- 1 Governo que pregava a colaboração com os ocupantes nazistas, instalado na estância hidromineral de (...)
1A geografia francesa dos anos 1930-1950 é mal vista em trabalhos contemporâneos de história da geografia. Na melhor das hipóteses, é uma geografia que reproduz sem imaginação e métodos padronizados inventado pelos grandes antepassados, desde Vidal de la Blache (Claval e Sanguin, 1996). Na pior das hipóteses, é uma geografia reacionária, obcecado pelo mundo rural e pelo império colonial, que não poderia, portanto, deixar de apoiar o regime de Vichy1 (ver Tissier 1985 e a resposta Tissier de Dumoulin, 1994).
2O período 1940-1945 é menos conhecido ainda, mas dois artigos publicados imediatamente após a guerra trazem registros contraditórios do período, Perpillou calculando um saldo negativo (1946), enquanto a avaliação de Gottmann é muito mais positiva (1946). Iniciativas recentes demonstram o grande interesse deste período, e vários trabalhos estão em curso sobre o assunto (EHGO, 2009).
3Este artigo pretende rever estas analises, centrando-se sobre as publicações dealgumas revistas acadêmicas de geografia, entre 1940 e 1945. Para mostrar asperturbações relacionadas ao conflito, tanto na substância como na forma, este artigo abrange o período 1936-1947. A primeira parte permite desenhar a paisagem da geografia, na véspera da Segunda Guerra Mundial. A segunda parte examina os impactos materiais associados à situação de guerra. Finalmente, uma terceira parte procura destacar as estratégias de resistência adotadas por autores acadêmicos para se distanciar do regime.
4É provavelmente útil lembrar em que situação se encontrava a geografia acadêmica francesa nos anos 1930s. Estava, provavelmente, no auge de sua influência, mas também era marcada tanto pela estreiteza de sua composição como pelo caráter heterogêneo dos seus membros. As revistas acadêmicas refletiam essa composição.
- 2 Numa Broc, 1993, p. 226-227
5A geografia francesa no final dos anos 1930 tem uma estrutura em três conjuntos, cujas fronteiras são, por vezes, difíceis de traçar. O núcleo central é formado por professores titulares no ensino superior. Este grupo inclui professores da Faculdade de Letras (21 em 1939), professores e auxiliares (nove em 1939). A grande maioria eram doutores, mas existem pelo menos duas exceções à regra: Jean Gottmann em Paris e Maurice Zimmermann em Lyon. Além deles, tinha geógrafos de escolas secundárias e escolas militares: Camille Vallaux e Charles Robert-Muller na École des Hautes Études Commerciales, em Paris, Antoine Albitreccia na École Supérieure de Commerce de Paris, Francis Ruellan na Academia Naval de Brest. Finalmente, geógrafos ensinavam no Collège de France (André Siegfried), nas Universidades católicas (Pierre Deffontaines em Lille), no Conservatório Nacional des Arts et Métiers (Y.-M. Goblet) 2. Este núcleo tinha um total de menos de cinqüenta pessoas, algumas das quais estavam presentes na diretoria dos vários Institutos de Geografia e conselhos editoriais de revistas acadêmicas.
6Um grupo de geógrafos muito mais heterogêneo girava em torno deste núcleo central. Misturavam neles professores do ensino secundário que preparavam a sua tese, doutores em Letras, militares (como o coronel Edouard de Martonne, o coronel Ruby ou o capitão Urvoy), administradores das colônias (MacLatchy), acadêmicos naturalistas, geólogos e historiadores, próximos dos geógrafos (Marcel Blanchard, Henri Gaussen, Emmanuel de Margerie). Todas essas pessoas trabalhavam regularmente para as revistas. Este grupo incluía os geógrafos em via de integração ao núcleo central (Paul Arqué, Pierre George) e outros que pareciam ser marginalizados (administradores coloniais, militares).
7Finalmente, o grupo periférico, que consistia principalmente de professores do ensino médio ou de uma Escola Normal. São eles que forneciam a maioria dos textos em revistas regionais, eles também que aparecem uma única vez nas tabelas de conteúdos. Uma pequena minoria entrava, nos anos seguintes, em um dos dois grupos anteriores: todos os professores dos anos 1940 e 1950 começaram a escrever o seu Diploma do Ensino Superior durante esse período (Max Derruau, Henri Enjalbert, Philippe Pinchemel, etc.).
