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Ciencia y enfermería - CALIDAD DE VIDA DE LOS PORTADORES DE HERIDA EN MIEMBROS INFERIORES - ULCERA DE LA PIERNA

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Ciencia y enfermería

versión On-line ISSN 0717-9553

Cienc. enferm. v.14 n.1 Concepción jun. 2008

http://dx.doi.org/10.4067/S0717-95532008000100006 

 

CIENCIA y ENFERMERÍA XIV (1): 43-52, 2008

INVESTIGACIONES

 

QUALIDADE DE VIDA DOS PORTADORES DE FERIDA EM MEMBROS INFERIORES - ÚLCERA DE PERNA

LIFE QUALITY OF PEOPLE WITH LOWER LIMB ULCERS - LEG ULCER

CALIDAD DE VIDA DE LOS PORTADORES DE HERIDA EN MIEMBROS INFERIORES - ULCERA DE LA PIERNA

 

LUCINÉIA DA SILVA LUCAS*, JÚLIA TREVISAN MARTINS** e MARÍA LÚCIA DO CARMO CRUZ ROBAZZI***

* Enfermeira Especialista em feridas, professora do Curso Técnico em Enfermagem do Colegio Educacional da cidade de Maringá-Pr. E-mail lucinéia.lucas@bol.com.br
** Professora Mestre do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina, Doutoranda do Programa Interunidade da Escola de Enfermagem de Ribeiráo Preto-USP. Centro Colaborador para Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem da OMS/OPS. E-mail jtmartins@uel.br
*** Professora Titular da Escola de Enfermagem de Ribeiráo Preto-USP, Centro Colaborador para Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem da OMS/OPS. E-mail avrmlccr@eerp.usp.br


RESUMO

Este trabalho teve como objetivo compreender o significado de qualidade de vida para de individuos portadores de feridas crónicas em membros inferiores, identificando quais aspectos de suas vidas sofreram maior impacto negativo com a finalidade de compreender o grau de satisfação e insatisfação com a vida frente aos possíveis problemas enfrentados. Trata-se de um estudo de natureza não experimental do tipo descritivo, com abordagem quali-quantitativa. Constituíram-se sujeitos da pesquisa 15 pessoas que realizavam curativos ñas Unidades Básicas de Saúde na cidade de Maringá-Pr. Os resultados demonstraram que os entrevistados relacionaram o significado de qualidade de vida, mais específicamente a tres fatores: ser saudável; ter boas condições económicas e ter a familia sempre presente.

Palavras chaves: Ulcera da perna, qualidade de vida, satisfação pessoal.


ABSTRACT

This study aimed to understand the meaning of life quality for people with chronic ulcers in the lower limbs. At the same time it tries to identify which aspects of their lives had negatively changed the most in order to understand their satisfaction and dissatisfaction levéis, towards the problems they might have faced. It is a non-experimental study with a descriptive, quality and quantitative approach. Fifteen research subjects who performed cures in the Basic Health Units in the city of Maringá-Pr., took part in the study. Results showed that those interviewed related the meaning of quality of life, more specifically to three factors: be healthy, have good eco-nomic conditions and family always present.

Key words: Life quality, personal satisfaction, leg ulcer.


RESUMEN

Este trabajo tuvo como objetivo comprender el significado de la calidad de vida para los individuos portadores de heridas crónicas en miembros inferiores, identificando cuáles aspectos de su vida han sufrido mayor impacto negativo, con la finalidad de comprender el grado de satisfacción e insatisfacción frente a los posibles problemas enfrentados. Se trata de un estudio de naturaleza no experimental del tipo descriptivo, con abordaje cuali-cuantitativo. Se constituyeron sujetos de la investigación 15 personas que se realizaban curaciones en las Unidades Básicas de Salud en la ciudad de Maringá-Pr. Los resultados demostraron que los entrevistados relacionaron el significado de calidad de vida, más específicamente a tres factores: ser saludable, tener buenas condiciones económicas y tener la familia siempre presente.

Palabras claves: Calidad de vida, satisfacción personal, úlcera de la pierna.


