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Scientia Agricola - Grafting processes for mango tree protection

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Scientia Agricola

Print version ISSN 0103-9016

Sci. agric. vol.57 n.1 Piracicaba Jan./Mar. 2000

http://dx.doi.org/10.1590/S0103-90162000000100017 

Processos de proteção dos garfos na enxertia da mangueira

 

Angelo Pedro Jacomino1*; Keigo Minami1; João Alexio Scarpare Filho1; Ricardo Alfredo Kluge2
1Depto. de Produção Vegetal - USP/ESALQ, C.P. 9 - CEP: 13418-900 - Piracicaba, SP.
2Pós-Graduando do Depto. de Produção Vegetal - USP/ESALQ.
*Autor correspondente <jacomino@carpa.ciagri.usp.br>

 

 

RESUMO: Diferentes processos de proteção dos garfos foram pesquisados na produção de mudas por enxertia, da mangueira ‘Tommy Atkins’. Os tratamentos utilizados foram os seguintes: saquinho de polietileno (testemunha), filme de PVC, parafilme, cera de abelha, parafina e parafina + vaselina. Verificou-se que o filme de PVC e o parafilme proporcionaram pegamentos de enxertia semelhantes à testemunha (40,60%, 56,62% e 48,33%, respectivamente), enquanto que para os demais tratamentos, os percentuais de pegamento foram muito baixos (< 10%). Conclui-se que o filme de PVC e o parafilme podem ser empregados como opção aos saquinhos plásticos, na proteção dos garfos da mangueira, no procedimento da enxertia.
Palavras-chave: Mangifera indica, propagação, enxertia, proteção do garfo

 

Grafting processes for mango tree protection

ABSTRACT: Different processes of graft protection were evaluated in the process of grafting ‘Tommy Atkins’ mango trees. The treatments employed were the following: polyethylene bag (control), PVC film, parafilm, bee wax, paraffin and paraffin + vaseline. It was verified that both PVC film and parafilm presented successful grafting in relation to the control (40.60%, 56.62% and 48.33%, respectively), while the other treatments presented low success rate (<10%). It was concluded that the PVC film or parafilm can be employed optionally as a replacement of the plastic bag for protection of mango grafting.
Key words: Mangifera indica, propagation, grafting, grafting protection

 

 

INTRODUÇÃO

Embora a mangueira (Mangifera indica L.) possa ser propagada por sementes, a enxertia se faz necessária na produção de mudas comerciais, destacando-se, entre os diferentes modos, a enxertia por garfagem (Simão, 1998). Efetuada corretamente, obtêm-se mudas em desenvolvimento, no período de 3 a 4 meses após a enxertia, quando encontram-se em condições de serem plantadas no pomar (Cunha et al., 1994).

A enxertia, portanto, é um processo de propagação vegetativa utilizado na formação de mudas e seu sucesso depende do conhecimento da técnica, da habilidade do enxertador, das condições da planta-matriz, do porta-enxerto e dos fatores do ambiente. Na sua execução, cuidado especial deve ser dispensado à proteção do garfo (enxerto) contra a desidratação, após a operação. O processo de proteção, por via de regra utilizado, é através de saquinhos de polietileno transparentes. Nessa operação são colocados de boca para baixo, protegendo totalmente o enxerto, sendo a extremidade aberta amarrada no caule do porta-enxerto, de maneira a formar uma diminuta câmara úmida ao redor do garfo (Hartmann et al., 1990; Sampaio, 1990, Simão, 1998). Assim, todo o cuidado deve ser dispensado durante o período necessário para o completo pegamento dos enxertos.