8O núcleo central era marcado por uma dupla fratura: entre Paris e a província, e entre a escola “Escola de Paris” e a “escola” de Grenoble. A Sorbonne contava, em 1939, cinco professores universitários (Jacques Ancel, André Cholley, Albert Demangeon, Emmanuel de Martonne, Charles Robequain), um professor horista (Marcel Larnaude) e dois assistentes (Pierre Birot, Jean Gottmann), quase um terço dos geógrafos acadêmicos. Paradoxalmente, os geógrafos não tinham nenhuma revista parisiense para divulgar seu trabalho.
- 3 A gênese e a evolução do conflito foram contadas por Numa Broc (Broc 2001).
9A segunda linha de falha passa entre os seguidores de Raoul Blanchard (entre eles André Allix, Philippe Arbos, Jules Blache, Ernest Bénévent, Daniel Faucher, André Gibert) e os estudantes de Emmanuel de Martonne (Jean Chardonnet, André Cholley, Robert Perret etc.) 3.
- 4 Paul Marr é assistente de geografia em Montpellier entre 1932 e 1936, ele aparentemente não foi su (...)
- 5 Esta informação é extraída do estudo dos comitês editoriais, da apresentação de autores em revista (...)
10Durante a Segunda Guerra Mundial, o grupo central aumentou. Três cátedras de geografia colonial foram criada em 1942 (Aix-Marseille, Bordeaux, Estrasburgo). Posições de assistente foram criadas em 1942 em Grenoble (Paul Veyret), Lyon (Jean Demangeot), Montpellier4 (Jean Galtier) e Toulouse (Francis Taillefer) e em 1943 em Clermont-Ferrand (Lucien Gachon). René Musset foi deportado para Buchenwald, Louis Poirier, mais conhecido depois sob o pseudônimo de Julien Gracq, foi nomeado assistente em Caen, em novembro de 19425.
11Abordamos agora as dificuldades encontradas para publicar revistas durante a guerra e a eventual permeabilidade do campo científico à ideologia de Vichy. Por serem a priori menos afetados por este segundo aspecto, as revistas de geografia física não foram estudadas. As principais revistas científicas que continuaram a publicar durante o período foram analisadas, o acervo inclui, em ordem alfabética:
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Annales de géographie
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Bulletin de la Société Languedocienne de Géographie
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Bulletin de l’Association de Géographes Français (noté Bulletin de l’AGF dans la suite du texte)
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Études Rhodaniennes
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Revue de Géographie Alpine
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Revue de Géographie des Pyrénées et du Sud-Ouest
- 6 A mudança de nome vem em 1920, sem alteração do conteúdo ou da apresentação
12Destes seis títulos, apenas dois (Annales de géographie et Bulletin de l’AGF) se destinam a cobrir todo o campo disciplinar e todo o espaço geográfico. Os outros quatro focam as suas preocupações na pesquisa de geografia regional. Assim Études rhodaniennes afirma a sua “limitação fundamental ao estudo das regiões do Ródano” (Allix, 1935, p. 10). A Revue de Géographie Alpine, desde o início, pretende consagrar-se “quase que exclusivamente ao estudo geográfico do Sudeste da França” (Recueil des travaux de l’Institut de Géographie Alpine61913, Volume I, p. 1) . As exceções incluem trabalhos sobre montanhas estrangeiras, e os trabalhos realizados no exterior por Raoul Blanchard, particularmente no Canadá, e seus alunos (Jacques Richard-Molard).
13A revista L’information géographique não foi analizada. O regime de Vichy tem demonstrado um grande interesse em assuntos educacionais (Giolitto, 1991; Lefort, 1992, p. 35-37; Knight, 2007), mas avaliar o possível impacto sobre o conteúdo da revisão exigiria um estudo separado. O principal argumento que justificava essa exclusão é dada por Andre Cholley:
14Além disso, a revista deixou de ser publicada de abril 1942 a junho de 1945. Se outras revistas estudadas também conheceram interrupção da publicação, nunca foi por tanto tempo (ver Figura 3).
