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Psicologia: Reflexão e Crítica - The speech directed to boys and girls: a study on maternal input and their variations

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Psicologia: Reflexão e Crítica

Print version ISSN 0102-7972

Psicol. Reflex. Crit. vol.15 no.2 Porto Alegre  2002

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-79722002000200011 

A fala dirigida a meninos e meninas: um estudo sobre o input materno e suas variações

 

The speech directed to boys and girls: a study on maternal input and their variations

 

 

Fabíola de Sousa Braz1, 2; Nádia Maria Ribeiro Salomão

Universidade Federal da Paraíba

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

O objetivo desse estudo foi verificar os estilos comunicativos maternos dirigidos a meninos e meninas, especialmente os diretivos, num contexto de brinquedo livre. Os estilos comunicativos das mães e das crianças foram analisados a partir da perspectiva da interação social, que reconhece a importância do input materno para o desenvolvimento da linguagem infantil. Participaram desse estudo 16 díades mãe-criança distribuídas igualmente quanto ao gênero. As díades foram filmadas em ambiente natural numa situação de brinquedo livre. As transcrições das sessões foram realizadas seguindo as diretrizes do Codes for Human Analysis of Transcripts (CHAT) que compõe o sistema computacional Child Language Data Exchange System (CHILDES). A aplicação do teste Mann-Whitney revelou que foram dirigidos mais diretivos maternos ao grupo de meninos, enquanto que as solicitações maternas foram dirigidas mais ao grupo de meninas. Esses resultados foram discutidos considerando-se o nível de desenvolvimento lingüístico infantil e os contextos interativos nos quais os enunciados foram apresentados.

Palavras-chave: Interação mãe-criança; linguagem; gênero.


ABSTRACT

The aim of this study was to verify the maternal communicative styles directed to boys and girls, especially the directive one, in a free-play situation. The mother's and the children's communicative styles were based on the social interaction perspective, which recognizes the importance of maternal input to the development of the infant's is language. In this study there were sixteen mother-child dyads equally distributed in terms of gender. The dyads were recorded in natural environment in a free-play situation. The transcriptions of the sessions were carried out following the norms of the Codes of Human Analysis of Transcripts (CHAT) that composes the computational system Child Language Data Exchange System (CHILDES). Mann-Whitney test showed that mothers used more directives in the group of boys, while maternal request was more used in the group of girls. These results were discussed considering children's linguistic level of development and the interactive contexts in which the utterances appeared.

Keywords: Mother-child interaction; language; gender.


 

 

Os estudos sobre o desenvolvimento da linguagem têm ressaltado alguns aspectos do ambiente sócio-comunicativo da criança que podem contribuir para o avanço na capacidade lingüística infantil. Entre tais aspectos destaca-se a linguagem que a mãe apresenta à criança, um tipo de input que tem sido considerado um favorecedor do desenvolvimento da linguagem (Farrar, 1990).

As contribuições da fala materna para o desenvolvimento da linguagem infantil têm sido investigadas pela perspectiva da interação social dos estudiosos da linguagem, entre os quais poderíamos destacar os trabalhos de Snow (1977, 1989) e Pine (1992, 1994). A abordagem da interação social, impulsionada a partir da década de 70 com estudos que enfatizavam principalmente a função sócio-comunicativa da fala materna, trouxe em suas formulações um novo modelo de análise das interações lingüísticas adulto-criança assim como um redirecionamento nas formas de explicar a aquisição da linguagem, ao destacar a influência recíproca que ocorre nas interações diádicas mãe-criança.

As pesquisas nesta área (Barnes, Gutfreund, Satterly & Wells, 1983; Phillips, 1973; Pine, 1992; Snow, 1977, 1989) revelaram que as mães adotam um estilo de fala peculiar ao se dirigirem às crianças pequenas que se diferencia da fala entre adultos, e parece indicar uma adaptação da mãe às habilidades lingüísticas limitadas de crianças pequenas. Através desse 'código' ou registro de fala, a mãe parece ajustar (fine-tuning) sua linguagem ao nível de desenvolvimento cognitivo e lingüístico infantil.

Os ajustes na fala materna trazem subjacente a idéia de que as mães ao falarem com suas crianças estão tentando envolvê-las no diálogo, comunicar-lhes uma intenção, e ainda, que a maneira dos adultos falarem com as crianças e as circunstâncias sob as quais isso ocorre podem contribuir para o desenvolvimento de estruturas de linguagem das crianças (Gleitman, Newport & Gleitman, 1984).

Segundo os teóricos da perspectiva da interação social, os ajustes na fala materna dirigida à criança caracterizam o motherese, um estilo de fala que envolve enunciados curtos e simples, presença de gestos que auxiliam na comunicação e que parecem prover às crianças informações (Snow, 1977), um padrão de entonação marcado (Fernald, 1989), simplificação na forma e no conteúdo da fala (Ochs & Schieffelin, 1997) e principalmente uma intenção comunicativa (Austin, 1962/1990).

