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O Manifesto de Anders Breivik. Um atentado anunciado: Noruega, 22 de julho de 2011, por Sabrina Medeiros e Luize Valente | Revista Estudos Políticos

Revista Estudos Políticos

O Manifesto de Anders Breivik. Um atentado anunciado: Noruega, 22 de julho de 2011, por Sabrina Medeiros e Luize Valente

Posted in Nº 3 (2011/2) by Revista Estudos Políticos on novembro 1st, 2011

Este artigo em PDF

Sabrina Evangelista Medeiros é professora adjunta de Relações Internacionais da Escola de Guerra Naval e do Programa de Pós-Graduação em História Comparada da Universidade Federal do Rio de Janeiro;

Luize Valente é jornalista, editora internacional da Globonews.

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Resumo

Anders Behring Breivik, também chamado de Andrew, é o autor anunciado do maior atentado terrorista em território norueguês, ocorrido em 22 de julho de 2011, que figura entre os de maior amplitude da história. Além disso, também é autor majoritário de um compêndio de idéias a respeito de temas particulares que são o objeto principal de suas razões para promover os ataques, cuja publicação aconteceu em 2011. O compêndio, intitulado 2083 – a European Declation of Independence, reúne um amplo número de temas criteriosamente estudados que, embora apresentados de modo dogmático, demandam um estudo aprofundado de crenças mais em voga nas comunidades européias do que a disfunção mental atribuída a seu defensor pode sugerir. Este artigo tem como propósito uma análise arqueológica do documento de forma a observar os paradigmas centrais de um fenômeno contemporâneo e não desconhecido, a ascensão da extrema-direita, em parte voltada para a disputa eleitoral, em parte fundada em métodos terroristas.

Palavras-chave

Anders Behring Breivik; terrorismo; extrema-direita

Abstract

Anders Behring Breivik, also called Andrew, is the author of the largest terrorist attack on Norwegian territory, which occurred on July 22, 2011. Moreover, he is also the main author of a compendium of ideas, published in 2011, that aims to justify the attacks. The compendium, entitled 2083 – the European Declaration of Independence, brings together a wide range of topics carefully approached that, dogmatically presented, require us a study of the beliefs shared also by some European communities, not represented by the mental disease advocated by Andrew’s defense. This paper has as focus an archaeological analysis of the above mentioned compendium in order to observe the central paradigms of a contemporary and not unknown phenomenon, the rise of the extreme right, based both on the electoral arena and on terrorists methods.

Key words

Anders Behring Breivik; terrorism; extreme-right

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Anders Breivik criou sua própria Cruzada, em pleno século XXI, erguendo com 2083 – Uma Declaração de Independência Européia uma bandeira de luta contra o Islã que culminou no ataque terrorista no centro de Oslo e na Ilha de Utoya, na Noruega, no dia 22 de julho de 2011. Na apresentação do compêndio já se autodenomina o Comandante dos Cavaleiros Templários da Europa e um dos muitos líderes do Movimento de Resistência Patriótica da Europa Nacionalista. O documento – misto de manifesto, manual e diário – foi dividido em três partes, bem detalhadas, que reúnem o vasto trabalho de pesquisa feito ao longo dos 9 anos em que foi escrito até a publicação na internet para os 7 mil amigos de Breivik em sua página no Facebook. Seriam eles amigos patriotas, como ele fez questão de frisar, que teriam recebido o material praticamente junto com os ataques – o que pode ser interpretado como mais uma estratégia de Breivik. Em poucas horas o compêndio estava circulando pela rede, com milhões de acessos por todo o mundo, caindo nas mãos de simples curiosos e, o mais preocupante, de futuros seguidores. O revés desta história é que, logo após o primeiro ataque – a explosão do carro-bomba, no centro de Oslo – as suspeitas imediatas sobre a autoria do atentado recaíam sobre grupos fundamentalistas islâmicos – o mesmo Islã que é o alvo do ódio de Breivik e o tema mais recorrente no compêndio.

O compêndio 2083 – Uma Declaração de Independência Europeia traz estampado na primeira página uma cruz vermelha e logo abaixo do título, as seguintes inscrições em latim: De Laude Novae Militiae – Pauperes commilitones Christi Templique Solomonici. De Laude Novae Militiae – “Em louvor da Nova Cavalaria” – é o título da carta escrita pelo Monge Bernardo de Claraval, considerado mentor dos cavaleiros templários. Foi o documento que alavancou a Ordem do Templo, uma das mais poderosas instituições militares religiosas entre os séculos XII e XIV, que combateu muçulmanos durante as Cruzadas no Oriente em nome da fé cristã. Pauperes commilitones Christi Templique Solomonici – “Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão” – nada mais é do que a própria Ordem do Templo. A cruz vermelha é a marca da organização. As duas referências – tanto o símbolo quanto as inscrições latinas – indicam a linha do documento, que se estende por 1492 páginas.

Os eixos temáticos que são apresentados neste documento destacam a relevância dada pelos extremistas de direita reunidos em torno de princípios comuns e a divulgação eficiente destes entre pares. Desta forma, apresentamos aqui argumentos-chave do documento produzido por Anders Breivik, além do método terrorista como escolha, para destacar mais uma contribuição a respeito das armadilhas retóricas com as quais muito mais pessoas do que Breivik se identificam.

