It is the cache of ${baseHref}. It is a snapshot of the page. The current page could have changed in the meantime.
Tip: To quickly find your search term on this page, press Ctrl+F or ⌘-F (Mac) and use the find bar.

Revista Brasileira de Anestesiologia - Influence of acute pain management service on analgesic drugs cost and consumption in the post-anesthetic recovery unit

SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.53 issue6Clonidine as adjuvant therapy for alcohol withdrawal syndrome in intensive care unit: case reportCritical anesthetic incidents in Uruguay - ten years after: comparative study (1990-2000) author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Revista Brasileira de Anestesiologia

Print version ISSN 0034-7094

Rev. Bras. Anestesiol. vol.53 no.6 Campinas Nov./Dec. 2003

http://dx.doi.org/10.1590/S0034-70942003000600012 

ARTIGO DIVERSO

 

Influência da criação de um serviço de tratamento da dor aguda nos custos e no consumo de drogas analgésicas na sala de recuperação pós-anestésica *

 

Influence of acute pain management service on analgesic drugs cost and consumption in the post-anesthetic recovery unit

 

Influencia de la creación de un servicio de tratamiento del dolor agudo en los costos y en el consumo de drogas analgésicas en la sala de recuperación pos-anestésica

 

 

Marcos Emanuel Wortmann GomesI; Paulo Ernani EvangelistaII; Florentino Fernandes Mendes, TSAIII

IME2 do Serviço de Anestesiologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
IIAnestesiologista da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, Responsável pelo Núcleo de Tratamento da Dor Aguda da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre
IIIAnestesiologista, Mestre em Farmacologia pela FFFCMPA, Chefe do Serviço de Anestesiologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre (ISCMPA)

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

JUSTIFICATIVA E OBJETIVOS: Sabe-se que a dor aguda pós-operatória apresenta grande influência na evolução dos pacientes cirúrgicos. Mobilização precoce, menor tempo de hospitalização, diminuição de custos e maior satisfação são resultados do adequado manuseio da dor. Observa-se uma tendência mundial ao surgimento de serviços especializados no tratamento da dor pós-operatória. O presente estudo visa descrever a influência da criação de um serviço de tratamento da dor aguda pós-operatória nos custos e no consumo de analgésicos na sala de recuperação pós-anestésica.
MÉTODO: Durante os anos de 2000 e 2001 foi realizada coleta prospectiva de dados, através de sistemas informatizados especialistas da Controladoria de nossa instituição, relativos ao consumo e custo de drogas analgésicas na sala de recuperação e ao número de cirurgias realizadas.
RESULTADOS: Houve um aumento do consumo e dos custos com analgésicos, assim como uma modificação no perfil de utilização dos mesmos.
CONCLUSÕES: A criação do Serviço de Tratamento da Dor Aguda (STDA) em nossa instituição determinou uma mudança no perfil dos analgésicos utilizados. Houve um aumento de consumo e nos custos dessas drogas, sugerindo que os pacientes tiveram um melhor controle da dor pós-operatória.

Unitermos: DOR, Aguda: pós-operatória; RECUPERAÇÃO PÓS-ANESTÉSICA: sala de recuperação


SUMMARY

BACKGROUND AND OBJECTIVES: It is known that acute postoperative pain has a major influence on surgical patients’ recovery. Early movements, shorter hospital stay, lower costs and higher satisfaction are results of adequate pain management. There is a world trend toward specialized postoperative pain management services. This study aimed at describing the influence of an acute postoperative pain treatment service on analgesics cost and consumption in the post-anesthetic recovery unit.
METHODS: Data were prospectively collected in the period 2000/2001, through computerized expert systems of the Controller Department of our institution, on analgesic drugs consumption and cost in the recovery unit and the number of surgical procedures performed during that time.
RESULTS: There has been increased analgesics consumption and costs, as well as a change in their utilization profile.
CONCLUSIONS: The creation of an Acute Pain Management Service (APMS) in our institution has determined a change in analgesics profile. There has been increased consumption and cost of such drugs, suggesting that patients had a better postoperative pain control.

