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Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo - RELIABILITY OF ICE AND TETRAFLUOROETHANE FOR DETERMINING DENTAL PULP VITALITY

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Revista de Odontologia da Universidade de São Paulo

Print version ISSN 0103-0663

Rev Odontol Univ São Paulo vol. 12 no. 1 São Paulo Jan./Mar. 1998

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-06631998000100005 

CONFIABILIDADE DO GELO E DO TETRAFLUOROETANO NA DETERMINAÇÃO DA VITALIDADE PULPAR*

RELIABILITY OF ICE AND TETRAFLUOROETHANE FOR DETERMINING DENTAL PULP VITALITY

João Marcelo Ferreira de MEDEIROS**
Hildeberto Francisco PESCE***

 

 

MEDEIROS, J. M. F.; PESCE, H. F. Confiabilidade do gelo e do tetrafluoroetano na determinação da vitalidade pulpar. Rev Odontol Univ São Paulo, v.12, n.1, p.19-27, jan./mar. 1998.

Objetivou-se avaliar a confiabilidade do bastão de gelo e do gás refrigerante tetrafluoroetano na detecção da vitalidade pulpar em 2420dentes humanos íntegros de 148 pacientes de ambos os sexos, com idade variável entre 20 e 30anos. Pôde-se concluir que o tetrafluoroetano, em relação ao bastão de gelo, produziu índice de acerto maior e estatisticamente significante (p < 0,01) na determinação da vitalidade pulpar em todos os grupos de dentes testados. Relativamente ao tetrafluoroetano, foi o seguinte o grau de confiabilidade em ordem decrescente: incisivos inferiores, caninos inferiores, pré-molares superiores, pré-molares inferiores, molares superiores, incisivos superiores, caninos superiores, molares inferiores. Com respeito ao bastão de gelo, o grau de confiabilidade, em ordem decrescente, assim se portou: incisivos inferiores, incisivos superiores, pré-molares superiores, caninos superiores, caninos inferiores, pré-molares inferiores, molares superiores, molares inferiores.

UNITERMOS: Endodontia; Teste da polpa dentária.

 

 

INTRODUÇÃO E REVISTA DA LITERATURA

Os recursos semiotécnicos auxiliares em Endodontia constituem adjutórios dos mais importantes no estabelecimento do diagnóstico das condições pulpares.

Com vistas a isso, ressalta a utilização dos assim chamados "testes de vitalidade pulpar", a exemplo dos testes térmicos, que consistem basicamente em promover mudanças de temperatura na superfície da coroa dentária, para obter uma resposta pulpar que se manifesta por meio de sensação dolorosa (PESCE; ROMANI29, 1991).

Cumpre ressaltar que a necessidade de determinar a presença ou a ausência da vitalidade pulpar diz respeito a uma série de condições, tais como: dentes com alterações cromáticas na superfície coronária, dentes recentemente traumatizados, dentes destinados a suporte protético, dentes portadores de processos cariosos destinados a restaurações simples ou reconstrução, dentes envolvidos em processo patológico periodontal, dentes com desgaste parafuncional, a exemplo de bruxismo e hábitos profissionais com perda notável de tecido duro, dentes cujo exame radiográfico denote rarefação periapical e dentes com tração ortodôntica excessiva (CASTAGNOLA; NEGRO13, 1972).

Quanto aos agentes térmicos, dá-se preferência àqueles promotores de resfriamento e, dentre as suas modalidades, há que se citar, até mesmo do ponto de vista histórico, utilização de água a diferentes temperaturas (JACK21, 1899; SORENSON et al.34, 1962), utilização de aparelho termoelétrico (NAYLOR26, 1961), gelo no formato de cone (AUSTIN; WAGGENER6, 1941) ou bastão (GROSSMAN18, 1963), neve carbônica ou dióxido de carbono sob a forma de bastão (BACK7, 1936 citado por BARLETTA8, 1992) e gases refrigerantes sob a forma de aerossol embalados em recipiente apropriado, a exemplo do cloreto de etila (PRINZ30, 1919), diclorodifluorometano (VON EIFINGER38, 1970) e tetrafluoroetanoI .

