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Jornal de Pneumologia - Pulmonary and pleural paragonimiasis: report of two cases

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Jornal de Pneumologia

Print version ISSN 0102-3586

J. Pneumologia vol.26 no.2 São Paulo Mar./Apr. 2000

http://dx.doi.org/10.1590/S0102-35862000000200011 

RELATO DE CASO

 


Paragonimíase pulmonar e pleural: relato de dois casos*

TERESA DE JESUS JHAYYA S.1, MIGUEL ANGEL COLOMA S.2, MÓNICA PÉREZ V.3, DANILO MONTAÑO E.4

 

 

A paragonimíase é uma infecção pulmonar crônica causada por um trematóide do gênero Paragonimus, sendo o Paragonimus westermani o que mais infecta o homem. É uma doença endêmica da Ásia Oriental, mas também é vista na América. Relatamos dois casos de paragonimíase, em que um dos pacientes apresentava antecedentes e características clínicas e radiológicas sugestivas da doença, diagnosticada pela presença de ovos do P. westermani no escarro, e o outro, um empiema pós-trauma torácico cujo diagnóstico de paragonimíase foi um achado histopatológico pleural após uma decorticação. Este diagnóstico foi confirmado pela presença de ovos do P. westermani em escarro.


Pulmonary and pleural paragonimiasis: report of two cases

Paragonimiasis is a chronic infection caused by a trematode of the genus Paragonimus, the Paragonimus westermani being the one that most infects man. It is an endemic disease in East Asia, however, it is also seen in America. The authors report two cases of paragonimiasis, in which a patient showed a past history and clinical and radiological characteristics suggestive of this disease, diagnosed by the presence of eggs of P. westermani in the sputum, and another patient, a thoracic post-traumatism empyema whose paragonimiasis diagnosis was a histopathological finding in the pleura after a decortication. This diagnosis was confirmed by the presence of eggs of P. westermani in the sputum.


Descritores ¾ paragonimíase.
Key words ¾ paragonimiasis.


 

 

INTRODUÇÃO

O primeiro caso de infecção por Paragonimus westermani em humanos foi descoberto em 1879 em Taiwan(1). Na América do Sul, o Equador é considerado área endêmica(2,3). Diesing, em 1850, descreveu o Paragonimus rudis nos pulmões de uma lontra gigante em Mato Grosso (Brasil), o que induziu a incluir este Estado na distribuição geográfica do P. westermani; todavia, descrito em forma incompleta e não tendo sido recuperado e reidentificado, Voelker e col., após amplo estudo em caranguejos, nos quais não conseguiram encontrar nenhuma espécie de Paragonimus, consideram que o P. rudis pode ser tido como nomem nudum(4,5). O homem, como hospedeiro definitivo, se infecta com a ingestão de crustáceos de água doce (hospedeiros intermediários) crus ou malcozidos contaminados com metacercárias encistadas (estágio infectante do verme). No intestino delgado, a metacercária se desencista, perfura a parede intestinal, passa à cavidade abdominal, atravessa o diafragma e a pleura, alcançando o pulmão em três a oito semanas(1,6). Os sintomas são inespecíficos e as imagens radiológicas podem ser confundidas com as da tuberculose(7); a confirmação de paragonimíase requer o achado de ovos operculados típicos em escarro, fezes ou em tecidos e, em ocasiões, é necessária a ajuda de outras técnicas sorológicas e cutâneas.

 

RELATO DOS CASOS

Caso 1 ¾ Homem de 22 anos, residente em Esmeraldas ¾ Equador, com antecedente de ingestão rotineira de caranguejos de água doce. Apresentava há um mês tosse, escarros sanguíneos e perda de peso. O exame físico era normal. RX de tórax: áreas de infiltrado alveolar irregular em lobo médio e bibasal (Figura 1). Pesquisa em escarro: BAAR negativo em três amostras, ovos de P. westermani positivo (Figura 2). Recebeu dez doses de bitionol 30mg/kg em dias alternados, apresentando melhora clínica e radiológica.

 

 

 

Caso 2 ¾ Homem de 15 anos, masculino, residente em Santo Domingo de los Colorados ¾ Equador. Dois meses antes sofreu trauma torácico por atropelamento e apresentou, progressivamente, dor torácica à esquerda, tosse com expectoração amarelada, dispnéia e febre, e constatou-se derrame pleural maciço à esquerda (Figura 3). Pesquisa de BAAR em escarro negativo em três amostras. Líquido pleural de aspecto purulento, com numerosos piócitos, glicose 10mg/dl, proteínas 240mg/dl, LDH 10.328 UL, leucócitos 238.000/mm3 (neutrófilos 80%, linfócitos 20%), Ziehl negativo. Realizada cirurgia higiênica e decorticação. O estudo histológico pleural mostrou notável proliferação do tecido conectivo, necrose e infiltrado inflamatório agudo, algumas células gigantes tipo corpo estranho e numerosos ovos operculados característicos do P. westermani (Figura 4). Posteriormente, constatados ovos de P. westermani no escarro. Tratamento: penicilina cristalina 2.500.000UI cada 4h, gentamicina 80mg cada 8h, praziquantel 25mg/kg 3 doses ao dia por 3 dias, tendo o paciente boa evolução clínica e radiológica.

 

 

 

DISCUSSÃO

O pulmão é o principal local de infecção pelo Paragonimus, mas pode afetar outros órgãos, principalmente o cérebro (26%)(1,3,6). No processo de penetração até o pulmão, as larvas podem causar pneumotórax ou derrame pleural (48%), podendo este ser bilateral em 17%. A primeira manifestação parenquimatosa é uma pneumonia hemorrágica provocada pela migração das larvas; os vermes adultos se encistam, podendo cavitar o parênquima(1,8).