Key Words: PAIN, Acute: postoperative; POST-ANESTHETIC RECOVERY: recovery room


RESUMEN

JUSTIFICATIVA Y OBJETIVOS: Se sabe que el dolor agudo pos-operatorio presenta gran influencia en la evolución de los pacientes quirúrgicos. Movilización precoz, menor tiempo de hospitalización, diminución de costos y mayor satisfacción son resultados del adecuado manoseo del dolor. Se observa una tendencia mundial al surgimiento de servicios especializados en el tratamiento del dolor pos-operatorio. El actual estudio tiene por finalidad describir la influencia de la creación de un servicio de tratamiento del dolor agudo pos-operatorio en los costos y en el consumo de analgésicos en la sala de recuperación pos-anestésica.
MÉTODO: Durante los años de 2000 y 2001 fue realizada colecta prospectiva de datos, a través de sistemas informatizados especialistas de la Controladoria de nuestra institución, relativos al consumo y costo de drogas analgésicas en la sala de recuperación y al número de cirugías realizadas.
RESULTADOS: Hubo un aumento del consumo y de los costos con analgésicos, como también una modificación en el perfil de utilización de los mismos.
CONCLUSIONES: La creación del Servicio de Tratamiento del Dolor Agudo (STDA) en nuestra institución determinó un cambio en el perfil de los analgésicos utilizados. Hubo un aumento de consumo y en los costos de esas drogas, sugiriendo que os pacientes tuvieron un control mejor del dolor pos-operatorio.


 

 

INTRODUÇÃO

Todo ano, estima-se que milhões de procedimentos cirúrgicos são realizados em nosso meio. Com base nessa constatação, torna-se imperativo que os profissionais da saúde reservem especial atenção ao tratamento adequado da dor aguda pós-operatória.

Em 1992, nos Estados Unidos da América, 75% ou mais dos pacientes submetidos à cirurgias experimentaram dor pós-operatória sem alívio adequado devido à sub-medicação 1. Sabe-se que, quando intensa, a dor pode influenciar de forma negativa a evolução do paciente, retardando sua recuperação. O tratamento eficaz da dor pós-operatória contribui para a obtenção de uma mobilização mais precoce, um menor período de hospitalização e diminuição de custos, além de proporcionar maior conforto e satisfação ao paciente 1,2.

Com o intuito de auxiliar os médicos e os demais profissionais envolvidos com o tratamento da dor, foram desenvolvidos guias práticos que contêm recomendações básicas sobre o controle da mesma. Essas orientações são obtidas através da revisão da literatura, da opinião de especialistas e de debates em encontros científicos, sendo sistematicamente revisadas e atualizadas 1,3. Desde 1988, quando foram descritos os primeiros serviços de tratamento da dor aguda nos Estados Unidos, os profissionais de saúde, independente da especialidade, têm demonstrado interesse crescente nesta área, principalmente devido à constatação de que a negligência no tratamento da dor gera conseqüências danosas ao paciente. Em 1995, um estudo de revisão em hospitais com mais de 100 leitos mostrou que a maioria das instituições norte-americanas possuía um serviço de tratamento da dor aguda que, em 73% dos casos, era ligado à Anestesiologia 4. Outro trabalho de revisão, que incluiu hospitais americanos de todos os tamanhos, demonstrou que 42% dos mesmos tinham um serviço de controle da dor aguda e que, em 80% das instituições, o profissional responsável pela liderança do serviço era um anestesiologista 1.

O Serviço de Tratamento da Dor Aguda da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre iniciou suas atividades em fevereiro de 2001, com o escopo, entre outros, de estimular a utilização da morfina ao invés da meperidina, e de aumentar a utilização da analgesia espinhal, sobretudo nos pacientes submetidos a cirurgias de grande porte. O estímulo à utilização da morfina foi feito através de reuniões científicas entre os anestesiologistas, distribuição de literatura e curso sobre tratamento da dor aguda, realizado em maio de 2001, aberto a todos os profissionais da instituição.

