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Revista Brasileira de Epidemiologia - Atherosclerosis subclinical and inflammatory markers in obese and nonobese children and adolescents

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Revista Brasileira de Epidemiologia

Print version ISSN 1415-790X

Rev. bras. epidemiol. vol.15 no.4 São Paulo Dec. 2012

http://dx.doi.org/10.1590/S1415-790X2012000400012 

ARTIGO ORIGINAL

 

Aterosclerose subclínica e marcadores inflamatórios em crianças e adolescentes obesos e não obesos

 

 

Larissa R. SilvaI, II, III; Joice M. F. StefanelloI, II, III; Juliana PizziII, IV; Luciana S. TimossiI, II, III; Neiva LeiteI, II, III

IDepartamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná
IINúcleo de Qualidade de Vida (NQV) do Departamento de Educação Física da Universidade Federal do Paraná
IIICuritiba, Paraná, Brasil
IVFrancisco Beltrão, Paraná , Brasil

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

OBJETIVO: Realizou-se revisão sistemática sobre espessamento médio-intimal (EMI) e marcadores inflamatórios, comparou-se EMI por metanálise e analisou-se a correlação entre EMI e variáveis inflamatórias em crianças e adolescentes obesos e não obesos.
FONTES DOS DADOS:
Buscaram-se artigos nas bases de dados Pubmed, Bireme e Science Direct, nos anos de 2000 a 2010, com as seguintes palavras-chave em inglês: "obesity", "adolescents", "atherosclerosis" e "child", sendo utilizados em duas combinações: obesity+adolescents+atherosclerosis e obesity+child+atherosclerosis. Utilizou-se meta-análise para comparar EMI entre obesos e não obesos.
SINTESE DOS DADOS: Selecionou-se criteriosamente 16 artigos para análise final. Houve diferença da espessura de EMI entre obesos e não obesos em 12 estudos, confirmada pela meta-análise. Os obesos apresentaram concentrações de proteína C-reativa mais elevada em 13 artigos analisados (p < 0,05) e menores de adiponectina em 4 (p < 0,05). Em geral, os obesos apresentaram concentrações menores de adiponectina e maiores valores de EMI e Proteina C-reativa do que os não-obesos, evidenciando relação entre obesidade e início de processo inflamatório.
CONCLUSÕES:
Conclui-se que há relação da obesidade com aumento do EMI e alterações nas concentrações dos marcadores inflamatórios nesta fase.

Palavras-chave: Aterosclerose. Obesidade. Ultrassonografia. Crianças. Proteína C-reativa. Adiponectina. Metanálise.


 

 

Introdução

As doenças cardiovasculares representam a principal causa de mortalidade nos países industrializados, sendo a doença arterial coronariana (DAC) a mais freqüente1. O desenvolvimento da DAC relaciona-se com a obesidade, a hipertensão arterial e as dislipidemias, problemas reforçados por hábitos alimentares inadequados e sedentarismo2. No que diz respeito à obesidade, a sua manutenção por um longo período está associada ao aparecimento de marcadores inflamatórios, alterações do perfil metabólico e inatividade física3, constituindo-se em um fator de risco que sofreu grande aumento na população em geral. A preocupação com a presença da obesidade na infância e na adolescência tem sido destacada em estudos, demonstrando que o desenvolvimento da aterosclerose coronária em adultos jovens4 ocorre precocemente, sendo acelerada pela presença de obesidade na infância5-7.

O processo aterosclerótico apresenta vários marcadores inflamatórios em concentrações aumentadas, sendo mais evidentes em indivíduos obesos e dislipidêmicos8-10. Embora a relação entre massa gorda e função vascular ainda seja pouco entendida6, a obesidade, de forma independente, demonstra diminuição na resposta de vasodilatação, mesmo quando há necessidade de aumento do fluxo arterial6. O que se tem constatado é que indivíduos obesos apresentam maior frequência de hipertensão arterial sistêmica6, síndrome metabólica7, dislipidemias11 e outros fatores de risco cardiovasculares que contribuem para alterações na parede endotelial.

Desse modo, a inflamação, a obesidade e a resistência insulina geralmente se manifestam em conjunto e contribuem para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares. Pesquisas na população infanto-juvenil evidenciam a relação entre os marcadores inflamatórios e a disfunção endotelial8,12-15. O tecido adiposo libera substâncias pró-inflamatórias, tais como o fator de necrose tumoral α (TNF-α), a interleucina-6 (IL-6) e a resistina, além de substâncias anti-inflamatórias, como a adiponectina. Enquanto as substâncias pró-inflamatórias interferem de forma negativa na saúde endotelial, as substâncias anti-inflamatórias atuam de forma inversa, com efeitos positivos sobre o endotélio16,17.