Para a perspectiva da interação social os enunciados maternos podem expressar uma ampla variedade de intenções comunicativas e funções nas trocas lingüísticas. Dentre os estilos de fala materna investigados quanto a sua função nas interações que serão analisados no presente estudo, destacam-se a solicitação materna, que pode funcionar para motivar a criança a participar dos diálogos e estender seus recursos lingüísticos (Barnes & cols., 1983; Pine, 1994); os feedbacks maternos, que podem ser utilizados para dar continuidade à fala da criança, e manter o diálogo (Demetras, Post & Snow, 1986); as informações ou assertivas maternas, que geralmente surgem nas interações para caracterizar, localizar e nomear objetos, assim como para descrever e anunciar ações (Schmidt, 1996) e ainda os diretivos maternos, que surgem desde as primeiras interações verbais e carregam consigo uma intenção mais explícita nos diálogos (Barret, 1989; Bellinger, 1979; Bock & Hornsby, 1981; Ervin-Tripp & Gordon, 1984).

Os enunciados diretivos podem ser definidos como um comando ou ordem que possui um componente imperativo claramente interpretável, o qual funciona para dirigir o comportamento ou as verbalizações da crianças (Akhtar, Dunhan & Dunhan, 1991).

Os diretivos e sua utilização pelas mães nos contextos interativos têm sido alvo de debates e investigações quanto a sua função no desenvolvimento da linguagem infantil. Essa idéia é corroborada por estudos (Harris, Jones & Brookes, 1986; Tomasello & Todd, 1983) que verificaram uma relação negativa entre as formas de diretividade materna e algumas medidas no avanço lingüístico infantil. Em contrapartida, outros estudos (Barnes & cols., 1983; Furrow, Nelson & Benedict, 1979) observaram que a fala diretiva pode ser benéfica para o desenvolvimento lingüístico de crianças pequenas.

Segundo Pine (1992), as divergências acerca do papel dos enunciados diretivos podem decorrer dos tipos de conceitos e distinções que tem sido propostos para caracterizar as variações encontradas nos estilos interacionais. Conforme esse mesmo autor, conceber os enunciados diretivos como 'favoráveis' ou 'desfavoráveis' ao avanço do vocabulário das crianças representa uma análise ainda simplificada do papel dos diretivos, já que tais enunciados podem apresentar diferentes funções durante as trocas lingüísticas.

Ademais, os estudos nessa área assinalam que o modo através do qual os enunciados diretivos surgem durante as interações pode variar em função de características individuais da criança tais como seu nível de desenvolvimento cognitivo e lingüístico, sua faixa etária e as diferenças entre as crianças no que se refere a seus estilos ou estratégias para se inserirem no sistema lingüístico (Hampson & Nelson, 1993).

Contudo, uma outra característica infantil tem sido apontada como uma das possíveis responsáveis pelas variações em contextos interativos mãe-criança, qual seja: o gênero. A partir de uma revisão da literatura, percebe-se que as pesquisas relacionadas ao gênero parecem centrar suas questões na aquisição de papéis sexualmente apropriados (Fagot & Leinbach, 1989; Smith & Daglish, 1977), nas diferenças entre os pais no que se refere ao tratamento e práticas educativas de meninos e meninas (De Francisco, 1992; Fagot, 1984), e no quanto a socialização baseada em papéis sexuais pode modificar-se em função da idade das crianças (Fagot & Hagan, 1991).

Em relação às variações em contextos interativos mãe-criança, são poucos os estudos referentes aos estilos de fala materna dirigidos a meninos e meninas. Ely e Gleason (1997) verificaram que, com o desenvolvimento da linguagem das crianças, os pais lançam mão de diretivos lingüísticos explícitos como proibições, para controlar o comportamento infantil. Masur e Gleason (1980) demonstraram que uma maior produção lexical e complexidade sintática na fala da mãe foi associada com uma maior produção lexical tanto de meninos quanto de meninas, embora, em média, as meninas tenham a tendência de acelerar mais rapidamente o vocabulário que os meninos.

Uma investigação realizada por Weitzman, Birns e Friend (1985) sobre a comunicação das mães com seus filhos e filhas, demonstrou que as mães estimulavam verbalmente mais os meninos que as meninas, independente de suas atitudes quanto a direitos e papéis femininos.

Pesquisa realizada por Huttenlocher, Haight, Seltzer e Lyons (1991) revelou que algumas das primeiras diferenças entre os gêneros, no que se refere ao crescimento do vocabulário, apontam variações maturacionais na capacidade lingüística de meninos e meninas. Huttenlocher e colaboradores investigaram o papel da exposição da linguagem na aquisição do vocabulário de meninos e meninas na idade entre 14 e 26 meses. Esses autores procuraram verificar se existiam diferenças entre os gêneros em relação ao crescimento do vocabulário e se essas diferenças ocorriam em função da exposição da fala materna.

Os resultados demonstraram que, embora a quantidade média de fala materna tenha sido um pouco mais alta para as mães de meninas, a diferença observada não foi significativa. Além disso, observou-se que as diferenças de gênero em relação à produção lingüística, não refletem simplesmente diferenças em quão falante cada menino ou menina seja, mas diferenças reais em seu nível de vocabulário. Conforme esses autores, as diferenças de gênero no desenvolvimento inicial do vocabulário parecem indicar primeiro uma diferença na capacidade das crianças, e não apenas nas respostas diferenciais de mães a seus filhos e filhas.

Uma pesquisa realizada por Fagot e Hagan (1991) para verificar as reações dos pais aos comportamentos das crianças, demonstrou que aos 18 meses de idade, os meninos recebiam mais feedback negativo nas tentativas de comunicação que as meninas. Inversamente, as meninas recebiam mais feedback positivo do que os meninos por fazerem tentativas de participar do diálogo. Observou-se também nesse estudo que durante as interações, as meninas recebiam mais incentivos das mães para falar do que os meninos, e que, quando as crianças atingiram os 5 anos de idade, essas diferenças nas trocas comunicativas em função do gênero não foram mais observadas.

