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Fitopatologia Brasileira - Fungi associated with grapevine showing decline and plant death in the state of Rio Grande do Sul, Southern Brazil

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Fitopatologia Brasileira

Print version ISSN 0100-4158

Fitopatol. bras. vol.29 no.3 Brasília May/June 2004

http://dx.doi.org/10.1590/S0100-41582004000300016 

COMUNICAÇÕES COMMUNICATIONS

 

Fungos associados com o declínio e morte de videiras no estado do Rio Grande do Sul

 

Fungi associated with grapevine showing decline and plant death in the state of Rio Grande do Sul, Southern Brazil

 

 

Lucas da R. Garrido; Olavo R. Sônego; Vanderlei N. Gomes

Laboratório de Fitopatologia, Embrapa Uva e Vinho, Cx. Postal 130, CEP 95700-000, Bento Gonçalves, RS, e-mail: garrido@cnpuv.embrapa.br

 

 


RESUMO

Diversas são as causas bióticas e abióticas responsáveis pelo declínio e morte de videiras (Vitis spp.) no Rio Grande do Sul. Dentro do primeiro grupo temos vários fungos fitopatogênicos. O objetivo do trabalho foi levantar as principais espécies de fungos presentes em videiras com os sintomas desta moléstia em vinhedos da Serra Gaúcha. A partir de 107 amostras coletadas em diferentes cultivares e municípios, observou-se uma maior incidência de declínio nas cultivares de uvas americanas, Vitis labrusca (Bordô, Concord e Niágara), do que nas cultivares de uvas européias, V. vinifera. As principais espécies de fungos encontradas foram: Cylindrocarpon sp., Phaeoacremonium sp., Verticillium sp., Botryosphaeria sp., Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis, Graphium sp. e Cylindrocladium sp.

Palavras-chave adicionais: Vitis labrusca, V. vinifera, Cylindrocarpon sp., uva americana.


ABSTRACT

Grapevine (Vitis spp.) decline and death in Rio Grande do Sul can result from biotic and abiotic causes. Several plant pathogenic fungi cause the first group. The objective of this research was to report the main fungal species associated with plants showing symptoms of decline and death in the "Serra Gaúcha" region, Southern Brazil. The incidence of disfunction in 107 samples from different cultivars and growing regions was higher in American cultivars of V. labrusca (Bordô, Concord and Niagara), than in European grapes (Vitis vinifera). The species of fungi found were: Cylindrocarpon sp., Phaeoacremonium sp., Verticillium sp., Botryosphaeria sp., Fusarium oxysporum f.sp. herbemontis, Graphium sp. and Cylindrocladium sp.


 

 

O Rio Grande do Sul é responsável por mais de 95% da produção brasileira de vinhos e derivados, envolvendo cerca de 16.000 produtores e 500 estabelecimentos vinícolas (Mello, 2001). Os vinhos finos brasileiros são produzidos a partir de uvas (Vitis vinifera L.) enquanto os vinhos de mesa são produzidos de V. labrusca L. A videira está sujeita ao ataque de diversas doenças e pragas, as quais reduzem a quantidade e a qualidade da uva produzida, e em muitos casos podem inviabilizar a cultura.

Diversas são as causas que podem levar a videira à morte. Tanto as pragas quanto as doenças quando não controladas adequadamente ocasionam a debilitação progressiva da planta. O número de casos de declínio e morte de plantas de videira tem aumentado de forma acentuada nos últimos anos, causando grande redução de produtividade e de qualidade da uva. Segundo Kuhn (1981), os principais agentes causais identificados na região associados a este problema são: pérola-da-terra (Eurhizococcus brasiliensis Hempel), filoxera (Daktulosphaira vitifoliae Fitch), as cochonilhas-do-tronco (Hemiberlesia lataniae Signoret, Duplaspidiotus tesseratus Charmoy e D. fossor Newstead), viroses que causam o complexo rugoso da videira (intumescimento dos ramos e caneluras do tronco da videira), fusariose (Fusarium oxysporum Schl. f.sp. herbemontis Tocchetto), fungos que causam podridão radicular [Verticillium sp., Rosellinia necatrix Prill., Armillaria mellea (Vahl:Fr.) P. Kumm e Phytophthora sp.], os fungos que causam apodrecimento do tronco e ramos [Botryosphaeria sp., Eutypa lata (Pers.: fr.) Tul. & C. Tul., Phomopsis viticola (Sacc.) Sacc. e Stereum sp.]. Devido a complexidade do agroecossistema, para o controle destes agentes devem ser contemplados aspectos de controle integrado, ou seja, medidas que enfoquem a multidisciplinaridade (Garrido & Sônego, 1999; Pearson & Goheen, 1988; Sônego et al., 2001) .

