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Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica - Dissertações de mestrado e teses de doutorado/2003

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Ágora: Estudos em Teoria Psicanalítica

Print version ISSN 1516-1498

Ágora (Rio J.) vol.7 no.1 Rio de Janeiro July/Jan. 2004

http://dx.doi.org/10.1590/S1516-14982004000100012 

DISSERTAÇÕES E TESES

 

Dissertações de Mestrado e Teses de Doutorado/2003

 

 

Universidade Federal do Rio de Janeiro
Centro de Filosofia e Ciências Humanas
Instituto de Psicologia
Programa de Pós-graduação em Teoria Psicanalítica

 

 

DISSERTAÇÕES

Título: Um estudo sobre o desamparo: da herança ao destino
Flávia Brasil Lima
Orientador: Joel Birman
Data da defesa: 22/1/2003

Busca-se delimitar o que está em jogo quando Freud, ao elaborar sua formulação inicial do desamparo biológico e, posteriormente, ao correlacioná-lo à angústia, formaliza a idéia do desamparo mental, postulando assim que o desamparo concerne à condição de existência do ser humano. Compreendendo a angústia como a reação original ao desamparo no trauma, ou seja, como o que marca os limites da capacidade do aparelho psíquico em dominar a excitação pulsional, podemos situá-la como aquilo que diz respeito ao cerne do desamparo, que é a própria tensão pulsional. Esta caracteriza o resto da experiência originária de satisfação que, como momento mítico do encontro entre o bebê e o próximo, torna-se, assim, paradigmática. E isto porque ela revela que a concepção do desamparo estende-se na dependência do sujeito ao Outro e que, a partir dela, instaura-se o princípio do prazer e seu Além, por meio do qual subsiste algo inassimilável à cadeia representativa. É assim que a experiência originária permite conceber das Ding, a Coisa freudiana. Nisso reside a divisão do sujeito, cuja marca essencial encontra-se no desamparo, pois a perda desse objeto fundamental (das Ding), além de ser o fundamento de seu próprio desejo, institui uma alteridade impossível de ser reproduzida no mundo das representações. Assim, sustenta-se que o desamparo do ser humano não diz respeito somente a um acidente biológico do tempo das origens do indivíduo, mas possui estreita ligação quanto ao processo de simbolização com a linguagem e seus limites.

 

Título: Trauma: violência pulsional e fronteira egóica
Rose Motta da Encarnação Azevedo
Orientadora: Marta Rezende Cardoso
Data da defesa: 22/1/2003

A noção de trauma, das mais relevantes na teoria freudiana, e presente nesta desde os seus primórdios, proporcionou importante contribuição para a compreensão de questões que surgiram a partir do trabalho clínico de Freud, as quais se articulam diretamente com o problema do excesso pulsional. Estudamos essa noção na obra de Freud, bem como na de outros autores, procurando dar maior ênfase a um ponto de vista dinâmico, embora reconhecendo a importância do fator econômico. Pensando por que as defesas egóicas fracassam diante da irrupção desagregadora de energia pulsional livre na situação traumática, analisa-se a questão do trauma à luz da noção de desamparo psíquico, tendo em vista que o ego pode se encontrar num estado de despreparo e submetido, sem possibilidade de resposta, à invasão pulsional. Investigar essa posição de passividade remeteu-nos às noções de "susto" e de angústia automática. Concebendo o ego como uma instância que funciona como fronteira — em relação ao outro interno e ao outro externo — tentou-se demonstrar que ele lida constantemente com determinado limiar de excitação, podendo vir a fracassar ante a violência da pulsão.