A análise dos aspectos sócio-comunicativos da fala materna e as funções que enunciados tais como os diretivos podem desempenhar na aquisição lingüística infantil, pode contribuir para uma melhor caracterização dos estilos interativos das díades mãe-criança. Nesta direção, enfatiza-se a relevância dessa análise considerando o número reduzido de estudos sobre as possíveis variações nos estilos lingüísticos maternos em função do gênero da criança, na população brasileira.

Neste sentido, buscou-se verificar no presente estudo os estilos comunicativos maternos dirigidos a meninos e meninas, num contexto de brinquedo livre. Observou-se como se apresentaram os enunciados maternos, especificamente os diretivos, em função dos comportamentos comunicativos verbais e não-verbais apresentados por meninos e meninas, e os tipos de solicitações, informações e feedbacks utilizados pelas mães em função das verbalizações e comportamentos comunicativos das crianças.

 

Método

Participantes

Participaram desse estudo, 16 díades mãe-criança, pertencentes a famílias de classe social média da cidade de João Pessoa, Paraíba. As crianças estavam na faixa etária entre 24-30 meses de idade, distribuídas igualmente quanto ao gênero. Foram utilizados como parâmetro para a variável classe social, o nível de instrução da mãe (a partir do 2º grau completo) e a renda familiar (de 15 a 20 salários mínimos). As mães possuíam a idade superior a 20 anos, eram casadas, trabalhavam apenas um período do dia, e tinham no máximo dois filhos, além da criança que participou do estudo.

Instrumentos e Situação

Foram realizadas, para registrar os estilos de fala dirigidos à criança, gravações em vídeo tape da interação mãe-criança, e entrevistas do tipo semi-estruturada, registradas por meio de um gravador. As díades foram observadas num contexto de brinquedo livre. Essa situação constitui um exemplo de um contexto de troca que ocorre comumente entre a mãe e a criança, permitindo que a mãe tenha mais liberdade para escolher quando realizar uma tarefa e tentar adaptá-la ao nível de compreensão da criança.

Procedimentos

As observações foram realizadas em ambiente natural, no horário de preferência das mães. O primeiro contato com as mães, feito por telefone, teve como propósito explicar o objetivo da pesquisa, certificar-se da participação da díade no estudo e marcar uma visita em seu ambiente. Na primeira visita foi realizada a entrevista com a mãe, e, após realizada a entrevista, a pesquisadora marcou com a mãe uma segunda visita para que fosse realizada a filmagem da atividade de brinquedo livre. Na sessão de observação, a única instrução dada pela pesquisadora antes da filmagem foi a de que "a mãe brincasse com seu (a) filho (a) da maneira que costuma brincar habitualmente". Durante as gravações apenas estiveram presentes a mãe, a criança e a pesquisadora.

Após realizados todos os registros da situação de brinquedo livre, foi iniciado o processo de transcrição das sessões de observação. Essas sessões tiveram em média, vinte minutos, sendo apenas transcritos e analisados dez minutos de cada uma delas, conservando-se a forma exata das emissões verbais e não-verbais da mãe e da criança.

Sistema de Categorias

Para analisar os estilos de fala materna e a participação da criança no diálogo, foram elaboradas categorias, formuladas a partir dos objetivos da pesquisa, de uma sessão de observação em ambiente natural e de dados da literatura. Essas categorias foram complementadas a partir de dados obtidos nas sessões de observação deste estudo, sofrendo modificações até que a codificação de todos os protocolos fosse iniciada. As verbalizações das mães e das crianças, assim como os seus comportamentos comunicativos não-verbais, podem desempenhar diferentes funções no discurso (Van Kleeck, Maxwell & Gunter, 1985). Entretanto, a análise da fala materna no presente estudo baseou-se em classificações que foram mutuamente exclusivas: cada um dos enunciados classificados em apenas uma categoria, ou seja, aquela que o pesquisador considerou como desempenhando a função principal.

As categorias de fala materna e infantil analisadas foram definidas com base no estudo realizado por Conti-Ramsden (1990), Akhtar e colaboradores (1991); Pine (1992) e Salomão (1996). Essas categorias serão apresentadas no Anexo A.

Análise dos Dados

Após a etapa de transcrição das sessões ser concluída, esses dados foram dispostos no computador, seguindo as normas do Child Language Data Exchange System (CHILDES), um sistema computacional composto de três instrumentos que visam facilitar a troca de dados entre diferentes pesquisadores, aumentar a fidedignidade das transcrições e automatizar o processo de análise de dados (Sokolov & Snow, 1994). O sistema CHILDES atinge estes três objetivos através de três diferentes instrumentos que estão integrados: o CHAT (Codes for Human Analysis of Transcripts) que corresponde ao sistema padronizado de transcrição; o CLAN (Computerised Language Analysis), onde os programas são desenhados para desenvolver análises dos dados transcritos tais como contagem de freqüência, procura de palavras, análise interacional, cálculo de MLU, mudanças no texto, dentre outros; e o CHILDES, que é um banco de dados onde é possível ter acesso a um grande número de projetos de pesquisas e a uma enorme variedade de dados lingüísticos.

