It is the cache of ${baseHref}. It is a snapshot of the page. The current page could have changed in the meantime.
Tip: To quickly find your search term on this page, press Ctrl+F or ⌘-F (Mac) and use the find bar.

Jornal de Pediatria - Early weaning: implications to oral motor development

SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.79 issue1Influenza immunization risks in HIV infected childrenIdentification of difficulties at the beginning of breastfeeding by means of protocol application author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Article

Indicators

Related links

Share


Jornal de Pediatria

Print version ISSN 0021-7557

J. Pediatr. (Rio J.) vol.79 no.1 Porto Alegre Jan./Feb. 2003

http://dx.doi.org/10.1590/S0021-75572003000100004 

Desmame precoce: implicações para o desenvolvimento motor-oral

Early weaning: implications to oral motor development

Flávia Cristina Brisque Neiva1, Débora Martins Cattoni2, José Lauro de Araújo Ramos3, Hugo Issler4

RESUMO ABSTRACT

Objetivo: revisar as estreitas relações entre o desmame precoce e seus reflexos no desenvolvimento motor-oral, enfocando as conseqüências na oclusão, respiração e aspectos motores orais da criança.

Fonte de dados: foi realizada uma pesquisa bibliográfica relacionada às áreas de pediatria, odontologia e fonoaudiologia, através do Medline, entre o ano de 1960 e o ano 2001.

Síntese dos dados: a partir da literatura levantada, pode-se observar que o desmame precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, podendo prejudicar as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala, ocasionar má-oclusão, respiração oral e alteração motora oral.

Conclusões: pode-se concluir que além dos inúmeros benefícios do aleitamento materno, este contribui para o desenvolvimento motor-oral adequado e previne alterações fonoaudiológicas, no que se refere ao sistema motor-oral.

desmame precoce, aleitamento materno, desenvolvimento motor-oral, sucção, má-oclusão, respiração oral.

Objective: this article aims at reviewing the relationship between early weaning and its consequences to oral motor development, focusing on the consequences to occlusion, breathing and children's oral motor aspects.

Sources: a literature review based on Medline database from the early 60's up to 2001 was performed taking into consideration the following topics: pediatrics, dentistry and speech language pathology.

Summary of the findings: based on this review of literature, we could verified that early weaning may lead to a proper oral motor development rupture, which may cause negative consequences to swallowing, breathing and speaking activities as well as malocclusion, oral breathing and oral motor disorders.

Conclusions: in addition to several benefits of breastfeeding, it contributes to a proper oral motor development and also avoids speech-language disorders, regarding oral motor system.

early weaning, breastfeeding, oral motor development, sucking, malocclusion, oral breathing.



 

O aleitamento materno, além dos benefícios nutricionais, imunológicos, emocionais e econômico-sociais, amplamente divulgados na literatura (1-10), também tem efeitos positivos na saúde fonoaudiológica, uma vez que está relacionado ao crescimento e desenvolvimento craniofacial e motor-oral do recém-nascido (RN) (11,12).

A literatura tem apontado a importância da sucção durante o aleitamento natural, pois promove o desenvolvimento adequado dos órgãos fonoarticulatórios (OFAs) quanto à mobilidade, força, postura, e o desenvolvimento das funções de respiração, mastigação, deglutição e articulação dos sons da fala (13). Desta forma, reduz a presença de maus hábitos orais e de várias patologias fonoaudiológicas (11,14,19).

Fisiopatologia da sucção

Nos primeiros meses de vida, o desenvolvimento motor-oral ocorre através dos movimentos realizados pelos OFAs (lábios, língua, mandíbula, maxila, bochechas, palato mole, palato duro, soalho da boca, musculatura oral e arcadas dentárias) durante a função de sucção.

Mecanismo de sucção

Através da sucção na mama, nos primeiros meses de vida, o RN poderá desenvolver adequadamente os OFAs e as funções exercidas por eles.

Para cumprir este designo, o RN deve sugar de maneira harmônica, com ritmo, força e sustentação (14,20), o que inclui adequação nos seguintes aspectos: reflexo de busca e de sucção, vedamento labial, movimentação de língua e mandíbula, coordenação sucção-deglutição-respiração e ritmo de sucção, ou seja, eclosões de sucção alternadas com pausas. Esses movimentos permitem uma variação na pressão intra-oral, fundamentais na extração e na condução do leite (20,24).

