

No que diz respeito às qualidades dos procedimentos projetivos, é possível afirmar que o indivíduo mantém-se livre para dizer ou fazer o que quiser a partir do material apresentado e do tipo de atividade que lhe é proposto (18). Por esta peculiaridade, sua proximidade às regras do jogo entendido pode ser apreendida como uma brincadeira, assumindo sua dimensão lúdica.

As regras deste “brincar”, como investigação, assumem peculiaridades específicas para cada um dos envolvidos. De um lado, o sujeito sabe que está sendo investigado embora desconheça as regras que o outro, o pesquisador, conhece. No outro ponto, situa-se o pesquisador quando sugere a brincadeira com proposta projetiva que significa uma pergunta feita de modo cifrado (9).

O que percebemos nesse contexto é a criação de um espaço de “faz de conta” no qual as perguntas são transicionalmente formuladas, através da imaginação simbólica e as respostas dadas da mesma forma. Isso significa dizer que a apreensão das representações sociais, neste enfoque psicodinâmico, facilita o conhecimento do aspecto afetivo inconsciente, que se delineia através da detecção das angústias, defesas, elaboração imaginativa e pontos objetais, bem como o alcance do “insight”.

 

O CAMPO REPRESENTACIONAL GERADO PELA FIGURA E SEUS SIGNIFICADOS NA APREENSÃO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

A análise qualitativa é uma atividade intensa, que exige criatividade, sensibilidade conceitual e trabalho árduo, por sua não linearidade, por ser complexa e por ser menos convencional (13). O grande obstáculo é organizar, fornecer estrutura e extrair significados dos dados de pesquisa.

Nos dois estudos optamos pelo estilo de análise de edição. Nesse caso, o pesquisador age como um intérprete, que lê, relê os dados, tantas quantas vezes necessário for, em busca de segmentos dos significados, os quais quando identificados são revistos e inseridos num esquema de classificação a partir de padrões e estruturas conectadas às categorias empíricas ou de análise.

Nesse sentido, a análise qualitativa é um processo de ajuste de dados narrativos, ou de tornar óbvio o invisível, de vincular e atribuir conseqüência aos antecedentes (19). Portanto, é um processo de conjectura, verificação, de correção e modificação, de sugestão e defesa através de processos intelectuais de compreensão, síntese, teorização e recontextualização com certa sistemática no curso do estudo.

Os resultados obtidos pelos recursos gráficos estão ancorados nas experiências individuais dos sujeitos pesquisados, seja no domicílio, seja no asilo. Ambos são decorrentes de sua história de vida que após estímulo conceitual e figurativo verbaliza fatos rememorados a partir da fruição de experiências significantes, recontadas e modificadas pela presença da cena. Assim, também transfere para uma figura que identificava o ser velho e estar diabético. Da mesma forma como ser velho, cuja manifestação da sexualidade do idoso, é entendido como um preconceito. Portanto, a ancoragem e a objetivação se dão por meio de etapas de seleção, classificação e naturalização do objeto, ou seja, eu velho e diabético, e ainda, eu velho e assexuado. Nos dois casos, objeto-sujeito no contexto do espaço domiciliar e no asilar.

Ao resignificar a vida, a sexualidade e a doença os sujeitos psicossociais atribuem um novo valor e um novo colorido psíquico (simbólico e cognitivo) uma vez que o corpo, este, foi coisificado. Ressaltamos que é preciso considerar a liberdade de cada um dos idosos em expor aspectos pessoais para falar de si e ao mesmo tempo estabelecer limites para si e para o outro (pesquisadores). Nesta interface, através da fala expressa por cada idoso, tanto na entrevista, como na associação livre mediante recurso gráfico, ele estrutura o seu sistema cognitivo e seu repertório de conhecimentos sobre a velhice e a doença para sinalizar sua autonomia frente à vida a partir de um sistema representacional (8).

 

CONSIDERAÇÕES SOBRE O MÉTODO DE COLETA DE DADOS EM BUSCA DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS

Os recursos gráficos como procedimentos técnico-metodológicos nos estudos da enfermagem revelam a capacidade de apreender as representações sociais, quer do envelhecimento, quer da sexualidade e, ainda de outro tema, assunto, fenômeno ou pessoa considerada tabu, preconceito, estigma e/ou mito, bem como seus aspectos conflitivos e pouco aclarados, enfim, nas condições fronteiriças onde a dificuldade em lidar com a presença do outro é captada.