A inserção dos dados transcritos no programa CHILDES foi realizada considerando-se os enunciados da mãe e da criança separados em unidades verbais, levando em conta três critérios, a saber: a troca de interlocutor, a pausa com intervalo de tempo maior que dois segundos para separar sucessivos enunciados de um mesmo locutor, e verbalizações que, mesmo não separadas por este intervalo, apresentem um conteúdo semântico diferente da emissão que a precedeu (Salomão, 1996). Posteriormente iniciou-se a fase de codificação dos enunciados que foi realizada no CLAN, onde foram efetivados a contagem de freqüência das categorias e o cálculo da Extensão Média dos Enunciados (MLU) da mãe e da criança.

O índice de fidedignidade das categorias de atos de fala da mãe e da criança foi calculado através da fórmula IF= (S A/S (A+D). 100)3. Para verificar a fidedignidade dessa codificação, 20% do material foi analisado por outro codificador, e, após esse processo, as porcentagens de concordância deste segundo codificador foram comparadas com as do codificador original. A partir dessa comparação, obteve-se 91,5% de concordância das categorias de fala materna e infantil.

 

Resultados

As comparações entre os estilos de fala materna utilizados por mães de meninos e meninas, e dos comportamentos comunicativos infantis foram baseadas no cálculo de proporções das emissões verbais e não verbais das mães e crianças de ambos os grupos. Conforme Hoff-Ginsberg (1992) esse cálculo possibilita descrever os dados referentes às diferenças entre os grupos e verificar diferentes aspectos da fala materna, e aspectos do input que auxiliam a aprendizagem da linguagem infantil.

Após realizados esses cálculos, foi aplicado o teste de Mann-Whitney (U) nas proporções de emissões verbais e não-verbais das mães e das crianças dos dois grupos, para verificar se havia diferença significativa entre tais proporções em relação aos dois grupos. Nesse estudo, serão apresentados apenas os resultados referentes àquelas categorias de fala materna e infantil que mais se destacaram do conjunto das categorias observadas.

Categorias Gerais de Fala Materna

A Tabela 1 apresenta os tipo de verbalizações maternas dirigidas aos grupos de meninos e meninas. Através da aplicação do teste de Mann-Whitney, verificou-se uma diferença significativa nos Diretivos maternos dirigidos ao grupo de meninos (p<0,05), e nas Solicitações maternas em relação ao grupo de meninas (p< 0,05). Embora as demais categorias não tenham apresentado uma diferença significativa após a aplicação do teste U, as diferenças nas médias destas categorias devem ser consideradas.

 

 

No intuito de realizar uma análise mais detalhada desses resultados, optou-se por verificar ainda se havia variações entre os grupos no que se refere aos tipos de Diretivos e Solicitações maternas dirigidos a meninos e meninas (ver Anexo A).

Tipos de Diretivos Maternos

A Tabela 2 exibe os tipos de Diretivos maternos dirigidos a meninos e meninas. Como pode-se verificar, não foi observada diferença significativa nas médias proporcionais dos tipos de Diretivos maternos em relação aos dois grupos, embora tenha sido percebida uma tendência à significância na proporção de Diretivos de Atenção em relação ao grupo de meninos, e uma maior proporção de Diretivos de Instrução dirigida ao grupo de meninas.

 

 

Uma análise detalhada dos protocolos de observação revelou que, geralmente, os contextos específicos nos quais os Diretivos ocorreram em ambos os grupos foram: a) aqueles em que as mães davam instrução para que a criança realizasse algo; b) aqueles em que a mãe chamava a atenção da criança quando esta não estava atenta a ela; c) quando as mães impediam fisicamente um comportamento da criança; e d) quando a mãe pedia que a criança repetisse algo, sendo os dois primeiros contextos os mais frequentemente utilizados pelas mães durante as interações.

Tipos de Solicitações Maternas

A Tabela 3 lista os tipos de solicitações maternas dirigidas a meninos e meninas. Pode-se verificar que houve diferença significativa nos tipos de Solicitações maternas de Completar e Sugerir, em relação ao grupo de mães de meninas, e uma tendência à significância na Solicitação Geral em relação ao grupo de meninos. É importante mencionar que foi também verificada uma diferença significativa no total geral das Solicitações maternas dirigidas ao grupo de meninas, como apresentado na Tabela 1.

 

 

Uma análise mais detalhada dos protocolos de observação revelou que, em geral, as mães faziam cinco tipos específicos de questões: a) aquelas que através de uma pergunta dirigida à criança procurava demonstrar o conhecimento desta acerca de conceitos e/ou características dos objetos envolvidos na interação; b) aquelas que requeriam da criança respostas do tipo sim/não; c) aquelas que solicitavam um complemento tanto de trechos de músicas infantis quanto de perguntas sobre propriedades de um objeto; d) aquelas que solicitavam da criança um esclarecimento acerca do que elas tinham falado; e e) aquelas que sugeriam uma atividade à criança buscando saber o que a criança gostaria de fazer durante a situação de brinquedo.

Comportamentos Comunicativos das Crianças

Considerando que esse estudo analisou as trocas diádicas mãe-criança sob o ponto de vista interacional, foi também verificado qual o tipo de participação das crianças, e as possíveis variações dessa participação em relação ao gênero.