 

Título: O trabalho do delírio na paranóia
Aline de Alvarenga Coelho
Orientadora: Ana Beatriz Freire
Data da defesa: 19/2/2003

A presente pesquisa dedica-se a estudar o fenômeno do delírio dentro da categoria clínica conhecida como paranóia, a partir das visadas teóricas de Freud e Lacan. No primeiro capítulo, vamos nos deter na leitura de textos freudianos em relação à paranóia e suas conclusões. No capítulo seguinte, faremos um exame dos principais escritos de Jacques Lacan sobre a psicose e sua proposta de leitura da obra freudiana, com tudo o que isso pode trazer de novidade ao nosso campo de estudo. Dentro destas obras, vamos concentrar nosso interesse nos deslocamentos subjetivos que um delírio pode operar e demonstrar que diferença pode ser observada entre um delírio bem-sucedido e aquele que não consegue proteger a pessoa do horror que o invade. Para determinar essa diferença, examinaremos mais detidamente a possibilidade de construção daquilo que Lacan chamou de 'metáfora delirante'. Além disso, a partir da investigação do Caso Schreber, veremos o papel que a escrita desempenhou neste caso, também proporcionando um deslocamento subjetivo.

 

Título: A tensão temporal da análise
Isabela Braz Bueno do Prado
Orientadora: Ana Cristina Figueiredo
Data da defesa: 19/2/2003

Partindo da atemporalidade do inconsciente, da descrição do conceito de repetição e da noção de posterioridade — Nachträglichkeit — esta dissertação circunscreve a estranha temporalidade do inconsciente assinalada por Lacan. Através do artigo lacaniano O tempo lógico e a asserção de certeza antecipada evidenciam-se a importância da função lógica da pressa e da expressão tensão temporal que permitem a formulação da tensão temporal da análise. A experiência analítica está inserida numa lógica essencialmente temporal que exige do analista uma postura e um manejo específicos. O ato analítico, o corte e a escansão são as ferramentas privilegiadas de intervenção do analista que permitem passar da tensão temporal à sustentação da análise.

 

Título: A intervenção do discurso analítico na estrutura de linguagem
Marcia Sousa Freire
Orientadora: Ana Cristina Costa Figueiredo
Data da defesa: 24/2/2003

Tentaremos com esse trabalho demonstrar que o discurso analítico designa uma operação que implica uma intervenção na estrutura de linguagem. A partir deste encaminhamento, pretendemos sustentar a noção de intervenção analítica como precipitadora da ocorrência do discurso do analista. E, por fim, indicaremos que, por se tratar de uma forma específica de laço social, o discurso analítico não se limita ao setting analítico, podendo ocorrer em outros dispositivos. Para tal, decidimos realizar o seguinte percurso teórico: iniciaremos apresentando a dimensão estrutural da linguagem e sua relação com a psicanálise, depois trabalharemos a teoria lacaniana dos discursos na tentativa de demonstrar que a formulação dos quatro discursos indicam quatro formas de organização da linguagem, posteriormente articularemos o operador discursivo do analista com a estrutura de linguagem a fim de abordarmos a especificidade do analítico de uma intervenção.

 

Título: O corpo e suas faces: um estudo psicanalítico
Carla Fraga Ferreira
Orientadora: Maria Teresa Pinheiro
Data da defesa: 26/2/2003

O objetivo do presente trabalho é discutir e estabelecer os elementos conceituais que possibilitam sistematizar o que está em jogo na relação do sujeito com o corpo próprio para além da sexualidade, da fantasia e do desejo inconsciente indicados pela teoria da conversão histérica. Acreditamos que essa discussão pode fornecer um contorno como os transtornos alimentares, as toxicomanias e as doenças psicossomáticas, com os quais a clínica psicanalítica se depara cotidianamente. Partimos dos elementos em jogo na conversão histérica para tentarmos avançar, apoiados na conceitualização do narcisismo e da formação do eu, nas questões impostas à clínica psicanalítica pelos referidos fenômenos. Nesse desenvolvimento procuramos mostrar, ao recorrermos aos fenômenos da somatização, uma outra face do corpo circunscrita a partir do masoquismo, tomado não como fenômeno mas como um modelo a partir do qual tentamos elucidar aquilo que da relação com o corpo próprio escapa ao campo da sexualidade. Isso que escapa remete-nos ao terreno da pulsão de morte, cuja contribuição para o nosso estudo se dá por uma de suas manifestações: a agressividade. Enfim, pretendemos situar o corpo em suas duas vertentes: ao mesmo tempo em que realiza uma fantasia pela qual o desejo inconsciente se articula, pode atualizar algo que não obtém inscrição na cadeia significante, no que esse algo faz retorno sobre o próprio.