Desse modo, apontaremos os principais argumentos defendidos por Anders junto a um número extenso de seguidores, de forma a apresentarmos quais elementos presentes neste documento e em grande número de discursos podem determinar a escolha pela via do terror. A hipótese central deste trabalho é a de que existe um enredo lógico e conveniente, por vezes associado a uma retórica que, escapando dos estigmas anteriores da extrema-direita, procura defender de forma cuidadosa dogmas e métodos. E, ainda, que as relações de indivíduos como Anders Breivik com plataformas políticas organizadas faz parte de um quadro recente na Europa ainda mais ameaçador do que antes, quando se observavam casos isolados, sem apelo de massas.

Dos argumentos

Inicialmente, o autor defende que o medo da Islamização não é, absolutamente, irracional, dado que a Europa Ocidental estaria sendo tomada pelo multiculturalismo promovido pelo liberalismo e que seria preciso salvar o continente da conquista muçulmana. Estas são as bases de sua retórica e é a partir destas premissas que Breivik, autointitulado um conservador cristão, desenvolve seu manifesto ultranacionalista.

Já na introdução Breivik faz uma leitura sobre o que classifica de marxismo cultural e multiculturalismo, traçando um histórico de como o marxismo teria se “infiltrado” na Europa depois da 2ª Guerra Mundial e como teria se tornado a forma “politicamente correta” do pensamento ocidental atual (sic). Também alardeia que seria preciso consolidar rapidamente a resistência, pois seriam “apenas poucas décadas até que as principais cidades do continente estejam tomadas demograficamente pela população muçulmana” (pág. 15). Em todo o compêndio está latente o caráter alarmista do autor que, com sua interpretação particular e tendenciosa de fatos históricos, estudos demográficos e sociológicos, justificaria o ideal nacionalista que ele mesmo define como baseado em severa “confiança cultural”.

Breivik culpa o multiculturalismo pelo “medo irracional das doutrinas nacionalistas” e pelo temor do surgimento de novos líderes como Hitler na Europa pós 2ª Guerra Mundial. Neste caso, a referência a Hitler é feita dentro do contexto de monstruosidade do ditador, e não da ideologia do nazismo. O norueguês aponta que este “medo irracional” estaria levando o continente ao suicídio cultural e nacional, ressaltando que a colonização islâmica aumentaria a cada ano. Se a irracionalidade da sociedade européia é defendida pela ausência de crítica à desnacionalização e à invasão estrangeira, a racionalidade da sua contestação advém do desejo de bem-estar por meio do patriotismo, figura recorrente tanto no nazi-fascismo como nos discursos típicos de extrema-direita (TODOROV, 1995).

O autor defende que seu manifesto apresentaria, em três etapas, as únicas soluções para a questão.

O primeiro livro aprofunda as críticas ao multiculturalismo, valendo-se de estratégias de revisionismo histórico. Deste modo, busca justificativas para seu pensamento fundamentalista cristão expondo o que, na visão dele, os governos, as instituições de ensino e a imprensa estariam escondendo da população.

No segundo livro, o autor expõe e analisa o que seriam os problemas da Europa atual, mais uma vez fundamentados na onda migratória proveniente do Oriente. Traça o que seriam as razões e causas da colonização islâmica e, conseqüentemente, da islamização do território europeu. Sempre focado no “diabo” (sic) do multiculturalismo como a causa de todos os males, Breivik confirma a cada página a frase, postada dias antes do ataque, no seu Twitter: “Uma pessoa com uma crença equivale à força de 100 mil que têm apenas interesses” . Ainda nesta parte do documento, o autor exalta a necessidade da consolidação e união dos grupos conservadores na Europa, começando pela exposição da estratégia para combater o que qualifica como inimigo e apresentando possíveis soluções, como por exemplo, a deportação dos imigrantes muçulmanos.

No terceiro livro, o mais fatalista do compêndio, Breivik traça respostas à ameaça do Islã, caso venha a se tornar dominante. Constrói um cenário de guerra onde grupos de resistência nacionalista poderão se estruturar e agir para proteger a Europa de ser tomada pelos muçulmanos. É nesta parte do livro que revela a força do documento na formulação de metas e na possibilidade da continuidade destas por meio de seus seguidores.

Breivik desenvolve e defende a teoria de que o êxodo islâmico, associado à não assimilação dos imigrantes ao Ocidente, é o responsável pela islamização do continente europeu. Este cenário, diz textualmente, é resultado direto da 2ª Guerra Mundial, da Guerra Fria e dos pensadores da chamada Escola de Frankfurt, cuja filosofia teria inspirado a mistura e a diversidade cultural. Tendo como ponto de culminância o multiculturalismo, o objetivo político teria deixado de expressar a verdadeira vontade do povo europeu e, no lugar dela, teria apontado no sentido do acolhimento inconseqüente dos imigrantes. Dentro deste contexto, prevera Breivik um futuro cada vez mais sombrio para a Europa Ocidental, voltado para a guerra, quando todos os países se tornariam islâmicos – o que qualificou como projetos de Paquistão – tomados pelos caos interno, como diz.

Neste caso, assim como na obra de Todorov (1995), o inimigo que Breivik ressalta deveria ser combatido pelo Estado, porque não seriam os homens portadores do juízo sobre o bem e o mal, mas o próprio Estado, controlando a totalidade da vida, garantiria aos seus nacionais, a libertação pela aniquilação do mal, do outro. Se de início o combate emerge dos nacionais, aos poucos, este dever transita para as instituições.