A Tabela 4 apresenta os tipos de enunciados infantis emitidos por meninos e meninas. A partir dos resultados listados neste quadro, percebe-se que houve uma diferença significativa na categoria de Resposta Verbal Adequada no grupo das meninas, e na categoria de Repetição dos Enunciados Maternos em relação ao grupo de meninos. Embora não tenha sido verificada uma diferença significativa nas demais categorias de fala infantil listadas no quadro acima, devem ser observadas as variações nas médias de enunciados infantis dos dois grupos e os contextos nos quais esses enunciados ocorreram.

 

 

Discussão

Os resultados do presente estudo foram analisados tendo por base a perspectiva da interação social, a qual considera que a aquisição da linguagem deve ser analisada não somente do ponto de vista sintático e semântico, mas sob o ponto de vista pragmático ou comunicativo.

As análises dos enunciados maternos revelaram variações nos comportamentos comunicativos maternos em função do gênero da criança. Primeiramente, verificou-se que as mães de meninos emitiram significativamente mais Diretivos que as mães de meninas. Esses resultados corroboram aqueles encontrados por Perlmann e Gleason (1990, citados em Ely & Gleason, 1997), os quais encontraram em sua pesquisa que diretivos lingüísticos maternos foram mais dirigidos a meninos que a meninas.

Em relação aos tipos específicos de Diretivos maternos dirigidos aos dois grupos observou-se que foram mais utilizados pelas mães de meninos os Diretivos de Atenção, enquanto os Diretivos de Instrução foram mais utilizados pelas mães de meninas. Mesmo não tendo sido verificada uma diferença significativa nas proporções desses dois tipos de enunciados em relação aos dois grupos, observou-se que os contextos nos quais eles ocorreram diferiram quanto à sua intenção comunicativa durante as interações entre as díades dos dois grupos: o primeiro utilizado especificamente nos momentos em que a criança não estava atenta a uma fala ou objeto ao qual a mãe se referia, enquanto o segundo, para controlar o comportamento das crianças através de comandos ou solicitações explícitas, que geralmente demonstravam a habilidade da criança com objetos e conceitos.

Uma outra leitura destes dados deve considerar ainda que uma maior utilização de Diretivos de Atenção dirigido aos meninos, pode indicar que houve um menor envolvimento ou atenção destes nas atividades propostas pelas mães. Já nas díades mãe-menina foi observada uma menor proporção de Diretivos de Atenção, o que pode indicar que as mães de meninas estabeleceram com elas maior engajamento durante a situação de brinquedo livre.

Desta feita, esses dados podem indicar que os Diretivos Maternos de Atenção e Instrução, mais freqüentes nesse estudo, podem ter veiculado diferentes intenções comunicativas e não apenas a intenção de controlar e inibir o comportamento da criança. Essa idéia ganha apoio na afirmação de Pine (1992), que considera inadequada a tendência da literatura em tratar diferentes formas de Diretividade materna como se fossem essencialmente equivalentes, ou seja, como se todos os tipos de diretivos maternos carregassem em si a mesma função comunicativa.

É importante lembrar ainda que a maneira através da qual a mãe usa esse tipo de enunciado nos contextos lingüísticos modifica-se à medida que a criança vai estabelecendo com a mãe padrões de interação mais sofisticados e complexos. Além disso, os contextos — tipos de brinquedos utilizados e atividades propostas - variaram nos dois grupos, o que pode ter contribuído para que fossem observadas diferenças no uso dos diretivos maternos.

No conjunto das verbalizações apresentadas às crianças, a Solicitação Materna foi o estilo de fala mais utilizado pelas mães nos dois grupos, embora, em geral, esse tipo de enunciado tenha sido dirigido significativamente mais a meninas que a meninos. As solicitações funcionaram, em sua maioria, como uma ferramenta materna para dar continuidade às atividades que estavam sendo realizadas pela díade, assim como para sustentar o diálogo com a criança, mantendo-a envolvida nas atividades. O uso das solicitações maternas para motivar a criança a participar dos diálogos e estender seus recursos lingüísticos durante as interações foi apontado também por Snow (1977), Barnes e colaboradores (1983), e Pine (1994).

O fato das mães, nos dois grupos, terem utilizado largamente esse tipo de enunciado, pode ter ocorrido devido ao nível de desenvolvimento lingüístico e cognitivo dos meninos e meninas que participaram deste estudo. Os contextos nos quais esses enunciados surgiram, também indicam que as mães já percebiam suas crianças como parceiras conversacionais mais sofisticadas.

É importante ressaltar ainda, que em determinados momentos da interação, algumas solicitações maternas foram emitidas juntamente com gestos diretivos tais como o apontar e mostrar indicando que, nesses contextos, as solicitações maternas funcionavam também para manter e até dirigir a atenção da criança para um dado objeto.

Esse tipo de artifício lingüístico foi também observado por Bellinger (1979) o qual verificou que alguns enunciados apresentavam formas indiretas de dirigir o comportamento da criança, muitas vezes aparecendo como interrogativos e declarativos. Conforme este autor, isso ocorre devido ao fato da criança já possuir uma maior habilidade cognitiva e lingüística, levando a mãe a apresentá-la enunciados mais complexos. Já para Bock e Hornsby (1981), algumas solicitações que parecem ter uma função diretiva podem ser percebidas como um estilo mais polido de fala do que o comando diretivo explícito. Contudo, para esse autor, o que diferencia as solicitações e os diretivos é a forma sintática em que estes enunciados são apresentados.