O mecanismo de sucção inicia-se com o reflexo de procura. Esse reflexo é um precursor para a pega correta, pois, quando os lábios ou as bochechas são estimulados, a criança move sua face em direção ao estímulo, ocorre abertura da boca e protrusão da língua (21,22,24).

A pega adequada da aréola e do mamilo é essencial para a movimentação correta das estruturas orais durante a mamada, e o lábio inferior deve estar evertido, possibilitando que a língua avance até a linha da gengiva (24,25). Quando o RN suga apenas o mamilo, ocorre sucção ineficaz e maior possibilidade de rachadura mamilar (24,26).

A partir do momento em que ocorre a pega, o reflexo de sucção é desencadeado e iniciam-se os movimentos de língua e mandíbula. A língua tem a função de realizar o vedamento anterior (aderida ao redor da aréola) e posterior (contra o palato mole e a faringe), ordenhar a aréola, variar o volume da cavidade oral e realizar a propulsão do bolo alimentar (23). Tem uma participação ativa durante a sucção, realizando os movimentos de deslocamento ântero-posterior, acanulamento (bordas laterais da língua aderidas ao palato, formando um sulco na sua porção medial) e movimento peristáltico (elevação da porção medial da língua para a porção lateral e elevação de seu dorso conduzindo o leite à faringe).

A mandíbula oferece uma base estável para os movimentos da língua, auxilia na criação da pressão intra-oral (23) e realiza movimentação vertical e horizontal. Este último movimento comprime a aréola, trazendo, como conseqüência, a liberação de leite (14,21).

Nos primeiros 4-6 meses de vida do RN, não há dissociação entre os movimentos da língua e mandíbula, sendo que essas estruturas realizam o movimento em conjunto (14,22,27). Os movimentos de língua e mandíbula são sincrônicos; além disso, lábios, mandíbula, bochechas e faringe participam da sucção (22).

Inicialmente, quando a mandíbula se eleva, a ponta e o dorso da língua movem-se para cima, comprimindo mamilo e aréola contra o palato, de modo que a parte anterior da língua adere ao mamilo, sem deixar espaço vazio entre língua, palato duro e superfície oral, enquanto a parte posterior realiza o selamento com o palato mole e com a faringe28,29. Nessa etapa do movimento, a língua encontra-se plana, e forma-se um sistema oclusivo com o palato mole (11,14,15,21,27,30,31).

Quando a mandíbula se move para baixo, a língua se acanula, desencadeando uma rápida ampliação da cavidade oral, resultando em pressão negativa, que auxilia na extração do leite. Dessa forma, o leite passa a ocupar o espaço entre o dorso da língua e o palato (15,22,25,27,29,30,32-34).

Logo após o acanulamento, a língua inicia a movimentação peristáltica, na qual ocorre elevação da mandíbula, elevação da parte medial e do dorso da língua (14,15,21,22,27,28,30). Esses movimentos, acanulamento e peristaltismo, repetem-se, exercendo sucessivas pressões positivas e negativas na cavidade oral (11,14,15,27,29).

Desenvolvimento motor-oral

A sucção necessária ao aleitamento materno faz com que ocorra o desenvolvimento motor-oral adequado, promovendo o estabelecimento correto das funções realizadas pelos OFAs.

O RN apresenta algumas características orais que facilitam a amamentação. Elas correspondem à presença de depósito de tecido gorduroso localizado nas bochechas (sucking pads), pequeno espaço intra-oral, retração da mandíbula (permitindo que a língua preencha toda a cavidade oral e realize o movimento de extensão-retração), não dissociação entre os movimentos de língua e mandíbula, proximidade palato/epiglote e respiração nasal. Através do movimento de sucção, as estruturas se desenvolvem, de modo que ocorre a absorção das sucking pads, o crescimento da mandíbula e, conseqüentemente, o aumento do espaço intra-oral, com maior possibilidade de movimentação da língua, que passa a alternar o movimento ântero-posterior com o movimento de elevação e rebaixamento, e maior dissociação dos movimentos de língua, lábios e mandíbula (14,15,31,35).