Os padrões radiológicos dependem do estágio e gravidade da doença; freqüentemente é difícil diferenciá-los dos da tuberculose, podendo as duas doenças ocorrer simultaneamente(7). As lesões, geralmente, localizam-se na periferia das zonas médias e inferiores e caracterizam-se por serem consolidações pouco definidas e segmentares que mudam rapidamente, com tecido circundante normal; são comuns imagens em anel (82%), que são cavidades císticas de paredes delgadas e margens lisas, sem nível hidroaéreo, usualmente múltiplas e confluentes que dão aparência de "borbulhas de sabão"(1,8). Em 12 a 21% dos casos a radiografia pode ser normal(2,3). A tomografia computarizadora oferece maior informação sobre o parasito adulto dentro do cisto e seu trajeto migratório(8).

A gravidade e a progressão dos sintomas dependem da fase e do número de parasitos presentes; ainda que muitos pacientes permaneçam assintomáticos(1), clinicamente tem um curso crônico desde poucos meses até vários anos, sendo a hemoptise o sintoma mais comum e pelo qual é chamada de "hemoptise endêmica"(2,9). Nossos pacientes mantinham-se na faixa de idade descrita como de maior prevalência, de 15 a 29 anos(10,11); o tempo de duração e características dos sintomas no primeiro caso são similares aos descritos na literatura(2,9); o paciente, além de ser procedente de uma área com incidência de paragonimíase, admitiu seu hábito de alimentação com um tipo de caranguejos conhecidos como portadores deste parasito; porém, no segundo caso, não se pode estabelecer a epidemiologia da paragonimíase, já que o paciente não apresentava sintomas relacionados à infecção parasitária antes do trauma. O diagnóstico da paragonimíase depende da identificação dos ovos dourados-pardos operculados característicos, em escarro ou em fezes (positividade 28-38%)(1), ou às vezes em estudos histopatológicos de peças cirúrgicas ou de necrópsias(1,9). Na pesquisa de ovos de P. westermani em escarro é recomendável realizá-la primeiro e separada da do BAAR, já que o Ziehl destrói os ovos e não permite sua identificação(11). Tem-se encontrado leucocitose com alta eosinofilia no sangue periférico e cristais de Charcot-Lyden no lavado brônquico, escarro e no líquido pleural; estes achados podem ocorrer em outras infecções parasitárias, sugerindo uma reação de hipersensibilidade similar à síndrome de Löffler(1,9,12). Quando há derrame pleural, geralmente ele é do tipo exsudato, com importante consumo de glicose (< 10mg/dl), eosinofilia e, na maioria das vezes, presença dos ovos(13,14). Embora nosso segundo paciente tenha apresentado empiema, que é descrito como uma das apresentações da paragonimíase(8), a presença de piócitos e leucócitos com neutrofilia, sem eosinófilos e ausência dos ovos do P. westermani no líquido pleural, indicava ser o empiema de origem bacteriana pós-trauma. A paragonimíase foi um achado histopatológico aparentemente de estrita localização pleural, não tendo causado sintomas nem manifestações próprias da infecção parasitária pulmonar, ainda que posteriormente hajam sido achados ovos no escarro, sugerindo uma possível localização intrapulmonar.

Na ausência de encontro de ovos, pode-se lançar mão da realização do teste intradérmico (sensibilidade de 80-90%), sendo, no entanto, pouco específico para diferenciar uma doença ativa, já que ele pode permanecer positivo durante anos após a cura(2); testes serológicos de fixação do complemento e determinação de anticorpos (IgE e IgG) por ELISA (sensibilidade 99%, especificidade 97%)(15,16).

Bitionol é uma das drogas indicadas no tratamento da paragonimíase, mas, pela freqüência de efeitos colaterais e a aparente resistência observada em alguns casos, especialmente na paragonimíase pleural, atualmente o praziquantel é a droga de eleição, sugerindo-se doses altas principalmente quando a contagem de ovos seja > 400/dia(10). Tanto com o uso de bitionol quanto com o de praziquantel, têm-se observado recidivas da infecção(10,17). Os dois pacientes tiveram boa evolução e no acompanhamento não apresentaram sintomas nem manifestações radiológicas de recidiva. No segundo paciente, embora ele não apresentasse sintomas relacionados à paragonimíase pleural, foi decidido pelo tratamento antiparásitario por causa do risco de acometimento cerebral.

Em conclusão, esta entidade nosológica deve-se incluir no diagnóstico diferencial de hemoptise, eosinofilia e doenças pleuropulmonares crônicas, especialmente a tuberculose. Não há registros até agora de casos de paragonimíase humana no Brasil.

 

REFERÊNCIAS

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* Trabalho realizado no Hospital Eugenio Espejo (H.E.E.) ¾ Quito ¾ Equador ¾ Departamento de Medicina Interna ¾ Serviço de Pneumologia e no Serviço Medico da Universidade Central do Equador.

1. Médica Ex-Residente do Serviço de Pneumologia do H.E.E.; Estagiária do Curso de Especialização de Pneumologia da Unifesp/EPM.

2. Médico Pneumologista; Chefe do Serviço de Pneumologia.

3. Médica Patóloga; Chefe do Departamento de Anatomia Patológica.

4. Médico Pneumologista Intensivista; Tratante do Serviço de Pneumologia; Ex-Tratante do Serviço Médico da Universidade Central do Equador.

Endereço para correspondência ¾ Dr. Danilo Montaño Egred, Av. Eloy Alfaro ¾ 6o piso ¾ Quito ¾ Ecuador. Tel. (593-2) 502-217; Fax (593-2) 509-136; E-mail: danimont@interactive.net.ec
Recebido para publicação em 22/3/99. Reapresentado em 22/7/99. Aprovado, após revisão, em 6/10/99.