O autor faz questão de frisar que o compêndio traz todas as ferramentas necessárias para se vencer a guerra contra o multiculturalismo e que o documento é de total responsabilidade dele, já que faz uso de estudos e citações de autores e filósofos conhecidos. Da mesma forma, também se vale Breivik de citações longas a respeito do mal causado pela miscigenação em diversas regiões, incluindo o Brasil, o que demonstra uma preocupação exaustiva em caracterizar o maior número de fenômenos como parte da sua defesa empírica e convincente.

Descrevendo táticas de guerrilha e de organização política, dá orientações práticas de como usar a internet como arma de divulgação, de como se comportar para despistar suspeitas de terceiros, de como levantar fundos ou conseguir armas e explosivos, construir bombas, realizar ataques biológicos e evitar acusações legais de racismo e preconceito. Por fim, o documento culmina com a descrição, passo a passo, em forma de diário, dos preparativos para os ataques em Oslo e Utoya. Anders Breivik, com isso, criou um verdadeiro Manual do Terrorismo.

Nas primeiras 50 páginas do compêndio, a palavra Islã e outras derivadas, como com islamização e islâmico, aparecem mais de 150 vezes. É uma amostra do direcionamento de Anders Breivik na construção do texto. Todos os caminhos levam a um mesmo fim: a Europa, tomada pelo Islã, em uma estrada sem volta.

É preciso lembrar que políticos de direita têm ganhado expressão no continente e muitos dos líderes mais atuantes, como o presidente francês Nicolas Sarkozy e o primeiro-ministro britânico David Cameron elegeram-se com plataformas que, entre outros pontos, propunham controle imigratório. A Europa dos áureos tempos, que tinha no imigrante a mão de obra barata e informal e nas colônias a fonte de riquezas a baixo custo, teria recebido uma alta conta a pagar. A crise financeira mundial trouxe queda de produção, desemprego e colocou nas costas do Estado um número cada vez maior de cidadãos que dependem dos benefícios públicos para viver, dentre eles, imigrantes de primeira, segunda ou terceira gerações.

É com este pano de fundo que Anders Breivik lança sua cruzada. O que faz com que trechos do documento, lidos à revelia, soem como discursos de candidatos conservadores com milhões de partidários. Não é à toa que o deputado italiano de extrema direita, Mario Borghezio, que faz parte do Parlamento Europeu, disse logo após o atentado que Breivik tinha “ideias boas e ótimas” e que concordava com o norueguês “na oposição ao Islã e na sua acusação explícita de que a Europa teria se rendido antes mesmo de lutar contra a islamização” .

Quando o compêndio é analisado como um texto único transforma-se em um manifesto racista e perigoso que incita ódio e violência. Breivik generaliza. O imigrante não é um indivíduo, é uma entidade. A historiadora Anita Novinsky faz uma análise interessante na diferenciação da Inquisição instaurada pelos Reis Católicos, no fim do século XV e a Inquisição Medieval, do século XII, quando descreve os tenebrosos autos de fé, em Lisboa:

Os autos-de-fé eram espetáculos de massa, eram divertimento, eram o circo daquela época. (…) Nesses autos-de-fé havia sempre um importante pregador que ficava durante horas fazendo seus sermões e, nesses sermões, o que se acusava principalmente não eram sodomitas, não eram homossexuais, não eram bígamos, não eram feiticeiras, eram os judeus. Não é aquele herege que praticou o judaísmo em segredo a quem o sermonista se dirige. Ele se dirige contra todo o povo judeu, quer dizer, o anti-semitismo moderno. Não é o anti-semitismo medieval que queria que todo o judeu se convertesse apenas. É o anti-semitismo moderno, contra o povo, contra a existência de um povo.

A Inquisição Espanhola visava o judeu como Povo, e não, o individuo judeu, aquele que não acreditava no Messias e aquele que a Igreja queria converter. Este mesmo conceito seria altamente revivido por meio do nazismo e dos campos de extermínio. O mesmo princípio pode ser destacado das ideias de Breivik. Seu pensamento gira em torno do Islã como um todo. O Islã vira sinônimo de perverso, de causa de todos os males. O Islã vira sinônimo de Osama Bin Laden. O Islã, portanto, é todo e qualquer imigrante muçulmano. O Islã é sempre a Jihad, não em seu principio primário de propagação da religião muçulmana, mas no sentido de guerra: conversão ou morte. Na lógica simplista de Breivik, todo imigrante muçulmano é um servo da Jirad, ou seja, um Osama Bin Laden em potencial. Todo muçulmano é o inimigo que quer converter o Ocidente.

Além da larga citação estatística que mobiliza números em favor da caracterização de um Europa dominada por muçulmanos em 2030, Breivik faz uso também de cerca de 130 referências a respeito do advogado desejo islâmico de constituir um regime único jihadista. Neste âmbito, defende que o Prêmio Nobel da Paz teria sido convertido em um instrumento da propaganda multiculturalista desde que Yasser Arafat (na sua interpretação, um Jihadista) o tinha recebido. A partir deste evento, diz Brevik(Breivik, 2011, p. 639), a mobilização de seus pares fora ainda maior em torno da causa, o que foi ativamente trazido a público durante a premiação de Al Gore, na própria Noruega. Neste mesmo tema, defende que haveria outras figuras merecedoras, tal como a Somali Ayaan Hirsi Ali, que foi representante da luta contra práticas de infibulação do clitóris e em favor do direito das mulheres mulçumanas. Esta defesa não ocorrera porque Breivik de fato reconhecesse seu valor, mas porque Ayaan teria sido impedida de receber uma premiação na Dinamarca por conta de ameaças de grupos extremistas islâmicos recentemente.