 

Título: A criança autista em trabalho Considerações sobre o Outro na clínica do autismo
Jeanne Marie de Leers Costa Ribeiro
Orientadora: Angélica Bastos Grimberg
Data da defesa: 26/2/2003

Esta dissertação tem seu ponto de partida na clínica com as crianças autistas numa instituição e trata da questão do autismo do ponto de vista da psicanálise. Tomamos como eixo teórico central para esta pesquisa os escritos de S. Freud e o ensino de J. Lacan. Partindo da premissa de que os fenômenos descritos na caracterização da síndrome autística constituem uma forma de resposta ao Outro, investigamos o estatuto do Outro no autismo e a particularidade da resposta das crianças autistas ao Outro. Desenvolvemos a hipótese de que o Outro no autismo constitui-se como excessivo devido ao impasse na constituição da simbolização primordial. Frente a este excesso, as crianças autistas realizam um trabalho: uma tentativa de inscrição significante, de simbolização. Sustentando esta hipótese, procuramos discernir o lugar do analista nesta clínica e uma possível direção de tratamento, fazendo referência a vários fragmentos de casos. A partir da aposta de que há trabalho nas atividades, ditas estereotipadas, dos autistas, a direção de trabalho do analista não é o da interpretação do comportamento ou dos ditos da criança, mas a de se fazer parceiro no tratamento do Outro excessivo, que a criança autista já realiza. A direção de tratamento que propomos sustenta-se no desejo do analista que procura manter um lugar vazio de saber no centro da condução de cada caso, permitindo que a criança autista realize uma construção — própria a cada caso, em sua singularidade — para tentar produzir-se como sujeito.

 

Título: O primeiro ensino de Lacan: o sujeito, entre saber e verdade
Vanda Assumpção Rezende de Almeida
Orientadora: Tânia Coelho dos Santos
Data da defesa: 21/3/20003 

Essa dissertação está circunscrita ao campo da teoria freudiana, à luz da orientação de Jacques Lacan, a partir da leitura que efetuou sobre os textos de Freud. O principal objetivo é estabelecer a relação entre o sujeito da ciência e o sujeito da psicanálise.
Muito embora a ciência estabeleça uma disjunção entre o saber e a verdade, nisso distinguindo-se da psicanálise, vamos estabelecer os pontos de interseção entre ambas, demonstrando que "o sujeito sobre quem operamos em psicanálise só pode ser o sujeito da ciência". Deste modo, o trabalho consiste em pesquisar os principais textos freudianos e os lacanianos, dentro do período situado como o primeiro ensino de Lacan, até o Seminário 11, de maneira a demonstrar que é pela via dos sonhos, do desejo indestrutível, que Freud chega ao saber inconsciente, apontando para a verdade do sujeito, a verdade da fantasia, que expressa a dimensão da subjetividade humana.  

 


 

TESES

Título: O trágico em duas faces do além do princípio do prazer. O sim contra o não
Mario Bruno
Orientadora: Regina Herzog
Data da defesa: 13/1/2003

A presente tese tem como tema o estudo, através do retorno do pensamento francês a Freud, das condições para uma teoria do trágico que ultrapasse, no campo psicanalítico, o pathos dialético e cristão. Tal projeto implica: a) uma breve genealogia do pensamento francês da segunda metade do século XX; b) uma análise da questão do "além do princípio do prazer" nas duas maiores obras que tratam do trágico em Freud: o Seminário 7 e Diferença e repetição. As referidas obras foram selecionadas porque acreditamos que Lacan e Deleuze intuíram que o "além do bem e do mal", na obra de Freud, se resolvia na problematização do "além do princípio do prazer". Por isso, encontram uma ética/estética do trágico em Freud e vêem o conceito de Todestriebe algo inseparável de uma teoria da repetição. Nessa linha, o conceito de Todestriebe acaba associado ao tema da criação, por ambos os pensadores. Lacan denega o pathos dionisíaco remetendo a tragédia aos conceitos de sublimação e castração. Deleuze afirma o pathos dionisíaco aproximando o problema da repetição, na Todestriebe, dos temas do eterno retorno e da criação do novo (do diferente), através do trágico.