Hartmann et al. (1990) relataram alguns materiais que também poderiam ser utilizados para a proteção do enxerto na produção de mudas, tais como cera de abelha aquecida e óleos. White et al. (1983), trabalhando com a enxertia de pinheiro, nos EUA, aplicaram parafina sobre o enxerto, em substituição ao procedimento tradicional, em que utilizavam polietileno e papel. Concluíram que, além da satisfatória taxa de pegamento, houve significativa redução dos custos e da quantidade de material utilizado. Szoke (1990) obteve excelente pegamento da enxertia em nogueira, quando utilizou no processo, parafina derretida para proteção dos garfos. Acrescenta, inclusive, ser o método simples e aplicável, por analogia, a outras espécies vegetais. Bruckner et al. (1991) relataram também, resultados experimentais da enxertia com a nogueira macadâmia, em que os garfos foram recobertos com uma fina camada de parafina, pela imersão dos mesmos, no produto liqüefeito, à temperatura ligeiramente superior ao ponto de fusão. Esse tratamento foi adequado para prevenir o ressecamento dos garfos que permitiu bom pegamento dos enxertos, sob diferentes processos de enxertia, na formação das mudas a pleno sol. Em testes preliminares realizados ainda, no Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), os autores indicaram que a parafinagem de garfos lenhosos é também viável para a enxertia de videira, ameixeira, caquizeiro, pereira, pessegueiro, nectarineira e kiwi. A parafina se funde à temperatura aproximada de 60oC, porém atinge consistência adequada para a cobertura de proteção de estacas e garfos para propagação, a partir de 80oC. Nesta temperatura obtém-se uma fina camada de parafina sobre o material, que não desprende do ramo até que se inicie a brotação. Comportamento semelhante quanto ao ponto de fusão e à temperatura adequados para utilização, também foi verificado para a cera pura de abelha.

A parafina é um hidrocarboneto de cadeias longas, com ponto de fusão elevado, podendo ser misturado a outros, de cadeias mais curtas e menor ponto de fusão, a exemplo da vaselina sólida (Hydrocarbon, 1973; Paraffin Hydrocarbons, 1973). Essa mistura origina um produto com ponto de fusão e consistência intermediários. Testes preliminares indicaram que uma mistura de 65% de parafina e 35% de vaselina sólida poderia ser utilizada para parafinagem dos garfos a temperaturas entre 70 e 80oC.

Beineke (1978) relata a utilização de fitas de parafilme com bons resultados na proteção de garfos contra a desidratação. O parafilme é um material à prova d’água, bastante flexível e maleável. É aplicado sobre o local a ser protegido, proporcionando cobertura adequada e ajustando-se às formas do enxerto. Davies et al. (1986) obtiveram também, excelentes resultados quando utilizaram nos EUA, fitas de parafilme no processo de enxertia de roseiras.

Outro material que vem sendo empregado recentemente, para as mais diferentes finalidades é o filme de PVC (cloreto de polivinila). Com espessura entre 15 e 20 micra, distende-se e auto adere em diferentes superfícies com facilidade, e tem sido empregado no uso doméstico para proteger alimentos, em laboratórios para vedar recipientes e na embalagem de alimentos, principalmente vegetais, visando evitar a desidratação e prolongar seu tempo de vida útil. Apresenta características peculiares de permeabilidade aos gases, evitando a perda de água, ao criar uma microatmosfera adequada que mantém o produto por mais tempo, sob condições de armazenamento e consumo.

O objetivo do presente trabalho foi verificar o efeito de diferentes métodos de proteção do enxerto na formação de mudas de mangueira, visando indicar ao viveirista ou fruticultor, outras opções viáveis além do saquinho plástico.

 

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido no Departamento de Produção Vegetal da ESALQ/USP em Piracicaba, SP.

Os porta-enxertos e as mudas enxertadas foram formados em sacos plásticos com 30cm de altura e 25cm de diâmetro, contendo o seguinte substrato: 3 partes de terra fértil e 1 parte de esterco de curral curtido, acrescidos de 3 kg de superfosfato simples e 500 g de cloreto de potássio por metro cúbico de substrato.

As sementes utilizadas para a obtenção dos porta-enxertos foram extraídas de frutos maduros de plantas matrizes enxertadas da cultivar Espada. Após secagem à sombra e retiradas do endocarpo, as amêndoas foram semeadas diretamente nos recipientes, com a face ventral para baixo e cobertas em seguida, com uma fina camada de terra peneirada e matéria morta.