Além destes organismos, causas abióticas podem estar associadas ao declínio e morte de plantas de videira como a má soldadura do enxerto, o excesso de umidade no solo, a fitotoxicidade causada por herbicidas ou as misturas de produtos no tanque do pulverizador e por adubações desequilibradas.

O objetivo do trabalho foi isolar e identificar fungos associados ao declínio e morte de videiras, de vinhedos da região da Serra Gaúcha.

As áreas com histórico de declínio e morte de plantas foram pré-definidas pelos técnicos da extensão rural. Cento e sete amostras de videira das cultivares Bordô, Isabel, Niágara, Concord, Couderc, Dona Zilá, Moscato-Embrapa, Seibel, Tardia de Caxias, Vênus, Cabernet Franc, Cabernet Sauvignon, Moscato-Yalo, Perlona, Riesling Itálico, Tannat e Trebbiano foram coletadas em 15 municípios da Serra Gaúcha (Antônio Prado, Bento Gonçalves, Caxias do Sul, Flores da Cunha, Farroupilha, Nova Roma do Sul, Nova Pádua, Dois Lajeados, Nova Prata, Pinto Bandeira, Monte Belo do Sul, São Marcos, Feliz, Veranópolis e Garibaldi) em novembro de 2001. Durante o diagnóstico local, foi verificada a presença ou não de pragas, de sintomas típicos de viroses, deficiências nutricionais e de doenças fúngicas da parte aérea e raiz. Logo após, cada amostra (tronco, ramos, folhas e raiz) foi identificada e colocada em saco plástico até a chegada ao Laboratório de Fitopatologia da Embrapa Uva e Vinho.

Partes dos troncos e das raízes foram cortados e colocados em câmara-úmida durante sete dias. Após este período, as amostras foram observadas sob microscópio estereoscópio com aumento de 50 x e em microscópio óptico com aumento de 800 x.

Na ausência de estruturas reprodutivas, porções dos fungos encontrados foram isolados para placas de Petri contendo meio batata-dextrose-ágar (BDA) acidificado com ácido lático, incubados durante 15 dias a temperatura ambiente e fotoperíodo de 12 h com luz fluorescente.

A identificação dos gêneros dos fungos encontrados foi realizada com auxílio de chaves de identificação (Ellis, 1971; Barnett & Hunter, 1972; Carmichael et al., 1980; Hanlin, 1990).

A grande maioria das plantas com sintomas de declínio e morte de videiras pertenciam às cultivares americanas: Bordô, Niágara, Isabel e Concord, representando cerca de 78,50% das amostras coletadas (Tabela 1). Nestas cultivares, verificou-se principalmente a ocorrência de Cylindrocarpon sp. (18,69%), Verticillium sp. (17,75%), Cylindrocladium sp. (5,60%) e Graphium sp. (16,82%). A primeira espécie tem sido relatada em países da Europa, Estados Unidos e no Chile como agente causal do "pé-preto" da videira (Grasso & Magnano di San Lio, 1975; Scheck et al., 1998; Auger et al., 2001), enquanto Verticillium sp. é causador de murchas vasculares em diversas plantas hospedeiras. Além destes, observou-se que é bastante comum encontrar Graphium sp. em troncos de plantas de videira apresentando apodrecimento de madeira. Até o momento, não foram realizados ensaios para certificação do envolvimento do Graphium sp. no declínio das plantas, podendo ser saprófita e não parasita nestes materiais.