 

INTRODUÇÃO

O aumento da incidencia de feridas na popu-lação é um fato conhecido pelos profissionais de saúde e tem proporcionado varias discus-sões sobre o assunto. O cuidado a saúde dos individuos portadores de feridas é um problema de grandes dimensões representando um desafio a ser enfrentado cotidianamente, tanto por quem vivencia tal problema quan-to para os cuidadores.

Viver com a condição de ter urna ferida, traz urna serie de mudancas na vida das pes-soas e por conseqüéncia na de seus familiares, surgindo dificuldades que muitas vezes nem a pessoa, a famüia e a equipe de saúde estáo preparados para ajudar e compreender todos os aspectos que envolvem este problema.

O cuidado com as feridas tem sido um campo de atuação da enfermagem, em que os enfermeiros procuram aperfeicoar o conhe-cimento para aumentar a competencia, a fim de que a prática do cuidar não se torne apenas urna mera troca de curativos, mas urna terapéutica baseada no entendimento holís-tico do homem (Yamada, 1999).

Os avancos no tratamento das feridas per-mitiram urna evolução na assisténcia as pes-soas, promovendo resultados evidentes. Varios trabalhos de pesquisa foram elaborados para identificar o melhor tratamento, porém, destaca-se a necessidade de compreender o complexo processo de cicatrização, bem como, os aspectos bio-psico-social que envol-ve esses individuos (Borges, Saar, Lima, Gomes & Magalháes, 2001).

O crescimento na área celular, ñas últimas tres décadas tem guiado os profissionais de saúde que atuam na prevenção e cuidado da ferida a rever definições e condutas de uso tradicionais, muitos dos quais utilizado desde a antiguidade e, ácima de tudo reconhecer que a lesáo é apenas um dos aspectos de um todo integral, que é o ser humano (Santos, 2001).

Urna ferida pode não ser apenas urna lesáo física, mas algo que dói sem necessaria-mente precisar de estímulos sensoriais, urna marca, urna perda irreparável ou urna doen-9a incurável. Ela fragiliza e muitas vezes inca-pacitam o ser humano para diversas ativida-des, em especial para as laborativas.

Os profissionais na maioria das vezes ao prestar assisténcia a pessoa com urna ferida esquecem que esta lesáo pode estar interfe-rindo na sua qualidade de vida, em sua autõestima e conseqüentemente prejudicando o seu emocional. A qualidade de vida é construtiva quando favorece a produtividade, o bem estar e a auto-realização, é destrutiva quando não propicia estes aspectos (Marinho, 1992).

O tema qualidade de vida está sendo mui-to abordado, tendo em vista a expectativa de vida mais prolongada, o que tras á tona ques-tões relacionadas ao aumento do número de anos vividos. Este termo tem suscitado muitas reflexões e tem sido objeto de muitas dis-cussões, urna vez que incorpora elementos de varias áreas como á sociología, antropología, filosofía, saúde, economía, psicología e muitas outras (Beck, Budó & Goncalez, 1999).

Muitos sao os conceitos de qualidade de vida. Ela pode ser compreendida como um construto multidimensional que inclui o fun-cionamento físico, psicológico e social, na qual a funcionalidade global do homem é de extrema importancia tanto para a prevenção como para a intervenção na saúde destes individuos (Longo Jr, Buzatto, Fontes, Miyazaki &Godoy,2005).

A expressáo qualidade de vida pode também ser interpretada como o valor atribuido a vida, ponderado pelas deteriorizações funcionáis; as percepcões e condicões sociais que sao induzidas pela doenca, agravos, tratamentos; e a organi-zação política e económica do sistema assisten-cial (Auquier, Simeoni & Mendizabal, 1997).

Para Gold (1996) os conceitos de qualidade vida indicam sempre a percepção da saúde, as funções sociais, psicológicas e físicas, bem como os danos a elas relacionados.

Os processos desgastantes e potencializa-dores da qualidade de vida ocorrem em especial no trabalho, mas não isoladamente, eles perpassam pela vida social, familiar e pesso-al. Em cada ocasiáo, prevalece um dos determinantes dessa contradição, que culmina com um determinado processo saúde-doenca do individuo (Rocha, 2002).

Assim sendo, para melhorar a qualidade de vida da pessoa portadora de ferida de perna é necessário amparo e estímulo para poder superar as dificuldades do ambiente na sociedade, quer seja lazer, trabalho, fortalecí -mento físico, psíquico e emocional.