Carvalho(36) aponta que, ao sugar o seio materno, a criança estabelece o padrão adequado de respiração nasal e postura correta da língua. Considera que durante a sucção no seio materno, os músculos envolvidos estão sendo adequadamente estimulados, aumentando o tônus e promovendo a postura correta para futuramente exercer a função de mastigação.

Além desses aspectos, ressalta-se que o desenvolvimento motor-oral reflete no desenvolvimento craniofacial, no crescimento ósseo e na dentição. Subtelny (37) destaca que o formato da arcada dentária é influenciado por forças exercidas nos dentes através dos músculos da língua, lábios e bochechas. Para Garliner (38), o movimento dos dentes sofre influências dos tecidos moles, de modo que um desequilíbrio pode gerar uma má oclusão. Bianchini (39) destaca que o tecido ósseo é influenciado por todos os tecidos moles nos quais está inserido durante o crescimento.

Os dentes e demais estruturas sofrem pressões de forças provenientes da musculatura da face e da língua durante as funções de sucção, mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons, indicando estreita relação entre o desenvolvimento da dentição e a atividade muscular. Estas forças musculares, quando adequadas, promovem uma ação modeladora; entretanto, em condições inadequadas, podem conduzir a alterações anatômico-funcionais indesejáveis (40).

Bönecker et al. (41) destacam que, entre os neonatos, o ramo mandibular é curto verticalmente, e a eminência mentoniana está incompleta. A estimulação durante a amamentação e, posteriormente, a mastigação, levam ao crescimento mandibular adequado, estabelecendo uma relação harmônica com a maxila.

O desenvolvimento motor-oral adequado também influencia a evolução nutricional do RN, permitindo a adequada transição alimentar, de modo que a criança tenha condições de receber os alimentos certos na idade adequada (15,16), garantindo que a mobilidade e a força da musculatura possam evoluir adequadamente (42).

Conseqüências do desmame precoce

O desmame precoce pode levar à ruptura do desenvolvimento motor-oral adequado, provocando alterações na postura e força dos OFAs e prejudicando as funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons da fala. A falta da sucção fisiológica ao peito pode interferir no desenvolvimento motor-oral, possibilitando a instalação de má oclusão, respiração oral e alteração motora-oral.

Straub (43) aponta que o aleitamento artificial interfere na realização das funções de mastigação, sucção e deglutição e pode levar à presença de alterações na musculatura orofacial, na postura de repouso dos lábios e da língua, alterações na formação da arcada dentária e alterações no palato.

Davis e Bell (44) verificaram, num estudo longitudinal realizado com 108 crianças, a existência de associação significativa entre crianças que receberam mamadeira e a presença de má oclusão ântero-posterior, frisando que o aleitamento materno diminui o risco desse problema.

Carvalho (36) enfatiza que somente a sucção no peito materno promove a atividade muscular correta. A mamadeira propicia o trabalho apenas dos músculos bucinadores e do orbicular da boca, deixando de estimular outros músculos, tais como pterigóideo lateral, pterigóideo medial, masséter, temporal, digástrico, genio-hióideo e milo-hióideo. O excessivo trabalho muscular dos orbiculares pode influenciar no crescimento craniofacial, levando a arcadas estreitas e falta de espaço para dentes e língua. Induz, ainda, disfunções na mastigação, deglutição e articulação dos sons da fala, conduzindo a alterações de mordida e má oclusões. Também a sucção do bico de borracha não requer os movimentos de protrusão e retração da mandíbula, que são importantes para o correto crescimento mandibular.

Alguns autores (45) destacam que, durante a sucção no seio materno, o RN exercita melhor a musculatura facial. Além disto, encontraram que, em pacientes de ambulatório com um período de aleitamento materno inadequado ou inexistente, 33% apresentavam alteração na deglutição e 34%, alterações fonoarticulatórias. Na alimentação com mamadeira, o lactente recebe pouca estimulação motora-oral, ocorrendo flacidez da musculatura perioral e da língua, o que conduz à instabilidade na deglutição. Freqüentemente há deformação dentofacial, ocasionando mordida aberta anterior ou lateral e distúrbios respiratórios.