Neste cenário pré-armagedon, o autor propõe a Declaração de Independência Européia. O primeiro passo é que todos os países da Europa ocidental deixem a União Européia, responsável por transformar a Europa no que chama de Eurabia. O neologismo Eurabia, atribuído à escritora judia egípcia, naturalizada britânica, Bat Ye´or (peseudônimo de Gisele Littman), é o título do livro onde a autora desenvolve a teoria de uma Europa onde o Islamismo se torna cultura dominante, a partir do crescente número de imigrantes muçulmanos, com apoio da própria União Europeia. Seus críticos dizem que o livro possui a mesma relação para o Islamismo que o Protocolo dos Sábios do Sião para o judaísmo. Para Breivik, a configuração da defesa de uma Eurabia é, portanto, o respaldo para muitas das idéias desenvolvidas no compêndio.

Por meio do seu caráter extremista e nacionalista, Brevik não se volta contra os judeus – pede o fim imediato do suporte financeiro à Autoridade Palestina, alegando que o dinheiro teria sido usado, no passado, para patrocinar a Jihad contra os judeus em Israel e cristãos, nos territórios sob controle da Autoridade Palestina. Também é ele a favor de uma declaração formal de apoio ao Estado de Israel e da criação de um fundo de disseminação da informação sobre a perseguição muçulmana aos não-muçulmanos em todo o mundo.

Exigindo que toda a imigração muçulmana seja interrompida e, por um longo tempo, qualquer tipo de imigração, frisa que não seria aceita nenhuma acusação de racismo à proposta, já que “muitos países europeus aceitaram por décadas mais imigrantes do que qualquer outro povo do mundo em períodos de paz”. Esta é apenas mais uma frase em um texto pontuado com declarações de efeito como: “(…) o ocidente tem uma obsessão em ser bom mais do que ser poderoso”; “o slogan Guerra ao Terror deveria ser substituído por Recuperemos nossa Cultura”; e, “vamos pagar caro por esta amnésia histórica”. Nesse caso, Breivik reforça que a Europa teria sido invadida e estaria sendo “colonizada” por muçulmanos, embora os governos e a imprensa intimidassem o cidadão de modo a fazê-lo aceitar a conjuntura, sob o risco de se taxar qualquer resistência de racista ou xenófoba.

Tal conjuntura é refletida pelo fato de que estaria o continente europeu em guerra civil: uma guerra longa que, segundo sua visão, somente terminaria em sete décadas, período em que a Europa consolidaria as forças de resistência conservadoras e suas respectivas células clandestinas militares, de modo a se preparar para um golpe de estado pan-europeu. A partir daí, em efeito dominó, o multiculturalismo seria de fato banido país a país, dando início ao processo de deportação de muçulmanos. Por esta razão, o ano 2083 que estampa o título do compêndio seria o começo de uma nova era na Europa, livre da ameaça do Islã e pronta para a Declaração de Independência.

Para um continente que há seis décadas estava sofrendo das conseqüências da 2ª. Guerra Mundial, não é possível escapar da associação deste discurso ao nazista. A extinção física do povo judeu difere, contudo, no discurso de Breivik, da extinção do povo islâmico, de modo que a aniquilação das conseqüências provocadas pelo segundo se daria por meio da extinção espacial deste, através da deportação.

O manifesto prega que o multiculturalismo seja banido das políticas governamentais e dos currículos escolares. Para Breivik, o multiculturalismo é sinônimo do que chamou de marxismo cultural, um fenômeno intelectual estrategicamente voltado ao dever político em que vigoraria a permissividade social, de classes e cultural. Grande parte da liberdade dos cidadãos europeus lhes teria sido tirada por conta da infiltração desta ideologia de modo que a afirmação destes valores teria reproduzido o que vigoraria como o “politicamente correto”.

Diferente do que se poderia esperar, o nacional-socialismo e Adolf Hitler são amplamente citados no compêndio, mas não como mentores intelectuais. Breivik produz uma comparação valorativa entre o Islamismo e Nazismo/Fascismo e, ainda, afirma que os marxistas culturais seriam os fascistas de nossos tempos, pois, ao recusarem direitos aos nacionalistas como ele, forneceriam direitos aos imigrantes em igual e injusta proporção. Seria Breivik, assim, parte do grupo de nacionalistas cujo dever seria lutar por sua própria missão, a de defender sua terra, como nomeia seu patriotismo.

O Multiculturalismo é o primeiro dos argumentos apresentados por Anders Behring como aniquiladores da Europa original. Tratado enquanto doutrina política, diferencia- se do Marxismo somente pelo fato de que, somado a este, produziria o relativismo cultural que o autor visa combater. Assim, podemos dizer porque o Multiculturalismo sustentado por grande parte da esquerda que se manifestava nas décadas de 60 e 70 do século XXI teve seu efeito perverso.