Conjugar urna doenca crónica com a qualidade de vida tem sido um desafio entre os profissionais da saúde, pessoas que vivenciam a doenca e seus familiares. Pesquisadores do Núcleo em Situações Crónicas de Saúde refe-rem que mesmo não acontecendo a alteração do quadro da doenca, é possível que os individuo nessa condição mantenham-se saudá-veis, desde que enfrentem os desafios que advém da doenca, procurando conciliarem urna relação harmoniosa consigo, com os outros e com o mundo (Silva, Vieira, Koschnik, Azevedo & Souza, 2002).

Desta forma, é necessário que compreen-damos que diferentes fatores interferem na qualidade de vida dos individuos. Dentro dos indicadores objetivos estáo as condicões de saúde, os aspectos do ambiente físico, o trabalho, o lazer, as oportunidades e outros. os subjetivos abrangem termos como felici-dade, satisfação com ávida, bem-estar, ou seja, definem mais precisamente a experiencia dos individuos, pois leva em consideração o significado que as pessoas atribuem as suas experiencias (Beck etal, 1999).

De acordó com Minayo, Hartz e Buss (2000) qualidade de vida é urna noção eminentemente humana, que tem sido aproximada ao grau de satisfação encontrada na vida familiar, amoroso, social, laboral, ambiental e á pró-pria estética existencial.

As pesquisas na área da qualidade de vida possibilitam obter informações que podem auxiliar os profissionais de saúde a despertaren! para a importancia do vínculo profissio-nal com a finalidade de ajudar os doentes/fa-miliares na tomada de decisóes.

Assim sendo, a equipe de enfermagem deve estar preparada para estimular os individuos a falar sobre seus sentimentos, procurando orientá-los para as possíveis mudancas que po-deráo enfrentar (Michelone & Santos, 2004).

Na área de enfermagem as pesquisas em relação á qualidade de vida sao restritas, e os estudos realizados trazem abordagens variadas, dificultando a comparação de seus resultados (Carandina, 2003; Cunha, 2004).

Diante do exposto o presente estudo teve como objetivo: caracterizar os sujeitos da pesquisa sociodemograficamente; identificar o conhecimento e desconhecimento de sua patología, conhecer o significado de qualidade de vida para os individuos portadores de fe-ridas crónicas em membros inferiores; identificar quais aspectos de sua vida sofreu mai-or impacto negativo e identificar o grau de satisfação e insatisfação com a vida frente aos possíveis problemas enfrentados por ser portador de ferida.

METODOLOGÍA

Tratou-se de um estudo não experimental do tipo descritivo com abordagem quali-quan-titativo, realizado na cidade de Maringá, situada no norte do Estado do Paraná.

Participaram da pesquisa 15 pessoas portadoras de feridas crónicas em membros inferiores, de diferentes etiologías, que realiza-vam curativos ñas Unidades Básicas de Saúde (UBS) lotadas na Secretaria Municipal de Saúde que, após terem recebido as orientacões pertinentes ao estudo, assinaram o termo de compromisso livre e esclarecido. Essa investi-gação foi aprovada pelo Comité da Universi-dade Estadual de Londrina.

Para fazer parte da pesquisa estabeleceram-se como criterios de inclusáo que os pacientes deveriam: ter no mínimo 18 anos, aceitar participar voluntariamente do estudo, ser portador de feridas crónicas em membros inferiores e estar orientado para compreen-der os questionamentos.

A coleta dos dados foi realizada pelas autoras, entre os meses de novembro e dezem-bro de 2004, ñas próprias UBS, durante o período que antecedía o procedimento ou logo após.

Para a coleta dos dados foi elaborado um instrumento composto por tres partes. A pri-meira com identificação sociodemográfica. A segunda parte constou de dados relativos ao diagnóstico da ferida. A terceira destinou-se a obtenção dos dados específicos da qualida-de de vida como as seguintes categorías: significado de qualidade de vida para o portador de ferida; impactos negativos por ser portador da ferida e grau de satisfação e insatisfa-ção enfrentada por ser um portador de ferida.