 

Título: Um pai para a psicose?
Augusto Cesar Freire
Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco
Data da defesa: 25/2//2003

Este trabalho tematiza a definição do pai, em teoria psicanalítica, em suas relações com a possibilidade do tratamento da psicose. Pretende-se demonstrar que a maneira de abordar o pai, em psicanálise, determina os limites da clínica, utilizando-se para isto, o exemplo da inacessibilidade da psicose ao tratamento na teoria freudiana. É apresentada a abordagem da psicose, pela via do pai, da teoria lacaniana, na intenção de indicar como a ampliação das possibilidades da cura é tributária de uma mudança na temática do pai. Para isto, as articulações da função paterna com a teoria do significante são explicitadas pelo entendimento do pai como metáfora. Em seguida, busca-se demonstrar que, na falta da referência ao pai, a teoria freudiana é marcada por uma série de tentativas de descrever o fenômeno clínico da psicose, sempre malograda no tocante à possibilidade do tratamento, uma vez que o recurso à função paterna é protelado em favor das noções de conflito e defesa. Argumenta-se, porém, que o conflito é passível de atribuir à função paterna, e que a defesa, em suas diversas modalidades, é determinada por esta função. Deste modo, busca-se, na teoria freudiana, uma formulação do pai que permitiria o atendimento clínico das psicoses, salientando as razões da demora do aparecimento desta na teoria freudiana. Finalmente, investigando as contribuições tardias de Moisés e o monoteísmo, é investigada a possibilidade de se afirmar que a forma assumida pelo pai, a partir dali, forneceria a Freud, houvesse tempo, a via para ampliar o limite de sua clínica.

 

Título: Para que serve? Quanto vale? — Reflexões da psicanálise sobre a crise da arte
Giselle Falbo Kosovski
Orientadora: Regina Herzog
Data da defesa: 26/2/2003

Em nossa pesquisa, fazemos uma releitura da crise da arte, tal como apresentada por Argan (1992), através da Teoria dos Discursos de Lacan. Nossa hipótese é de que a crise da arte é um efeito do saber científico transmutado em tecnologia, que configura o discurso do mestre contemporâneo. Esta crise representa o confronto da arte com uma ordem discursiva que foraclui o espaço vazio da Coisa. Uma vez que a finalidade da arte é apresentar este vazio, em meio a um contexto cultural suturado por gadgets e bens de consumo, a arte se asfixia. Tendo como objetivo reencontrar sua finalidade original, a arte contemporânea nos brinda com seus estranhos objetos — objetos desestetizados e sem glamour, que não são facilmente consumidos. Deste modo, a arte insere novamente a dimensão real e o não-saber foracluídos pelo discurso científico.

 

Título: A castração por detrás do amor — entre a razão e a causa do desejo
Graziele Maia
Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco
Data da defesa: 24/3/2003

A lógica que estrutura a escolha de objeto e a construção das relações amorosas (bem entendido conjunção e disjunção sexual) é examinada a partir da lógica fálica depurada na teorização da castração no mito edipiano em Freud e Lacan. Aquilo que escapa a essa lógica, irredutível ao campo do significante, é articulado através dos conceitos lacanianos de objeto a e real. A problemática das relações amorosas, tendo em vista tais conceituações e a cisão entre amor e desejo (Freud e Lacan), planos que se sobrepõem no (des-)encontro amoroso, é situada como determinante na constituição do sujeito frente à diferença dos sexos e na estruturação de sua relação com o Outro.