Algumas pesquisas demonstram que a baixa concentração de adiponectina está associada à obesidade15,18-20, prejudicando o metabolismo da glicose e dos lipídios. A proteína adiponectina, quando em concentrações adequadas, inibe a adesão de monócitos nas células endoteliais e o acúmulo de lipídios nos macrófagos, estimulando a produção de óxido nítrico endotelial15. Por outro lado, a elevação de proteína C-reativa (PCR) relaciona-se ao aparecimento de doenças cardiovasculares e diabetes8. Desse modo, a PCR aumentada em indivíduos obesos é considerada um indicador relevante da presença de inflamação. A PCR é produzida em resposta ao estímulo das citocinas pró-inflamatórias e, frequentemente, é utilizada para o diagnóstico de situações inflamatórias e infecciosas.

Técnicas não invasivas têm sido utilizadas para avaliar marcadores precoces da aterogênese em adultos com fatores de risco cardiovasculares21,22. Estudos destacam a ultrassonografia de alta resolução das artérias21,22, por meio da qual é possível avaliar a espessura da parede do endotélio de forma não invasiva. Esta avaliação consiste em mensurar, por meio da imagem de ultrassom, a distância entre a túnica íntima da artéria e a túnica média da artéria6,22, conhecida como espessamento médio-intimal (EMI). Destaca-se que o aumento desta espessura é considerado fator de risco para doença arterial coronáriana20. Alguns estudos têm demonstrado que crianças com obesidade apresentam espessura do endotélio maior do que crianças saudáveis5,7,22, tornando-as mais suscetíveis a eventos cardiovasculares na vida adulta. Portanto, o diagnóstico e a prevenção dos fatores de risco cardiovasculares na população infanto-juvenil tornam-se fundamentais para medidas de prevenção e de saúde pública.

No entanto, constata-se que poucos estudos analisam EMI em crianças e adolescentes5,7,15,23 e, até o presente momento, não há nenhuma revisão sistemática relacionando obesidade, marcadores inflamatórios, EMI e fatores associados ao aumento de espessura do endotélio em crianças e adolescentes. Assim, este estudo de revisão sistemática analisou as variáveis inflamatórias em crianças e adolescentes obesos e não obesos e comparou o EMI, utilizando-se da metanálise, a fim de identificar fatores de risco cardiovasculares associados à obesidade.

 

Métodos

Estudo de revisão sistemática e metanálise. Para o desenvolvimento deste estudo foi realizada uma busca bibliográfica através dos sites Pubmed, Bireme e Science Direct. A seleção dos descritores baseou-se no DECs (Descritores em Ciências da Saúde da Bireme) e contemplou as seguintes palavras-chave em inglês e português: obesity (obesidade), adolescents (adolescentes), atherosclerosis (aterosclerose) e child (crianças), combinados em obesity+adolescents+ atherosclerosis e obesity+child+atherosclerosis; a busca foi feita sem restrição de campo (all fields). Foram consideradas as publicações no período de 2000 a 2010, pelo fato de as adipocitocinas terem sido descobertas no final da década de 9024. Duas pesquisadoras, em duplicata, efetuaram a busca em todas as bases de dados, confrontando, ao final da aplicação dos critérios de inclusão e exclusão, os artigos encontrados. Em caso de desacordo, os artigos foram revisados, conjuntamente, pelas pesquisadoras.

  • Foram adotados os seguintes critérios de inclusão:
  • somente artigos originais;
  • estudos realizados com crianças e/ou adolescentes;
  • estudos que realizaram avaliação da função endotelial;
  • estudos que apresentaram resumo;
  • estudos que avaliaram a função endotelial através do espessamento médio-intimal.

Em seguida, foram aplicados os critérios de exclusão:

  • estudos repetidos nas bases de dados e/ou duplicados nas duas buscas (child e adolescents);
  • estudos que não possuíam grupo de estudo obeso e não obeso/grupo de controle;
  • estudos que fizeram intervenção e/ou tratamento; e
  • estudos que não avaliaram PCR e/ou adiponectina.

A exclusão de estudos que não contemplaram ambos os grupos (obesos e não-obesos) teve o propósito de verificar a relação entre obesidade e EMI aumentado, o que não seria possível com apenas um dos grupos. A opção de não incluir estudos com intervenção visou diagnosticar o quadro clínico sem os efeitos de diferentes formas de tratamento. A exclusão de estudos que não avaliaram um dos marcadores inflamatórios descritos (PCR e/ou adiponectina) procurou garantir a análise da relação do EMI com os marcadores inflamatórios referidos.