A direita radical que no início do século pronunciava-se de forma racista qualificando uma hierarquia de raças entre humanos, quando combatida, progressivamente desviou suas antigas plataformas para aquelas mais modernas. Seus expoentes, algumas vezes considerados racialistas, porque dotados de racismo científico moderado, utilizaram-se de argumentos provenientes da própria esquerda em benefício da reversão dos discursos de ódio em discursos de separação das raças. Desta forma, o foco da direita que emerge após a primeira onda de multiculturalismos em tempos de Guerra Fria, é ressaltado pela qualidade de seus argumentos em torno de um exacerbado nacionalismo.

De forma notável, o foco racial dotado de rancor é atribuído à transgressão causada pela mistura de raças o que, em primeira instância, permitiu aos seus defensores escapar da tradicional hierarquização, defendendo a existência sem coexistência de raças. A diversificação a que se teria chegado na Europa, em particular, diria respeito ao avanço permissivo de pensamentos de ordem relativista que consideravam a circulação de pessoas e a mistura de raças conseqüências naturais do avanço da órbita de direitos para não-nacionais (ALLPORT, 1979).

Um princípio constante da retórica associada à extrema-direita é, sem dúvida, o nacionalismo exacerbado. Fruto do discurso anti-stablishment, comum entre grupos extremistas de direita, o termo populismo é recorrentemente utilizado para manifestações que têm como elemento a estética de uma retórica atuante e antissistêmica, profundamente carismática. Seu nacionalismo reside em princípios étnicos e sua defesa da democracia se dá pela existência de direitos iguais para iguais. Além disso, a qualificação de uma retórica eventualmente partidária os deixa livres da classificação estigmatizada de anti-democráticos, embora descrentes no sistema parlamentar e institucional vigente porque classificado como ineficiente, corrupto e pouco expressivo (IGNAZI, 1996).

Em contrapartida, a distância dos princípios democráticos não deixa os partidos de extrema-direita ausentes de algumas de suas bases. Este é o caso do princípio de igualdade democrática, ao qual atribuem o seguinte efeito perverso: um igualitarismo que seria não-natural (unnatural egalitarianism) (IGNAZI, 1996: 3), tal como presente em relação à absorção de imigrantes pela Europa na interpretação de Breivik.

Esta extrema-direita renovada, que radicalizou discursos já estabelecidos dos tradicionais conservadores e novos conservadores, legitima-se progressivamente abrindo os canais para um efeito de massa, inclusive, nas urnas. A pauta, portanto, anti-sistêmica, ganha contornos de reação, o que será provocado por meio – como no caso de Anders Behring – da retórica da revolução.

O norueguês também faz uso de uma das mais eficazes armas do nazismo, a propaganda, para exaltar as semelhanças entre os multiculturalistas que dominariam a União Européia. Retirando da autobiografia de Hitler, “Minha Vida”, o conceito da “Grande Mentira” (Breivik, 2011, p. 307), muito difundido pelo alto comando do Reich, diz que a União Européia usaria da mesma estratégia da qual fala o nazista. A idéia central deste argumento consiste na divulgação de uma mentira tão grande que seria impossível considerar que alguém poderia distorcer a verdade a tal ponto. Associada a repetição, a mentira se tornaria uma verdade.

Eis, portanto, as Grandes Mentiras apontadas por Breivik na política da União Européia:

- Diversidade é sempre bom.

- Multiculturalismo é inevitável, faz parte da integração da UE.

- Quem se opõe a isso é um racista ignorante, que se coloca contra a maré da História.

- A imigração muçulmana é benéfica à economia e necessária para criar a previdência social no futuro, apesar dos enormes gastos no presente.

O autor retoma os ensinamentos da escritora Bat Ye´or e volta às origens da formação do neologismo Eurabia. Nos anos 1960, nações européias como a França começaram a buscar alianças com países árabes muçulmanos para poder competir em um mundo dominado por duas potências: os Estados Unidos e a antiga URSS. A partir daí, teria dado início a transformação, que culminou numa Europa cada vez mais islamizada, e a caminho de se tornar um “satélite político do mundo árabe.” (Breivik, 2011, p. 284). Citando Bat Ye’or, Breivik faz referência ao maior comprometimento com as nações árabes do que com os Estados Unidos e Israel, principalmente na questão palestina: “A Europa está em constante ameaça de terror (…) “e o terror é uma forma dos países europeus se renderem às demandas dos representantes árabes, dentre elas, o apoio à causa palestina” (Breivik, 2011, p. 284).

Breivik propõe um boicote aos impostos já que o pagamento de taxas nacionais exigiria a existência de fronteiras nacionais precisas e vigiadas. Sua premissa é que é impossível coexistirem os interesses nacionais e a União Européia. Depois de apresentar e defender argumentos contra o multiculturalismo e o Islã, Anders Breivik apresenta a lista de demandas que ganha forma no ensaio de Fjordman, de que se apropriou para nomear o compêndio: Declaração de Independência Européia. (Breivik, 2011, pág. 716)

O documento soa como uma declaração de guerra, resumida no último parágrafo:

Se as demandas não forem totalmente implementadas, se a União Européia não for completamente desmantelada, se o multiculturalismo não for rejeitado e a imigração muçulmana não parar, nós, cidadãos da Europa, não teremos outra escolha a não ser concluir que nossas autoridades nos abandonaram, que as taxas que pagamos são injustas e as leis que foram aprovadas sem nosso consentimento são ilegítimas. Vamos parar de pagar impostos e tomaremos as medidas necessárias para nos proteger e assegurar nossa sobrevivência nacional.