No que se refere à categoria de feedback, não foram encontradas diferenças significativas nesse tipo de emissão verbal materna, em função do gênero da criança, resultados estes contrários àqueles encontrados por Fagot e Hagan (1991), os quais verificaram em seu estudo que as meninas recebiam mais feedback positivo do que os meninos quando estavam brincando com seus pais.

Observou-se que os feedbacks de Aprovação, Desaprovação e Correção, em sua maioria, não foram utilizados para simplesmente corrigir os enunciados das crianças em termos de gramaticidade (falha nos marcadores gramaticais ou colocados na frase na ordem incorreta), mas antes, foram dados considerando a precisão e a veracidade no conteúdo das respostas das crianças, o que também foi encontrado por Demetras, Post e Snow (1986).

Ademais, verificou-se que os feedbacks de Confirmação serviram, geralmente, para dar continuidade à fala da criança, enfatizar alguns trechos de sua fala, e para manter o diálogo com ela. Para Demetras, Post e Snow (1986), esse tipo de resposta materna pode funcionar como um feedback positivo durante as interações.

Em relação à categoria Informação, foi observado que esse tipo de enunciado geralmente serviu nas interações para caracterizar, localizar e conceituar objetos, assim como para descrever e anunciar ações que pretendiam ser realizadas por ambos os membros da díade. Esses contextos foram geralmente acompanhados por gestos diretivos, como apontar e mostrar, dando à criança a oportunidade de relacionar o objeto ao seu referente lingüístico. Tais eventos também foram relatados por Schmidt (1996), que observou em sua pesquisa que as mães coordenaram gesto e fala quando nomearam um objeto ou descreveram uma ação para suas crianças.

Quanto aos comportamentos comunicativos das crianças, observaram-se algumas variações na participação de meninos e meninas durante as interações com suas mães. No que se refere à categoria de Fala Espontânea, não foi observada uma diferença significativa desse tipo de enunciado em relação aos grupos de meninos e meninas.

Através de uma análise dos protocolos de observação verificou-se que no grupo de meninos as mesmas crianças que obtiveram escores baixos de Fala Espontânea também obtiveram escores altos de Enunciados Ininteligíveis. Ao passo que aqueles que obtiveram escores altos de Fala Espontânea obtiveram escores baixos de Enunciados Ininteligíveis.

Esse dado não foi observado no grupo das meninas, já que a maioria apresentou altos escores de Fala Espontânea e baixos escores de Enunciados Ininteligíveis. Desse modo, a variabilidade intra-grupo observada pode ter contribuído para que não fosse encontrada diferença significativa nas proporções desses dois tipos de enunciados em relação ao grupo de meninos e meninas.

As análises das verbalizações infantis revelaram que o grupo dos meninos apresentou uma proporção significativamente maior de Repetição dos Enunciados Maternos que o grupo das meninas. Autores como Leonard, Schwartz, Folger, Newhoff e Wilcox (1979) relataram que esse tipo de enunciado não parece um processo necessário para a aquisição da linguagem e, portanto, de novos itens léxicos na fala espontânea das crianças, mas antes, parece indicar uma estratégia que habilita a criança a participar do ato comunicativo.

Já no grupo das meninas, foi verificado que esse grupo apresentou uma proporção significativamente maior de Respostas Verbais Adequadas quando comparado ao grupo dos meninos. Possivelmente, essa diferença está relacionada com as Solicitações maternas e as atividades em torno destas, já que ao grupo de meninas foram dirigidas significativamente mais Solicitações de Completar em contextos de canções, nos quais era pedido à criança para completar trechos de músicas ou até mesmo cantar com a mãe. Na maioria dessas díades, mãe e criança passavam períodos consideráveis da interação em torno da atividade de cantar, o que pode ter provocado não somente uma maior proporção de Respostas Verbais Adequadas, como também favorecido maiores ocorrências de atividades realizadas conjuntamente.

Esses dados sugerem que mesmo apresentando um nível lingüístico semelhante, medido pela Extensão Média do Enunciado - MLU, os meninos e meninas deste estudo demonstraram variações em suas estratégias lingüísticas ao interagirem com suas mães. Enquanto no grupo de meninos foi observada uma maior proporção de Repetição dos Enunciados Maternos durante as interações, foi observada por outro lado, uma diferença significativa na proporção de Respostas Verbais Adequadas das meninas.

Os contextos nos quais esses enunciados ocorreram podem ter propiciado uma maior variação de um ou outro tipo de ação verbal infantil. A análise dessas interações deve considerar tanto as variações e estratégias lingüísticas de meninos e meninas, quanto o contexto de atividades e de trocas nas quais a interação ocorreu.

 

Considerações Finais

Nesse estudo, partiu-se da premissa de que os comportamentos e verbalizações de mães e crianças se influenciam reciprocamente, caracterizando um cenário de troca mútua em que a criança é percebida como uma parceira ativa e dinâmica nas interações, e a mãe o elemento da díade responsável pela criação de uma estrutura sócio-interativa favorável para a aprendizagem da linguagem.

A análise do estilo de fala diretiva, neste estudo, revelou que uma investigação criteriosa desse tipo de enunciado deve considerar as diversas funções dos diretivos nos diálogos, antes que defini-lo como um estilo de fala intrusivo e que retrata a insensibilidade materna à limitada habilidade lingüística de crianças pequenas.