Os estudos selecionados foram também analisados quanto à sua qualidade metodológica, segundo protocolo de avaliação criado para este estudo. Esta avaliação contemplou seis critérios:

  • o componente 1 (seleção aleatória ou randomizada) levou em consideração os artigos que selecionaram os sujeitos de maneira aleatória ou randomizada;
  • o componente 2 (realização de cálculo amostral) analisou os estudos que informaram o cálculo de amostra representativa ou mínima para detecção das diferenças analisadas;
  • o componente 3 (n maior do que 50 sujeitos) ponderou o número mínimo de 50 indivíduos em cada grupo;
  • o componente 4 (estágio maturacional) considerou a avaliação e o controle da maturação nas análises estatísticas;
  • o componente 5 (metodologia detalhada da ultrassonografia de carótida) analisou a explicação detalhada de pelo menos três dos quatro itens considerados relevantes para a realização do estudo (posicionamento do indivíduo, local de obtenção da medida, número de mensurações, forma de cálculo do EMI máximo); e
  • o componente 6 (coeficiente inter-observador e intra-observador) considerou os artigos que realizaram a medida do coeficiente inter-observador e intra-observador, independentemente do valor apresentado.

A pontuação atribuída à qualidade dos artigos foi realizada, de forma independente, por dois investigadores. As dúvidas surgidas foram analisadas em conjunto pelos pesquisadores. A qualidade metodológica dos artigos revisados pode ser visualizada na Tabela 1. Quanto maior a pontuação, melhor a qualidade do artigo.

 

 

Após essa etapa foram analisadas as correlações encontradas entre os valores de EMI e os fatores de risco cardiovasculares, considerando pressão arterial(PA), índice de massa corporal (IMC), marcadores inflamatórios, perfil lipídico, maturação, composição corporal e concentrações de resistina, leptina, alanina aminotransferase, insulina, imunoglobulina G e modelo de avaliação homeostático de resistência a insulina (HOMA-IR).

Na sequência, realizou-se metanálise dos dados no software Minitab, versão 15. Utilizou-se o teste Shapiro-Wilk para a verificação da normalidade, e posteriormente o teste de Levene para verificar a homogeneidade entre os grupos. Calculou-se o tamanho do efeito (TE) dos artigos25 e aplicou-se o teste ANOVA one way para identificar diferenças significativas entre os grupos. Adotou-se nível de significância com p < 0,05.

 

Resultados

Na busca eletrônica realizada, foram encontrados 3.211 estudos, sendo 1.949 para o descritor child e 1.262 para adolescents. Após a aplicação dos critérios de inclusão, foram selecionados 69 artigos na busca child e 95 na busca adolescents, totalizando 164 artigos. Após os critérios de exclusão, permaneceram 16 estudos, os quais foram analisados neste artigo (Figura1).

 

 

Dos 16 artigos revisados, quinze foram publicados no período de 2005 a 2009, onze em periódicos com estratos superiores (classificação A2 e A1), de acordo com a classificação da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES 2009). A amostra variou quanto à faixa etária e nacionalidade dos participantes. Dois artigos incluíram adultos jovens, um estudo foi realizado com adolescentes e crianças brasileiras e 12 artigos foram conduzidos com a população européia. Todos os artigos incluíram indivíduos de ambos os sexos. As principais informações referentes aos 16 estudos revisados encontram-se na Tabela 2.

Os indivíduos obesos apresentaram valores mais elevados de EMI em relação aos do grupo de controle. Nos 12 estudos revisados, essa diferença foi significativa. No grupo obeso, o valor de EMI variou de 0,37 mm a 0,74 mm, nos não obesos ficou na faixa de 0,29 mm a 0,57 mm (Tabela 3).

Destaca-se, também, que o ponto de obtenção da medida de EMI variou entre os estudos. Cinco pesquisas realizaram a medida em dois ou mais seguimentos da artéria carótida e calcularam a média7,13,27,28,30, oito estudos mediram apenas na artéria carótida comum12,15,26,29,31-34 e três não especificaram onde mensuraram15,35,36. Além disso, o número de medidas realizado foi diferente, variando de 3 a 16 mensurações. No entanto, apesar das diferenças metodológicas, todos os estudos demonstraram valores maiores de EMI nos obesos. Esses resultados foram significativos em 15 estudos, suscitando a idéia de relação entre a obesidade e disfunção endotelial.