A enxertia foi realizada em outubro de 1997, quando os porta-enxertos apresentavam o caule com diâmetro aproximado de 1,0cm.

Os garfos foram retirados de planta enxertada da cultivar Tommy Atkins e enxertados por garfagem de topo em fenda cheia, no mesmo dia da coleta do material.

Os seguintes tratamentos foram realizados:

T1 - Proteção com saquinho plástico de polietileno (testemunha). Utilizaram-se saquinhos de polietileno com medidas de 4 x 14 cm, de boca para baixo, protegendo o enxerto e amarrado no caule, abaixo da enxertia, de maneira a formar uma pequena câmara úmida ao redor do garfo. Os saquinhos foram colocados após a enxertia e retirados depois da efetiva brotação das gemas.

T2 - Proteção com parafina. Colocaram-se pedaços de parafina pura num recipiente, aquecendo-os em banho-maria até a fusão total. A temperatura dessa fusão foi monitorada com auxílio de termômetro e mantida entre 85 e 90oC. Os garfos, após retirados das plantas matrizes, foram selecionados, preparados e submetidos, individualmente, a uma imersão rápida (cerca de 1 segundo) na parafina liqüefeita. A solidificação do material sobre os garfos foi bastante rápida, formando-se uma fina camada protetora.

T3- Proteção com parafina + vaselina. Misturaram-se os dois produtos na proporção, em peso, de 35% de vaselina e 65% de parafina. Adotou-se o mesmo procedimento utilizado para o tratamento 2. A temperatura do tratamento de proteção ficou entre 75 e 80oC.

T4 - Proteção com cera de abelha. Neste tratamento utilizaram-se pedaços de cera pura de abelha, ao invés de parafina. Os demais procedimentos foram similares aos do tratamento 2.

T5 - Proteção com parafilme. Neste tratamento aplicou-se uma fita de parafilme em espiral, sobre o garfo envolvendo-o completamente, imediatamente antes da enxertia.

T6 - Proteção com filme de PVC. O procedimento foi o mesmo aplicado ao tratamento 5, utilizando-se neste caso, filme de PVC extensível e auto-aderente.

A avaliação dos tratamentos foi realizada transcorridos 60 dias da enxertia, sendo mensurados os seguintes parâmetros: a) pegamento do enxerto (em %); b) número (n) e comprimento das brotações (cm).

O delineamento experimental adotado foi blocos ao acaso, com 6 tratamentos e 4 repetições, com 10 plantas por parcela. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância (teste F), e as médias analisadas comparativamente pelo teste de Dunnet a 5% de probabilidade. Antes da análise de variância os dados foram transformados através de a16i1.gif (164 bytes) .

 

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os percentuais de pegamento da enxertia variaram de 0,81% a 56,62% (TABELA 1). Essa ampla variação nos resultados demonstra que houve notável diferença quanto a efetividade dos tipos de proteção dos garfos, nos diferentes tratamentos empregados. As proteções com parafilme e filme de PVC apresentaram pegamentos da ordem de 56,62% e 40,60%, respectivamente, não diferindo do tratamento testemunha, que apresentou pegamento de 48,33%. Os resultados obtidos com parafilme confirmam as observações de Beineke (1978), que o considera um adequado material de proteção, no procedimento da enxertia por garfagem.

 