O presente estudo visa descrever a influência da criação do serviço de tratamento da dor aguda, em relação ao custo e ao consumo de drogas analgésicas utilizadas para o tratamento da dor na sala de recuperação pós-anestésica.

 

MÉTODO

Após aprovação pela Comissão de Ética do hospital, foram coletados dados referentes ao consumo e ao custo das drogas analgésicas utilizadas na Sala de Recuperação Pós-Anestésica (SRPA) do Centro Cirúrgico Sarmento Barata da ISCMPA.

A coleta foi realizada de forma prospectiva, através de acesso às informações armazenadas nos bancos de dados da Controladoria da ISCMPA, que apresentam o consumo e os custos diários e mensal de todos os insumos utilizados na SRPA. Foi realizada durante o período compreendido entre 01 de janeiro de 2000 a 31 de dezembro de 2001.

Dados relativos a consumo e custos, durante os dois anos do estudo, foram obtidos mensalmente para: paracetamol, associação de dipirona e codeína, associação de codeína e paracetamol, meperidina, morfina, tramadol, diclofenaco, cetoprofeno e tenoxicam. O consumo mensal de meperidina e de morfina durante o ano de 2000 foi comparado com o do ano de 2001.

O número de cirurgias realizadas foi coletado mensalmente do Sistema de Gerenciamento do Centro Cirúrgico. O índice de custo por analgesia foi determinado através do cálculo da relação entre o valor total gasto anualmente com as analgesias (em Real) dividido pelo número de cirurgias realizadas.

O presente estudo envolve a população de pacientes cirúrgicos. Para demonstrar o comportamento dos parâmetros ao longo do tempo foi utilizada estatística descritiva.

 

RESULTADOS

Quando comparamos o consumo de analgésicos durante o ano de 2000 com o ocorrido durante o ano de 2001, verificamos que houve uma alteração no perfil de utilização dos mesmos. Embora tenha existido uma diminuição no consumo da associação de dipirona com codeína, de meperidina, tramadol e diclofenaco, houve aumento no consumo total de analgésicos em 2001. Esse aumento foi verificado principalmente pelo maior consumo de paracetamol, da associação de codeína com paracetamol, de morfina, cetoprofeno e tenoxicam (Figura 1).

Quando comparamos 2001 com 2000, observamos aumento no custo total com analgésicos em 2001. Este aumento foi resultado de gastos maiores com paracetamol, com a associação de codeína e paracetamol, morfina, cetoprofeno e tenoxicam. No mesmo ano, reduziram-se os custos com a associação de dipirona e codeína, de meperidina, tramadol e diclofenaco (Figura 2). O preço unitário de todas as drogas estudadas não foi alterado de um ano para o outro.

Na figura 3, pode-se observar a mudança de comportamento no consumo de morfina em relação a meperidina nos anos 2000 e 2001.

O índice de custo por analgesia foi de R$1,12 por cirurgia em 2001 comparado com R$0,89 em 2000, representando um aumento de 25,84%.

 

DISCUSSÃO

O aumento do consumo de analgésicos na sala de recuperação no ano de 2001 permite inferir que os pacientes ali atendidos foram melhor tratados no que concerne à analgesia, visto que o número de cirurgias não apresentou aumento em relação ao ano anterior. A associação de diferentes drogas analgésicas, com mecanismos de ação distintos, é comprovadamente eficiente no combate à dor 6,7 e pode contribuir para uma melhor eficácia 8.

O aumento do custo, em Real, no ano de 2001, foi diretamente proporcional ao aumento de consumo de cada droga. O cálculo do custo por analgésico estudado permitiu verificar que não houve inflação referente a esses itens no período de 2000 a 2001, descartando a hipótese de que o aumento de custos se devesse ao processo inflacionário. Em um estudo, os anestesiologistas, ao serem questionados, indicaram que a implementação de guias práticos poderia ser feita na maioria dos hospitais com um custo adicional mínimo 3. A criação do nosso serviço de tratamento da dor aguda pós-operatória, que buscou instituir a aplicação de alguns protocolos na sala de recuperação, obedeceu a esta previsão. Além disso, era esperado que a criação de rotinas para o atendimento de pacientes de cirurgias de grande porte, cujo início formal ocorreu em julho de 2001, agilizasse o funcionamento do bloco cirúrgico, diminuindo o número de cirurgias suspensas. Poderia haver um aumento de custos nesse setor, visto que ali os pacientes receberiam atenção mais especializada.