Para a realização da metanálise entre as médias de EMI do grupo obeso e do grupo controle calculou-se primeiramente a variância, que demonstrou que os grupos provêm da mesma população (p = 0,66). Como os artigos analisados demonstraram tamanho do efeito homogêneo (TE médio = 0,24; p = 0,53), utilizou-se a ANOVA para comparar os grupos. As médias apresentadas pelos grupos de obesos foram mais elevadas do que as dos grupos de não obesos (0,52 e 0,43, respectivamente; p < 0,05).

Quanto à avaliação dos marcadores inflamatórios, dez artigos avaliaram somente a PCR, um artigo avaliou apenas a adiponectina e cinco incluíram as duas análises. Para a adiponectina, quatro artigos encontraram diferença significativa, dentre os seis que utilizaram esta avaliação. Nesses estudos, as concentrações de adiponectina variaram de 5,5 µg/ml a 16,08 µg/ml nos grupos de obesos e de 6,0 µg/ml a 17,72 µg/ml nos grupos controle. Dentre os 15 artigos que avaliaram a PCR, treze encontraram diferenças significativas, sendo os valores referentes a essa variável mais elevados no grupo de obesos. Os valores de PCR variaram de 0,9 mg/L a 3,9 mg/L entre os obesos e de 0,2 mg/L a 1,2 mg/L entre os não obesos.

Dos 16 estudos, quinze verificaram as correlações entre as variáveis citadas anteriormente. Destes, dois encontraram correlação significativa entre EMI e PCR, e cinco encontraram correlação inversa entre EMI e adiponectina. Além destas, as variáveis que apresentaram correlação significativa com EMI em mais de um estudo foram IMC, pressão sistólica, HOMA-IR e insulina. Além disso, a PCR correlacionou-se com IMC. A adiponectina apresentou correlação inversa com HOMA-IR, IMC, circunferência de cintura (CC) e pressão sistólica, mas correlação positiva com HDL-C e apolipoproteína A.

 

Table 4

 

Discussão

A presente revisão demonstrou que a obesidade está associada aos fatores de risco cardiovasculares, uma vez que a EMI e a concentração de PCR foram mais elevadas em crianças e adolescentes obesos e a adiponectina apresentou valores mais baixos nessa população. A análise dos 16 artigos selecionados sobre o assunto demonstrou diferenças no EMI em crianças e adolescentes obesos e não obesos, assim como, nas concentrações plasmáticas de adiponectina e PCR

Os valores de EMI apresentaram grande variação apenas entre os obesos (diferença de até 0,37mm), o que ocorreu, possivelmente, em função da faixa etária estudada e do tempo de obesidade dos indivíduos. Os estudos que incluíram em sua amostra adolescentes em fase final da puberdade28,31-34,39 apresentaram maior variação na EMI, o que se pode observar, principalmente, no estudo de Mangge et al.31. Além disso, os resultados discrepantes podem ser justificados pelos pontos de obtenção da medida de EMI, assim como pelas diferentes metodologias utilizadas para o cálculo do EMI médio. Outros fatores de influência na variação da EMI podem ser a técnica e a experiência do examinador, tendo em vista que a dimensão dessa medida é menor na população infanto-juvenil, ocasionando erro de mensuração. Para minimizar esses fatores é recomendável calcular o coeficiente de variação intra-observador e inter-observador. No entanto, apenas seis estudos apresentaram esses resultados15,26-30.

Os procedimentos de metanálise realizados no presente estudo reforçaram os resultados das pesquisas revisadas, demonstrando que a obesidade está associada às alterações endoteliais na infância e adolescência, possibilitando afirmar que a presença de obesidade é fator predisponente de maiores valores de EMI.

Em relação à adiponectina, os estudos apresentaram resultados similares. Nas seis pesquisas que incluíram esta avaliação, os obesos apresentaram valores menores que os não obesos. Em quatro estudos, a diferença entre os dois grupos foi significativa12,13,32,33, confirmando que a obesidade reduz as concentrações de adiponectina, o que contribui para o desenvolvimento da doença aterosclerótica. A função da adiponectina, como um marcador anti-inflamatório, é de inibir a adesão de monócitos nas células endoteliais e o acúmulo de lipídios nos macrófagos, além de estimular a produção de óxido nítrico15.

