It is the cache of ${baseHref}. It is a snapshot of the page. The current page could have changed in the meantime.
Tip: To quickly find your search term on this page, press Ctrl+F or ⌘-F (Mac) and use the find bar.

Anais Brasileiros de Dermatologia - Tinea Capitis in João Pessoa: a social and economic view

SciELO - Scientific Electronic Library Online

 
vol.78 issue6Chronic cutaneous Lupus erythematosus: study of 290 patientsSarcoidosis cicatricial alope author indexsubject indexarticles search
Home Pagealphabetic serial listing  

Services on Demand

Article

Indicators

Related links

Share


Anais Brasileiros de Dermatologia

On-line version ISSN 1806-4841

An. Bras. Dermatol. vol.78 no.6 Rio de Janeiro Nov./Dec. 2003

http://dx.doi.org/10.1590/S0365-05962003000600006 

INVESTIGAÇÃO CLÍNICA, LABORATORIAL E TERAPÊUTICA

 

Tinea capitis em João Pessoa: visão socioeconômica*

 

 

Patrícia Marques Lima Pessoa de AquinoI; Edeltrudes de Oliveira LimaII; Nilma Maria Porto de FariasIII

IProfessora Assistente,UFPB; Aluna do Doutorado em Ciências da Saúde,UFPB; Médica do Ambulatório de Dermatologia do HU/UFPB
IIProfessora Adjunta, Micologia, UFPB
IIIAluna do curso de Medicina, UFPB

Endereço para correspondência

 

 


RESUMO

FUNDAMENTOS: A distribuição das espécies de dermatófitos varia ao longo do tempo e de acordo com a região, refletindo as condições socioeconômicas da população
OBJETIVOS: Estudar a Tinea Capitis quanto ao agente etiológico, ao sexo, à idade e ao grupo étnico dos doentes em João Pessoa, PB, Brasil e salientar a importância socioeconômica desses dados, comparando-os aos de regiões mais ricas do país.
MÉTODOS: Foram avaliados o perfil e os exames micológicos direto e cultura de 82 pacientes com suspeita clínica de T. capitis em João Pessoa.
RESULTADOS: A freqüência de T. capitis incluiu 64,6% das suspeitas clínicas. O dermatófito isolado com maior freqüência foi o T. rubrum (37,7%), seguido por T. tonsurans (28,3%), M. canis (24,5%), T. verrucosum (7,5%) e T. mentagrophytes (1,9%). Não houve predileção quanto ao sexo. A faixa etária mais acometida foi a de 0 a 10 anos, e 71,7% dos doentes são caucasóides.
CONCLUSÃO: Comparando os resultados obtidos com publicações anteriores da Região Sudeste, os autores salientam as diferenças das variantes socioeconômicas na epidemiologia da doença.

Palavras-chave: epidemiologia; tinha do couro cabeludo


 

 

INTRODUÇÃO

Tinea capitis é a denominação da dermatofitose do couro cabeludo causada, na maioria das vezes, por fungos do gênero Microsporum ou Trichophyton.

Tinea capitis desperta interesse do pesquisador com preocupação de cunho social, tendo em vista sua alta incidência em populações de baixa renda e seu possível comportamento endêmico.1

O presente estudo classifica a Tinea capitis quanto ao agente etiológico, ao sexo, à idade e ao grupo étnico dos doentes. A importância do trabalho para a saúde pública é inquestionável, dada a necessidade do conhecimento dos agentes etiológicos das micoses superficiais em determinado meio, que variam ao longo do tempo e com as condições socioeconômicas.

 

MATERIAL E MÉTODO

Entre outubro de 1999 e fevereiro de 2000, 82 doentes com suspeita diagnóstica clínica de Tinea capitis foram encaminhados ao Laboratório de Micologia do Centro de Ciências da Saúde da Universidade Federal da Paraíba.

O exame micológico direto foi realizado nas escamas e pêlos infectados, clarificados com hidróxido de potássio a 20%. A cultura foi feita em meio Sabouraud dextrose agar-cloranfenicol e Mycobiotic agar (DIFCO), incubado a 28-30°C por até quatro semanas.

Os dermatófitos foram identificados pela chave de Rebell e Taplin.2

Utilizaram-se escalas nominais para análise das questões, com exceção da faixa etária, para a qual se fez uso de escala intervalar.

Por tratar-se de estudo exploratório, a técnica escolhida para análise dos dados foi a estatística descritiva, por meio de tabelas, freqüências e porcentagens. Para a descrição da amostra, foram aplicadas medidas de tendência central: média e mediana.

O tratamento estatístico dos dados passou por três etapas: coleta, organização de um banco de dados e tabulação e análise.

 

RESULTADOS

Das 82 suspeitas clínicas da doença, foram confirmados, mediante o exame micológico, 53 (64,6%) casos de Tinea capitis.