Observamos que, apesar da diminuição do número total de cirurgias em 2001, houve um aumento de 12% nas cirurgias particulares e de convênios. Em nossa instituição, o pós-operatório dessas cirurgias é caracterizado pela prescrição de analgésicos com maior custo, como o tenoxicam, de modo que o aumento de custos poderia em parte ser resultado disso.

A mudança de comportamento na curva de consumo da morfina, em relação à meperidina, foi mais evidente a partir de maio de 2001, quando se observou um acentuado aumento do consumo de morfina. Isto demonstra que as ações de estímulo ao uso da morfina, ao invés da meperidina, colocadas em prática pelo Serviço de Tratamento da Dor Aguda, obtiveram sucesso.

Observamos aumento no consumo de morfina no ano 2001 e redução na utilização da meperidina e tramadol. Um estudo mostrou o perfil favorável da morfina em relação ao tramadol referente à incidência de náuseas e vômitos (40% versus 65%). Além disso, este estudo mostrou que os pacientes relataram melhora da dor apenas após a segunda dose de tramadol, o que é consistente com os resultados de estudos que mostram um lento início de ação desta droga, fazendo com que talvez ela não seja a melhor opção analgésica em casos agudos 8.

Assim, a criação do Serviço de Tratamento de Dor Aguda determinou uma mudança no perfil dos analgésicos utilizados para o tratamento da dor. Houve um aumento do consumo e do custo com analgésicos, sugerindo que os pacientes passaram a ter sua dor melhor tratada. A constatação de que essa mudança tenha gerado uma maior satisfação e conforto aos pacientes permanece uma questão aberta, devendo ser averiguada em novos estudos.

 

REFERÊNCIAS

01. Warfield C, Kahn C - Acute pain management. Programs in US hospitals and experiences and attitudes among US adults. Anesthesiology, 1995;83:1090-1094.        [ Links ]

02. Slappendel R, Weber E, Bugter M - The intensity of preoperative pain Is directly correlated with the amount of morphine needed for postoperative analgesia. Anesth Analg, 1999;88:146-148.        [ Links ]

03. A Report by the American Society of Anesthesiologists Task Force on Pain Management APS - Practice Guidelines for Acute Pain Management in the Perioperative Setting. Anesthesiology, 1995;82:1071-1081.        [ Links ]

04. Ready L - How many acute pain services are there in the United States, and who is managing patient-controlled analgesia? Anesthesiology, 1995;82:322.        [ Links ]

05. Simopoulos TT - Use of meperidine in patient-controlled analgesia and the development of normeperidine toxic reactions. Arch Surg, 2002;137:84-88.        [ Links ]

06. Basto E, Waintrop C - Intravenous ketoprofen in thyroid and parathyroid surgery. Anesth Analg, 2001;92:1052-1057.        [ Links ]

07. Merry A, Swinburn P, Middleton N - Tenoxicam and paracetamol-codeine combination after oral surgery: a prospective, randomized, double-blind, placebo-controlled study. Br J Anaesth, 1998;81:875-880.        [ Links ]

08. Rawal N, Allvin R, Amilon A - Postoperative analgesia at home after ambulatory hand surgery: a controlled comparison of tramadol, metamizol, and paracetamol. Anesth Analg, 2001;92:347-351.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Dr. Marcos Emanuel Wortmann Gomes
Rua Alfredo Brenner, 226/301 B
98025-550 Cruz Alta, RS
E-mail: mewgomes@hotmail.com

Apresentado em 07 de junho de 2002
Aceito para publicação em 22 de abril de 2003

 

 

* Recebido do Serviço de Anestesiologia da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre e Núcleo de Tratamento da Dor Aguda, Porto Alegre, RS