 

Título: Caráter e contemporaneidade
Fábio André Moraes Azeredo
Orientadora: Tânia Coelho dos Santos
Data da defesa: 28/3/2003

Esta tese discorre acerca do declínio da função paterna e suas conseqüências na formação do caráter. Richard Sennett (1998) pergunta se é possível haver caráter em uma sociedade do capitalismo flexível como a nossa. O trabalho dessa tese é responder a essa pergunta através da psicanálise. Com Freud, a noção de caráter fica aprisionada à dominância do complexo de Édipo na cultura e, conseqüentemente, com o declínio do complexo de Édipo teríamos a corrosão de caráter que Sennett aponta. O caráter se diferencia do sintoma pois ele não se oferece à interpretação, exigindo do psicanalista novas soluções, de vez que, se ficar restrito à interpretação edípica, irá tomar enquanto negatividade os pacientes que não aderem à associação livre e que não acreditam no inconsciente. Porém, a não suposição de saber a qualquer Outro que se pretenda consistente está longe de ser um fenômeno isolado. Deste modo, o caráter nos suscita uma importante reflexão acerca do sujeito contemporâneo daquilo que a psicanálise pode fazer com ele.

 

Título: Sintoma e gozo: da decifração à responsabilização da metáfora incurável
Maria das Graças Leite Villela Dias
Orientadora: Tânia Coelho dos Santos
Data da defesa: 28/3/2003

O sintoma, como formação do inconsciente, se sustenta em uma satisfação de desejo e tem um sentido recalcado, que pode ser decifrado. Porém, o sintoma se distingue das demais formações do inconsciente no tanto em que a satisfação de desejo, nele envolvida, tem um caráter paradoxal: é uma satisfação real, às avessas, remetendo ao real impossível de ser simbolizado, para além do princípio de prazer, vinculado à pulsão de morte, e que lhe confere um valor de gozo. O sintoma, núcleo real do gozo, se apresenta então sob dois aspectos: como modo particular e central de gozo do sujeito, frente à falta irremediável, engendrada pela perda do objeto primordial; e, como suplência da perda, na função de parceiro, na estruturação da vida, dos laços sociais e dos laços amorosos na relação intersintomática entre os sujeitos masculinos e femininos. A trajetória de nosso trabalho pretende elucidar a passagem da decifração do sintoma, que permite declinar os significantes-mestres que determinam e ordenam a vida do sujeito, à identificação com le sinthome, que permite ao sujeito assumir a inércia do sintoma e o modo particular de gozo frente à metáfora incurável, responsabilizando-se por ela e fazendo falar seu sinthome de outro modo, o que não deixará de ter conseqüências nas escolhas de sua vida.

 

Título: Freud e o império das luzes
Helcio de Carvalho Aranha
Orientadora: Maria Teresa Pinheiro
Data da defesa: 28/3/2003

Parte-se de uma reavaliação das considerações efetuadas por S.Freud, em O mal-estar na cultura, acerca do "sentimento ou sensação oceânica", proposto pelo escritor francês Romain Rolland. Esta reavaliação se dá, principalmente, por meio da crítica de uma determinada leitura que pretende enfatizar a filiação de Freud ao movimento iluminista, ou seja, aos filósofos da ilustração ou do "Iluminismo Clássico" (século XVIII). Propõe-se, então, uma outra designação para Freud: a de "iluminista sombrio", posto que a Psicanálise recebeu influxo muito forte de outro movimento, o Romantismo. Movimento esse que destacou, sobretudo, o caráter noturno do homem com sua ênfase nas questões do corpo, do afeto, do erotismo, em suma, no lado não racional, "sombrio" do humano. Na segunda e última parte, intitulada "O passeio e a marcha", abordamos aquilo que Monique Schneider denominou "geometria freudiana", que seria formada por dois elementos: um espaço reticular sombrio e que teria forte influência do Romantismo. Essa "geometria freudiana" estaria presente em A interpretação dos sonhos. Pensamos que com a existência desses dois espaços podemos comprovar a hitótese de Freud ser um pensador híbrido: um iluminista sombrio.