Nessa ordem de idéias, PESCE et al.28 (1985) utilizaram o bastão de gelo em 474dentes anteriores íntegros de 56pacientes com faixa etária entre 10 e 55 anos. Constataram que 85,45% dos elementos testados apresentaram resposta positiva e, dos dentes que não acusaram resposta, 40 pertenciam a pacientes de faixa etária situada entre 10 e 18anos, enquanto que 54, com respostas negativas, referiam-se aos caninos; 2 elementos dentários apresentavam histórico de traumatismo e, em 2 pacientes, nenhum dos dentes respondeu positivamente ao teste. Além disso, verificaram que, quando os dentes não respondiam positivamente a uma primeira aplicação do bastão de gelo, podiam responder numa segunda aplicação.

Dentre as substâncias clinicamente mais eficientes na detecção da vitalidade pulpar e dotadas de maior capacidade refrigerante, cumpre citar o diclorodifluorometano sob a forma de aerossol, embalado em continente apropriado, de sorte a permitir borrifo de gás, seja diretamente sobre a superfície da coroa dentária, seja através de pensos de algodão ou de esponja embebidos com essa substância.

Muitos autores atestaram tal confiabilidade do diclorodifluorometano (VON EIFINGER38, 1970; VON MAYER-WESSELING41, 1970; VON MAYER39, 1971; SCHLICH; SCHLICH31, 1973; MAYER; HEPPE21, 1974; FERGER; MATTHIESSEN16, 1974; FUSS et al.17, 1986; MEDEIROS22, 1992; AUN et al.4, 1992; AUN et al.5, 1994; DALSASSO; BARLETTA15, 1995; BRANCO; BARLETTA10, 1995; CALDEIRA et al.11, 1995; CALDEIRA et al.12, 1995).

Neste ponto, convém aclarar os efeitos prejudiciais do diclorodifluorometano (freon 12 ou frigen 12) na camada de ozônio. Tem sido observado que quantidades de clorofluorocarbonos estão aumentando no meio ambiente. Esses compostos são quimicamente inertes na troposfera, porém, podem permanecer na atmosfera por período de 40 a 150 anos, atingindo concentrações de 10 a 30vezes maiores que os níveis presentes. Assim, quando dissociados na estratosfera por meio da radiação ultravioleta do sol, esses compostos produzem quantidades significativas de átomos de cloro, induzindo a destruição do ozônio atmosférico (MOLINA; ROWLAND23, 1974).

Cumpre informar que o Protocolo de Montreal estipulou prazos para a redução do consumo dessa substância até o final da produção, sendo que países do Primeiro Mundo reduziriam em 1999 o uso dos clorofluorocarbonos a 15% da produção de 198624. Mas, em nova reunião em Londres, ficou decidido que, no ano 2000, a produção seria zerada nos países desenvolvidos33.

No final de 1992, em Copenhague, cerca de 80 países signatários do Protocolo de Montreal decidiram acelerar o banimento da produção dos clorofluorocarbonos no mundo. Países como os Estados Unidos, a Alemanha e a própria Dinamarca resolveram que zerariam sua produção em 1996. De sua parte, os países em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, antecipariam o final de sua produção por volta do ano 2000 (ALONSO1, 1992).

A preocupação na eliminação do radical cloro desses compostos possibilitou a busca de novas pesquisas no intuito de substituir o frigen 12 por um gás alternativo, o 1,1,1,2 tetrafluoroetano (HFC-134a), com propriedades termodinâmicas semelhantes ao diclorodifluorometano (SPAUSCHUS35, 1988). O principal fator responsável na escolha do HFC-134a como importante substituto do clorofluorocarbono-12 (CFC-12) é o seu comportamento não danoso à camada atmosférica (ANDERSON2, 1981; HUMMEL19, 1982).

A substituição do gás CFC-12 por esse grupo de compostos parcialmente halogenados denominados "fluorocarbonos" (HFCs) é definitiva. Isso porque apresentam propriedades ecológicas aceitáveis e potencial de degradação de ozônio (ODP) igual a zero, devido ao menor tempo de vida na atmosfera, representando uma redução no potencial de efeito estufa de 90% comparado ao do diclorodifluorometano (SYSTEM Reclin 134a36, 1995).

Além disso, o gás tetrafluoroetano possui outros requisitos necessários para ser usado como agente de refrigeração na determinação da vitalidade pulpar, a saber: não tóxico nem inflamável. No que respeita às propriedades toxicológicas testadas pelo PAFT I (Programa para Teste de Toxicidade de Fluorocarbonos Alternativos), esse gás resultou em indicadores tão ou mais seguros que o frigen 12, podendo ser utilizado em todas as aplicações na área de refrigeração. Considerando a inflamabilidade, ele não forma misturas inflamáveis com o ar sob condições normais de pressão atmosférica (SYSTEM Reclin 134a36, 1995).