Assim como a mamadeira, os hábitos orais refletem diretamente no desenvolvimento motor-oral, craniofacial e no crescimento ósseo. A presença de hábitos orais afeta o sucesso do aleitamento materno, podendo trazer, como conseqüência, o desmame precoce ou vice-versa, ou seja, com o desmame precoce a criança não supre suas necessidades de sucção e acaba adquirindo hábitos de sucção não-nutritiva (SNN), dentre eles, a sucção digital e o uso de chupeta, decorrendo em alterações na oclusão dentária (46).

Pesquisas mostram uma relação direta entre o uso de mamadeira e a presença de hábitos orais. De modo que nas crianças alimentadas com mamadeira, a freqüência de hábitos de sucção indesejáveis é maior, sendo que após o desmame, há a tendência do estabelecimento da sucção digital ou da chupeta (47,48).

Uma pesquisa realizada com 214 crianças demonstrou que, dentre as crianças que usaram chupeta, 31% foram alimentadas exclusivamente com mamadeira. Por outro lado, das crianças que não usaram chupeta, 58,8% receberam aleitamento natural por no mínimo 3 meses. Já entre as crianças que apresentaram sucção digital, foi observado resultado diferente, dado que 20,6% receberam aleitamento natural por 3 meses ou mais, e 13,1% foram amamentadas artificialmente (49).

Outra pesquisa mostrou que crianças amamentadas no peito materno por no mínimo 6 meses apresentaram menor freqüência de hábitos orais, já as crianças que receberam mamadeira por mais de um ano apresentaram 10 vezes mais risco de estabelecer hábitos orais (50).

Ferreira e Toledo (5), em um estudo realizado com 427 crianças entre 3 e 6 anos de idade, mostraram que quanto mais prolongado o aleitamento materno, menor a ocorrência de hábitos orais nocivos, hábitos de sucção, respiração oral e bruxismo.

Leite et al. (13) descrevem que crianças amamentadas ao peito têm menores chances de adquirir hábitos de sucção não-nutritivos, comumente observados em crianças que não receberam aleitamento materno.

Um estudo recente, realizado em 2001, com 150 crianças com idades entre 1 ano e 7 anos, constatou que as crianças amamentadas exclusivamente no peito por no mínimo 6 meses, em sua maioria, não desenvolveram hábitos de sucção. Porém, aquelas que o fizeram mantiveram os hábitos por um período mais curto, se comparadas com as crianças que não foram amamentadas (52).

Má oclusão

Este problema parece ser menos freqüente na criança que recebeu o aleitamento materno, uma vez que o desenvolvimento dental e da oclusão pode relacionar-se ao modo de sucção. No entanto, como citado anteriormente, a ação da musculatura orofacial no repouso, nas funções de mastigação, deglutição, respiração e articulação dos sons, pode ocorrer de forma inadequada, conduzindo à má oclusão.

Para Garliner (38), a má oclusão dental está relacionada a um desequilíbrio motor-oral, muitas vezes advindo do uso da mamadeira e de sucção não-nutritiva. A seguir, serão mencionadas pesquisas que mostram as relações entre esses aspectos.

Labbok e Hendershop (53) estudaram a influência do aleitamento materno em relação à má oclusão em crianças e adolescentes, comparando três grupos: amamentados por 6 meses ou mais, amamentados por menos de 6 meses e com uso exclusivo de mamadeira. Concluíram que o aleitamento materno oferece proteção contra a má oclusão, porém, apenas quando a duração do aleitamento é de 6 meses ou mais. Meyers e Hertzberg54 também observaram maior indicação de tratamento ortodôntico com o aumento da exposição à mamadeira.

Degano e Degano (55) relatam uma menor incidência e gravidade de má oclusão em crianças amamentadas no seio materno, se comparadas com as que receberam alimentação artificial.

Leite et al. (13) verificaram maior freqüência de mordidas abertas ou cruzadas entre as crianças que iniciaram precocemente o uso de mamadeira, mesmo na alimentação mista.

Algumas pesquisas apontam que a má oclusão advém da presença de hábitos orais, que, por sua vez, pode ser conseqüência do uso de mamadeira. Dentre elas, tem-se um estudo realizado na Finlândia, com 1.018 crianças, que mostrou que a introdução precoce da mamadeira acompanhou-se do uso prolongado de chupeta, mordida aberta e mordida cruzada(56).