Os discursos foram gravados, transcritos e submetidos ao método de análise de conteú-do que é o agrupamento de técnicas de análi-ses das comunicações, visando obter, por con-dutas sistemáticas e objetivas de descrição dos conteúdos das mensagens, indicadores que permitam a indução de conhecimentos relativos as condições de produção-recepção, entendidas como variáveis inferidas destas mensagens (Bardin, 1988).

A análise de conteúdo compreendeu tres fases: a pré-análise, a exploração do material e o tratamento dos resultados. A pré-análise tratou-se de um trabalho de classificação; a segunda fase foi definida pela estruturação dos dados relevantes, realizando-se a decomposi-ção dos dados brutos em unidades de significado e categorias; o tratamento dos resultados teve como finalidade interpretá-los, sem buscar urna relação causa e efeito, mas os pos-síveis significados para o fenómeno investigado (Bardin, 1988).

Os dados quantitativos foram sistematizados segundo as freqüéncias absoluta (n) e percentual (%) e apresentados de forma des-critiva as características pessoais dos sujeitos, visando conhecer melhor a população do estudo.

RESULTADOS

Dados quantitativos

Características sociodemográfica: Foram entrevistados 15 sujeitos. Desses 53, 3% eram do sexo masculino e 46,7% feminino. Predo-minou a faixa etária feminina compreendida entre 41 a 60 anos (40%); já no sexo masculino a faixa etária predominante entre 61 a 80 anos (26,6%).

Quanto ao estado civil, 46,6% eram casados, 20% solteiros, 13,4% divorciados, 13,4% viúvos e 6,6% referiram morarem juntos. Com relação ao grau de instrução 53,3% afir-maram ter o primeiro grau completo, 26,6% tinham o segundo grau completo, 13,4% eram analfabetos e 6,7% referiram ter curso superior.

Com relação a profissáo os dados demonstraran! que 40% tinham ocupações de natu-reza manual (cozinheira, torneiro mecánico, avicultor doméstica) e 60% expressaram não terem ocupação definida. A renda familiar foi de um salario mínimo para 26,6%, dois salários mínimos para 20%, tres ou mais salarios mínimos para 13,4% e 40% dos sujeitos não informaram sua renda.

Diagnóstico da ferida

De acordó com o diagnóstico da ferida, evi-denciou-se a existencia de úlceras vasculogé-nicas (úlcera de perna) no total de (66,6%), acidentes (20%) e complicações de diabetes (13,4%). Segundo o tempo de presenca da ferida, a maioria encontrava-se na faixa de 1 a 10 anos (46,6%). Os síntomas referidos pelos entrevistados foram predominantemente, dor e edema (40%) e somente dor (33,3%). Dado interessante é o fato que dos sujeitos entrevistados (26,7%) afirmaram não sentir nada. Entretanto esse dado não pode ser considerado real, urna vez que os mesmos sujeitos, quando interrogados sobre a capacidade de realizar tarefas relataram que a ferida os prejudicava/limitava de alguma forma. Assim sendo, apenas um paciente cujo diagnóstico médico era de neuropatía, afirmava não sentir dor no local da ferida. Dessa forma, a presenca de dor e suas conseqüéncias foram evidenciadas em 93,3% dos sujeitos.

Dados qualitativos

Decorrentes do processo de análise dos dados foram identificados 2 categorías sao elas informação de sua patología, e qualidade de vida. Essas categorías resultaram em subcate-gorias que apresentamos a seguir como foram constituidas:

Informação de sua patologia

De acordó com o conhecimento da historia de como surgiu sua ferida pode-se observar que nos discursos houve urna diversidade, ou seja, alguns demonstraran! estar familiarizados com o diagnóstico e outros desconheciam o diagnóstico específico da ferida. Esta diversidade pode ser verificada ñas subcatego-rias:

Conhecimento: urnas pequeñas partes dos sujeitos conhecem a sua doenca e foi identificada em falas como: "Apareceu urna flebite"; "Eu tenho úlcera varicosa, e agora deu flebite"; "Tenho neuropatía".

Desconhecimento: as falas da grande maioria dos pesquisados demonstraram que des-conheciam sua patologia: "Batí a perna e ar-ruinou... nunca mais sarou já fiz de tudo"; "Líquido errado que aplicaram ñas minhas vari-zes"; "Só machuquei, virou urna alergia e viro u urna ferida brava... no comeco cocava muito"; "não sei nada sobre essa ferida que nunca sara".