As estratégias metodológicas utilizadas para sua análise devem estar bem definidas para que o uso dos diretivos maternos não seja interpretado de forma polarizada, como já argumentado por Pine (1992). Já que esses enunciados podem apresentar diversas funções nos diálogos, sua análise deve considerar os contextos em que estão sendo emitidos, o nível de desenvolvimento lingüístico infantil, e as maneiras através das quais os diretivos são apresentados à criança.

Pode-se verificar que características infantis, como o gênero, podem provocar estilos interativos peculiares não apenas pelo fato das crianças serem meninos ou meninas, mas pelo tipo de relação que estabeleceram com suas mães. Os dados deste estudo parecem indicar que a fala das mães dirigida às crianças foram influenciadas também pelas capacidades adquiridas por elas. Embora tenham sido observadas variações na fala das mães em relação aos dois grupos, tais variações devem ser analisadas também em função da participação efetiva das crianças e de suas habilidades.

Contudo, não se pode negar que o gênero influenciou, por exemplo, na escolha dos brinquedos durante as interações, e que tal escolha trazia implícita uma mensagem do que era "de menino ou de menina", mas essa dimensão não foi a única responsável pelos estilos de fala que as mães dirigiram às crianças. Ademais, as concepções maternas acerca dos padrões de comportamento baseados no gênero vêm sendo modificadas, o que possivelmente influencia as trocas interativas adulto-criança.

É importante mencionar que a utilização como recurso metodológico de um sistema computacional de análise dos dados tal como o CHILDES contribuiu consideravelmente para uma análise mais fidedigna das interações. Através desse instrumento, pôde-se obter dados referentes às freqüências das categorias de fala materna e detectar trechos específicos que compunham o curso da interação.

Assim, sugere-se que futuras pesquisas investiguem o papel dos diretivos e suas implicações para o desenvolvimento infantil, considerando os contextos de trocas em que surgem, os fatores que levam a sua utilização, e as repercussões desse tipo de enunciado para o desenvolvimento cognitivo e lingüístico infantil. Pode-se ressaltar, finalmente, a importância de pesquisas posteriores que abordem as concepções maternas a respeito do gênero da criança e suas influências nas interações diádicas. Tais pesquisas devem considerar não apenas os atos de fala em si, mas sua relação com a estrutura sócio-comunicativa subjacente às verbalizações maternas e infantis.

 

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Endereço para correspondência
Fabíola de Sousa Braz
Departamento de Psicologia, Mestrado em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, UFPB, João Pessoa, PB
CEP: 58059900

Recebido: 08/02/2001
Revisado: 21/12/2001
Aceito: 21/12/2001

 

 

Sobre as autoras

Fabíola de Sousa Braz é Mestre em Psicologia Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Docente do Centro Universitário de João Pessoa - Unipê e da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB).

Nádia Maria Ribeiro Salomão é Doutora em Psicologia pela Universidade de Manchester (Inglaterra), Docente do Programa de Pós-Graduação em Psicologia Social - Universidade Federal da Paraíba.

 

 

1 Endereço para correspondência: Departamento de Psicologia - Mestrado em Psicologia Social, Universidade Federal da Paraíba, UFPB, João Pessoa, PB. CEP: 58059900
2 Agradecimento à CAPES pelo financiamento da presente pesquisa.

 

 

Anexo A

 

Tipos de Diretivos e Solicitações Maternas

Categorias de fala materna

1. Diretivos: podem ser interpretados como um comando ou ordem, possuindo um componente imperativo interpretável, que dirige o comportamento ou verbalizações da criança.

a) Diretivo de instrução (DIR:INS): a mãe verbaliza explicitamente o que deseja da criança, usualmente relacionado aos brinquedos que estão utilizando. Ex: Mãe: "coloque o carrinho na caixa".

b) Diretivos de atenção (DIR:AT): a mãe chama a atenção da criança, usualmente pelo seu nome, pedindo que ela se aproxime ou olhe para algo. Ex: Mãe: "ali ó, o mickey!"

(aponta para o brinquedo).

c) Diretivos de repetição (DIR:REP): a mãe pede à criança para repetir a palavra ou sentença dela. Ex: Mãe: "diga assim, dois" (mostra para a criança o número usando os dedos das mãos).

d) Diretivo de controle do comportamento (DIR:CC): a mãe expressa uma objeção ao comportamento da criança. Ex: Mãe: "não pegue nisso!" (a mãe pega no braço da criança impedindo-a de pegar o objeto).

2. Solicitação: "(...) a mãe faz um pergunta ou pedido à criança, solicitando uma resposta verbal ou não-verbal relativa à atividade em que elas estão envolvidas.

a) Solicitação questão geral (SO:QG): enunciados que solicitam informações sobre a localização, identidade ou propriedade de um objeto, evento ou situação. Ex: Mãe: "como é o nome dessa bonequinha?" (olha para a criança e mostra a boneca em suas mãos).

b) Solicitação questão específica (SO:QE): a mãe solicita da criança uma confirmação ou negação em relação a um enunciado prévio. Ex: Mãe: "tu quer desenhar?" (olha para a criança e mostra um caderno e lápis).

c) Solicitação de completar (SO:COM): a mãe solicita à criança que complete sua sentença. Ex: Mãe: "que cor é a joaninha?" (olha para a caixa de brinquedo e aponta). Criança: é...(olhando para a caixa); Mãe: ver...; Criança: ...melha.

d) Solicitação de sugestão (SO:SUG): a mãe pergunta algo ou faz uma declaração em que ela dá uma proposta para uma possível ação. Ex: Mãe: "vamos fazer o que agora?" (olha para a criança).

e) Solicitação pedido de clarificação (SO:PC): o adulto usa enunciados para clarificar o que não compreendeu da fala da criança. Ex: Criança: xxx (enunciado não compreendido pela mãe). Mãe: "o quê?"