A concentração de adiponectina demonstrou correlações inversas significativas com outros fatores de risco, como a PA, a CC, o IMC e a resistência à insulina. Nas pesquisas revisadas, este marcador correlacionou-se positivamente com o HDL-c e com a apolipoproteína A, demonstrando que a adiponectina tem efeitos antiaterogênicos. Como bem estabelecido, a lipoproteína de alta densidade exerce efeito protetor no endotélio, devido à sua capacidade de mediação do transporte reverso do colesterol37. Em idosos, estudos apontam que baixos níveis de HDL-c são preditores mais específicos para risco de morte por DAC do que o aumento do colesterol total38. Nos estudos revisados, pode-se identificar que esta relação em crianças também é encontrada, porém sem complicações graves nesta faixa etária.

A PCR é uma proteína plasmática de fase aguda produzida, principalmente, pelos hepatócitos, encontrando-se aumentada em resposta ao processo inflamatório. Em todos os estudos analisados, os obesos apresentaram maiores concentrações de PCR que os não obesos. Essa diferença foi significativa em 14 artigos5,7,12,13,,27-36,39. A forte relação entre PCR e obesidade foi confirmada pela correlação entre PCR e IMC, encontrada em quatro estudos13,26,36,39, o que sugere um possível efeito inflamatório da obesidade. Vale ressaltar que os estudos revisados apresentaram diferenças quanto à unidade de medida da PCR. A maioria adotou a medida mg/L, um estudo foi transformado para logarítimo e outro utilizou ng/ml. Entretanto, os resultados e as correlações foram semelhantes.

Destaca-se como limitação deste estudo que, na seleção dos artigos revisados, identificou-se somente a presença de grupo obeso e não obeso, independente dos pontos de corte de IMC e critérios de obesidade utilizados pelos autores. Outra possível limitação foi a falta de delimitação da faixa etária para a seleção dos estudos revisados, resultando em grande amplitude de idade e ausência de controle sobre a influência maturacional sobre as variáveis. Apesar disso, de acordo com o levantamento realizado, identificou-se que o meio científico carece de estudos que investiguem as relações entre as variáveis estudadas na população brasileira, especialmente na faixa etária abordada na presente revisão. Apenas uma pesquisa envolveu adolescentes brasileiros. Tais estudos são importantes devido à relação encontrada entre obesidade e aumento da espessura médio-intimal. As prevalências de excesso de peso infanto-juvenil aumentaram em âmbito mundial e, no Brasil, a prevalência de excesso de peso chegou a 25,5%40.

Em síntese, os artigos revisados confirmam que adolescentes obesos têm maior risco de apresentarem sinais precoces de aterosclerose, portanto, estão mais suscetíveis a desenvolverem doenças cardiovasculares na vida adulta.

 

Conclusão

Conclui-se que, apesar das diferenças metodológicas, os poucos estudos que avaliaram espessamento médio-intimal em adolescentes obesos e não obesos apontam relação entre obesidade e EMI, o que foi confirmado, estatisticamente, pela meta-análise realizada no presente estudo de revisão. Em relação à PCR, constatou-se a mesma associação, ou seja, a maioria dos estudos encontrou valores maiores de PCR nos obesos, indicando o início de um processo inflamatório. Por outro lado, os obesos apresentaram menores níveis de adiponectina, o que sugere diminuição na função antiaterogênica, efeito pelo qual essa substância é responsável.

Destaca-se a necessidade de estudos com crianças e adolescentes brasileiros sobre EMI e suas associações com fatores de risco conhecidos, porque pouco se sabe sobre estes processos na infância. Ressalta-se, também, a importância do diagnóstico precoce da aterosclerose, visto que complicações na fase infanto-juvenil não são freqüentes. O EMI, como método diagnóstico, pode fornecer bons conhecimentos e servir de base para planejamentos de tratamentos e intervenções, com intuito de prevenir complicações da doença na vida adulta.

Potencial conflito de interesses: Declaramos não haver conflito de interesses pertinentes.

Agradecimentos: O último autor é pesquisador do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq) e foi bolsista da CAPES

 

Referências

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Endereço para correspondência:
Larissa Rosa da Silva
Núcleo de Qualidade de Vida, Departamento de Educação Física, Universidade Federal do Paraná. Rua Coração de Maria, 92, Jardim Botânico, Curitiba, Paraná, Brasil
CEP 80215-370
Email: larisilva99@yahoo.com.br

Recebido em: 14/06/11
Versão final apresentada em: 07/11/11
Aprovado em: 03/04/12

 

 

Trabalho vinculado à dissertação de mestrado de Larissa Rosa da Silva no programa de pós graduação em Educação Física da Universidade Federal do Paraná