Qualidade de vida

Ao serem entrevistados foram apontadas as seguintes subcategorias que os sujeitos relacionaran! como sendo importante ou não para se ter qualidade de vida:

Saúde: surgiram na grande maioria as seguintes falas: "Saúde, saúde em primeiro lugar"; "Ter saúde, porque se não tem saúde, não adianta o dinheiro"; "Bastante saúde é a me-lhor coisa, depois o dinheiro né... a vida com saúde é tudo para mim"; "Saúde, quem tem saúde tem tudo isso é... ter urna boa de vida".

Familia: com relação a este questionamen-to todos os entrevistados apontaram como es-sencial para suas vidas a famüia, que podemos observar pelas falas: "Tenho oito filhos e todos querem cuidar de mim fico muito feliz, minha vida é boa porque tenho familia que me ajuda"; "Se eu não tivesse minha famüia não poderia ficar de repouso... me ajudam muito... não seria nada sem eles"; "A minha famüia é tudo para mim pois agora não pos-so fazer quase nada essa doenca não deixa... entáo preciso deles"; "Mesmo antes de ter doenca jáacha que afamüiaé importante... agora sem eles não sou nada".

Boas condicões sócio-económicas: na totali-dade dos os entrevistados qualidade de vida está associada as boas condicões económicas que foram desveladas ñas falas:

"não faltar nada ter conforto até hoje tá tudo bem"; "Ter casa própria para morar, é difícil viver de aluguel para alguém como eu que vive de remedio"; "Eu já tive boa qualidade quando não dependia financei-ramente de ninguém... hoje dependo... en-táo minha qualidade de vida fica ruim porque dependo dos outros".

Vida cotidiana: os sujeitos referiram na grande maioria que trabalhar e o lazer foram extremamente prejudicados devido a ferida conforme podemos revelar nos depoimentos:

"não trabalho mais não vou para bailes"; "não posso trabalhar, né filha, estou fazen-do tratamento quem sabe mais para frente né"; "Interferiu em muitas coisas, mas principalmente no trabalho, pois não posso mais trabalhar"; "A gente não tem descanso, dói não posso fazer o servico de acor-do"; "Interferiu em muito porque não dei-xa eu trabalhar, mas não poso reclamar porque gracas a Deus eu estou andando"; "Atrapalhou em tudo não dá para fazer nada fico dependendo dos outros inclusive financeiramente porque não consigo trabalhar"; "Em participar mais da vida dos meus filhos na escola não dá para ir ñas reunióes ta difícil"; "Interferiu em tudo não pude fazer mais nada tenho crianca pequeña para cuidar e não dá"; "Atrapalhou porque caminhar não dá, eu dancava embail,e tocava e trabalhava depois dessa ferida não posso fazer mais nada".

Satisfação: foi demonstrada nos relatos a seguir: "Estou satisfeita sim, claro que as ve-zes fico meio... mas logo me vem na cabeca que apesar de tudo tenho que estar satisfeita, tenho famüia, tenho casa"; "Estou satisfeita, gracas a Deus, porque ainda posso andar, não estou com doenca grave, não vou morrer por causa da ferida"; "Apesar da doenca estou sa-

tisfeita porque sei que tem gente muito pior que está até para morrer... eu tenho famüia"; "A ferida atrapalha mas não estou insatisfeita não porque ainda posso fazer urna coisinha ou outra".

Asíalas queindicam insatisfação: "não pos-so estar satisfeito, minha vida é do hospital para casa, de casa para hospital ou para o postinho de saúde"; "Perdi a satisfação com a vida pois não posso fazer mais um montáo de coisas que podia fazer antes de ter esta ferida"; "O que mais me incomoda é não poder trabalhar eu era urna pessoa que fazia de tudo"; "Sabe fia não trabalhar é muito chato, ainda mais por causa de urna ferida".