Fagundes e Leite (57), em uma revisão da literatura sobre amamentação e má oclusão, concluíram que a instalação da mordida aberta anterior está, em certo grau, relacionada ao aleitamento artificial, sendo que o aleitamento misto ou artificial pode levar ao estabelecimento de hábitos orais deletérios.

Os hábitos orais deletérios comumente observados são a sucção de chupeta e a sucção digital, sendo que desempenham papel importante na etiologia da má oclusão. A sucção não-nutritiva está fortemente associada com a instalação de má oclusão, em especial à mordida cruzada posterior, à mordida aberta anterior e à sobressaliência (50).

Vale ressaltar que os desvios na forma dos arcos dentários são também determinados pela intensidade, força e duração do hábito (47).

Ogaard et al. (46), num estudo retrospectivo com 445 crianças, verificaram que o uso de chupeta leva à mordida cruzada. Além disto, mostram que o uso de chupeta por dois anos produz alteração significante na maxila, e o uso por três anos produz alteração na mandíbula.

Alguns autores apontam a sucção digital como um dos fatores etiológicos da mordida aberta (58).

Tomé et al. (59) apontam que os hábitos orais nocivos podem determinar desvios na morfologia dentoalveolar.

Fayyat (60) realizou uma pesquisa com 106 crianças com idade entre quatro e seis anos e concluiu que, dos maus hábitos orais, a sucção digital parece ser o que mais interfere no aparecimento da mordida aberta.

Respiração oral

O padrão correto de respiração pode sofrer influências negativas do desmame precoce. O lactente com aleitamento materno mantém a postura de repouso de lábios ocluídos e respiração nasal. Quando ocorre o desmame precoce, a postura de lábios entreabertos do bebê é mais comum, facilitando a respiração oral.

Leite et al. (13), observando 100 crianças com idade entre 2 e 11 anos, verificaram que as que receberam mamadeira exibiram 40% a mais de respiração oral.

A criança que recebe aleitamento natural nos primeiros meses de vida tem maior possibilidade de ser um respirador nasal, assim como a falta de amamentação natural pode ser um dos fatores que contribuem para o surgimento da respiração oral ou oronasal (60).

Alteração motora-oral

A alteração motora-oral compromete as funções de respiração, mastigação e deglutição, podendo estar associada a outros problemas. Esta alteração pode decorrer do uso de mamadeiras e dos hábitos de sucção não-nutritiva, provocando modificações na respiração e má oclusão.

A Associação Americana da Fonoaudiologia (ASHA) (62) define esta alteração como distúrbio miofuncional oral, que inclui anteriorização anormal da língua, incompetência labial, podendo incluir alterações fonoarticulatórias.

Como aponta Junqueira (63), a amamentação promove estímulos adequados à musculatura da língua, favorecendo o fortalecimento da mesma e a conseqüente produção correta dos sons da fala, uma vez que alterações da fala podem ser decorrentes do mau funcionamento das estruturas orais.

Barbosa e Schnonberger (45) verificaram, entre crianças não amamentadas ou desmamadas precocemente, que 34% apresentaram alterações fonoarticulatórias e 33%, alteração na deglutição.

Num estudo com recém-nascidos, Cattoni et al. (64) verificaram que o aleitamento natural exclusivo favorece a sucção normal, e o aleitamento misto induz alterações na sucção, que podem levar à ineficiência do padrão motor-oral da criança.

Além do desmame precoce, demonstrou-se que outros fatores podem interferir no estabelecimento de padrões motores-orais e da oclusão dentária (49), como, por exemplo, os genéticos, que são menos influenciáveis pelo trabalho do profissional de saúde, e os ambientais.

Conclusões

Tendo em mente o fato de que o desmame precoce traz conseqüências no desenvolvimento motor-oral, na oclusão, na respiração e nos aspectos motores-orais da criança, ressalta-se a importância do aleitamento materno. O incentivo a essa prática e o adequado padrão de sucção é a base para a prevenção de alterações fonoaudiológicas no que se refere ao sistema motor-oral.

 

Flávia Cristina Brisque Neiva - Fonoaudióloga com Especialização em Saúde Coletiva, Mestre e Doutoranda na FM-USP, bolsista da FAPESP.

Débora Martins Cattoni - Fonoaudióloga com Especialização em Saúde Coletiva e Mestranda na FM-USP.