Jesuit e Mahler (2004) dedicaram-se a estudar as ligações entre os partidos de extrema-direita (ERP´s ou Extreme Right Parties) na Europa e a extrema-direita dissipada em grupos autônomos cuja plataforma não é eleitoral. Por este estudo demonstraram que a incidência de movimentos desde a década de 80 do século XX vai ao encontro da emergência de novos arranjos político-institucionais capazes de convocar grande parte dos afiliados extremistas por meio de discursos ultraconservadores calcados em soluções qualificadas como democráticas.

Um dos casos tratados pelos autores é o de Pim Fortuyn, assassinado por um ativista de esquerda em 2002, visto pelo público neerlandês como uma das maiores personalidades de todos os tempos. Fortuyn é um caso especialmente intrigante: carismático, considerado de direita, tentou filiação ao partido comunista até criar seu próprio partido, cuja plataforma era baseada na proibição da imigração islâmica. Neste caso, a controvérsia em torno de Fortuyn político, também professor titular da Universidade de Erasmus, residia no forte apelo xenófobo de seus discursos, registrados também sob a forma de um livro, intitulado Against the Islamisation of Dutch Culture.

Embora militante com aparência típica de ultraconservador, Fortuyn era exceção em razão de sua declarada homossexualidade e do que chamava de liberalismo. Tal contradição pode ser uma das chaves de explicação para o fenômeno do crescimento de partidos de extrema-direita, alinhados aos discursos xenófobos, inspiradores de um novo nacionalismo, cujo emblema reside na democracia de direitos nacionais para nacionais, e liberdade de expressão e escolha para estes mesmos nacionais (JESUIT E MAHLER; 2004).

Neste caso, ativistas homofóbicos ou antissemitas fazem parte de uma geração anterior de extrema-direita, ou ainda, quanto ao segundo grupo, são aquelas comunidades de extrema-direita do Leste Europeu (ANASTASAKIS, 2000:24). Esta nova configuração, considerada pós-industrial (ver tipologia de IGNAZI, 1996), muito mais alinhada aos partidos políticos, tem como inimigo-comum o imigrante, e sua vocação, o nacionalismo exacerbado. Outra parte deste discurso vincula-se à tradição, ou seja, aos discursos anteriores, voltados para a crença na manipulação por parte da esquerda do que seriam os interesses originalmente nacionais. Neste caso, nomenclaturas como “marxistas”, “relativistas”, “eco-políticos” servem aos discursos conservadores para explicar o que teria feito com que a conjuntura fosse a presente, tal como a enxergam. Naturalmente, a batalha por empregos, a dramática crise do Estado de bem-estar e a miscigenação étnica e cultural são as marcas mais presentes da conjuntura que evidenciam como tendo sido causada pela esquerda, de um modo geral.

Anastasakis (2000) fizera um levantamento da literatura sobre a extrema-direita que apontou quatro determinantes de ordem distinta para a caracterização do perfil destes movimentos: histórico; estrutural, político e ideológico. O primeiro deles, o fator histórico, seria próprio da herança fascista, enquanto o estrutural seria baseado nas mudanças sócio-econômicas; o terceiro elemento, o político, voltado para o protesto contra a norma vigente, e o último, o fator ideológico, pertinente à xenofobia. Se, por um lado, a herança fascista ainda resiste na dominação de determinadas classes por outras pelo fator da superioridade (ALLPORT, 1979:209), o estrutural, o político e o ideológico são os mais visíveis dos determinantes, fundamentalmente quanto aos movimentos e partidos que emergiram em fins do século XX.

Do método: como se forma um terrorista?

O título do terceiro livro do compêndio, “Uma Declaração de Guerra Preventiva”, em si já mostra o interesse de Breivik pelas ações bélicas e a total crença de que existe uma ameaça real que precisa ser combatida. Conceito extensamente utilizado em nome da Guerra ao Terror desde os ataques de 11 de setembro aos Estados Unidos, Guerra preemptiva é, por definição, aquela que é decidida quando da existência de provas de um inimigo cujo ataque é iminente. Neste caso, o Estado tem a certeza de que é alvo de uma ameaça e, em nome desta defesa, ataca primeiro quem o iria atacar. Para Breivik, o século XXI, que apenas entrou na segunda década, é sombrio e, portanto, merece destaque a necessidade de preempção por parte do que chamaria de verdadeiros europeus. Como a respeito dos regimes totalitários, a lógica que reforça a crença é baseada na responsabilização dos indivíduos, de modo que, em combate ao inimigo interno, são os cidadãos originais (na retórica de Breivik) os responsáveis pela mobilização necessária (TODOROV, 1995, pág.149).

Em Guerra civil, a Europa teria sido alvo de um ataque, em um processo que está em curso e que dividiria em três fases. A primeira teria começado em 1999 e iria até 2030. Na visão de Breivik, estariam os europeus hoje protagonizando o meio do conflito, vivendo em uma Europa onde muçulmanos poderiam chegar a 30% da população nos próximos 19 anos. Ressalta ainda que este seria o período para se consolidar as forças conservadoras, através de ataques militares de células clandestinas. Certamente, Brevik está entre o que considera as muitas lideranças do National and pan-European Patriotic Resistance Movement, título que aparece como sua referência na carta de apresentação do compêndio.