Figura 1 : Capas de 1940
(fonte : www.persee.fr)
Fonte: http://fr.wikipedia.org/wiki/Fichier:France_map_Lambert-93_with_regions_and_departments-occupation-fr.svg
- 7 Do armistício de junho de 1940 até a invasão de todo o território nacional, em novembro de 1942, a (...)
- 8 Cet aspect est développé dans un article publié par l’auteur dans la revue Cybergéo (Beauguitte, 2 (...)
15A guerra, a partir de 1939, impõe restrições físicas às revistas. As restrições no fornecimento do papel, os cortes de energia, a dificuldade na obtenção de publicações estrangeiras (e até a circulação de publicações entre a zona ocupada e a zona livre7), tudo isso tem conseqüências sobre o conteúdo de revistas8.
Figura 2: Zona livre e zona ocupada na França durante a segunda guerra mundial
16No entanto, apesar das dificuldades, nenhum dos editores de revistas, seguindo uma tendência generalizada no mesmo período e em todas as disciplinas (Duclert, 1997) considera, nem por um momento, cessar a publicação. Continuar a publicar é visto e reivindicado como um ato patriótico, um ato de resistência. Em Paris e nas províncias, os mesmos argumentos voltam incansavelmente, a citação seguinte resume a atitude geral:
17Se a vontade está presente, o papel está em falta e todos tentam maximizar o espaço, as letras utilizadas são menores, até as capas são usadas para publicar informações, as ilustrações fotográficas fora do texto desaparecem, e basta ler os jornais da época para constatar o declínio da qualidade do papel. O gráfico a seguir mostra, no entanto, que a situação varia entre as revistas (Figura 3).
18Se as revistas têm menos páginas, há também uma tendência à fusão de publicações. Assim, a partir de 1942, o Bulletin de la Société de Géographieé publicado com o Annales de géographie e do Bulletin de la Société de Géographie de Lyonestá incluído nos Études rhodaniennes.
Figura 3: Número de páginas das revistas de geografia de 1936 a 1947
- 9 Para uma visão geral de todas as restrições à circulação de pessoas, ver Noiriel , 1999, p. 162-17 (...)
19Várias barreiras restringem a liberdade de circulação dos pesquisadores, das idéias e das publicações, tanto dentro do território nacional como para o exterior9. Alguns autores têm visto nisso uma das causas do declínio da influência da geografia francesa, após a Segunda Guerra Mundial (Pinchemel, 1984). Contar os livros resenhados nas Annales de géographieajuda a avaliar essa falta de aportes científicos externos (Figura 4). Outro indicador é obtido através de relatórios da Sociedade de Geografia: no final de 1942, a Biblioteca da Sociedade recebe 40 revistas, incluindo 21 revistas estrangeiras, quando tinha recebido 173 em 1939 (Annales de géographie, 1943, n º 289, p . 77-78). Em 1943, o comércio é normal com apenas cinco países: Alemanha, Holanda, Dinamarca, Noruega e Romênia, e dos 15 jornais que são objeto de troca, 10 são alemães (Annales de géographie, 1943, n º 290 , p. 158-159).
20Este estreitamento da diversidade de fontes, que se tornaram esmagadoramente de origem alemão, não resultou em conseqüências graves, por pelo menos dois motivos. Primeiro porque os trabalhos abertamente propagandísticos são rejeitados, por outro lado porque a ciência francesa, incluindo a geografia, se interessa pouco pelos alemães. É importante lembrar que Emmanuel de Martonne, um dos principais atores na geografia francesa durante o período, é visto pelos alemães como um dos líderes do Tratado de Versalhes (Robic et al., 1996).
Figura 4 : Livros recebidos pelas Annales de géographie de 1936 a1945
21Outra conseqüência física relacionada com a guerra, os preços das assinaturas de todas as revistas são multiplicados por três entre 1936 e 1946. Um trabalho arquivístico permitiria talvez refinar esses dados, estudando a distribuição e impressão de vários jornais, informações que ainda não foi possível reconstituir com exatidão.