Com vistas a isso, o gás tetrafluoroetano embalado em latas pressurizadas e borrifado sob a forma de "spray" vem mostrando boa aceitação em aplicações preliminares, e nos parecem viáveis pesquisas em torno de sua utilização na determinação da vitalidade pulpar como substituto do bastão de gelo, uma vez que este apresenta-se ineficiente.

Desse modo, julgamos que a introdução do gás alternativo tetrafluoroetano como recurso complementar é uma realidade, pois, a curtíssimo prazo, o gás freon 12 deverá ser eliminado. O enquadramento dessa nova substância aos procedimentos de diagnóstico objetiva seu emprego por um número maior de cirurgiões-dentistas, pois, à semelhança do diclorodifluorometano, resulta recurso simples, seguro, rápido e eficaz.

Constitui propósito do presente estudo comparar, em dentes humanos íntegros, os resultados do emprego do bastão de gelo e do gás tetrafluoroetano na determinação da vitalidade pulpar para os diferentes grupos dentários.

 

MATERIAL E MÉTODOS

Foram utilizados 2.420dentes superiores e inferiores íntegros, pertencentes a 148pacientes com faixa etária entre 20 e 30 anos e de ambos os sexos.

Procedeu-se a seleção dos dentes valendo-se da anamnese e do exame clínico, excluindo-se aqueles que apresentassem quaisquer das seguintes condições: histórico passado ou atual de dor espontânea ou provocada, histórico de traumatismo dentário, alteração cromática da coroa, cárie, preparo cavitário com ou sem selamento provisório, restauração ou prótese, mobilidade, bolsa periodontal, hiperemia, edemaciamento ou fístula mucosa regional, sangramento gengival local, sensibilidade do elemento dentário à percussão vertical e horizontal e sensibilidade à palpação da mucosa em nível apical. Em prosseguimento, executou-se o exame radiográfico de todos os dentes pela técnica periapical do paralelismo, para a pesquisa de calcificação pulpar localizada ou difusa, reabsorção radicular interna ou externa, tratamento endodôntico concluído ou em andamento, espessamento da membrana pericementária, ausência de integridade da lâmina dura e rarefação ou condensação óssea lateral ou periapical radiográfica. Os dentes que apresentaram, do ponto de vista clínico-radiográfico, uma dessas condições e os terceiros molares superiores e inferiores não foram incluídos no presente experimento.

A seguir, realizou-se a aplicação dos dois agentes de resfriamento, o gelo sob a forma de bastão e o tetrafluoroetanoII sob a forma de "spray".

O gelo era obtido preenchendo-se tubetes anestésicos vazios com água, que eram levados ao congelador.

À sua vez, o tetrafluoroetano foi obtido valendo-se de penso de algodão preso aos ramos de uma pinça clínica e borrifado a uma distância aproximada de 5centímetros com o "spray" durante o intervalo de 5 segundos.

Para cada um dos agentes de resfriamento, foram efetuadas duas aplicações por dente, com intervalo de 5 minutos a partir do último dente testado.

Para ambos os testes, executou-se isolamento relativo da área com rolos de algodão, secagem do dente com auxílio de uma gaze e instalação de ponta suctora acoplada a bomba de sucção.

O tempo de aplicação do teste na superfície do dente não ultrapassou dez segundos. A resposta dolorosa era apresentada pelo paciente levantando o antebraço e a mão esquerda, previamente repousados no braço da cadeira, procedendo-se a imediata remoção do agente. A aplicação do teste em intervalos maiores era considerada como resposta negativa.

Concluída a aplicação dos dois agentes de resfriamento em todos os dentes, os dados relativos foram tabulados e submetidos à análise estatística pelo teste do Qui-quadrado (c2 ), tendo como c2 crítico a 1 g.l. a n.s. 1% = 6,63 e a 0,1% = 10,82.

 

RESULTADOS

Os resultados dos dentes avaliados encontram-se expressos nas Tabelas 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8 e 9.

 

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DISCUSSÃO

A determinação da vitalidade pulpar constitui parte integrante da semiotécnica endodôntica, representando uma das fases mais importantes do exame do paciente e a que desperta maior cuidado por parte do clínico durante a elaboração do diagnóstico da condição da polpa dentária.