 

Título: À sombra do espetáculo, uma discussão sobre as depressões contemporâneas
Sandra Vilma Paes Barreto Edler
Orientadora: Anna Carolina Lo Bianco
Data da defesa: 11/7/2003

O trabalho parte de uma interrogação oriunda da clínica sobre o crescimento do estados depressivos na atualidade. A clínica freudiana, fortemente apoiada no Édipo, tem se confrontado com o surgimento de novos sintomas de configuração diferentes daqueles que Freud descreveu e estudou. Embora não sejam propriamente novos, os estados depressivos incluem-se entre esses novos sintomas dada a forma e intensidade com que têm aparecido, havendo a expectativa de que venham a atingir, nos próximos anos, proporções epidêmicas. Essa questão central abre uma trilha de estudos que parte do significante depressão, de amplo domínio público, para situá-lo num percurso entre a psiquiatria e a psicanálise. A partir daí busca-se, no texto freudiano, a eventual especificidade deste termo em relação ao luto e à melancolia. A depressão neurótica, destacada como objeto de estudo, é então examinada sob o enfoque dos afetos e das paixões da alma. Além disso, com o desenvolvimento dos conceitos de supereu, desejo e gozo, as depressões passam a ser vistas como um modo de gozo. Observa-se, na cultura contemporânea, um momento de exacerbação de gozo. Nesse contexto, duas possibilidades são levantadas: a dos gozadores, aqueles que vivem em busca do mais-de-gozar e que se exibem ao olhar do Outro, e a dos covardes, os que hesitam e se esquivam e, ao contrário, deixam-se ficar à sombra do espetáculo. A segunda possibilidade foi escolhida como paradigma da modalidade depressiva de gozo. O crescimento das depressões está relacionado ao movimento de radicalização do gozo que, nos dias de hoje, encontra-se em expansão.

 

Título: O que é produzir conceitos na psicanálise: uma investigação em Freud e Lacan
Vinicius Anciães Darriba
Orientadora: Ana Beatriz Freire
Data da defesa: 23/7/2003

A tese investiga o trabalho de produção conceitual no âmbito da psicanálise.
A pesquisa tem como baliza as obras de Freud e Lacan, em que são enfocadas, respectivamente, as discussões em torno dos problemas da realidade e do objeto. Busca-se construir, com base nestes dois autores, um pensamento acerca do lugar que o conceito ocupa na psicanálise. Neste sentido, a especificidade do trabalho de produção conceitual na psicanálise é articulada ao que é próprio da experiência analítica. Em um primeiro momento, a discussão tem como eixo a questão do 'inacabamento' do conceito, que Freud já destacava como marca de seu trabalho. Na seqüência, é enfocada a relação entre o conceito e a falta, a partir do exame dos conceitos da Coisa e do objeto a em Lacan.

 

Título: A inquietante estranheza do Outro. Política e alteridade na psicanálise
Gilsa Freiblatt Tarré de Oliveira
Orientadora: Regina Herzog
Data da defesa: 30/7/2003

Objetiva-se abordar o impacto ético e político da descoberta freudiana do inconsciente. A parte inicial da pesquisa concentra-se no que denominamos uma 'clínica do mal-estar', defendendo a idéia de que longe de se limitar apenas a uma nova modalidade terapêutica, a psicanálise igualmente surge no início do século passado como uma maneira inédita de pensar a cultura e os fundamentos do político. Destacando-se a modernidade e seus impasses, coloca-se em discussão o entrecruzamento do discurso universal da Ciência e seu ideal de totalização que adota a identidade enquanto um verdadeiro princípio de funcionamento, com a invenção da psicanálise mediante o ato subversivo de Freud de apontar para a marca do Outro como não idêntico a si. Amplia-se esse percurso com a teoria do laço social como efeito de discurso proposta por Lacan, que nos conduz a uma reflexão sobre o político a partir do conceito de sujeito e do estatuto do gozo. Estes são centrais em sua obra para dar relevo à potência subversiva da invenção freudiana no sentido de interrogar alguns sintomas da vida contemporânea como a segregação, o racismo e o retorno dos fundamentalismos. Conforme entendemos, o singular da clínica só pode ser sustentado na medida que permaneçam abertas as chances de um movimento constante de interrogação acerca da posição do analista na cultura para compartilhar sua experiência com outros saberes.