A segunda fase iria de 2030 a 2070. A povoação islâmica, uma vez não contida, poderia chegar a 40% do total do continente. A consolidação das forças conservadoras continuaria neste período, só que agora com grupos de resistência atuando de forma mais elaborada. Esta seria a fase da preparação para os golpes de Estado nos países da União Européia.

A terceira fase, que iria de 2070 a 2083, trata da preparação para o que seria a nova Europa de Breivik. Nesta fase, o multiculturalismo estaria derrotado no primeiro país, o que detonaria o efeito dominó por todo o continente do mesmo fenômeno. Começaria, então, a implementação do programa político e cultural conservador, com a execução dos traidores multiculturalistas e a deportação dos muçulmanos.

Neste quadro, Breivik expõe as possíveis conseqüências deste estado de Guerra: 1) Tentativa da Aliança Multiculturalista de criar “pequenos-Paquistãos” pela Europa, garantindo autonomia para os muçulmanos (combate a qualquer custo); 2) Reforma islâmica total resultando na secularização – muçulmanos laicos sem comprometimento com a doutrina religiosa (improvável); 3) Movimentos de resistência – à frente dos golpes de Estado: com ajuda dos militares, varrerão do mapa da Europa Ocidental os regimes multiculturalistas, resultando na deportação dos muçulmanos (cenário preferencial); 4) Guerra Civil com conservadores culturais de um lado e multiculturalistas e forças islâmicas do outro, com morte e violência em ambos os lados. Muitos habitantes fugiriam para Estados Unidos, Rússia, Austrália e Nova Zelândia.

É dentro deste cenário de guerra – e por causa dele – que Breivik procurar justificar a atrocidade que está prestes a cometer. Uma ação milimetricamente pensada e descrita na forma de diário que se encerra horas antes dos ataques em Oslo e na Ilha de Utoya.

Ao apresentar o passo a passo dos preparativos, tanto a parte prática de compra de material explosivo e confecção de bombas, quanto a psicológica, para afastar suspeitas sobre a ação, Breivik abre um leque de discussões sobre como os governos podem lidar com o terrorismo neste século regido pela comunicação virtual. Sua consciência a respeito do método é manifesta, inclusive, pelo reconhecimento de que muitos dos seus pares o rechaçariam pela escolha do método que, segundo ele, é a ferramenta mais capaz de mobilizar e representar o patriotismo de cidadãos europeus. Nesse sentido, a mobilização das massas se daria de forma racional porque vinculada à certeza de que, primeiramente, o sistema seriaa implodido. Em contrapartida, para Breivik, este tipo de resistência poderia angariar menos cidadãos do que os de fato insatisfeitos, simplesmente pelos poucos incentivos e grandes perdas relacionadas à luta. Diz ele: The preferred method is to attack in a violent and deceptive form (shock attack), usually with limited forces (1-2 individuals) (pp.826-827).

Anders Breivik realizou um massacre com bombas e balas reais. Durante a preparação, sua maior arma foi a internet. O compêndio é todo pontuado por endereços de sites, seja para compras de componentes para explosivos caseiros e guias de como fazê-los, seja das fontes de pesquisa da base ideológica do pensamento fundamentalista. Não é à toa que sua fonte de inspiração é um blogueiro e, as redes sociais, o meio usado para divulgar sua “Cruzada”. Um caminho percorrido durante anos por um homem isolado fisicamente, mas cercado de seguidores virtualmente.

Breivik, como já citamos, reforça a sua aversão ao Islã, mas o alvo principal – quando a questão é agir, o que se traduz em atos extremos de violência – são os multiculturalistas e as instituições que acredita representarem e dominarem. Neste âmbito, Breivik cita nominalmente o Partido Trabalhista da Noruega como o primeiro traidor a ser eliminado em seu país. Por quase dois anos se dedica a descrever o plano que culminou nos atentados ao prédio do governo, em Oslo, e ao encontro da juventude do partido trabalhista, na Ilha de Utoya. Neste caso, voltado à luta contra as instituições, caracteriza a necessidade de proporcionalidade nesta guerra – um objeto do direito internacional aqui defendido não pelo uso proporcional da força, mas voltado ao número de mortos possíveis, o que deveria ser proporcional ao número de europeus que crê terem sido mortos ou atingidos pelo projeto Eurabia.

Em meio às estratégias de guerrilha – que incluem até explosões de reatores nucleares – Breivik fala da família, da infância, dos amigos, do abraço à religião, das decepções com políticos conservadores. Por outro lado, Breivik não deixa claro o alvo e o local dos ataques de 22 de julho e, muito menos, que as vítimas serão jovens noruegueses, que simbolizam o futuro. O fato é que, por meio de sua exposição de motivos, demonstra tentar humanizar sua causa e, desta forma, criar empatia com futuros seguidores. Assim como os suicidas islâmicos, Breivik se coloca como um mártir.

A insanidade de Breivik é tão indiscutível quanto a insanidade de Hitler ou Osama Bin Laden – os dois mais recorrentes nomes quando pensamos em tragédias contemporâneas e históricas. Contudo, embora sejam mentes insanas, também são completamente conscientes e determinadas em seus objetivos; sobretudo, comprometidas com um firme propósito, porque foram capazes de mover mais exércitos do que governos, uma vez que conquistaram indivíduos.