A utilização rotineira do bastão de gelo figura como uma das primeiras escolhas na prática diária, seguida por aquelas com maior capacidade refrigerante.

Com vistas à determinação da vitalidade pulpar, nas últimas três décadas, surgiu como recurso de grande contribuição o diclorodifluorometano, que possui como vantagem, em comparação com a neve carbônica, o fato de sua aplicação ser mais rápida (VON EIFINGER38, 1970; VON MAYER39, 1971) e de inúmeras pesquisas confirmarem sua eficiência (VON EIFINGER38, 1970; VON MAYER-WESSELING41, 1970; VON MAYER39, 1971; SCHLICH; SCHLICH31, 1973; MAYER; HEPPE21, 1974; FERGER; MATTHIESSEN16, 1974; FUSS et al.17, 1986; MEDEIROS22, 1992; AUN et al.4, 1992; AUN et al.5, 1994; CALDEIRA et al.11, 1995; CALDEIRA et al.12, 1995).

PESCE et al.27 (1995) revelaram que o gás diclorodifluorometano apresenta maior velocidade de esfriamento intrapulpar quando comparado com o bastão de gelo e, portanto, é dotado de maior capacidade refrigerante. Esse acontecimento fundamenta-se nas temperaturas obtidas na fonte desses agentes, sendo de 2ºC para o gelo e de -55ºC para o diclorodifluorometano. Aliás, autores como VON MAYER39 (1971); WHITE; COOLEY42 (1977); AUGSBURGER; PETERS3 (1981); FUSS et al.17 (1986) são unânimes em afirmar que a baixa temperatura detectada na fonte desse método determina sua melhor eficácia e, conseqüentemente, um maior número de acerto.

De outra parte, entendemos que o risco ambiental causado pelo diclorodifluorometano impõe sua substituição por outro gás alternativo que apresente capacidade refrigerante semelhante, em particular, o tetrafluoroetano.

MEDEIROS; PESCEIII detectaram temperatura muito baixa, da ordem de -46ºC, quando o gás tetrafluoroetano foi borrifado no termopar envolto com penso de algodão e, portanto, muito próxima à fornecida pelo diclorodifluorometano, de -55ºC.

Em nossa pesquisa, tivemos como intuito comparar o grau de confiabilidade na determinação da vitalidade pulpar de dois agentes de resfriamento, o gelo e o tetrafluoroetano.

Ao cotejar o bastão de gelo e o gás tetrafluoroetano, constatamos, na contagem total dos grupos avaliados (Tabela 1), percentual maior de respostas positivas do que de respostas negativas para esse agente de maior capacidade refrigerante. Conseqüentemente, o gás tetrafluoroetano mostrou maior confiabilidade.

Cumpre ressaltar que os incisivos (Tabelas 2 e 3), especialmente os inferiores, posicionaram-se como os elementos dentários com maiores índices de respostas positivas ao bastão de gelo do que os outros grupos de dentes. Isso vem confirmar a hipótese de que a menor densidade e espessura de esmalte e dentina observada nesses dentes por SHILLINGBURG Jr.; GRACE32 (1973) permite, quando do resfriamento, alterações e passagem mais rápidas de temperatura nessas estruturas, ultrapassando a profundidade do tecido duro e resultando em um número maior de respostas positivas, chegando a 97,7% para os inferiores.

Ao confrontarmos os resultados de AUN et al.4 (1992) em incisivos superiores com o nosso trabalho, verificamos percentual de acerto diferente, uma vez que, nos nossos resultados, constam 80,8% de respostas positivas para o bastão de gelo, enquanto que o índice auferido por aqueles autores foi de 67,5%.

Essa diferença pode ter ocorrido porque os dentes por nós utilizados pertenciam a pacientes cuja faixa etária situava-se entre 20 e 30 anos, ao passo que os referidos autores selecionaram pacientes jovens com idade entre 9 e 11anos. 

Considerando os caninos superiores (Tabela 4) e os caninos inferiores (Tabela 5), constatamos maior eficiência do tetrafluoroetano em relação ao bastão de gelo, o que demonstra, nesse grupo dentário de maior espessura de dentina, que a baixa temperatura determinada pelo penso de algodão embebido com esse gás proporciona maior diferença de temperatura na superfície do esmalte dentário.