José Lauro de Araújo Ramos - Prof. Titular de Pediatria da FM-USP.

Hugo Issler - Prof. Dr. Departamento de Pediatria da FM-USP.

Sobe

Endereço para correspondência:
Dra. Flávia Cristina Brisque Neiva
Rua Paschoal Guzzo, 530 – Jardim Messina
CEP 13207-560 – Jundiaí, SP
Fone: 4522.4495 – Fax: 4584.0836
E-mail: flaviacbn@yahoo.com.br

Referências bibliográficas

Título do artigo: "Desmame precoce: implicações para o desenvolvimento motor-oral "

1. Harfouche JK. The importance of breast-feeding. J Trop Pediat 1970;16:135-75.        [ Links ]

2. Mata LJ, Urritia JJ. Intestinal colonization of breast-fed children in a rural area of low socioeconomic level. Ann N Y Acad Sci 1971;176:93-109.         [ Links ]

3. Mata LJ, Wyatt RG. The uniqueness of human milk: host resistance to infection; symposun. Am J Clin Nutr 1971;24:976-86.        [ Links ]

4. Jelliffe DB, Jelliffe EFP. The uniqueness of human milk: an overview; symposium. Am J Clin Nutr 1971;24:1013-24.         [ Links ]

5. UNICEF Reunião Conjunta OMS/UNICEF sobre Alimentação de Lactentes e Crianças na Primeira Infância. Genebra, 1979.        [ Links ]

6. Dodge JA, Morison S, Lewis PA. Cystic fibrosis in the United Kingdom, 1968-1988: incidence, population and survival. Pediatr Perinat Epidemiol 1993;7:157-66.         [ Links ]

7. Madl PE. The importance of breast-feeding [editorial]. Assign Child 1981;55/56:9-16.         [ Links ]

8. Walker WA. Breast milk and the prevention of neonatal and preterm gastrointestinal disease states: A new perspective. Chung-Hua Min Kuo Hsiao Erh Ko i Hsueh Hue Tsa Chih 1997;38:321-31.         [ Links ]

9. Hampton SM. Prematurity, immune function and infant feeding practices. Proc of the Nutr Soc 1999;58:75-8.         [ Links ]

10. Bonati M, Campi R. Breastfeeding and infant illness. Am J Public Health 2000;90:1478-9.         [ Links ]

11. Proença MG. Sistema sensório-motor-oral. In: Kudo AM, coordenador. Fonoaudiologia, fisioterapia, e terapia ocupacional em pediatria. 2ª ed. São Paulo: Savier; 1994. p. 115-24.        [ Links ]

12. Andrade CRF. Ações fonoaudiológicas na saúde materno-infantil. In: Andrade CF, organizador. Fonoaudiologia em berçário normal e de risco. São Paulo: Editora Lovise; 1996. p. 25-42.        [ Links ]

13. Leite ICG, Rodrigues CC, Faria AR, Medeiros GV, Pires LA. Associação entre aleitamento materno e hábitos de sucção não-nutritivos. Revista da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas 1999;53:151-5.        [ Links ]

14. Morris S, Klein M. Pre-feeding skills: a comprehensive resource for feeding development. Tucson: Therapy skill builders; 1987.         [ Links ]

15. Stevenson RD, Allaire JH. The development of normal feeding and swallowing. Pediatr Clin North Am 1991;38:1439-53.         [ Links ]

16. Andrade CRF, Gullo A. As alterações do sistema motor-oral dos bebês como causa das fissuras/rachaduras mamilares. Pediatria (São Paulo) 1993;15:28-33.         [ Links ]

17. Xavier C. Avaliação da alimentação de recém nascidos em fase de hospitalização (escala de avaliação motora oral da Irmandade Santa Casa de Misericórdia de São Paulo). Pró-Fono Revista de Atualização Científica 1995;7:69-74.        [ Links ]

18. Andrade CRF, Garcia SF. A influência do tipo de aleitamento no padrão de sucção dos bebês. Pró-Fono Revista de Atualização Científica 1998;10:40-4.        [ Links ]

19. Neiva FCB. Análise do padrão de sucção em recém-nascidos de termo e pré-termo com idade gestacional de 34 a 36 6/7 semanas [dissertação]. São Paulo, Universidade de São Paulo; 1999.         [ Links ]