Nessa perspectiva é fundamental reconhecermos que os métodos de um estudo podem ser tão importantes quanto suas limitações na conclusão sobre o valor de seus resultados (13). Dessa maneira, a crítica de pesquisa deveria refletir uma consideração ponderada, objetiva e equilibrada da validade e da significação do estudo.

Sabemos que a qualidade de um estudo depende das decisões feitas pelos pesquisadores na conceituação, delineamento e execução desse estudo, bem como na interpretação e comunicação de seus resultados (13).

O investimento afetivo, as defesas e as ansiedades manifestas na relação entrevistado e entrevistador foram observados por ocasião da aplicação dos recursos gráficos, embora com certo grau de familiaridade em função dos projetos de pesquisa e extensão. Nesse sentido, por ser uma técnica encoberta, também é considerada como uma entrevista não conceitual.

Dessa forma, entendemos que os mecanismos de defesa observados nas atitudes dos entrevistados podem ser traduzidos como uma incerteza sob dois aspectos complementares. Primeiro, diz respeito à insegurança pela maneira alternativa de participar de uma pesquisa através de figuras. Segundo, a dúvida pela falta de perguntas diretas, mas com certo grau de liberdade e visibilidade do que poderia falar, sobre a figura possibilitava contar sobre fatos relacionados com sua vida de forma espontânea e não cronológica. Embora tenham cumprido as instruções, os recursos gráficos não conferem ao mesmo a certeza absoluta do que de fato está sendo investigado.

A maioria dos entrevistados, quando iniciavam e/ou terminavam o processo de respostas, manifestava verbalmente uma preocupação em ter respondido às perguntas de acordo, deixando emergir o receio de não ter atendido às exigências, como se esse posicionamento remetesse a uma situação de participação em modelos de entrevistas mais tradicionais por experiência em projetos de pesquisa e extensão universitária.

Consideramos relevante a utilização dos recursos gráficos, os quais permitem respostas em nível consciente e inconsciente que a seu turno, embora não tenha sido a intenção dos pesquisadores, revelar fragmentos do psiquismo do entrevistado, como também a criação de uma nova interação com as figuras, alternando as mensagens, os diálogos e os personagens expressos, revelando, ao mesmo tempo, a capacidade criativa do pesquisado e a plasticidade do instrumento por favorecer a interatividade.

Ao analisarmos estudos de representações sociais utilizando instrumentos gráficos, buscamos dar credibilidade aos resultados obtidos por este método alternativo de pesquisa na enfermagem que diz respeito à confiança na verdade dos dados obtidos por tais meios, assim como a garantia da consistência interna dos mesmos.

Nesse sentido, vale considerar que “é na multiplicidade e mobilidade destes pontos de encontros que o tecido da vida emerge e sujeitos sociais constroem o que sabem sobre si mesmos, sobre os outros, sobre seu modo de vida. Nestes pontos de encontro forjam-se as representações sociais, que expressam os processos através dos quais uma comunidade produz o sistema de saberes que lhe confere uma identidade social, uma forma de enfrentar o cotidiano e uma forma de se relacionar com os objetos que o rodeiam” (20).

 

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2. Trinca W. Investigação clínica da personalidade: o desenho livre como estímulo de percepção temática. Belo Horizonte: Interlivros; 1976.

3. Lima VR, Miranda FAN, Simpson CA. Representações sociais do envelhecimento e do diabetes para um grupo de idosos atendidos no domicílio. IV Jornada Internacional de Representações Sociais e II Conferência Brasileira de Representações Sociais – teoria e abordagens metodológicas; 2005 nov. 8-11; João Pessoa, Brasil. p. 223-224.

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5. Miranda FAN, Carvalho AM, Simpson CA, Furegato ARF. Enfermagem psiquiátrica: apreensão da representação social no primeiro dia de aula. UNOPAR Cient., Ciênc. Biol. Saúde 2002 out.; 4(1): 31-36.

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9. Vaisberg TMJA. O uso de procedimentos projetivos nas pesquisas de representações sociais: projeção e transicionalidade. Psicologia USP 1995; 6(2): 103-27.

10 .Arreguy-Sena C, Oliveira RML, Lima DML, Vasconcellos CMR, Sacramento EL. Construção e utilização de um painel informativo para passagem de plantão: Relato de Experiência.  Revista Eletrônica de Enfermagem [serial on line] 2001 Jan-Jun [citet 2006 mai 15] 3(1):1-15. Available from: URL: http://www.fen.ufg.br/revista/revista3_1/painel.html

11. Winnicott DW. O brincar e a realidade. Rio de Janeiro: Imago; 1975.

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Artigo recebido em 29.11.06

Aprovado para publicação em 27.08.07

 

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