Relativamente ao emprego do bastão de gelo na determinação da vitalidade pulpar, PESCE et al.28 (1985), valendo-se de dentes anteriores humanos íntegros e faixa etária diversa, assinalam que, do total de dentes analisados com resposta negativa, cerca de 78% pertenciam ao grupo dos caninos, fato esse também verificado por MUMFORD25 (1964).

No que tange à aplicação desse agente na superfície do dente e à obtenção da resposta pulpar, esclarecem DACHI et al.14 (1967) que a eficiência térmica do gelo aumenta na medida em que permanece mais tempo aplicado na superfície de dentes caninos, estabelecendo 10segundos como ideal.

Fato interessante diz respeito aos índices de acerto para os caninos superiores (53,3%) e inferiores (50,0%), enquanto que os índices de respostas negativas registrados foram, respectivamente, 46,7% e 50,0%. De certa forma, os percentuais foram semelhantes àqueles obtidos por MEDEIROS22 (1992) ao comparar o emprego do bastão de gelo e do gás diclorodifluorometano.

Do mesmo modo, o sucesso do bastão de gelo foi avaliado por BRANCO; BARLETTA10 (1995), que se valeram de 60caninos inferiores de ambos os sexos e obtiveram altos índices percentuais de respostas positivas em relação a nossa pesquisa, ou seja, 88,4% (feminino) e 70,5% (masculino), contra os 50% de respostas positivas por nós obtidas.

Por outro lado, BARLETTA; PESCE9 (1993) confrontaram os resultados da aplicação do bastão de gelo e da neve carbônica em 73 elementos dentários caninos, auferindo, para o primeiro índice de precisão, 28,7%, o que contraria os resultados percentuais de nossos trabalhos.

Essa desigualdade no índice de acerto dos caninos encontra explicação quando se leva em conta a idade dos pacientes examinados por esses autores, ou seja, entre 10 e 65 anos, o que provavelmente inclui dentes cujo ciclo de formação apical ainda está incompleto, como ocorre em pacientes muito jovens e naqueles dentes de pacientes mais velhos com calcificação dos canalículos dentinários e a própria atresia da câmara pulpar.

No que importa os pré-molares superiores (Tabela 6) e os pré-molares inferiores (Tabela 7), conseguimos maior efetividade para o tetrafluoroetano nesse grupo dentário (100,0%), enquanto que com o bastão de gelo obtivemos, para os pré-molares superiores, índice de acerto de 63,6% e, para os inferiores, auferimos menores percentuais de respostas positivas (43,2%).

Ora, esses resultados divergem dos obtidos por FUSS et al.17 (1986), que, valendo-se de 96 pré-molares superiores e inferiores íntegros, detectaram, para o bastão de gelo, 34% de respostas positivas, enquanto que o índice de precisão auferido por nós, muito embora diferente para os pré-molares superiores (63,6%) e inferiores (43,2%), está acima da expectativa conseguida por esses autores. Talvez a utilização de pacientes com faixa etária entre 9 e 34anos provocou tais diferenças. Já para o diclorodifluorometano, o índice de acerto encontrado foi igual ao utilizado por nós (100,0%) em relação ao tetrafluoroetano.

Relativamente à confiabilidade do gelo nos primeiros e segundos pré-molares inferiores, BRANCO; BARLETTA10 (1995) conseguiram maiores indicadores de respostas positivas comparando-se com os resultados de nosso trabalho. Enquanto alcançamos 43,2% de respostas positivas em 405 amostras analisadas, esses autores, em uma amostragem de 60 primeiros pré-molares inferiores, determinaram índices de acerto de 82,3% para o sexo masculino e de 92,3% para o feminino. No que concerne aos 60 segundos pré-molares inferiores, os percentuais de respostas positivas para a faixa de idade entre 13 e 60 anos foram 79,4% para 27 amostras do sexo masculino e 69,2% para 18 amostras do sexo feminino.

Com relação aos molares superiores (Tabela 8) e inferiores (Tabela 9), constatamos, para a aplicação do tetrafluoroetano, respectivamente, 100,0% e 96,8% de confiabilidade; ao considerar o bastão de gelo, deparamos com 25,0% de respostas positivas para os molares superiores e, causando-nos surpresa, a pouca eficácia do gelo nos dentes inferiores, nos quais registramos somente 6,3% de respostas positivas. Entendemos que o bastão de gelo nesse grupo dentário não fornece garantia quando da execução do teste, fato interpretado pela reconhecida robustez desses dentes.