20. Ramsay M, Gisel EG. Neonatal sucking and maternal feeding practices. Dev Med Child Neurol 1996;38:34-47.        [ Links ]

21. Mathew OP. Science of bottle feeding. J Pediatr 1991;119:511-91.         [ Links ]

22. Eishima K. The analysis of sucking behavior in newborn infants. Early Hum Dev 1991;27:163-73.        [ Links ]

23. Glass RP, Wolf LS. A global perspective on feeding assessment in the neonatal intensive care unit. Am J Occup Ther 1994;48:514-26.        [ Links ]

24. Lawrence R. The clinician's role in teaching proper infant feeding techniques. J Pediatr 1995;126:112-7.        [ Links ]

25. Phillips V. Correcting faulty suck: tongue protusion and the breastfed infant [letter]. Med J Aust 1992;156:508.         [ Links ]

26. McBride MC, Danner SC. Sucking disorders in neurologically impaired infants: assessment and facilitation of breastfeeding. Clin Perinatol 1987;14:109-30.         [ Links ]

27. Nowak AJ, Smith WL, Erenberg A. An imaging evaluation of breast-feeding and bottle-feeding systems. J Pediatr 1995;126:130-4.         [ Links ]

28. Bu'Lock F, Woolridge MW, Baum JD. Development of co-ordination of sucking, swallowing and breathing: ultrasound study of term and preterm infants. Dev Med Child Neurol 1990;32:669-78.        [ Links ]

29. Bosma JF, Hepburn, LG, Josell SD; Baker, K. Ultrasound demonstration of tongue motions during suckle feeding. Dev Med Child Neurol 1990;32:223-9.        [ Links ]

30. Smith WL, Erenburg A, Nowak A, Franken EA. Physiology of sucking in the normal term infant using real-time US. Radiology 1985;156:379-81.        [ Links ]

31. Rudolph CD. Feeding disorders in infants and children. J Pediatr 1994;125:116-24.         [ Links ]

32. Erenberg A, Smith WL, Nowak AJ, Franken EA. Evaluation of sucking in the breast-fed infant by ultrasonography [abstract]. Pediatr Res 1986;20:409.        [ Links ]

33. Hayashi Y, Hoashi E, Nara, T. Ultrasonographic analysis of sucking behavior of newborn infants: the driving force of sucking pressure. Early Hum Dev 1997;49:33-8.        [ Links ]

34. Nowak AJ, Smith WL, Erenberg A. An imaging evaluation of artificial nipples during bottle-feeding. Arch Pediatr Adolesc Med 1994;148:40-3.        [ Links ]

35. Hernandez AM. Atuação fonoaudiológica em neonatologia: uma proposta de intervenção. In: Andrade CRF, organizador. Fonoaudiologia em Berçário Normal e de Risco-Série Atualidades em Fonoaudiologia. São Paulo: Editora Lovise; 1996 p.43-98.        [ Links ]

36. Carvalho GD. A amamentação sob a visão funcional e clínica da odontologia. Revista Secretários de Saúde 1995;10:12-3.        [ Links ]

37. Subtleny JD. Examination of current philosophies associated with swallowing behavior. Am J Orthodon 1965;51:161-82.        [ Links ]

38. Garliner D. The speech therapist's role in myo-Functional therapy. NY Dent J 1966;32:169-72.        [ Links ]

39. Bianchini EMG. A cefalometria nas alterações miofuncionais orais - diagnóstico e tratamento fonoaudiológico. 4a ed. Carapicuiba: Pró-Fono Departamento Editorial; 1998.         [ Links ]

40. Rodrigues KA. Mordida aberta anterior dentoalveolar: critérios de seleção para indicação de grade palatina e/ou encaminhamento fonoaudiológico. Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia 1999;5:42-9.        [ Links ]

41. Bönecker MJS, Fonseca YPC, Duarte DA. Protocolo básico de orientação para exame clínico em bebês. Revista da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas 1999;53:103-7.        [ Links ]

42. Padovan BAE. Deglutição atípica. Separata do artigo reeducação mioterápica nas pressões atípicas de língua: diagnóstico e terapêutica. Rev Ortodontia 1976;9:5-60.        [ Links ]