DISCUSSÃO

Os dados quantitativos relacionados á ocu-pação, idade, diagnóstico da ferida, e condicões económicas, estáo interligados. As feri-das em membros inferiores, surgem na po-pulação mais idosa, com atividades laborati-vas que propiciam o surgimento desta doenca e tendem a cicatrizar mais lentamente, trazendo maiores complicações devido ao comprometimento imunológico, circulatorio, respiratorio, nutricional e de hidratação, po-dendo aumentar o risco de lesáo na pele, dores e retardar a cicatrização (Hess, 2002).

Com relação aos resultados qualitativos sabe-se da complexidade para a análise de valores subjetivos que sao dados ao conceito da qualidade de vida. Procurou-se aliar as referencias teóricas relacionando-as aos dados que foram encontrados ñas falas das pessoas entrevistas.

Verificou-se que a palavra saúde apareceu como sinónimo de qualidade de vida. A importancia da saúde é o ser saudável no mundo que tem permeado as mais diversas con-ceituações de qualidade de vida e é um elemento fundamental e decisivo, quando se quer referir á aspiração de ser feliz (Suva, Sou-za, Francioni & Meirelles, 2005).

Fica evidente o importante papel segundo Silva et al. (2002), dos profissionais de saúde no desenvolvimento de urna assisténcia integral, destacando a importancia do suporte dado pela enfermagem por meio de informa-cões, análises críticas e discussões de alternativa de enfrentamento, para contribuir com a melhora da saúde e consequentemente na qualidade de vida desses individuos.

Em outros depoimentos percebemos que o núcleo familiar foi de fundamental importancia para a qualidade de vida do ser humano. Este dado demonstra o que a saúde para esses sujeitos comeca no lar, continua e se mantém no trabalho, porém associam as boas condicões de económicas.

O principal fator determinante de um alto grau de qualidade de vida parece ser o convivo com a famüia e com a vida social. A importancia da famüia na qualidade de vida dos individuos, o meio ambiente, lazer, saúde, educação, trabalho, cultura, satisfação insatis-fação sao aspectos fundamentáis para esta qualidade de vida (Najman & Levine, 1981).

Para Barbosa, Aguilar e Boemer (1999) o fato das pessoas receberem apoio das pessoas queridas faz com que o individuo doente sen-ta-se melhor, a doenca de certa forma é tambera da familia e, quando os familiares estao presentes os problemas podem ser diluidos.

Se entendermos qualidade de vida como subjetivo, dinámico, que se modifica no pro-cesso de viver. A satisfação com a vida e a sen-sação de bem-estar pode, muitas vezes, ser um sentimento momentáneo. Porém, é necessá-rio investir na conquista de urna vida com qualidade, que pode ser construida e consolidada, num processo que incluí a reflexáo sobre o que é definitivo para a qualidade de vida e o estabelecimento de metas a serem alean-cadas, tendo como inspiração a vontade de ser feliz (Nordenfelt, 1994).

Os achados no estudo demonstraram que a qualidade de vida está também relacionada com boas condicões socioeconómicas. Esses resultados váo de encontró ao entendimento de que a qualidade de vida pode incluir indicadores objetivos como boas condicões económicas (salario, moradia, lazer, etc.) e indicadores subjetivos que estáo relacionados á experiencia de vida de cada um (Oleson, 1990).

Ao analisarem-se os dados referentes á interferencia da ferida em suas vidas, há um destaque relacionado ás atividades profissionais, ou seja, com o trabalho em si. Esses depoimentos levaram ao entendimento que o trabalho é um elemento fundamental para a saúde das pessoas. Através das atividades laboráis o individuo busca o equilibrio físico, mental, social e como conseqüéncia a satisfação com a vida. Assim, não se pode deixar de correlacionar á qualidade de vida com o trabalho.

Por meio do trabalho o homem pode-se desenvolver e realizar como pessoa, pois ao mesmo tempo em que é urna tarefa de longo alcance que se reflete e influencia em todos os aspectos da conduta do homem, porque os individuos ao desempenhá-lo não somen-te ultrapassam as suas habilidades intelectu-ais e físicas, mas, também as suas individualidades (Fernández & Paravic, 2003).

É de extrema importancia que os profissionais possam programar urna assisténcia individualizada e integral, estando atentos para a questáo do trabalho, não somente pelos aspectos financeiros, mas, principalmente, pela problemática envolvida, como, a presenca da ociosidade, o sentimento de inutilidade, desvalorizado, podendo refletir em sentimentos de ser um peso/fardo para os familiares (Carreira & Marcon, 2003).