Breivik arquitetou muito bem um plano e o cumpriu à risca. Pulou do anonimato para a fama em horas e, sem dar nenhuma declaração direta à imprensa, conseguiu difundir suas ideias com uma velocidade impressionante nos quatro cantos do planeta, embora dissesse no documento que este era destinado somente aos europeus. Ele diz:

Eu tenho pensado na minha situação após a operação, no caso de sobreviver à missão e viver para enfrentar um julgamento multiculturalista. Quando eu acordar no hospital, depois de sobreviver aos ferimentos de bala sei que, pelo menos para mim, estarei acordando num mundo de merda, um pesadelo acordado. Não só todos os meus amigos e familiares vão me detestar e me chamar de monstro; a mídia mundial multiculturalista vai ter um prato cheio ruminando diversas formas de caracterizar assassinato, vilania e demonização. Eles irão fazer de tudo para distorcer a verdade sobre mim, sobre os Cavaleiros do Templo e nossos verdadeiros objetivos, e vão tentar também fazer com que os revolucionários conservadores me detestem. Irão me rotular de racista, fascista, monstro nazista, como fazem com todos que se opõem ao multiculturalimo e ao marxismo cultural. Como eu manifestei seu maior pesadelo (execuções sistemáticas e organizadas de traidores multiculturais), irão provavelmente me dar o pacote completo de propaganda de estupradores, propagando as seguintes acusações: pedofilia, incesto, homossexualidade, psicose, ladrão, maníaco, insano, monstro, etc. Eu serei rotulado como o maior monstro (nazista) desde a 2ª Guerra Mundial. Eu tenho uma psique muito forte, a maior que eu já vi, mas eu prevejo que talvez seja biologicamente impossível sobreviver a tortura mental e talvez física combinadas; eu vou ter que enfrentar sem cair, sem perder minha estrutura psicológica. Só que eu vou ter que esperar para descobrir.

Conclusões

Uma primeira explicação da ascensão dos partidos de extrema-direita na Europa está vinculada às sucessivas crises econômicas. Outra possível explicação reside no gap ideológico do Pós-Guerra Fria, que teria permitido aos partidos de extrema-direita ocupar uma plataforma esvaziada e alienada, repleta de novos votantes (JESUIT E MAHLER; 2004:7). Estas explicações dão conta de que ambos, a conjuntura e o sistema, podem ter efeitos desafiadores para as democracias contemporâneas, que não fazem distinguir, em realidade, discursos elegíveis e não-elegíveis.

Desta forma, o controle democrático é impreciso e não garante que crenças logicamente constituídas e dogmaticamente alcançadas se revertam em elegibilidade. Muito maior do que a expressão eleitoral destes votantes extremistas de direita se torna a capacidade que estes têm de fazer valer vontades, retóricas e palavras de ordem contra comunidades e contra o sistema vigente, fazendo detonar outros modelos de intervenção, como o modelo terrorista. Sem dúvida, há que se avaliar a sua ascensão também pelo ganho de pauta, pelos retrocessos na política de integração européia, pelo acirramento das leis e controles de imigração e, inclusive, pelas pautas políticas originadas na necessidade progressivamente maior de se proporcionar governabilidade por meio de coalizões político-partidárias.

Como parte dessa conjuntura, a imersão de determinados agentes do discurso de extrema-direita em métodos que qualificam como sendo de seus inimigos, também proporciona a desistência da causa partidária em benefício da atuação individual. Ou seja, aqui o individualismo prepondera sobre o coletivo, que já haveria de ter sido corrompido. E, assim sendo, o imperativo moral do indivíduo revela-se a única saída possível. A publicização da informação com abundância e regularidade tem, portanto, seu valor: sem ela não seria possível imaginar tamanha reunião de argumentos e métodos de forma organizada e nada ingênua, como no Documento 2083.

Bibliografia

Allport, Gordon W. (1979). The Nature of Prejudice. Reading, MA: Addison-Wesley.

Breivik, Andrew. 2011. 2083: A European Declaration of Independence.

Bat Ye´or (2005). Eurabia. The Euro-Arab Axis Fairleigh Dickinson University Press. Eatwell, Roger (2000). “The Rebirth of Extreme-Right in Europe?” Hansard Society for parliamentary Government. Parliamentary Affairs. 43; 407-425.

Fjordam. “A European Declaration of Independence”, The Brussels Journal – The Voice of Conservatism in Europe: www.brusselsjournal.com (consultado em 20 de outubro de 2011)

Golder, Matt (2003) “Explaining Variation in the Success of Extreme Right-Wing Parties in Western Europe.” Comparative Political Studies 36: 432-466.

Ignazi, Piero (1996). New Challenges: Post Materialism and the Extreme Right. Estudio Working Paper. 1996: 91.

Mahler, Vincent; Jesuit, David (2004). “Electoral Support for Extreme Right-Wing Parties: A Subnational Analysis of Western European Elections in the 1990s”. Luxembourg Income Study (LIS), Working Paper No. 391.

Othon, Anastasakis (2000) “Extreme right in Europe: a comparative study of recent trends”. Discussion Paper 3. Hellenic Observatory, London School of Economics, London, UK.

Todorov, Tzvetan (1995). Em face do extremo. Tradução de Egon de Oliveira Rangel e Enid Abreu Dobránszky.Campinas, Papirus.

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