43. Straub WJ. Malfunction of the tongue. Part II. Am J Orthodon 1961;47:596-617.        [ Links ]

44. Davis DW, Bell PA. Infant feeding practices and occlusal outcomes: A longitudinal study. J Can Dent Assoc 1991;57:593-4.        [ Links ]

45. Barbosa C, Schnonberger MB. Importância do aleitamento materno no desenvolvimento da motricidade oral. In: Marchesan IQ, Zorzi JL, Gomes IC, editores. Tópicos em Fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 1996. p. 435-46.        [ Links ]

46. Ogaard B, Larsson E, Lindsten R. The effect of sucking habits, cohort, sex, intercanine arch widths, and breast or bottle feeding on posterior crossbite in Norwegian and Swedish 3-year-old children. Am J Orthod Dentofacial Orthop 1994;106:161-6.        [ Links ]

47. Black B, Kövesei E, Chusid IJ. Hábitos bucais nocivos. Ortodontia 1990;23:40-4.        [ Links ]

48. Moresca CA, Feres MA. Hábitos viciosos bucais. In: Petrelli E, editor. Ortodontia para fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 1994. p. 163-76.        [ Links ]

49. Legovic M, Ostric L. The effects of feeding methods on the growth of the jaws in infants. J Dent Child 1991;58(3):253-4.        [ Links ]

50. Serra-Negra JMC, Pordeus IA, Rocha JF. Estudo da associação entre aleitamento, hábitos bucais e maloclusões. Rev Odontol Univ São Paulo 1991;11:79-86.        [ Links ]

51. Ferreira MIDT, Toledo, OA. Relação entre tempo de aleitamento materno e hábitos bucais. Revista ABO Nacional 1997;5:317-20.        [ Links ]

52. Pierotti SR. Amamentar: influência na oclusão, funções e hábitos orais. Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial 2001;6:91-8.        [ Links ]

53. Labbok MH, Hendershot GE. Does Breast-feeding protect against malocclusion? An analysis of the 1981 child health supplement to the national health interview survey. Am J Prev Med 1987;3:227-22.        [ Links ]

54. Meyers A, Hertzbwerg J. Bottle-feeding and malocclusion: is there an association? Am J Orthod Dentofacial Orthop 1988;93:149-52.         [ Links ]

55. Degano MP, Degano RA. Breastfeeding and oral health. A primer for the dental practitioner. NY State Dent J 1993;59:30-2.         [ Links ]

56. Paunio P, Rautava P, Sillanpaa M. The Finnish Family Competence Study: the effects of living conditions on sucking habits in 3-year-old Finnish children and the association between these habits and dental occlusion. Acta Odontol Scand 1993;51:23-9.        [ Links ]

57. Fagundes ALA, Leite ICG. Amamentação e maloclusão: revisão da literatura. J Bras de Fonoaudiologia. 2001;2:229-32.        [ Links ]

58. Urias D. Mordida aberta anterior. In: Petrelli E, editor. Ortodontia para fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 1994. p. 177-93.         [ Links ]

59. Tomé MC., Farret MMB, Jurach EM. Hábitos orais e maloclusão. In: Marchesan IQ, Zorzi JL, Gomes IC. Tópicos em fonoaudiologia. São Paulo: Lovise; 1996. p. 97-109.        [ Links ]

60. Fayyat ELRC. A influência de hábitos orais e respiração bucal no aparecimento de mordida aberta anterior em crianças com dentição decídua. Revista Fono Atual 2000;12:36-40.        [ Links ]

61. Lusvarghi, L Identificando o respirador bucal. Revista da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas. 1999;53:265-73.        [ Links ]

62. ASHA - American Speech-Language-Hearing Association. The role of speech-language pathologist in assessment and management of oral myofunctional disorders. Asha 1990;31:7.        [ Links ]

63. Junqueira P. Amamentação, hábitos orais e mastigação. Orientações, cuidados e dicas. Rio de Janeiro: Ed. Revinter; 2000.        [ Links ]

64. Cattoni DM, Neiva FCB, Zackiewicz DV, Andrade, CRF. Fonoaudiologia e aleitamento materno: algumas contribuições. São Paulo. Pró-Fono Revista de Atualização Científica 1998;10:45-50.         [ Links ]

Sobe

Entre em contato