22Ler os textos publicados durante a ocupação, na parte ocupada ou na parte livre do país, força a esquecer uma série de suposições sobre a geografia “clássica”. Se a obsessão com o êxodo rural e da morte das campanhas é bem conhecido (Chanet, 1994), é útil recordar que esse medo da morte do campo é uma preocupação antiga, que data do final do século XIX e em todos os partidos políticos, do Partido Comunista à direita nacionalista (Faure, 1987; Thiesse, 1991 e 1997). Outro tema que seria tentador vincular à propaganda de Vichy é a obsessão pró-natalidade. Novamente, muitos estudos têm mostrado que a propaganda pró-natalidade, vinda tanto de pesquisadores como de políticos, data do final do século XIX e se institucionaliza, sem mudar de natureza, durante a Ocupação (ver, por exemplo Tomlinson 1985 e Reggiani, 1996). Mas dois elementos aparecem nas revistas, uma distanciação em relação às diretrizes do regime, e uma atenção aguçada para as dificuldades do tempo.
23Os acadêmicos franceses, em graus variados, se interessaram em iniciativas tomadas pelo governo de Vichy, especialmente no que toca as tentativas de regionalização (Barral, 1974; Couzon, 2001; Markou, 2005) ou a criação de um concurso específico para professores de Geografia (Dumoulin, 1994). Mas o que é surpreendente, na leitura de textos científicos publicados (após censura) durante o período, é a resistência às ideologias dominantes.
24A recusa de qualquer hierarquia racial, embora o uso do termo raça não represente um problema no campo da ciência, é particularmente clara nas crônicas de certas obras, incluindo os de R. Martial, propagandista racial na época (Singer, 1993). Seus trabalhos têm sido objeto de críticas longas, detalhadas e universalmente negativas como o trecho a seguir, bastante representativo:
25As obras de propaganda, sejam elas alemães ou francesas, recebidas pelas revistas franceses são geralmente ignoradas, e se não, a avaliação é simples, nítida e definitiva. Um livro traduzido do alemão, publicado em 1942, é descrito da seguinte maneira nas Annales de géographie : ”brochura de circunstancia, melhor ilustrada do traduzida, em favor do Japão“ (1943, p. 65). Apenas os livros alemães de geografia física estão sujeitos à crítica cuidadosa.
26A escolha de referências por alguns autores também surpreende. Numa época anti bolchevista, um artigo sobre a agricultura soviética cita Marx, Engels e Lenin (Péchoux, 1941, p. 94-95). Enquanto a repressão anti-semita aumenta, as referências às obras de Marc Bloch e às de Jacques Ancel tornam-se mais sistemática e mais detalhadas do que antes da guerra. Infelizmente, isto não impede que os escritores judeus sejam eliminados do sumário de revistas a partir de 1942 (Figura 5).
Figura 5 : Um mapa incompletamente assinado
Este mapa foi publicado em 1942 nas Annales de géographie (Emm. Martonne, ”Novo mapa global do índice de aridez.“ Annales de géographie. LI, n.288, p. 243. Jean Gottmann, um judeu, não é nomeado como co-autor, já que os alemães forçaram a revista a declarar, na primavera de 1942, a ”ausência de trabalhadores não –arianos“. Uma correção explica na primeira edição publicada após a Libertação: ”o regime de liberdade em que parecemos pela primeira vez com o número 293 permite-nos a convidar o leitor a restabelecer neste mapa a menção “desenhado por Emm. Martonne e Jean Gottmann” (p.67).
Fonte : www.persee.fr
27Quanto a dois aspectos cruciais do regime de Vichy, o culto à personalidade e a volta à Terra, os autores tomam uma posição clara. Enquanto o nome do marechal Pétain aparece em todo lugar (basta ler a imprensa da época para medi-lo), seu nome aparece ao todo uma única vez no corpus estudado. Em uma edição da Revue de géographie des Pyrénées et du Sud-Ouest, uma nota de rodapé se refere a um artigo publicado em 1938 pelo marechal Pétain na Revue hebdomadaire, intitulado “ Combustível nacional e veículos a gás (Maillat 1942, p. 265). Quanto ao retorno à terra, os geógrafos não acreditam nele e escrevem-no em várias ocasiões, tanto na zona franca ou na área ocupada (Refus de Rau, 1944, p. 53; Fourchy, 1943, p. 186-187)]
28Se as orientações do regime de Vichy ou do ocupante são regularmente citadas de forma negativa, os artigos mostram também muita atenção às dificuldades do momento, que dizem respeito ao abastecimento, a circulação de pessoas (os prisioneiros libertados incluídos), a escassez de às tentativas de planejar a economia. A ficção de um país neutro, defendida pelo regime de Vichy, nunca é mencionado, é a situação de um país em guerra que está sendo estudada com precisão.