Os agentes etiológicos identificados como causadores de Tinea capitis foram assim distribuídos: T. rubrum em 20 pacientes (37,7%); T. tonsurans em 15 (28,3%); M. canis em 13 (24,5%); T.verrucosum em quatro (7,55%) e T. mentagrophytes em um (1,9%).

Todas as espécies fúngicas incidiram mais na faixa etária de 0 a 10 anos (Tabela 1).

Quanto ao sexo, 28 (52,8%) eram do sexo feminino, e 25 (47,2%) do sexo masculino. De 0-10 anos foi observada maior incidência de Tinea capitis no sexo masculino, enquanto na faixa de 11-20 anos, o maior número de casos ocorreu no sexo feminino (Tabela 2).

A faixa etária de maior incidência da doença foi de 0 a 10 anos, em que se registraram 29 casos (54,7%), seguidos por 14 casos (26,4%) entre 11 e 20 anos. Houve quatro (7,5%) casos entre 21 e 30 anos, dois (3,8%) entre 31 e 40 anos, e dois (3,8%) entre 41 e 50 anos. Também foram registrados dois (3,8%) casos acima de 60 anos. Não se registraram casos na faixa etária de 51 a 60 anos.

Considerando a etnia, 38 (71,7%) pacientes eram caucasóides, 14 (26,4%), pardos, e um (1,9%), negróide.

 

DISCUSSÃO

Em trabalho anterior, pesquisadores paraibanos haviam detectado 23,3% de incidência de dermatofitoses.22 Desses casos, 29,6% correspondiam a tinhas do couro cabeludo, cujo agente mais freqüente foi o T. rubrum.22 Estudo similar, realizado na mesma época em São Paulo, revelou 55,1% de dermatofitoses, das quais apenas 17,1% correspondiam a T. capitis. O fungo predominante foi M. canis.24

Em outro estudo, de 369 casos de dermatofitoses, realizado em Vitória, ES, houve apenas 10% de casos de Tinea capitis.23

A incidência da entidade nosológica na PB foi, portanto maior do que na Região Sudeste.

Esses resultados levaram os autores a valorizar a influência socioeconômica nesse tipo de estudo. Enquanto na região mais rica do país o maior causador da doença é um fungo zoofílico, a espécie prevalente no Nordeste é antropofílica.

Quando se trata de fungo antropofílico, podem-se esperar epidemias de maior monta, visto que os fungos são mais adaptados ao homem e têm, portanto, maior virulência.14 Nesse caso, o contágio dá-se de pessoa a pessoa, o que explica a maior incidência da doença no Nordeste.

O T. rubrum foi a espécie predominante neste estudo. A literatura revela que esse fungo é relativamente comum e responsável por variação de quatro a 81% das dermatofitoses mundiais.3-8 No Brasil, aparece como responsável por dermatofitoses em estados das regiões Sul, Centro-Oeste e Sudeste (35-59%).9-16

A segunda espécie mais freqüente, o T. tonsurans, já se destacou anteriormente como espécie prevalente10,15,17-19 nas regiões Norte e Nordeste. Em João Pessoa, PB, há registros de seis casos em crianças de até 10 anos de idade com T. capitis causada por T. tonsurans.

A incidência da doença mostrou-se indiferente quanto ao sexo, visto que na faixa etária de 0-10 anos houve maior número de casos no sexo masculino e na faixa etária de 11-20 anos predominou no sexo feminino. Esses dados coincidem com os da literatura.1

A maior incidência de casos de T. capitis abaixo dos 10 anos também é compatível com estudos anteriores. Vale salientar que todas as espécies fúngicas prevaleceram nessa faixa etária. Entre as dermatofitoses, a do couro cabeludo continua ocupando o primeiro lugar na infância.20,21

A distribuição de T. capitis não afeta discriminadamente determinado grupo étnico.

O trabalho revela as principais espécies contaminantes, o perfil dos pacientes portadores de T. capitis em João Pessoa, PB e correlaciona os resultados às condições socioeconômicas da população.

 

CONCLUSÕES

Apesar de a literatura médica nordestina ser escassa sobre o assunto, pode-se inferir que há mais Tinea capitis na Paraíba do que no Sudeste, a região mais rica do país. A principal espécie causadora de T. capitis na Paraíba é o T. rubrum. A epidemiologia da doença difere da Tinea capitis encontrada no Sudeste do Brasil, sobretudo quanto ao principal agente causador.