Observamos que, dentre os 15 dentes que não responderam positivamente ao tetrafluoroetano, muito embora do ponto de vista clínico e radiográfico não detectássemos qualquer alteração, 5 pertenciam aos incisivos superiores, 5 aos caninos superiores e 5 aos molares inferiores. Convém lembrar que os dados obtidos para os caninos superiores no presente experimento, ou seja, 2,3% de respostas negativas, identificam-se com os apresentados por MEDEIROS22 (1992).

Talvez os pequenos percentuais de respostas negativas no presente estudo possam ser atribuídos ao limiar de percepção da dor, que pode depender da posição dos dentes na arcada dentária. Assim, por exemplo, os dentes posteriores possuem limiar alto em relação aos dentes anteriores e, de acordo com VON MAYER40 (1975), tal limiar não aumenta apenas dos incisivos para os molares, mas também de modo contínuo segundo a idade, o que nos pareceu uma justificativa aceitável para as diferenças atribuíveis à faixa etária dos pacientes.

Com vistas ao exposto e baseados em nossos resultados, acreditamos tratar-se o tetrafluoroetano de excelente escolha para a determinação da vitalidade pulpar, haja visto o seu elevado grau de acerto nos diferentes grupos dentários.

Até então, com respaldo nos achados de diversos autores (VON EIFINGER38, 1970; VON MAYER-WESSELING41, 1970; VON MAYER39, 1971; SCHLICH; SCHLICH31, 1973; MAYER; HEPPE21, 1974; FERGER; MATTHIESSEN16, 1974; FUSS et al.17, 1986; MEDEIROS22, 1992; AUN et al.4, 1992; AUN et al.5, 1994; CALDEIRA et al.11, 1995; CALDEIRA et al.12, 1995), é de grande aceitação o uso do diclorodifluorometano.

Ocorre, porém, que esse gás apresenta efeitos indesejáveis ao meio ambiente, necessitando de um substituto alternativo. O tetrafluoroetano surge como um alternativo potencial válido e julgamos que sua utilização deva ser difundida na classe odontológica, crescendo seu emprego por parte do cirurgião-dentista.

 

CONCLUSÕES

De posse dos resultados obtidos neste experimento, parece-nos lícito inferir que:

1. O tetrafluoroetano, em relação ao bastão de gelo, produziu índice de acerto maior e estatisticamente significante (p<0,01) na determinação da vitalidade pulpar em todos os grupos de dentes testados.

2. Relativamente ao tetrafluoroetano, foi o seguinte o grau de confiabilidade em ordem decrescente: incisivos inferiores, caninos inferiores, pré-molares superiores, pré-molares inferiores, molares superiores, incisivos superiores, caninos superiores, molares inferiores.

3. Com respeito ao bastão de gelo, o grau de confiabilidade, em ordem decrescente, assim se portou: incisivos inferiores, incisivos superiores, pré-molares superiores, caninos superiores, caninos inferiores, pré-molares inferiores, molares superiores, molares inferiores.

 

 

MEDEIROS, J. M. F.; PESCE, H. F. Reliability of ice and tetrafluoroethane for determining dental pulp vitality. Rev Odontol Univ São Paulo, v.12, n1, p.19-27, jan./mar. 1998.

The aim of this study was to verify the ability of ice and tetrafluoroethane in detecting pulp vitality in 2,420 healthy human teeth from patients with ages between 20 and 30 years. The data obtained allow the following conclusions: tetrafluoroethane was significantly (p < 0.01) more reliable when compared with ice stick for detecting dental pulp vitality. Reliability of tetrafluoroethane according to region was, in decreasing order: lower incisors, lower canines, upper bicuspids, lower bicuspids, upper molars, upper incisors, upper canines, lower molars. Ice stick reliability, in decreasing order, was: lower incisors, upper incisors, upper bicuspids, upper canines, lower canines, lower bicuspids, upper molars, lower molars.

UNITERMS: Endodontics; Dental pulp test.

 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Recebido para publicação em 11/06/97
Aceito para publicação em 15/08/97

 

 

* Resumo da Tese de Doutorado.
** Professor Adjunto da Disciplina de Endodontia do Departamento de Odontologia Clínica da Faculdade de Odontologia da Universidade São Francisco.
*** Professor Titular da Disciplina de Endodontia do Departamento de Dentística da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo e da Disciplina de Endodontia do Departamento de Odontologia Clínica da Faculdade de Odontologia da Universidade São Francisco.
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