- 10 Nome oficial do regime de Vichy
29Seja na zona ocupada ou na zona livre, as mesmas palavras voltam. Dois artigos, um publicado em 1942 em Etudes rhodaniennes (Willemain), o outro em 1942 nas Annales de géographie (Servas) utilizam os mesmos termos (e nenhum é lisonjeiro para as autoridades no local em ambos os outros): falta de mão de obra devida à migração e ao grande número de presos, falta de transporte, falta de combustível, falta de fertilizantes e de cavalos por causa de requisições, aumento dos preços.As expressões regularmente utilizadas para descrever o regime (que nunca é designado como o Estado ou o governo francês), por vezes, surpreende com a sua virulência. O ”Estado francês“10 é um ”sistema de economia planificada e de restrição alimentar (Faucher, 1941a, p. 357), e se fala dos“ tempos sombrios de restrição nacional, arrependimento e recuperação ”(Onde , 1942, p. 444).
30O destino dos deslocados, dos presos é mencionado com regularidade ao longo do período, como mostrado por exemplo, por esta nota sobre os resultados do censo publicado no Annales de géographie(1942, TA, n.286, p. 156).
31Os jornais mostram uma alta reatividade às notícias e em 1940 apareceu um artigo no Jornal de Revue de géographie des Pyrénées et du Sud-Ouestsobre o êxodo e à re-instalação de refugiados da Lorena no Sudoeste França (Luxemburgo). E a publicação de artigos de revista escritos por prisioneiros é sempre enfatizada pelos diretores como mostra este trecho de Raoul Blanchard: “pode-se imaginar a emoção com o que nós publicamos neste número, algumas páginas escritas por jovens colegas prisioneiros Alemanha ”( Revue de géographie alpine, 1942, p. 451).
32Mais surpreendentemente, alguns editores vão mencionar a censura a que estão sujeitos. Dois exemplos foram encontrados, o primeiro é Daniel Faucher, que escreveu em 1942 que “Elas [as circunstâncias] tem nos (...) forçados a adiar para tempos melhores a publicação de algumas obras que teria sido bom oferecer agora aos nossos leitores” (Faucher, 1942, p. 391). O segundo, Raoul Blanchard, escreveu em 1943 “tivemos que desistir de dois projetos de ”notas de atualidade“, cuja publicação foi considerada imprópria” (Blanchard, p. 269). Na maioria dos casos, os autores utilizaram uma estratégia de auto-censura, muito bem descrito após a guerra por André Allix: em vez de dar a uma conferência, em 1943, o título “O poder japonês”, ele a chama de “paisagens inesperadas do arquipélago japonês e da terra Manchu ”(Allix, 1945, p. 1).
33Apesar do importante trabalho de Fouché (1987), carecem elementos sobre os vários departamentos de censura, tanto franceses como alemães, cujas ações nem sempre eram coordenadas, para explicar a liberdade de tom que aparece regularmente em periódicos da época.
34Estes apontamentos não têm a pretensão de esgotar um assunto tão vasto, e seria útil complementar estes elementos utilizando pesquisa documental para conhecer e compreender melhor os fatores tão essenciais que o funcionamento do (a) censura (s), o funcionamento dos Institutos de Geografia ou a exploração de redes de amizade entre os geógrafos (veja os trabalhos de Delfosse, 1998 e Daveau, 2007). Um estudo sobre a distribuição de revistas, tanto na França como no estrangeiro, também seria útil.
35No entanto, parece importante ressaltar que a ficção, criada a partir do zero, de geografia ruralista e imóvel não é defensável. Reflexões epistemológicas de André Allix, emitidas durante o período, livros de Cholley e Clozier, ambos publicados em 1942, a inclusão dos aspectos urbanos, turísticos e culturais, mostrar a vitalidade de uma geografia muitas vezes caricaturado. Além disso, a preocupação de escrever uma geografia para o presente, levando em conta as limitações e as conseqüências das zonas de conflito e populações estudadas, é claramente perceptível. Parece que o estado de isolamento em que a geografia francesa viveu durante cinco longos anos, tem desempenhado um papel no declínio do seu papel internacional.