 

REFERÊNCIAS

1. Saurat J-H, Grosshans E, Laugier P, Lachapelle J-M. Dermatologie et Vénéreologie, Masson, 1990, p. 203.        [ Links ]

2. Rebell G, Taplin D. Dermatophytes their recognition and identification. Revised. Ed. Florida: University of Miami Press 1974.        [ Links ]

3. Allred BJ. Dermatophyte prevalence in Wellington, New Zealand, Sabouraudia 1982; 20: 75-7.        [ Links ]

4. Imwidthaya S, Thianprasit M. A study of dermatophytosis in Bangkok (Thailand). Mycopathologia 1988; 102: 13-6.        [ Links ]

5. Khare AK. A clinical and mycological study of dermatophytoses. Indian J Dermatol 1983; 28(4): 163-4.        [ Links ]

6. Manzano-Gayosso P, Méndez-Tovar LJ, Hernández-Hernández F, Lópes-Martinez R. Dermatophytoses in Mexico city. Mycoses 1994; 37: 49-52.        [ Links ]

7. Michelena MD, Duque SM, Simon RD, Andreu CF. Aislamento de dermatofitos em pacientes com diagnóstico presuntivo de dermatofitosis. Ver Cuba Méd Trop 1991; 43(2): 103-6.        [ Links ]

8. Cremer G, Roujeau JC, Houin R, Revuz J. Dermatophytoses a répétition: physio-pathologie, conduite a tenir. J Mycol Méd 1995; 5(Suppl I): 2-7.        [ Links ]

9. Caprilli F, Mercanti R, Palamara G. Distribuition and frequency of dermatophytes in city of Rome between 1978 and 1983. MyKosen 1987; 30: 86-93.        [ Links ]

10. Costa EF, Wanke B, Martins ECS. Micoses superficiais e cutâneas. Estudo comparativo entre duas populações: Rio de janeiro (RJ) e Aracajú (SE). An bras Dermatol 1991; 66(3): 119-22.        [ Links ]

11. Cucé LC, Castro RM, Dinato SLM, Salebian A. Flora Dermatofítica em São Paulo 1964-1974. An bras Dermatol 1975; 50(2): 141-6.        [ Links ]

12. Furtado MSS, Ilhára LT, Marója MF, José JINS, Castrillón AL. Dermatofitoses na cidade de Manaus-AM. An bras Dermatol 1987; 62(4): 195-6.        [ Links ]

13. Londero AT, Ramos CD, Lopes JO, Benevenga JP. Dermatofitoses no Município de Santa Maria, RS. An bras Dermatol 1977; 52: 399-405.        [ Links ]

14. Proença NG, Masetti JH, Salebian A, Cucé LC. Flora dermatofítica e condições sócio-econômicas. An bras Dermatol 1975; 50: 183-96.        [ Links ]

15. Reis CMS, Gaspar APA, Gaspar NK, Leite RMS. Estudo da flora dermatofítica na população do Distrito Federal. An bras Dermatol 1992; 67(3): 103-111.        [ Links ]

16. Lopes JO, Alves SH, Benevenga JP. Dermatofitoses humanas no interior do Rio Grande do Sul no período de 1988-1992. Ver Inst Méd Trop São Paulo 1994; 36(2): 115-19.        [ Links ]

17. Gonçalves HMG, Mapurunga ACP, Queiroz JAN, Diógenes MJN. Dermatofitoses. Principais agentes etiológicos identificados em Fortaleza. An bras Dermatol 1989; 61(1): 25-7.        [ Links ]

18. Campos STC, Siqueira MW, Batista AC. Tinhas tricofíticas no Recife. Dermatol Venez 1960;(2): 165-88.        [ Links ]

19. Nazaré IP, Johnston MJ. Dermatomicoses no Pará. An bras Dermatol, 1987; 41: 225-26.        [ Links ]

20.Capesius-Dupin C, Benaily N, Hennequin C, De Prost Y. Dermatomycoses en pédiatrie. J Mycol Méd 1995; 5(Suppl I): 40-5.        [ Links ]

21. Proença NG, Assumpção SBP. Dermatofitoses observadas em crianças com 0-12 anos de idade em São Paulo. Ver Inst Méd Trop São Paulo 1979; 21(3): 146-8.        [ Links ]

22. 1. Lima EO, Pontes ZBVS, Oliveira NMC, Carvalho MFFP, Guerra MFL, Santos JP. Freqüência de dermatofitoses em João Pessoa-Paraíba-Brasil. An. bras. Dermatol 1999; 74(2): 127-132.        [ Links ]

23. Mattêde MGS, Coelho CC, Mattêde AF, Perin FC, Júnior LP. Etiologia das Dermatofitoses em Vitória(ES). An Bras Dermatol 1986; 61(4): 177-182.        [ Links ]

24. Ruiz LRB, Zaitz C. Dermatófitos e dermatofitoses na cidade de São Paulo no período de agosto de 1996 a julho de 1998. An Bras Dermatol 2001; 76(4): 391-401.        [ Links ]

 

 

Endereço para correspondência
Patrícia Marques Lima Pessoa de Aquino
Rua Flávio de Melo Uchoa 50/402 - Ed. Antônio E. Mendes - Bessa
João Pessoa PB 58037-100
Tel/Fax: (83) 246 6091
E-mail: fppaquino@uol.com.br

Recebido em 25.02.2002
Aprovado pelo Conselho Consultivo e aceito para publicação em 19.12.2002

 

 

*Trabalho realizado no Hospital Universitário Lauro Wanderley, Universidade Federal da Paraíba/UFPB.