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Os percentuais de pegamento observados para os tratamentos envolvendo parafina, parafina + vaselina e cera de abelha (7,79%, 7,31% e 1,54%, respectivamente) foram surpreendentemente baixos, além do coeficiente de variação bastante elevado, em particular no último tratamento, no qual os percentuais de pegamento foram nulos na maioria das repetições. Esses baixos percentuais de pegamento observados com o uso da parafina, isoladamente, ou em mistura com a vaselina, contrariam, inclusive, as observações de White et al. (1983), Szoke (1990) e Bruckner et al. (1991), que verificaram satisfatória proteção e pegamento do enxerto em outras espécies arbóreas (Pinus e nogueiras). Este pior resultado pode ser atribuído às características de maior sensibilidade da frutífera utilizada no presente trabalho. Enquanto que em mangueira são utilizados como garfos, os ponteiros do ramos ainda em estádio de pouca lignificação ("madeira" mole), nas espécies estudadas pelos autores já citados, os ramos utilizadas como garfos deveriam encontrar-se num estádio de maior lignificação ("madeira" lenhosa). Esse fato proporcionaria em decorrência, maior aderência da parafina nos garfos sem prejudicar as gemas, uma vez que nestas espécies, elas encontram-se naturalmente protegidas por escamas (Faust, 1989). É também admissível que o baixo pegamento verificado nos tratamento de imersão - parafina, parafina + vaselina e cera de abelha – tenham ocorrido em função das temperaturas elevadas necessárias para a fusão dos produtos, danificando em conseqüência, os garfos-enxerto.

Quanto ao número e comprimento das brotações, os diferentes tratamentos não surtiram o efeito esperado (TABELA 2). No transcorrer do experimento, as brotações não apresentaram dificuldade para romper a proteção do parafilme, que inclusive, após 60 dias da enxertia, começou a se desprender naturalmente do enxerto. Por outro lado, houve a necessidade de se cortar e retirar parcialmente a proteção com o PVC, para possibilitar o livre desenvolvimento das brotações.

 

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Pelos resultados obtidos evidencia-se que, além do saquinho plástico, comumente utilizado para a proteção dos garfos de mangueira no processo da enxertia, outros materiais podem ser utilizados, como o parafilme ou o filme de PVC. Constatou-se ainda que essas duas proteções são de execução mais fácil que a do saquinho plástico, podendo ser efetuadas antes ou imediatamente após a enxertia.

 

CONCLUSÕES

  • O filme de PVC e o parafilme podem ser utilizados como novas opções ao saquinho plástico, na proteção da enxertia por garfagem, visando a formação de mudas de mangueira, pois proporcionam adequado pegamento dos enxertos.

  • A execução da proteção com parafilme é facilitada na formação das mudas, por se desprender naturalmente dos enxertos.

  • Os tratamentos com parafina, parafina + vaselina e cera de abelha não são adequados à proteção dos garfos, por proporcionarem deficientes pegamentos na enxertia por garfagem.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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BRUCKNER, C.H.; da COSTA, F.O.M.; PINHEIRO, R.V.R.; ANDERSEN, O. Propagação da macadâmia por meio da enxertia. In: SÃO JOSÉ, A.R. (Ed.). Macadâmia: tecnologia de produção e comercialização. Vitória da Conquista: DFZ/UESB, 1991. 224p.

CUNHA, G.A.P.; SAMPAIO, J.M.M.; NASCIMENTO, A.S.; SANTOS FILHO, H.P.; MEDINA, V.M. Mangas para exportação: aspectos técnicos da produção. Brasília: EMBRAPA, SPI, 1994. 35p. (Série Publicações Técnicas Frupex, 8)

DAVIES Jr., F.T.; HAMBRICK, C.E.; FANN, Y.; PEMBERTON, N.B. Grafting and adventitious root formation of Texas field rose bushes. Acta Horticulturae, n.189, p.89-100, 1986.

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HARTMANN, N.T.; KESTER, D.E.; DAVIES Jr., F.T. Plant propagation: principles and practices. 5.ed. New Jersey: Regents/Prentice Hall, 1990. 647p.

HYDROCARBON. In: ENCYCLOPAEDIA BRITANNICA. Chicago: Encyclopaedia Britanica, 1973. v.11, p.935-939.

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SAMPAIO, J.M.M. Instruções práticas para a produção de mudas de mangueira. 2.ed. Cruz das Almas: EMBRAPA, CNPMF, 1990. 21p. (Circular Técnica, 10).

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SZOKE, F. Soft grafting of walnut. Acta Horticulturae, n.248, p.63, 1990.

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Recebido em 18.11.98