De acordó com Marinho (1992) a qualidade de vida é construtiva quando favorece a produtividade, o bem estar e a auto-realiza-ção e deve estar em relação íntima com o significado do trabalho, pois havendo qualidade de vida o homem pode buscar meios para o processo de trabalho que lhe dé a auto-reali-zação, fator essencial na vida humana.

O trabalho é entendido como forca, tempo e habilidade que se vende para obter condicões de lazer, morar, vestir, comer e também tem o papel de situar o homem na hierarquia social dos valores (Codo & Sampaio, 1995).

Com relação aos dados encontrados relacionados a satisfação, evidencia-se que os su-jeitos associam-na a outros fatores como ter familia, ou estarem satisfeitos porque seu problema é menos grave do que o de outras pes-soas.

Conforme Lino (2004) e Stamp (1997) a satisfação é considerada um dos indicadores da qualidade de vida e tem sido utilizada em diversos estudos.

A satisfação ou insatisfação está diretamen-te ligada ás experiencias de vida de cada pessoa e também ao significado que atribuem ás suas experiencias; e a concepção de mundo dos individuos pode ser afetada por diversas circunstancias, inclusive o agravo (Cárdenas, 1999).

Há que se lembrar também do processo psicossocial do individuo pois a aceitação da sua condição deve ser colocada em destaque, no sentido de influenciar a maneira como a pessoa vai viver consigo mesmo, com a doen-9a, tratamento, familia e sociedade (Silva et al., 2002).

CONCLUSÃO

O termo qualidade de vida tem sido muito explorado e utilizado na atualidade, o seu con-ceito é ampio e envolve varios elementos do processo de viver. Identificar os elementos que as pessoas portadoras de feridas crónicas em membros inferiores consideraram como influenciando na conceituação e interferindo na qualidade de sua vida foi um desafio e acre-dita-se que apenas iniciou-se um processo de maior compreensao, entre estes dois aspectos.

Verificou-se que os entrevistados relacionaran! o significado de qualidade de vida, mais específicamente a tres fatores: ser e estar saudável; ter boas condicões económicas; e ter a famüia presente.

O trabalho foi o mais citado como interferencia direta em sua qualidade de vidas por serem portadores de feridas; este fato está relacionado á dor que a ferida provoca, a demora na recuperação desses individuos que precisariam modificar seus hábitos diarios, principalmente repousarem.

A realidade cotidiana do trabalho correlacionada com a qualidade de vida tem sido um ponto com pouco destaque para o olhar dos profissionais da saúde e analisadores da sociedade, em especial pelos sujeitos que não con-seguem desenvolver atividades laborativas porque possuem um agravo e na maioria das vezes não encontram saídas para seu problema.

Porém, ao longo da historia verificamos que a qualidade de vida tem sido preocupa-ção do ser humano desde sua génese, ás vezes com outros adjetivos, mas sempre com a fi-nalidade de facilitar ou trazer satisfação e bem-estar das pessoas em particular ao trabalho.

Assim sendo, este estudo sobre a qualidade de vida dos portadores de úlcera de perna constitui-se num desafio para os profissionais de saúde, pois é complexo e envolve varios elementos do processo de viver.

Foi um trabalho inicial e que ainda apre-senta lacunas e acreditamos ter apenas lanzado á compreensao deste processo relacional que é a qualidade de vida das pessoas portadores de feridas nos membros inferiores. Mas, destacamos que possibilitou um olhar mais ampio no que os sujeitos da pesquisa valori-zam no que modificou ou influenciou ñas suas vidas, o que é desejado ou até mesmo rejeita-do por eles.

Destacamos que os profissionais de saúde necessitam conhecer o cliente em sua totali-dade, pois se o objetivo é auxiliá-lo, não se pode restringir-se apenas a prestar urna as-sisténcia puramente técnica ou a doenca específicamente; deve-se atentar para os aspectos que envolvem a qualidade de vida.

Assim os beneficios seráo no sentido de contribuir para melhorar a assisténcia integral e por conseqüéncia trazer beneficios para a vida das pessoas, dos familiares e da socie-dade em geral.

REFERÊNCIAS

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