3. Feedback: "(...) enunciados que corrigem ou expressam desapontamento com o desempenho da criança no diálogo; aprovação ou rejeição dos enunciados incorretos da criança; solicitação pela mãe de clarificação dos enunciados da criança".

a) Feedback de correção (FED:COR): mãe corrige explicitamente; mãe corrige apresentando a forma correta sem falar que a criança estava errada; mãe fala a maneira correta e pede à criança para repetir. Ex: Mãe:"não, esse não é vermelho, é o verde" _ (olha para a criança).

b) Feedback de aprovação verbal (FED:AV): a mãe verbaliza sua aprovação em relação a um comportamento verbal e não-verbal da criança. Ex: Mãe: "muito bem!!" (olha para a criança e bate palmas).

c) Feedback de aprovação não-verbal (FED:ANV): balança a cabeça afirmativamente ou usa o polegar.

d) Feedback de desaprovação verbal (FED:DV): a mãe expressa verbalmente que o que a criança tinha feito ou dito não estava correto. Ex: Mãe: "não, não foi assim que mamãe ensinou!" (olha pra criança e balança a cabeça negativamente).

e) Feedback de desaprovação não-verbal (FED:DNV): balança a cabeça negativamente ou usa o indicador de um lado para o outro.

f) Feedback de resposta a questões (FED:RQ): enunciados maternos que respondem questões formuladas pela criança ou pedidos dirigidos à mãe. Ex: Criança: "é minha?" (olha pra mãe e para as pecinhas que a mãe monta). Mãe: "é minha" (montando as pecinhas).

g) Feedback de confirmação (FED:CON): a mãe repete a resposta da criança, perguntando para confirmar, aumentando a entonação. Ex: Criança: "eu qué deseá" [eu quero desenhar] (olha pra mãe). Mãe: "tu quer desenhar é?"

4. Informação (INF): a mãe nomeia um objeto e suas características; descreve uma ação na tentativa de promover informações à criança. Ex: MOT: " olha, uma roda grande e uma roda pequena". (faz o desenho numa folha de papel).

5. Auto-repetição materna (AUTREPM): a mãe repete o seu próprio enunciado uma ou mais vezes. Ex: Mãe: "o que é isso?" (aponta para o caderno). Criança: 0. (não olha pra onde a mãe aponta). Mãe: "o que é isso, o que é isso?"

6. Comentário (COM): a mãe verbaliza, usualmente dirigida a si mesma, sobre sua própria capacidade para alguma coisa ou faz algum comentário acerca de um dado evento na interação; a mãe dirige-se ao pesquisador. Ex: Mãe: "eu devia ter separado mais lápis". (olha ao redor procurando lápis).

7. Fala ininteligível (ININ): enunciados em que se torna impossível compreender o que o falante está dizendo.

8. Outros (OUT): vocalizações ou enunciados que podem não ser incluídos em nenhuma das outras categorias.

 

Comportamentos comunicativos da criança

1. Fala espontânea (FES): qualquer comportamento verbal da criança que não é precedido por uma pergunta, não é uma imitação ou repetição de um enunciado prévio da mãe. Ex: Criança: "vô fazer um pêxinho aqui..." (desenha no caderno).

2.Respostas da criança aos enunciados maternos

a) Resposta verbal adequada (RVA): a criança responde a um enunciado prévio da mãe corretamente. Ex: Mãe: "quer cor é esse círculo?" (aponta para o desenho). Criança: "vermelho" (olha para o desenho). Mãe: "é o vermelho!"

b) Resposta verbal inadequada (RVI): a resposta da criança a um enunciado prévio da mãe não é correta. Ex: Mãe: "quem vem depois do dois?" (aponta para o brinquedo) Criança: "...cinco". (olha pra mãe). Mãe: "não, três!"

c) Resposta não-verbal adequada (RNVA): resposta não-verbal da criança a um enunciado prévio da mãe é correta ou apropriada. Ex: Mãe: "coloque a roupinha da boneca...!" (a criança veste a roupa da boneca de forma correta).

d) Resposta não verbal inadequada (RNVI): a criança dá uma resposta não verbal incorreta. Ex: Mãe: "encaixe a pecinha no reloginho...!" Criança: 0. (encaixa a peça no lugar errado).

3. Não resposta (NR): a criança não responde à pergunta feita pela mãe. Ex: Mãe: "onde está seu carro vermelho?"; Criança: 0. (olha para os brinquedos dispostos no chão).

4. Repetição do enunciado materno (REM): a criança usa a mesma forma utilizada pela mãe. Ex: Mãe: " vamo brincar de trenzinho?" (olha para a criança). Criança: "brincar de de trenzinho".

5. Auto-repetição (AUTREP): a criança repete a mesma palavra ou enunciado várias vezes. Ex: Criança: "o carrinho é meu, o carrinho é meu." (pega um carrinho no chão).

6. Ininteligível : um enunciado em que é impossível de ser compreendido o que o falante está dizendo.