Nestes últimos anos vem aumentando, na região, a incidência de podridão descendente causada pelos fungos Botryosphaeria sp. e E. lata (Sônego et al., 1999). Nas avaliações deste trabalho observou-se em aproximadamente 13,08% das amostras coletadas a presença de Botryosphaeria sp., sendo a maior ocorrência em 'Niágara'. Por ser uma doença de lento desenvolvimento, os viticultores não costumam dar-lhe grande importância. Os sintomas começam a ser observados dois a três anos após infecção e de um modo geral a partir dos ferimentos da poda.

Nas cultivares de uvas americanas coletadas, observou-se em 12,14% das amostras a presença de Phaeoacremonium sp. e em 1,86% nas cultivares viníferas. Na cultivar 'Niágara' foi encontrada a maior ocorrência. Nestes últimos dez anos, diversos trabalhos têm relatado o envolvimento de Phaeoacremonium chlamydosporum W. Gams et al. com o declínio de videiras na Europa. É reconhecido também por alguns autores, que espécies de Phaeoacremonium que colo nizam os tecidos internos de videiras são mais ou menos patogênicas, mas a expressão dos sintomas depende de outros fatores, como a idade e suscetibilidade das cultivares infetadas, o modo de infecção e a funcionalidade do vasos invadidos, a reação dos tecidos dos hospedeiros e fatores ambientais como a disponibilidade de nutrientes, água, temperatura, entre outros (Graniti et al., 2000). Inoculações com P. chlamydosporum na cv. 'Chardonnay' mostraram sintomas de redução de crescimento, descoloração dos vasos e declínio após 2,5 anos (Scheck et al., 1998).

O fungo F. oxysporum f.sp. herbemontis é nativo da região Sul do Brasil, ocorrendo no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina. Em cerca de 12 amostras de uvas americanas e em três amostras de uvas viníferas foi verificada a presença de fusariose. Nas viníferas, a espécie foi constatada no porta-enxerto SO4 que é extremamente suscetível a este patógeno. Das cultivares americanas produzidas por estaquia a mais tolerante é a 'Isabel'. Nas cultivares de porta-enxerto 'Paulsen 1103' e 'R99' recomendadas há alguns anos, na região, não tem sido constadada a ocorrência da fusariose.

Uma menor incidência de declínio e morte de videiras foi verificada nas uvas híbridas e viníferas. Embora o número de amostras das cultivares pertencentes a estes grupos seja significativamente menor do que o grupo das uvas americanas, o levantamento foi realizado tendo por base informações dos técnicos locais dos municípios visitados, ou seja, não houve uma intenção de coletar o mesmo número de amostras em vinhedos de cultivares V. vinifera e V. labrusca.

Uma maior incidência de fungos, já relatados anteriormente, foi observada em plantas propagadas por estaquia (50,4%) pé-franco, do que em plantas enxertadas (11,2%). Estas diferenças são atribuídas, em parte, a melhor sanidade das mudas enxertadas, muitas delas importadas. Também é importante salientar que a ocorrência de um determinado patógeno, como por exemplo, F. oxysporum f.sp. herbemontis, não impede o aparecimento de outras espécies de fungos nas amostras, tendo em vista que as mesmas foram coletadas a campo. Assim, o declínio observado em algumas amostras de videira pode ser resultado de mais de um fator biótico e sua interação com os fatores abióticos existentes. De um modo geral, não se observou uma grande diferença na ocorrência de fungos, que infetam o sistema radicular, comparado aos da parte aérea (Tabela 1), embora espécies patogênicas, do primeiro grupo, sejam mais difíceis de controlar na ausência de porta-enxertos resistentes.

Das amostras de porta-enxertos identificados, observou-se a presença de Cylindrocarpon sp. (33,3%), e Verticillium sp. (50%) no 'Paulsen 1103', Cylindrocarpon sp. (100%) no '101-14', e F. oxysporum f.sp. herbemontis (100%) no 'SO4'. A inoculação de plantas de 'Bordô' com um isolado de Cylindrocarpon sp. confirmou a patogenicidade e os mesmos resultados foram observados na avaliação da resistência de alguns porta-enxertos e cultivares de videira (dados não mostrados). Resultados similares foram encontrados por Rego et al. (2000) após a inoculação de Cylindrocarpon destructans em diferentes cultivares de porta-enxertos, confirmando a suscetibilidade da maioria deles.

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Aceito para publicação 24/09/2003

 

 

Autor para correspondência: Lucas da R. Garrido